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junho 04, 2004

Novos Rumos para a Escola

Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS),abrangendo 37 países e entre eles o nosso, revela resultados surpreendentes e paradoxais.

No que respeita à relação com os colegas, Portugal aparece no grupo dos seis países onde mais adolescentes dizem gostar muito da escola e são os que mais acham que os colegas são simpáticos e que estes os aceitam tal como são. Simultaneamente com isso, Portugal encontra-se no grupo dos países com maior número de adolescentes que se dizem vítimas de atitudes físicas e psicológicas hostis, discriminação, troça, exclusão.

Portanto sentem-se bem nos recreios, gostam da escola e dos colegas e de que estes trocem deles, os discriminem e excluam.

No que respeita à aprendizagem, os adolescentes portugueses estão entre os que mais se sentem pressionados pelo trabalho na escola e os que mais acreditam que os professores não os consideram capazes.

Resumindo o perfil, os nossos adolescentes são sado-masoquistas entre si, mas ficam emocionalmente perturbados frente aos professores, nas salas de aula.

Este estudo prova algo que poucos ainda compreendiam mas que já era, claramente, matéria do conhecimento dos sucessivos Ministérios da Educação, cujas equipas têm lutado denodadamente, nos últimos 30 anos, para tornarem as escolas um local de convívio e de socialização, evitando fatigar as meninges dos nossos adolescentes com uma memorização cansativa e inglória, e os seus cérebros com questões abstractas e irrelevantes como a matemática e a física.

Este estudo evidencia ainda que o ensino está no bom caminho no que respeita à proporção cada vez menor de professores com serviço docente em comparação com os docentes encarregados dos tempos livres ou mobilizados para a ingente tarefa, conhecida sob a designação de «horário zero». Esta rarefacção do serviço docente deixa o corpo discente mais liberto, menos pressionado, sem o stress inútil das salas de aula.

Todavia as salas de aula representam um importante investimento da comunidade e têm que se manter em funcionamento. Devem, porém, deixar de ser um local concentracionário, fechado, hierático. A má vontade actual dos professores para com os telemóveis dos miúdos dificulta o convívio e a socialização. As portas fechadas são igualmente um obstáculo à permanente partilha de experiências.

Acabemos com essa chaga educativa. Que esses locais percam o soturno aspecto de salas de aula e tenham a alegria esfusiante e o movimento trepidante dos apeadeiros. Que os telemóveis retinem, que os alunos troquem mensagens, que entrem e saiam das aulas sempre que o são apelo do convívio os incite a tal.

Há, obviamente, mínimos que terão que ser cumpridos. Cumpridos!? Que digo eu? Obrigações? Stress? Nunca. As matérias que, longinquamente, se espera que sejam leccionadas terão que atender à fragilidade sensitiva e emocional dos adolescentes portugueses. Por exemplo, se o docente de matemática explicar, na aula, a resolução do seguinte problema: «O Francisco comprou 10 maçãs. A caminho de casa, perdeu duas. Com quantas chegou?» não deverá, num futuro teste de avaliação, de forma alguma, complicar maliciosamente o enunciado, substituindo o «Francisco» pelo «Luís», ou as «maçãs» por «alperces». Estas alterações constituem rasteiras perversas, provocam um desnecessário stress na nossa ínclita geração, perturbam a escola como local de convívio e de socialização e podem lançar muitos na senda da delinquência juvenil.

Sem o saber estávamos no bom caminho. Também não admira. Somos, depois, da Finlândia, o país que mais gasta, em termos relativos, na educação. É natural que esse investimento, pago pelo bolso de todos nós, traga os seus frutos.

Publicado por Joana às junho 4, 2004 10:48 PM

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Comentários

eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh!
Só você me fazia rir!

Publicado por: Damião às junho 4, 2004 11:00 PM

É uma visão certeira embora cáustica do nosso secundário.

Publicado por: Vitapis às junho 5, 2004 12:22 AM

Tá giro

Publicado por: Nunes às junho 5, 2004 01:20 AM

O país está, não há dúvidas, a caminho do abismo.

Publicado por: vde às junho 5, 2004 01:29 AM

O seu blog está muito bom. Bem escrito, revelando uma cultura variada. Carradas de humor.
Você está-se a perder aqui, não acha.

Publicado por: Lopes às junho 5, 2004 02:12 AM

Vasco Pulido Valente escreveu hoje no DN: Na estrada, na praia ou num estádio qualquer quase ninguém irá pensar em eleições. De resto, as patéticas personagens que por aí andam em «campanha» (dizem elas) foram universalmente ignoradas. Daqui decorre que os resultados do dia 13, com uma abstenção esperada de 70 por cento e sobre uma matéria, a «Europa», que o País não entende, deviam ser em princípio irrelevantes, se existisse algum senso comum e sensatez.

Depois de ler e meditar nestes pensamentos, decidi-me: vou para férias.
Só volto 2ª à noite. Se tiver oportunidade e pachorra, passarei por aqui durante a próxima semana, pois levamos um portátil com GSM. Se não, até para a outra semana!

Em todo o caso, este “sítio” continua aberto a quem quiser dizer de sua (in)justiça.

Publicado por: Joana - Férias às junho 5, 2004 11:30 AM

Boas Férias

Publicado por: David às junho 5, 2004 12:28 PM

Boas Férias e é óptimo não votar!

Publicado por: c seixas às junho 5, 2004 01:32 PM

Não acredito que esta reaças não vote

Publicado por: z às junho 8, 2004 05:12 PM

Não acredito que esta reaças não vote

Publicado por: z às junho 8, 2004 05:12 PM

Não acredito que esta reaças não vote

Publicado por: z às junho 8, 2004 05:12 PM

Só bocas

Publicado por: David às junho 8, 2004 07:58 PM

Tá giro. Muito bem observado.

Publicado por: Rave às junho 19, 2004 10:37 AM

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