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dezembro 09, 2004

Santos do pé da Porta ...

Ou como o barato sai caro

O editorial de hoje da Capital, o émulo do New York Times na declaração pública de apoio a Kerry à presidência, traça um panegírico exaltante de Vasco Vieira de Almeida. E depois de tanto espanto e admiração por essa ínclita figura, esperar-se-ia, no fim da alocução daquele brilhante advogado e empresário no jantar de homenagem a Mário Soares, que Luís Osório acorresse para os braços do eminente causídico e, num exaltado amplexo, lhe murmurasse ao ouvido todo o arrebatamento político, económico, jurídico, oratório, social, culinário, etc., que lhe fizera brotar na sua alma de jornalista de causas presidenciais americanas.

Sussurrar-lhe-ia:«Vasco ... és um dos portugueses mais brilhantes, nunca ouvi ninguém que o fosse mais. Serias o Presidente da República ideal. Sobretudo, neste tempo em que o sistema é enxovalhado pela miserável mediocridade da maioria dos protagonistas políticos». Naquele enlevo de alma, ledo e fugaz, nem lhe acudiria à memória que a mais «miserável mediocridade» é a dos jornalistas do estilo dele.

Puro equívoco. Quando se esperaria esse intenso sobressalto cívico de Luís Osório, este deixou-se ficar tenazmente grudado à cadeira, a mão que segurava o copo, hirta e estática, os lábios arrepanhados numa cãibra rígida, cenho franzido e carrancudo. Liberto do efeito inebriante e anestesiante das palavras de VVA, o seu cérebro voltou à ronceirice contumaz e os pensamentos laboriosamente arquitectados traduziram-se no editorial de hoje. «A forma como Vasco Vieira de Almeida falou sobre o país, com um brilhantismo formal que poucas vezes vi, ao contrário do que se possa pensar, não me deu qualquer vontade de o conhecer pessoalmente. Aos meus olhos passou a ser alguém que tinha tudo para contribuir de outra forma por este país, mas que decidiu de uma forma egoísta enriquecer e viver para si e para os seus muito restritos

Vasco Vieira de Almeida, se se deu à pachorra de folhear aquele pasquim, por ter sido alertado para tal por algum amigo malevolente, deve estar a esta hora arrependido de ter comparecido naquela cerimónia pública. Ele, que havia fugido da política, poucos meses depois de ter entrado nela, exactamente para evitar as mediocridades e a devassa da vida privada por jornalistas pacóvios e mentecaptos, servir de pasto a um deles, apenas por ter acedido a comparecer a uma festa de aniversário, é uma sina malvada.

Pois é ... Vasco Vieira de Almeida é genial ... porque nunca foi desgastado pela vida política, porque nunca foi sujeito à devassa pública e privada feita por um jornalismo mesquinho, porque quando discursa, não tem milhares de jornalistas a folhear dicionários e a correr motores de busca na net, para inventariar todos os significados e anexações semânticas de todas as palavras, de forma a desconstruir o discurso segundo os eixos de orientação mais convenientes para zombar do orador e desdenhar dos conceitos. Quando Vasco Vieira de Almeida fala, tem por ouvintes apenas homens de negócio ou juristas, objectivos e que se interessam unicamente pelo exacto sentido das palavras e pelos resultados do seu discurso.

Não tenho dúvidas que Vasco Vieira de Almeida seja um homem brilhante. Mas tenho muitas dúvidas que seja um «egoísta» que decidiu «enriquecer e viver para si e para os seus muito restritos», utilizando as palavras do fariseu Osório. Enriqueceu porque é extremamente competente. Não foi egoísta, foi apenas sensato. E essa sensatez ficou provada pelos disparates do Osório.

Portugal está cheio de gente brilhante. António Borges é um deles. Ernâni Lopes, Medina Carreira e Silva Lopes são também gente brilhante, que têm em comum o terem estado sentados nos lugares governamentais apenas por pouco tempo e há muitos anos. Durante a campanha eleitoral de Durão Barroso perfilavam-se por detrás dele nomes brilhantes, sonantes e clarividentes. Tão clarividentes que, quando Durão Barroso quis constituir governo, desvaneceram-se por entre as brumas da memória, deixando-o na necessidade de se socorrer de gente medíocre como, por exemplo, Manuela Ferreira Leite, promovida entretanto a «ministra respeitada» pelo José António Lima e pela oposição em geral, não pelo que fez enquanto ministra, mas pelo que fez, depois de deixar de o ser.

Há muitos portugueses brilhantes, em Portugal e no estrangeiro. Mas são raros os que acedem a participar na vida política. Tudo impede essa participação: a suspeição permanente que a comunicação social e muitos políticos, medíocres e invejosos, lançam sobre os políticos em geral; o regime draconiano e estúpido das incompatibilidades, fruto da crise final do cavaquismo e da ânsia de auto-flagelação que os políticos de então estavam possuídos; os vencimentos que além de baixos, suscitam inveja; o desaparecimento do status social que estava ligado ao exercício de um cargo governativo; etc., etc..

E o mais anedótico é que todos nós, ou quase, reconhecemos isso. Mas continuamos sedentos de mexeriquices e cavilações políticas, irredutíveis sobre a necessidade da política ser um sacerdócio, inexoráveis sobre o desperdício que é pagar vencimentos aos políticos, e desdenhosos sobre o exercício de cargos públicos.

O barato sai caro e santos do pé da porta não fazem milagres. Quem inventou estes anexins populares devia estar a pensar na classe política portuguesa e na nossa relação com ela.

Publicado por Joana às dezembro 9, 2004 09:41 PM

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Comentários

Você vai perder tempo com esse cretino?
Ele nem merece uma linha.

Publicado por: Coruja às dezembro 9, 2004 10:00 PM

É o jornalista mais desprezível que anda por aí

Publicado por: Coruja às dezembro 9, 2004 10:01 PM

O problema não é o Luis Osório. O problema é a maneira como o jornalismo é feito em Portugal.
Haver gente a consumi-lo não é um problema: é uma tristeza...

Publicado por: P Vieira às dezembro 9, 2004 10:34 PM

Pois é ... o Luís Osório pode bem vir a tornar-se no Bey de Tunis, mais de 120 anos depois. Quando não se sabe sobre que assunto escrever ... desanca-se o Osório.

Publicado por: Joana às dezembro 9, 2004 10:54 PM

P Vieira em dezembro 9, 2004 10:34 PM:
Nada de ralações! Portugal é dos países do mundo ocidental onde menos se compram jornais.

Publicado por: Joana às dezembro 9, 2004 10:56 PM

Mas em Inglaterra também há a devassa total da vida privada dos políticos e o enxovalho pessoal pela imprensa ... a diferença em relação a Portugal é que quando em Londres um jornal respeitável diz muito mal de um político há sempre outro, também reputadíssimo, que diz muito bem desse político e que eficazmente contrapõe os argumentos ou contextualiza as descobertas escandalosas do primeiro. O jogo torna-se mais claro. Em Portugal a imprensa dita "respeitável" pende toda para o mesmo lado.

Publicado por: julia às dezembro 9, 2004 11:01 PM

Joana ,
é muito triste quando não temos quem elogiar na nossa área política/partidária .
Vc anda azeda desde que se percebeu a incompetência dos seus amigos arrivistas do largo do caldas à lapa !
interessante é essa sua postura pretensamente "center oriented" e "anti-partidos e anti-politicos" (desde que não sejam o ppd/cds) mas de facto mais direitista que certos jovens chegados à comissão política , vindos daquelas escolas de grandes cabeças , que são as juventudes partidátias.
tudo o que saia do pequeno circulo que gira em torno desta "maioria incompetente" é para arrasar !
agora até deu para se meter com luis osório !
não é difícil perceber que Vc é mais admiradora do estilo delgado - que também é luis.

Publicado por: zippiz às dezembro 9, 2004 11:31 PM

Nem tudo é mau n’ A Capital.

Têm lá a Ana Kotowicz que, comentando as afirmações de Feytor Pinto sobre a problemática da Sida, em que o mesmo recomendava “a necessidade de modificar comportamentos” e sugeria obviamente a monogamia, abstinência e fidelidade, classificou estas ideias de “declarações absurdas”.

Como eu gostava de a conhecer, assim tão aberta.

(In A Capital – Impressão Digital de 4 Dezembro 2004)

Publicado por: carlos alberto às dezembro 9, 2004 11:50 PM

Afinal, o problema principal de Portugal é dos jornalistas!
PSL falava na existência da tal central de intoxicação e dos seus malefícios para o seu governo, e não era o único a pensar assim, a Joana também acha que ela, (a tal imprensa dita respeitável) tende toda para o mesmo lado...isto é, do lado da entoxicação!
E isto é redutor para quem vê, e sente, donde vem o fracasso do País que claro não só do PSL!
Que decepção Joana!
Só para desculpar e destrair, se pode pensar assim!

Publicado por: E.Oliveira às dezembro 9, 2004 11:54 PM

E.Oliveira em dezembro 9, 2004 11:54 PM :
Quem escreveu que:
«Em Portugal a imprensa dita "respeitável" pende toda para o mesmo lado.»
Foi:
Afixado por julia em dezembro 9, 2004 11:01 PM.
Embora eu não tenha uma opinião substancialmente diferente

Publicado por: Joana às dezembro 10, 2004 12:07 AM

zippiz em dezembro 9, 2004 11:31 PM:
O que sabe você da minha área área política/partidária??

Publicado por: Joana às dezembro 10, 2004 12:09 AM

a proposito de "entoxicação" e "destrair", o "i" e o "e", não estão nem perto num teclado...
gabo-lhe a paciência, Joana. so lhes restam argumentos ad hominem. enfim...

Publicado por: helder às dezembro 10, 2004 12:17 AM

Afixado por Joana em dezembro 10, 2004 12:09 AM

a sua opinião é conhecida : "porrada" em tudo que mexa, à esquerda do PPD.
agora deu para se meter com jorge sampaio , só porque despediu PSL , que Vc tem muito em conta.

a minha opinião sobre a sua área política/partidária está escrita mas repito a minha ideia : Vc tenta colocar-se numa área neutral, pretensamente equidistante e baseada em analise macro-económica ( dá um grande jeito para se mandar uma bocas e para impressionar quem não sabe calcular uma 2ªderivada !) ; mas de facto vc só vê defeitos em tudo que se situa à esquerda de ppd-psd ( dou de barato que não é simpatizante de AJJardim...seria demais ! )

Publicado por: zippiz às dezembro 10, 2004 12:30 AM

Joana em Dezembro 9, 2004 10:56 PM

Eu sei, mas o problema não é só (ou sequer) os jornais...
Conto-lhe um episódio (televisado) que muito me impressionou:

[Jornal da manhã da RTPi, no dia seguinte ao fecho do Túnel do Rossio- que, para os não lisboetas, impediu que os comboios atravessassem de Campolide para o Rossio (ie: Baixa de Lisboa)] (vou parafrasear os diálogos porque não gravei a coisa...desculpe...se eu soubesse o que ali vinha...)

(repórter em estudio:)
E vamos para a nossa repórter em Campolide para saber se este encerramento perturbou a vida dos lisboetas...

(repórter em Campolide:)
Vamos perguntar a este transeunte que aqui vem se o encerramento do Túnel do Rossio perturbou a sua deslocação para a Baixa de Lisboa...

(transeunte em Campolide:)
Não, por acaso para mim foi um bocado indiferente porque eu trabalho em Campolide, por isso o fecho do Túnel não me afecta...

(insiste a repórter em Campolide:)
Ah! Mas se você trabalhasse no Rossio, não acha que fechar o Túnel do Rossio lhe complicaria o acesso?


Não sei qual foi a resposta deste pacato transeunte, cujo azar foi trabalhar para os lados de Campolide (digo azar dado que se ele trabalhasse na Baixa não teria tido de sofrer a imbecil segunda pergunta desta repórter cretina) porque nesta altura achei que era melhor ir tomar banho...

É só um pequeno episodio... e se calhar até estou a sobre-interpretar isto... mas o facto de esta repórter não ter sido despedida imediatamente surpreendeu-me...
(não interprete mal o que vou dizer, mas o Director de Informação da RTP na altura destes acontecimentos era o Senhor Professor Doutor José Rodrigues dos Santos...)

O problema com o jornalismo em Portugal nem são os jornais... é o resto...

Publicado por: P Vieira às dezembro 10, 2004 12:35 AM

Ó zippiz, se as coisas não sairem da cepa torta, qualquer dia o AJJardim vai ser o ídolo da malta.
Deixe continuar mais 3 ou 4 anos esta nojice.

Publicado por: Coruja às dezembro 10, 2004 12:35 AM

Peço desculpa à Júlia, pelo engano.
Pela sua "conversa" também não era difcil perceber o seu pensamento acerca do assunto Joana.
Mas um dia, se existir paciência para ir lendo os seus arrazoados, e quando outros também culparem a imprensa pelas suas incompetências, ficarei à espera da sua opinião sobre o assunto!
Será interessante conhecê-la!
Da esquerda à direita a imprensa tem sido através dos tempos o bode expiatório, e para sermos justos, ela só ajuda a conhecer as manobras de diversão da trupe política.

Publicado por: E.Oliveira às dezembro 10, 2004 12:52 AM

Vasco Vieira de Almeida é umtipo com muito nível. Mas deve achar que a política é uma m*rda

Publicado por: Soromenho às dezembro 10, 2004 11:04 AM

Acompanhei o início da carreira política do Vasco V A e fiquei frustrado por ele abandonar completamente a política tão rapidamente. Pouco tempo depois vi-o no Algarve a fazer uma espécie de asa delta da época. Nunca mais o vi.

Publicado por: L M às dezembro 10, 2004 12:41 PM

Janica, sua invejosa, lá estás tu a dizer mal da concorrência só porque ninguém te liga.E quanto a preferências político-partidárias toda a gente já percebeu que és toda CDS, isto porque o MIRN e o MDLP já não existem.Agora tens é que assumir senão parece mal a uma menina tão bem educadinha!

Publicado por: Átila às dezembro 10, 2004 01:39 PM

Afixado por: Soromenho em dezembro 10, 2004 11:04 AM
.
Aqui pode pôr o vernáculo por extenso, isto não é o on-line do espesso.
Não tem reparado no Átila ?

Publicado por: carlos alberto às dezembro 10, 2004 03:19 PM

Ó Carlinhos, tás a falar com o JE?

Publicado por: àtila às dezembro 10, 2004 06:44 PM

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