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dezembro 26, 2004

Aspirina ou Benuron?

A transferência de parte do Fundo de Pensões da CGD para a Caixa Geral de Aposentações (CGA) com vista a reduzir o défice orçamental para um valor inferior ao limite do PEC, foi o menor dos males. Foi um mal muito menor que não fazer nada e infringir as regras do PEC. Mas também foi, tecnicamente, um mal menor que vender de supetão várias dezenas de imóveis numa época em que o sector imobiliário atravessa uma grave crise que se reflecte seguramente nas avaliações dos imóveis e nas condições das transacções. Todavia, debater estas soluções é o mesmo que discutir se se deve dar aspirina ou benuron a um paciente sofrendo de grave doença infecciosa.

Em teoria, a transferência de parte do Fundo de Pensões da CGD para a CGA é uma mera operação contabilística. A entidade gestora daquele fundo de pensões deixa de ser a CGD e passa a ser a CGA. Na prática pode não ser o mesmo, pois nada garante que a CGA seja melhor gestora de fundos de investimento que a CGD. Adicionalmente, aquela parcela do Fundo de Pensões dos trabalhadores da CGD fica mais à mercê de decisões intempestivas e perversas do Estado, que se se mantivesse na CGD.

O equilíbrio orçamental é entre receitas e custos gerados num determinado ano e não um equilíbrio, nesse mesmo ano, entre pagamentos e recebimentos. Portanto, aquela operação contabilística não é paralela a quaisquer transferências de numerário alegadamente necessárias devido ao buraco orçamental, como já vi escrito em diversos sítios. O risco para os trabalhadores da CGD é o de o Estado ser um pior gestor de aplicações financeiras que os gestores da CGD ou, ainda pior, o Estado não ser uma pessoa de bem quando gere o dinheiro dos outros. Este último risco pode ser real se à ruptura orçamental se adicionar uma ruptura financeira.

Portugal é um doente sofrendo de grave doença infecciosa, mas cujas crenças religiosas (a constituição – política, não física) impedem a administração de antibióticos, e que vai escolher, em Fevereiro, se vai continuar nos cuidados intensivos, a tomar aquilo que a sua actual Constituição (política, não física) permite – aspirinas, benurons, uns sinapismos – ou regressa à enfermaria donde viera, enfermaria onde se adensam os miasmas da peste, que continua repleta de vírus infecciosos e agressivos, e fica entregue aos cuidados de um emplastro emoliente.

Convenhamos que a perspectiva não é brilhante. É escolher entre a morte lenta e a morte rápida. Todavia, às vezes, a iminência da morte leva a actos desesperados, e um deles pode ser o doente mandar às urtigas as crenças religiosas (a constituição – política, não física) que lhe espartilhavam a sua conduta, mandar passear sinapismos e emplastros emolientes, e fazer a cura que a ciência médica impõe.

Por isso, a escolha que conduz à morte rápida pode não ser má de toda, ou mesmo nem ser a alternativa pior, pois quando se vir às portas da morte, talvez se aguce o engenho ao doente. A menos que o engenho se aguce tarde de mais ... ou que nem se chegue a aguçar, e o paciente se fine na quietude da sua piedosa devoção, confortado com os santos óleos e as preces e prédicas dos Patriarcas da democracia.

Publicado por Joana às dezembro 26, 2004 11:29 PM

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Comentários

e porque carga de água não se manda às ortigas o PEC ?
isso é que era uma decisão honesta de um país pobre mas independente.
mas não , preferem continuar a ser "bons alunos", para não serem esquecidos na divisão dos fundos, sujeitando-se aos comentários do comissário espanhol...
opções realistas , dirão as Joanas deste país !

ps : e já cá faltava a referência à Constituição...e ao seu preâmbulo !

Publicado por: zippizz às dezembro 26, 2004 11:51 PM

Tal como zippizz, eu pergunto à Joana: que mal haveria em infringir as regras do PEC? Que razões económicas justificam que se sacrifique tanto para manter o deficite abaixo dos 3% do PIB? Que diferença faria, do ponto de vista macroeconómico, o deficite ser de 4 ou mesmo 5% do PIB?

Publicado por: Albatroz às dezembro 27, 2004 12:14 AM

«Mal menor», porque não foi no teu dinheiro que mexeram.

Publicado por: João Pedro da Costa às dezembro 27, 2004 01:05 AM

Mal menor ?

Sou aposentado da CGD. O Fundo de Pensões, da CGD, é o resultado de muitos anos de descontos acumulados, nos nossos vencimentos, e garantia o pagamento integral e atempado das pensões, por muitos e bons anos, a todos aqueles que nessa Instituição trabalharam. E agora ?

Será que a CGAposentações fará o mesmo ? Todos nós sabemos ao que já chegou o Sistema de Previdência do Estado.
O Estado não é Pessoa de Bem.

Publicado por: antonio afonso às dezembro 27, 2004 09:49 AM

antonio afonso em dezembro 27, 2004 09:49 AM:
Muitas centenas de milhares de empregados no sector público, entre eles a minha mãe, desconta para a CGA. Ceratmente que o Estado honrará os compromissos, em termos de pensões.
O que pode acontecer, mas isso será para todos e só sucederá com as gerações mais novas, a minha por exemplo, é o protelamento da idade da reforma, em face da crise demográfica.
O que eu escrevi foi que o Estado talvez possa ser um gestor do fundo de pensões pior que a CGD. Mas isso vai afectar todos os contribuintes, visto ser o Estado o responsável pela solvência dos seus compromissos, quer gira bem ou mal, pois os falhanços do Estado, somos nós que os pagamos.

Publicado por: Joana às dezembro 27, 2004 10:58 AM

O mal em infringirmos o PEC seria deixarmos de receber os subsidios da UE.
Os governantes certamente terão feito as contas e ponderado o que custaria mais ao pais.

Publicado por: Diletante às dezembro 27, 2004 11:11 AM

Diletante em dezembro 27, 2004 11:11 AM

Os fundos comunitários representam cerca de 1,5% do PIB do nosso país. Deixar de os receber - se a tal se chegasse, o que é duvidoso - seria mau. Mas muito pior é nós termos um deficite externo de cerca de 8% do PIB - mais de 5 vezes o que recebemos em fundos estruturais - e ninguém parece preocupar-se com o assunto. Se o Estado português dispendesse tanta energia para reduzir esse deficite externo como dispende para reduzir o deficite orçamental, estaríamos todos muito melhor. Alguém percebe porque é que isso não acontece? Será que as internacionais do poder (Bilderberg, Trilateral, etc.) não estão interessadas em que as nossas contas externas melhorem?

Publicado por: Albatroz às dezembro 27, 2004 08:44 PM

Olha, ó Janica, o mais giro neste romance da CGD é o CA ter-se demitido e depois ter voltado com a palavra atrás. Aqui é que está o grande problema deste país. As pessoas não prestam, não têm princípios, não são honestas nem para com a família que têm lá em casa. Uma pessoa quando se demite, demite-se, caraças. E as demissões não têm regresso, são irreversíveis se os seus autores são pessoas idóneas. Não há pátria, como diz o inFélix! Infelizmente para os desgraçados da CGD os membros do CA são do teu partido degenerado.Merda de país! Devias dedicar umas linhas a assuntos dete género, em vez de te ficares pelos arredores sem importância. Mas como és vaidosa achas que assim serve. Se calhar se fosses do CA fazias a mesma coisa. É o apelo do dinheirinho.E do Jaguar.Se calhar? Não, fazias de certeza.E eu, enquanto aguardo que o Expresso OE rearranque venho aqui moer-te o juízo porque me dá gozo. Desculpa lá, não leves a mal que os bacocos que te aplaudem não percebem pêvas.E gosto dessa da tua mãezinha ser FP, dá-te um certo charme. jejejejejejeje...

Publicado por: Átila às dezembro 28, 2004 02:31 AM

Ainda a mesma conversa de sempre. O PEC não é importante por causa dos subsídios. Os subsídios são uma desvantagem, um meio de estruturar e suportar a mediocridade. O PEC é apenas um alerta de suicídio eminente de um país. Mas já há muitos anos que percebi que Portugal quer mesmo morrer...

Publicado por: Mario às dezembro 28, 2004 10:25 AM

Já entendi, para a Joana o melhor é continuar com os "sanapismos" do Portas e do Santana...até que a morte os separe!

Publicado por: E.Oliveira às dezembro 28, 2004 12:59 PM

Entendeu mal. O melhor seria dar antibióticos de largo espectro, porque os vírus são muitos e perversos.

Publicado por: Joana às dezembro 28, 2004 01:05 PM

Um antibiotico não serve de nada para combater os virus.
podeis continuar.

Publicado por: Dilentante às dezembro 28, 2004 01:23 PM

Então copiona, modificaste ontem o teu post para incluir as fontes?!

Publicado por: Mr Sensível às dezembro 29, 2004 10:50 AM

"Mas o que verdadeiramente me fez gargalhar nisto tudo é o seguinte. Num dos textos «fonte» diz-se: «After that their clothes were taken off and they were kissed on the lower back (...)». Para alguém desprevenido e despojado de sapiência, «lower back» poderia significar o ânus ou outro inominável local. Jacques Marseille, na sua «Nouvelle histoire de la France», fala a tal respeito de «rites secrets obscènes – baisers sur l’anus ou les parties génitales», confirmando a teoria que imaginaria o comum dos mortais. A nossa Joana, face à impossibilidade de traduzir «lower back» por «traseiro», saiu-se com esta: «em seguida, despojados das suas vestes, são beijados na ponta inferior da coluna vertebral»! De mestre."

Fonte: http://arcabuz.net/arquivo/2004/12/index.html#000351

Publicado por: Mr Sensível às dezembro 29, 2004 10:53 AM

A greve dos gajos da CGD na altura do recebimento de pensões e subsíduos foi uma vergonha. Bem feito!

Publicado por: asser às janeiro 7, 2005 09:48 AM

Um castigo exemplar para esses e outros chulos do país

Publicado por: asser às janeiro 7, 2005 09:49 AM

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