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dezembro 10, 2004
Belém pariu um rato
Para aqueles que estavam à espera que o PR expusesse finalmente as razões consistentes que o levaram à dissolução da AR só não estão desiludidos porque a maioria deles queria a dissolução com razões ou sem elas. O bota abaixo sempre foi um leit-motiv da conduta política da uma parte significativa da esquerda portuguesa.
Por isso a comunicação ao PR postergou as questões formais, que agora teriam ainda menos consistência que em Julho, e dispersou-se por uma análise política necessariamente fluida, para tentar que o seu discurso pudesse ser interpretado como sendo o de um PR e não o de um qualquer líder partidário da oposição. Julgo que falhou esse desiderato.
O Presidente da República deu a entender que o parlamento vai ser dissolvido porque ele pensa que a sua composição já não corresponde à vontade do eleitorado. Mas isso não é motivo para dissolução. Por essa razão, quase todos os governos da UE teriam sido demitidos após as eleições europeias. É normal que a meio de uma legislatura se situe o ponto mais baixo de popularidade dos governos. Se esta razão prevalecer como válida nos hábitos constitucionais portugueses, então qualquer próximo governo será obrigado a governar olhando permanentemente para as sondagens, até deixar o país na bancarrota.
O Presidente da República foi mais directo quando alegou como fundamento «uma sucessão de episódios que ensombrou decisivamente a credibilidade do Governo e capacidade de enfrentar a crise que o país vive». Mas esta é uma afirmação paradoxal para um PR que tutelou os episódios ridículos em que o governo de Guterres esteve envolvido, com ministros a saírem e a fazerem declarações insultuosas, convocando mesmo conferências de imprensa para o efeito.
Por outro lado, ao dizer isto, está a passar um atestado público de incompetência ao governo de Santana Lopes e seria exigível que sustentasse melhor e com mais rigor esse gravoso julgamento da competência do governo, pois ao deixá-lo no vago, ele pode ser interpretado como um mero discurso de abertura de campanha do Partido Socialista.
Por outro lado se o governo é tão incompetente e descoordenado, que justificação há para o ter pressionado a aprovar o Orçamento de Estado para 2005? Um Orçamento que é uma peça estrutural da governação em 2005, porquanto a margem de manobra dos orçamentos rectificativos não permite alterar as traves mestras do orçamento. A explicação que tal permitiu os aumentos de vencimentos na função pública, não colhe, visto serem os próprios sindicatos, embora contrafeitos por aquele motivo, a estarem contra a aprovação do orçamento.
Mas também não vale muito a pena conflituar sobre esta dissolução. Não passa de um epifenómeno de um período de 4 meses em que o PR indigitou o governo criando-lhe ab initio usque ad finem uma situação instável, perecível, ao sabor dos humores presidenciais, incentivando a sua permanente contestação por todas as forças com protagonismo mediático e tornando essa governação impossível. Não é a dissolução que é grave em si, o que foi grave foi toda a estratégia montada pelo PR desde a demissão de Durão Barroso, e que teve o seu culminar no anúncio da dissolução.
Por isso, ainda antes do anúncio da dissolução, no post Obviamente, Demito-me, eu havia afirmado, sem ambiguidades, que Santana Lopes não tinha condições para governar e escrevi então: «Se PSL não é capaz de resolver os problemas do país, que é que ganha em permanecer no governo, aplicando paliativos, fazendo meias reformas, e sendo grelhado em fogo lento por (quase) todos os corifeus da política e da comunicação social? Nada ... apenas uma derrota estrondosa nas próximas eleições ... O melhor é cortar o mal pela raiz, assumir a sua incapacidade, em face da actual situação social, em governar da forma que entende como a mais adequada ao país (se é que ele tem alguma ideia sobre qual a forma mais adequada ao país) e fazer as malas.». Não podia ter sido mais clara.
Aparentemente, a fazer fé nas palavras de Dias Loureiro, Santana Lopes já teria equacionado aquela solução, que era evidente face à estratégia de aranha que o PR estava a usar, com o apoio de parte substancial do poder mediático.
Nota - Ler ainda:
O Sismógrafo do Salsifré
Dois Registos
Publicado por Joana às dezembro 10, 2004 10:17 PM
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Comentários
joana,
" o poder mediático" é um malandro !
O desemprego no país e a análise de conjuntura sobre o III quarter é uma ficção do poder mediático ; os mediáticos juntaram-se todos para tramar PSL , aliás já na FFoz fizeram o mesmo e a cidade de Lisboa também tem razões de queixa dos mediáticos.
Joana,
e se vc fosse descansar um pouco e voltasse com argumentos novos ?! A velha maioria vai precisar de ideias novas e vc podia ajudar !
Publicado por: zippiz às dezembro 10, 2004 10:53 PM
zippiz, o PSL nãp liga nenhuma`à Joana e ao Dias Loureiro. Os 2 a dizerem para ele se demitir e ele esperou que o PR o fizesse.
Para qu^we ela dar mais ideias?
Publicado por: Cerejo às dezembro 10, 2004 11:10 PM
Cada vez mais acho que não se deve perder tempo com análises deste tipo. O sistema é irrecuperável e os políticos são todos da mesma falta de qualidade. Já só vale a pena preparar a próximo regime, mobilizando a maioria dos portugueses que estão agoniados com esta choldra. Não podemos continuar a falar, a escrever e a agir, como se algum dos actuais políticos, ou dos actuais partidos, fosse melhor do que os outros. É como o crédito mal parado. Chega um momento em que se tem de esquecer qualquer possibilidade de recuperação, e de constituir as reservas necessárias a fazer face ao calote." Write off", chamam os ingleses a isso. Assumamos portanto as perdas, e passemos adiante.
Publicado por: Albatroz às dezembro 11, 2004 12:13 AM
Em linguagem de «shrink» americano, a Joana está em «denial».
Não é só ela, valha a verdade. Há por aí muitos órfãos da coligação apeada.
Penso que ainda vamos ler mais uns 7 ou 8 comentários de Joana sobre a dissolução da Assembleia. Depois passa-lhe.
# : - )
Só uma nota, em relação ao leit-motiv:
O site do Diário de Notícias (www.dn.pt) abriu uma votação aos utilizadores, perguntando se Sampaio fez bem em dissolver a AR. Já vai em perto de 5000 respostas e 70 por cento dizem que o PR fez bem.
Joana dirá que 70 por cento dos visitantes do site do DN são de esquerda...
Publicado por: (M)arca Amarela às dezembro 11, 2004 01:36 AM
Uma grande alegria, este "vira do Minho". Os portugueses ainda não viram nada ; viram tão pouco, aliás, que o PS - essa alternativa política que se perde na imensidão dos tempos - já clama pelo voto útil, não vá o diabo disparar uma tranca. Ir votar, com este sistema, com esta lei eleitoral e nestas circunstâncias, é um puro "lapsus calami".
Publicado por: asdrubal às dezembro 11, 2004 03:31 AM
(M)arca Amarela em dezembro 11, 2004 01:36 AM:
Você insiste em não ler o que escrevo e basear-se nisso para as suas observações.
Leia este parágrafo:
«Por isso, ainda antes do anúncio da dissolução, no post Obviamente, Demito-me, eu havia afirmado, sem ambiguidades, que Santana Lopes não tinha condições para governar e escrevi então: «Se PSL não é capaz de resolver os problemas do país, que é que ganha em permanecer no governo, aplicando paliativos, fazendo meias reformas, e sendo grelhado em fogo lento por (quase) todos os corifeus da política e da comunicação social? Nada ... apenas uma derrota estrondosa nas próximas eleições ... O melhor é cortar o mal pela raiz, assumir a sua incapacidade, em face da actual situação social, em governar da forma que entende como a mais adequada ao país (se é que ele tem alguma ideia sobre qual a forma mais adequada ao país) e fazer as malas.». Não podia ter sido mais clara.»
Na política, «grelhar em fogo lento» não é colocar o PSL num grelhador sobre brasas. É corroer-lhe a imagem pública. Portanto a imagem pública do PSL ficou bastante por baixo ao fim destes 4 meses e não é de admirar essa votação no DN, embora as votações na net sejam bastante enviesadas face ao espectro eleitoral português.
E bom fds!
Publicado por: Joana às dezembro 11, 2004 10:13 AM
Jorge Sampaio mostrou que não é muito diferente de um ditador de meia tijela, apenas com fraseado mais rebuscado, e também mais irritante, se possível.
Devido a esta Santa União, que envolve quase todos os poderosos de Portugal contra Santana Lopes, já me daria prazer vê-lo ganhar as próximas eleições.
Publicado por: Mario às dezembro 11, 2004 01:24 PM
Ó Mário, é melhor esperares sentado...
# : - ))
Publicado por: (M)arca Amarela às dezembro 11, 2004 03:57 PM
Joana em dezembro 11, 2004 10:13 AM
Sobre a votação no DN, como deve ter reparado, não fiz qualquer extrapolação para o eleitorado.
Nem há qualquer remota possibilidade científica de o fazer.
Sobre o churrasco, penso que o Peter SL não precisou de qualquer auxílio. Foi ele próprio que começou a caminhar sobre as brasas sem ter o necessário treino de faquir.
Bom fds também para si!
Publicado por: (M)arca Amarela às dezembro 11, 2004 04:02 PM
fds = fim-de-semana. Bom fds = bom fim-de-semana.
Sempre tive um mau dormir com siglas.
Publicado por: asdrubal às dezembro 11, 2004 04:14 PM
A medida do presidente não originou nenhuma contestação, nenhum clamor, nenhuma revolta.
Até o próprio PSL já tinha feito conjecturas à sua demissão, e constactado, com a história da "incubadora", que já nem no seu próprio partido o governo era tolerado.
Praticamente e mentalmente PSL já não governava...
Publicado por: E.Oliveira às dezembro 11, 2004 06:10 PM
Ja agora, alguem me explica porque razão PSL e o PSD continuam os respectivos discursos com a mesmo lema "respeitamos a decisão do PR, discordando dela, mas o PR não é o nosso adversário" para depois prosseguir com um furioso ataque à decisão do mesmo PR?
Justiça seja feita: avaliando o desempenho individual dos ministros sectoriais pode afirmar-se que as decisões tomadas em vários domínios foram bem menos comprometedoras do que as do anterior executivo (onde avulta como exemplo negativo o titular da pasta económica). Perante isto os erros do "núcleo duro" do governo são ainda mais lamentáveis.
Publicado por: Carlos às dezembro 11, 2004 11:38 PM
Quem não se sente não é filho de boa gente. Depois do PR ter inventado ontem um "governo na plenitude de funções mas politicamente diminuido" sobre o qual ele faria a "vigilância", a atitude certa de quem tem dignidade é demitir-se. Só resta saber para que queria o PR o OE2005 aprovado.
Até o mano do António Costa achou que o discurso do Santana fora correcto e a decisão de demissão idem, perante as trapalhadas do PR
Publicado por: Hector às dezembro 12, 2004 12:59 AM
O mano do ACosta pode achar o discurso correcto ; eu por mim acho uma atitude revanchista e de menino mimado...
e não sejam cínicos ao dizer que "discordam mas aceitam" a posição do PR.
Aliás, nestas duas semanas deu para entender melhor o que seria "um presidente, um governo, uma maioria" do ppd-psd ; se Deus existe , não vai castigar os portugueses ...
Publicado por: zippiz às dezembro 12, 2004 02:56 AM
Quem será o assessor que lhes dá a indicação para a escolha das gravatas?
Publicado por: tretas às dezembro 12, 2004 07:56 AM
Este país continua a discutir " a ferida" em si mas ninguém discute ( porquê? ) o cancro que a origina. Mercúrio e sulfamidas podem fechar a dita temporariamente, só que depois, mais tarde ou mais cedo, voltará a abrir. O Cancro está lá.
Um abração do
Zecatelhado
Publicado por: Zecatelhado às dezembro 12, 2004 11:20 AM
A joana continua a ir adiante das decisões políticas.
Publicado por: Coruja às dezembro 12, 2004 02:13 PM
zippiz - O BE não tinha antes dito que queria que se demitisse o governo?
Se disse, porquê agora dizer que tem birras, que é ma atitude revanchista e de menino mimado?
Publicado por: Coruja às dezembro 12, 2004 02:15 PM
Janica, hoje vi-te na TV.
Publicado por: Átila às dezembro 12, 2004 04:07 PM
Afixado por Coruja em dezembro 12, 2004 02:15 PM
e o que é que eu tenho a ver com isso ?
se fosse possível constitucionalmente, as eleições podiam ser amanhã !
Publicado por: zippiz às dezembro 12, 2004 04:32 PM
zippiz: Eleições sem campanha? Isso é democrático?
E não tem a ver com o que diz hoje e amanhã desdiz?
Publicado por: Coruja às dezembro 12, 2004 04:41 PM
Átila em dezembro 12, 2004 04:07 PM:
Em que canal?
Publicado por: Coruja às dezembro 12, 2004 04:42 PM
coruja ,
acerca do "o que diz hoje e amanhã desdiz" é melhor falar com os seus amigos do governo ; tem n exemplos dos ultimos 4 meses.
Publicado por: zippiz às dezembro 12, 2004 04:59 PM
Coruja, não fixei, mas deve dar em todos que era nas notícias. Ela está com carinha de quem não queria aparecer mas teve azar.
Publicado por: Átila às dezembro 12, 2004 05:04 PM