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dezembro 19, 2004

António Barreto não vota

António Barreto, que está farto de ser enganado nas escolhas políticas que tem feito (mal de que também me queixo), não vai votar nas próximas legislativas. É todavia óbvio que um homem com as responsabilidades cívicas de António Barreto nunca publicitaria tamanho deslize de cidadania com crueza, taxativamente. Por isso escreveu-o de forma cabalística, enigmática ... esfíngica mesmo. Desconfio que ele seja do Priorado do Sião ... Ele que evite ser apanhado no Louvre fora de horas ...

Barreto é um político fino e astuto. Limitou-se por isso a elencar uma série de perguntas cujas respostas adequadas são imperiosas para a sua decisão de votar e em quem votar:

«Dêem-me respostas simples a perguntas simples, planos claros para questões práticas, e o meu voto, como o de tantos outros, tomará forma. O que vão fazer, no concreto, para reduzir os prazos da justiça? Como vão abrir, à sociedade, os sistemas fechados da Justiça e da Educação? Permitem que os Institutos Politécnicos confiram doutoramentos e se transformem em Universidades? Como pretendem organizar a colocação de professores? Continuarão a gerir, a partir do Ministério da Educação, as doze mil escolas ou vão entregá-las às autarquias? O que vão fazer com as portagens das auto-estradas e das SCUT? Mantém a uniformidade das formas de governo das Universidades? Permitem ou não que cada universidade tenha as suas regras próprias de selecção de professores e estudantes, os seus critérios de promoção, a sua autonomia de gestão e os seus órgãos de direcção? Que destino darão aos hospitais públicos e aos hospitais ditos SA? Que medidas práticas e concretas tomarão para lutar contra a evasão fiscal? Como vão cuidar dos miseráveis resultados escolares portugueses, nomeadamente dos desastres que constituem os ensinos da matemática, do português, da física e da química? Como lidar com as centenas de cursos e licenciaturas existentes em cada área disciplinar? Alteram ou mantém a actual legislação do aborto? São favoráveis ou adversários a um referendo sobre o aborto? Em qualquer dos casos, que voto recomendam? Como vão votar e que pergunta propõem para o referendo europeu? São contra ou a favor da integração da Turquia na União?».

Infelizmente nunca ninguém respondeu a estas perguntas, com clareza e sem sofismas, durante uma campanha eleitoral. Houve eventualmente alguns aprendizes de política que começaram a balbuciar respostas sinceras e adequadas a estas questões. Os aparelhos partidários boicotaram todavia, e de imediato, a sua participação, pois as sondagens indicavam que nenhum deles teria mais que 0,01% dos votos expressos.

Publicado por Joana às dezembro 19, 2004 10:25 PM

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Comentários

Politicamente do Dr Barreto lembro-me assim de "chofre" de uma lei relativa à reforma agrária, que não alterou as condições em que vivia e ainda vive o povo alentejano.
Também nunca adiantou nem atrasou as "labrecadas" que de vez em quando vai deixando nos jornais onde vai dando opinião criticando mais que construindo.
É dos ditos intelectuais híbridos, que nem é peixe nem é carne.
O seu voto parece ter sido quasi sempre um nim.
Servem, isso sim, os seus escritos, para dar boleia aos desorientados políticos...como parece ser o caso.

Publicado por: E.Oliveira às dezembro 19, 2004 10:59 PM

...politicamente, do que me lembro de Barreto foi o barreto da não-reforma agrária.
o resto são escritos pretensamente sociais, bons para análise estatistica, mas sem nenhum contributo concreto para a melhoria das condições e qualidade de vida das pessoas.
raramente consigo acabar de ler um artigo de AB; começo com esperança, a meio fico deprimido com o estado da nação dele...

Publicado por: zippizz às dezembro 19, 2004 11:15 PM

Joana desta vez excedeu-se e atacou quem tantos e lindos trabalhos tem dado á República.
Acaso já se esqueceram que colaborou na criação da mais que célebre vacina BCG (aqui no cantito conhecida como Barreto,Cardia e Gonelha) e que lá fora tem curada tantas e tantas enfermidades.
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Ora Barreto que na minha modesta opinião tem como maior qualidade poder ouvir quase todos os dias a soberba Maria Filomena Mónica não disse aquilo.
Bem, disse mas não era aquilo que queria dizer.
Melhor dizendo era aquilo que queria dizer, mas não o soube dizer.

Resumindo e não vou aqui transcrever, que dá imenso trabalho, António disse que não ia ler os programas (como aliás toda a gente menos quem os escreve e os revisores das gralhas) e que ia, sim, votar em que lhe desse aqueles respostas concretas a problemas existencialistas.

Como Sartre já morreu, e Prado Coelho não lê os outros cronistas do Público, e como ele próprio sugere que “Sei que podem ser temas difíceis e que, para tratar deles convenientemente, serão necessários anos de trabalho cuidado e inteligente. Mas também sei que as respostas são simples.” o melhor será comprar um banquinho no IKEA e sentar-se.

Publicado por: carlos alberto às dezembro 20, 2004 12:19 AM

António Barreto, tal como Pacheco Pereira, é dos que tem culpas no cartório e as quer fazer esquecer fingindo que é independente. Só que o país não precisa de seres supostamente superiores que se colocam no cimo da montanha olhando com desprezo para o "povo" ignorante, não querendo sujar as mãos na porca da política. O país precisa de quem queira arregaçar as mangas e lute para que as coisas melhorem, ajudando a construir uma alternativa a esta cloaca mal cheirosa.

Publicado por: Albatroz às dezembro 20, 2004 01:33 AM

Gosto de ler o António Barreto. É um dos articulistas mais lúcidos da nossa imprensa. E as perguntas que faz nesse artigo têm toda a razão de ser.
E as perguntas que faz nesse artigo têm toda a razão de ser.
Ninguém vai responder.

Publicado por: Diana às dezembro 20, 2004 04:49 PM

É verdade que não vai ter respostas a estas perguntas...

Mas aquilo que é dito pelo AB e não esquecido pela Joana, se calhar também tem o seu interesse:

"Uma coisa é certa: voto contra este governo e esta maioria. O que estes, nos últimos dois anos, destruíram e desperdiçaram é incalculável. Vai ser difícil, no futuro, fazer pior. Da economia ao bom nome, do método de governo à estabilidade, da segurança nas instituições ao crédito externo, da credibilidade à esperança, esta gente errática, mal preparada, amadora e narcisista deixa o país em estado tal que nem artes divinas ou diabólicas manhas conseguirão, em pouco tempo e com relativa facilidade, reparar. Raramente vivemos momentos tão confrangedores como estes. Nem durante o estertor do marcelismo, nem com as loucuras da fase final da revolução, nem com os últimos meses do guterrismo. A desordem mental e a demagogia atingiram picos até hoje considerados inacessíveis."

Publicado por: João Branco às dezembro 20, 2004 07:20 PM

João Branco em dezembro 20, 2004 07:20 PM
Se não vai ter respostas àquelas perguntas, então não vota.
O primeiro parágrafo é a providência cautelar a que a sua costela socialista o obrigava para poder dizer o resto.

Publicado por: Joana às dezembro 20, 2004 11:59 PM

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Publicado por: Whe às fevereiro 21, 2005 10:19 AM

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Publicado por: Chips às fevereiro 21, 2005 10:20 AM

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Publicado por: Chips às fevereiro 21, 2005 10:21 AM

Vou ser mauzinho: acho que o antonio barreto não seria tão amargo se tivesse "conhecido" a filomena monica mais cedo.

Publicado por: poisepoise às novembro 28, 2005 09:32 PM

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