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setembro 21, 2004

Novos Assessores de Imagem, Precisam-se?

O nosso primeiro-ministro contratou assessores de imagem para coordenar a sua produção pública. Foi uma decisão acertada. Num país em que os políticos estão a definhar em matéria de ideias; num país em que os meios de comunicação, quando pretendem abordar matérias políticas, não tratam dos assuntos que interessam às pessoas e apenas se entretêm com o insólito e com a coscuvilhice mais bacoca; num país em que não se abordam os fundamentos das coisas, mas apenas as suas imagens reflectidas em diversos ângulos e refractadas através sabe-se lá de quantos meios; em suma, num país com duas faces, uma real e ignota, outra aparente e mediática, apenas o que é mediático interessa. Portanto a contratação de assessores de imagem era não apenas um acto estrategicamente indispensável, como politicamente coerente.

A comunicação social lançou-se então num coro de protestos e lamentações, censurando com veemência uma decisão que punha políticos em concorrência com ela própria. E a concorrência é algo que todos aplaudimos para os outros, mas desdenhamos para nós.

Todavia, parece evidente que a comunicação social mais uma vez se empenhou no supérfluo e esqueceu o essencial. E o essencial não era discutir a contratação de assessores de imagem por PSL, mas saber se tinham sido contratados os assessores competentes ou não.

Uma análise mais superficial pode levar-nos a concluir que a maldição da função pública se teria abatido sobre as contratações: assessores capazes dos maiores deslumbramentos pirotécnicos na privada, pareceram revelar-se ineficazes e contraproducentes na pública. Vejamos se esta leitura dos acontecimentos não será precipitada. Em primeiro lugar, e contrariamente ao que é hábito na comunicação social, analisemos os factos:

Num dia Pedro Santana Lopes expõe a ideia de adoptar diferentes taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde, no outro dia o Ministério da Saúde refere que não estava ao corrente dessas declarações, um ou dois dias depois Bagão Félix vem afirmar que a questão «tem que ser vista com sensatez», dias volvidos PSL já fala em taxas moderadoras diferenciadas, emendando a seguir para preços de actos médicos, e agora, depois de Sampaio, contra os seus hábitos, ter dito algo de concreto e, ainda por cima, um rotundo não, PSL afirma que quaisquer declarações do PR são sempre um factor de estabilidade. Penso que, em todas estas afirmações múltiplas e contraditórias, o empenho dos assessores de imagem foi determinante: uma pessoa sozinha não poderia produzir uma tamanha enxurrada de ideias tão radicais e contraditórias.

No caso do acidente no terminal de Leixões há um relatório de uma comissão coordenada pelo ministro do Ambiente, há o “despeito” do ministro Álvaro Barreto por não ter sido consultado previamente à publicitação do relatório, há a “aparência mediática”, badalada pela comunicação, que PSL havia retirado o “tapete” debaixo dos sapatos de Nobre Guedes, e, surpreendentemente, lê-se, dias depois, que o primeiro-ministro deu "orientação clara" ao ministro Álvaro Barreto para encerrar a refinaria da Galp de Matosinhos "num prazo tão curto quanto possível".

A Galp, a empresa proprietária da instalação, tem accionistas privados e a unidade de Leça tem 600 efectivos e um terço da capacidade de refinação da Galp. Por outro lado, há em Leça um importante emprego induzido pela existência daquela unidade. O seu encerramento coloca questões estratégicas vitais pois a Refinaria de Sines não tem, por razões logísticas, capacidade para garantir o abastecimento total do país, o que daria uma vantagem concorrencial importante à refinaria da Repsol na Corunha, cuja proximidade geográfica permitir-lhe-ia substituir Leça da Palmeira no abastecimento da região norte do país.

Portanto, uma declaração tão radical sobre matéria com tanto impacte na economia e no emprego em Portugal não poderia ser proferida de ânimo leve, ou seja, sem o aconselhamento dos assessores de imagem. Dias depois, sempre seguro de si, PSL explicou que o encerramento da refinaria do norte apenas está no domínio das intenções. Isto é, «é melhor esquecerem o que eu disse».

Na questão das taxas do IRC, enquanto PSL apostava no choque fiscal, Bagão Félix afirma que não é uma medida prioritária e que as actuais taxas de IRC já não destoam das europeias. Certamente assessores de imagem diferentes, ou défice de assessoria de imagem da parte de Bagão Félix.

Na questão das SCUT’s os governantes entraram com o mesmo ímpeto liquidatário do anterior executivo. Não sei se quando se aperceberem da triste realidade do ruinoso negócio que têm entre mãos (ver post anterior neste blog) não se darão também por esquecidos.

Quem teve a paciência de me ler até aqui perguntar-se-á: porquê tantas contradições? Que raio de assessores são esses? Como é possível serem tão incompetentes?

Seria imprudente que os meus leitores assim se precipitassem. A Marta, a Margarida e a Ana são assessoras com créditos firmados a nível da comunicação social. Não são elas que se equivocaram – nós é que não estamos a avaliar devidamente o alcance das estratégias mediáticas implementadas.

A estratégia daquelas assessoras baseia-se na dialéctica hegeliana e no princípio da contradição: num primeiro momento formula-se a tese; num segundo momento nega-se a afirmação anterior – é a antítese; finalmente haverá um terceiro momento, radioso, em que a contradição é superada – é a síntese. Esta síntese é, por sua vez, uma primeira afirmação no processo seguinte – uma nova tese ... e assim sucessivamente.

Portanto, é seguro que as assessoras estão a encaminhar a governação de PSL de forma a que esta constitua a realização progressiva da sua "ideia absoluta". Depois desta estar realizada, Hegel e Fukuyama prometeram-nos o “fim da história” e o aparecimento de uma sociedade superior e livre.

Se tal não acontecer, os responsáveis são Hegel e Fukuyama. O segundo que se precate, pois ainda está vivo.

Publicado por Joana às setembro 21, 2004 11:32 PM

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Comentários

conclusão Joana :
as colocações de professores vão ser feitas à MÃO e o governo de iniciativa presidencial e seus assessores governam o país...com os PÉS .

Publicado por: zippiz às setembro 22, 2004 12:31 AM

Bem observado

Publicado por: vitapis às setembro 22, 2004 12:19 PM

eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh!
A Joana parece que está a ficar farta do governo!!

Publicado por: c seixas às setembro 22, 2004 12:37 PM

Acho bem!

Publicado por: c seixas às setembro 22, 2004 12:38 PM

Compreendo o trabalho e os objectivos dos assessores de PDS, mas com estas estratégias dos assessores, não se corre o perigo de descredibilização do Governo? - porque o povo Português não terá, de certeza absoluta, uma análise igual a da Joana...

Temos a comunicação social adequada para a maioria do público português que não se interessa no fundo das coisas...

Publicado por: Ch'ti às setembro 22, 2004 12:41 PM

Ch'ti em setembro 22, 2004 12:41 PM
Claro que se corre esse risco. Eu apenas estava a brincar com a situação.
PSL tem que reflectir melhor antes de dizer coisas que parecem muito acertadas numa primeira leitura mas que, reflectindo melhor, são incorrectas.

Publicado por: Joana às setembro 22, 2004 01:03 PM

E o PSL será capaz disso??

Publicado por: ramiro às setembro 22, 2004 02:04 PM

Os seus admiradores vão ficar surpreendidos.
Nem falam

Publicado por: Arroyo às setembro 22, 2004 05:55 PM

E os seus detractores também!

Publicado por: Arroyo às setembro 22, 2004 05:56 PM

Na verdade o governo deveria contratar apenas um assessor de imagem, para ver se dizem todos o mesmo

Publicado por: Coruja às setembro 22, 2004 05:58 PM

Que tal contratar a Cinha Jardim?

Publicado por: Rave às setembro 22, 2004 09:57 PM

Bem visto, Joana

Publicado por: Heitor às setembro 22, 2004 10:46 PM

A Joana tem razão. Mas também é verdade que este governo tem maior dinamismo que o anterior. As Finanças têm uma estratégia política mais consequente, o Ambiente têm um ministro teso e trabalhador e as gaffes de Santana até lhe dão uma certa graça.
A questão da colocação dos professores foi herdada do governo anterior, e ultrapassa muito o governo, pois tem bastante a ver com os serviços.

Publicado por: Novais de Paula às setembro 22, 2004 11:40 PM

Quando é que contratam a Joana como assessora de imagem?
Se é que já ...

Publicado por: vitapis às setembro 23, 2004 12:22 AM

Faria melhor figura que qualquer das que lá estão!
A descoordenação é total

Publicado por: Diana às setembro 23, 2004 10:19 PM

Depois da Lei do Arrendamento, o PSL vai precisar de mais uma dúzia de assessores de imagem

Publicado por: c seixas às setembro 24, 2004 07:35 PM

De acordo c seixas

Publicado por: vitapis às setembro 26, 2004 07:09 PM

Esta lei atinge profundamente a classe média que vive em casas arrendadas

Publicado por: vitapis às setembro 26, 2004 07:13 PM

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