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agosto 06, 2004

A Vingança Serve-se Fria

E quando Feminina, Serve-se Gelada

Em Março deste ano desenrolou-se uma pitoresca controvérsia sobre a aquisição pela Câmara Municipal de Lisboa do Hotel Bragança na Rua do Alecrim para nele instalar uma Casa Eça de Queiroz. Maria Filomena Mónica publicou no PÚBLICO de 24/3/04, sob o título "Uma casa vazia para Eça de Queirós", um texto em que contestava a aquisição de um edifício que ela considerava historicamente erróneo, uma vez que se pode estabelecer a confusão com o Hotel Braganza, de outra localização, e já não existente, local de reunião dos "Vencidos da Vida". E aproveitou esse texto para sugerir que então se comprasse a casa onde viveu Cesário Verde.

No dia seguinte, Santana Lopes escreveu no DN, sob o título “As Musas”, um texto que combinava a civilidade formal, ao estilo dele, com insinuações sobre eventuais processos de intenção que estariam na base da controvérsia, escrevendo a certa altura que «tenho a impressão que o problema não está propriamente no prédio que a CML comprou mas no facto de ter convidado para dirigir a Casa de Eça de Queirós outra musa». E acrescentou, de forma sinuosa, que “concordo que será bonito haver uma casa dedicada a Cesário Verde. Se está disposta a indicar-nos a localização do prédio digo, desde já, que estou disposto a comprar a casa, se estiver à venda a preço razoável, a dedicá-la a Cesário Verde e a convidar Maria Filomena Mónica para a dirigir”.

Uma semana depois, a outra «Musa», Ana Nascimento Piedade, directora indigitada da Casa Eça de Queirós em disputa, dava a lume, no PÚBLICO, uma “Breve Bengalada Numa Petulante Diatribe” onde derramava toneladas de ácido gástrico sobre Filomena Mónica. Nada escapou à bengala da futura directora: Filomena Mónica não passava de uma versão menor do Conselheiro Acácio, obtida por contágio em leituras mal digeridas da obra do ilustre escritor, e que toda a análise queirosiana da «Musa» Filomena apenas continha «opções metodológicas equívocas e afirmações duvidosas», sem «fundamentação documental» Além do mais Filomena Mónica não passaria de uma «Musa» dogmática.

É evidente que Filomena Mónica ao ter escrito que «a CML gastou dinheiro com a aquisição de um prédio onde apenas poderá exibir a Dra. Ana Nascimento Piedade», alegando que não há espólio suficiente para pôr lá dentro, deu azo a esta excessiva secreção gástrica de Ana Piedade e às insinuações maliciosas de Santana Lopes. Mas há limites para tanta má língua, mesmo tratando-se de um imóvel que irá custar cerca de 1,5 milhões de euros.

Nuca tive os nossos agentes culturais em grande conta. Tenho ouvido contar tantas histórias sobre a forma como mendigam o vil metal pelas antecâmaras, fingindo desprezá-lo em público, sobre o seu inveterado hábito de caluniar, em privado, os restantes «agentes culturais», enquanto os elogiam em público, que lhes dou o prejuízo da dúvida. Isto é, a menos que provem o contrário para além de qualquer dúvida, acho que são uns hipócritas e falhos de ética.

De Maria Filomena Mónica só conheço a obra dela e os artigos que tem publicado esporadicamente nos jornais. Aprecio, quer a obra, quer os seus artigos de opinião. Sempre mostrou firmeza nas suas convicções, não pactuando com o laxismo social e no ensino. E eu sempre apreciei quem não pactua com o «politicamente correcto». Como não a conheço dos “bastidores culturais” não me alongarei sobre a sua personalidade. Prefiro ficar-me pela obra escrita dela.

Anteontem, Quarta-feira, 04-08-04, no Público, Filomena Mónica brindou-nos com um “O Diário Secreto de Santana Lopes com a Idade de 48 Anos” escrito no mais puro estilo brechtiano dos “Negócios do Senhor Júlio César”. Absolutamente impecável, de uma subtileza genial, Filomena Mónica exorciza e ajusta as contas em atraso com Santana Lopes e aproveita para, indirectamente, parodiar num estilo neutro, mas mordaz e tremendamente eficaz, um sem número de políticos e comentadores da nossa praça, que ela reduz a simples e pequenos títeres sem qualquer densidade política.

Santana Lopes aparece em travesti de quem ganhou o cargo de Primeiro Ministro num bingo de miúdos da escola básica. E através da infantilidade ingénua do «premiado» desfila o nosso provincianismo político-cultural: o velho queque do Porto (Miguel Veiga), a Mona Lisa de Lisboa (Teresa Gouveia), o sex symbol da Lapa (Miguel Sousa Tavares), o bom rapaz que precisa de orientação (Arnault), Sampaio, Sócrates, Sousa Santos, etc., etc..

A vingança serve-se fria ... gelada mesmo.

Publicado por Joana às agosto 6, 2004 08:00 PM

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Comentários

...«Como não a conheço dos “bastidores culturais” não me alongarei sobre a sua personalidade. Prefiro ficar-me pela obra escrita dela.»...

É apenas isso que deve contar, não?
Se se tivesse em linha de conta os aspectos éticos da vida privada de escritores, músicos e pintores, muita gente ficaria surpreendida com a contradição entre o sórdido privado e o génio
criativo de centenas de nomes.

Publicado por: (M)arca Amarela às agosto 6, 2004 10:05 PM

A Filomena é uma vaca reaccionária

Publicado por: z às agosto 6, 2004 11:20 PM

Quase tanto como o Santana

Publicado por: z às agosto 6, 2004 11:21 PM

Essa megera não tinha razão no que escreveu sobre aquela aquisição

Publicado por: Coruja às agosto 7, 2004 12:41 AM

Gelada ... como a Joana costuma servir?

Publicado por: fbmatos às agosto 7, 2004 06:01 PM

As mulheres sao mais mazinhas que os homens nestas coisas

Publicado por: Filipa Zeitzler às agosto 7, 2004 06:05 PM


Infelizmente, Mónica continuará sublime, Santana hipócrita, Ana Piedade eterna desconhecida, Eça e Cesário sem casa que se veja, e todos nós a pagar para coisa alguma.

Vinganças? Frias?

Ok... sirvam-se como se queiram...

Mas que quem as pede e que quem a serve pague a conta, né?

Publicado por: re-tombola às agosto 7, 2004 09:07 PM

Novo Blog

www.blocoesquerda.blogspot.com

Publicado por: Ze Manel às agosto 7, 2004 10:12 PM

Sublime, mas com uma grande ciumeira de não ser a escolhida, ela a queirosiana.

Publicado por: Vitapis às agosto 8, 2004 12:59 PM

Tava de morte, o artigo da Filomena Mónica!

Publicado por: curioso às agosto 9, 2004 08:36 PM

Maria Filomena Mónica é uma verdadeira senhora e as suas crónicas no Público um must.
Veja lá se começa a por links para facilitar a vida.

http://jornal.publico.pt/publico/2004/08/04/EspacoPublico/O01.html

Muito bem observado Joana !!

Publicado por: Carlos às agosto 11, 2004 06:19 PM

Normalmente faço os recortes num PC (às vezes nem faço recortes, apenas leio no jornal)e escrevo noutro e como faço tudo a correr nem sempre me lembro de salvar os links para depois os embeber.
Mas o Carlos tem razão

Publicado por: Joana às agosto 11, 2004 07:09 PM

De acordo com o Carlos quanto à Maria Filomena Mónica. É pena ela não escrever mais vezes.

Publicado por: fbmatos às agosto 12, 2004 10:40 AM

A Maria Filomena Mónica é uma pessoa com grande personalidade e muito lúcida

Publicado por: Gros às agosto 21, 2004 04:06 PM

coisa feia, a inveja...

Publicado por: butterfly às setembro 22, 2004 03:54 PM

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