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junho 02, 2004
Enfim, Políticos falam verdade
A falta de ideias da classe política portuguesa deu nisto. Uma absoluta falta de nível da intervenção política.
O grave desta questão é que todos têm razão no que dizem uns dos outros. Só que não deveriam fazê-lo. Sabem o que dizem dos outros, apenas não deveriam dizer o que sabem.
Quando a ministra das Finanças, pressionada pela substituição atrasada da sua declaração de IRS, questiona o jornalista: «e o senhor, nunca considerou um champô como despesa de saúde?» devia estar calada e assumir o esquecimento. É óbvio que, quase de certeza, aquele jornalista já havia ajeitado uma ou várias declarações de IRS. Se não o tivesse feito, constituiriam uma excepção, que não me atreveria a designar por honrosa, para não ofender a maior parte dos nossos concidadãos. Todavia espera-se que um titular da pasta das finanças seja cumpridor ou, se cometeu inexactidões, que assuma isso, peça desculpas e evite entrar numa competição sobre quem se evadiu mais.
A mesma ministra, há dias, num debate parlamentar, mimoseou o deputado Eduardo Cabrita: "O senhor não merece o ordenado que recebe", "O senhor não sabe do que está a falar", "a pergunta é de um ignorante" e "não percebe o que se lhe explica".
Na verdade Eduardo Cabrita, quer como secretário de Estado da Justiça, quer como deputado, não sabe o que diz: ou é um vazio de ideias, ou fala empolgado de coisas que não têm a ver com a matéria em debate, ou faz insinuações torpes. Basta lembrar as afirmações que ele produziu sobre o caso Moderna e sobre a demissão da Maria José Morgado. Simplesmente é extremamente deselegante, no seio da representação nacional, a ministra chamar a atenção para aqueles atavismos.
E não apenas deselegante. Eu, por exemplo, acho que também a ministra não merece o dinheiro que ganha. Talvez merecesse o vencimento de secretária de Estado do Orçamento. Porém como ministra é uma desgraça: Os cortes à toa na despesa pública e uma ausência de estratégia adequada conduziram a uma diminuição acentuada das receitas do erário público e à manutenção de um défice orçamental excessivo. A Ministra é uma boa controladora, mas uma péssima gestora, absolutamente destituída de qualquer imaginação e pensamento estratégico.
Há dias Carvalhas, em plena AR, chamou cobarde ao Primeiro Ministro. Tinha obviamente razão. Durão Barroso tem tido uma absoluta falta de coragem em levar à prática as reformas que prometeu e de que o país necessita para sair da situação em que está. Também não tem tido coragem para remodelar o governo, tirando o caso do Theias. Mas o Theias não existia era uma marioneta agitada pela mão que estivesse mais a jeito. Carvalhas tinha razão, mas não o devia ter dito: primeiro, porque foi de uma grande falta de educação e de respeito para com o Parlamento; depois porque acertou no epíteto, mas não na razão para tal.
E não apenas mal educado. Eu, por exemplo, acho que Carvalhas foi de uma cobardia obscena na forma como, por exemplo, se comportou com João Amaral, a quem o unia anos de trabalho comum e uma amizade e um convívio extra-partidários. Com o João Amaral e com muitos mais.
O Bloco resolveu reinventar a moca. Mas isso é de somenos importância O Bloco é uma inventona de jovens que falharam na carreira publicitária e que se tentam safar na política, mas sempre na melancólica busca da carreira publicitária perdida. É a política decorativa. O Bloco não tem conteúdos, apenas tem formas; não discute causas, apenas casos. A moca é um mero ícone da sua nostalgia pela cacetada revolucionária. É uma forma de tal modo esvaziada de conteúdo que enquanto a ostenta por todo o país, continua a chamar trauliteira à direita. Nem repara que a moca, agora, é dele.
Uma interveniente na campanha eleitoral (hesito em chamá-la política), Ana Manso, resolveu tornar-se conhecida à maneira de Erostrato - troçou de uma deficiência física de Sousa Franco. Compreende-se: Ana Manso precisava desesperadamente tornar-se conhecida. Por sua vez a experiência tem mostrado que os portugueses estão desinteressados das finanças públicas. Só se interessam pelas próprias finanças, e no curto prazo. Vão atrás de qualquer demagogo que lhes acene com algum dinheiro de imediato, sem pensarem quanto pagarão por isso, mais tarde. Em desespero de causa Ana Manso vingou-se no físico, em vez de atacar as ideias.
No meio deste desconchavo, os políticos portugueses, enervados, tornaram-se susceptíveis. Tudo os ofende. Paulo Portas chamou a Sousa Franco o «pai do défice». Sousa Franco ficou ofendidíssimo e fez prova pública dessa ofensa. Compreende-se, pois Sousa Franco tem um currículo notável nesta matéria: foi o principal artífice do défice, pelo que fez e pela herança que deixou; caluniou publicamente o seu sucessor que tentava, na medida em que o Guterres o permitia, inverter a situação; tem vivido em permanente auto-elogio, afectando não perceber o que andou a fazer. Portas, sempre incontinente, não esteve com embaraços e corrigiu a afirmação: «não é apenas o pai do défice. É o pai, a mãe, o avô, a avó, o gato e o periquito do défice». E Telmo Correia fez eco com o chefe: «E a família do défice está para as finanças públicas como a família Adams está para os filmes de terror».
Agora coube a vez de Pires de Lima ficar muito ofendido por Sousa Franco o ter apelidado de xenófobo e exigiu desculpas públicas. Errada ou certa, é apenas a opinião de Sousa Franco. É uma opinião política e deve ser contestada politicamente. E Pires de Lima deveria responder-lhe à letra se achava que aquela era uma afirmação gratuita ... mas ofendido? ... exigir explicações?
A questão é simples. Não é apenas a população que não respeita os políticos. Eles próprios não se respeitam entre si. E não é só uma questão de não se respeitarem. Sentem-se igualmente que se estão a afundar numa mediocridade sem perspectivas e por via disso tornam-se muito susceptíveis: quando alguém receia estar a ser medíocre, a mais leve alusão nesse sentido deixa-o à beira de uma crise de nervos.
E para além de uma persistente falta de respeito mútuo e de uma desoladora crise geral de nervos, também estão a ser vítimas de uma incómoda incontinência verbal.
Publicado por Joana às junho 2, 2004 10:48 PM
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Comentários
um texto politicamente correcto que irá ter o apoio dos que neste blogue já apoiaram o contrário.
Publicado por: zippiz às junho 2, 2004 11:17 PM
E não sobeja nenhum político bom? nem assim-assim?
Publicado por: c seixas às junho 3, 2004 12:08 AM
Politicamente correcto zippiz?
Então ela arrasa os políticos todos.
Ou será politicamente correcto arrasar os políticos?
Talvez.
Publicado por: c seixas às junho 3, 2004 12:11 AM
Também poucos merecem não ser arrasados
Publicado por: Sargão às junho 3, 2004 12:36 AM
Ela parece dizer mal de todos mas o veneno maior vai prá esquerda. Carvalhas, BE, o Cabrita
Publicado por: Cisco Kid às junho 3, 2004 12:53 AM
Ao Carvalhas chamou cobarde obsceno. Um homem que tem dedicado a vida à defesa dos operários
Publicado por: Cisco Kid às junho 3, 2004 12:54 AM
Quem não a conhecer que a compre
Publicado por: Cisco Kid às junho 3, 2004 12:55 AM
Operários? Mas ainda há operários?
Só se forem os decrépitos operários salsicheiros do CC.
Publicado por: Roberto às junho 3, 2004 12:59 AM
Ainda há operários sufucuentes pra dar uma lição aos capitalistas e aos seus lacaios.
Publicado por: Cisco Kid às junho 3, 2004 01:01 AM
Sempre a mesma cassete. Desisto
Publicado por: Roberto às junho 3, 2004 01:05 AM
Sempre a mesma cassete. Desisto
Publicado por: Roberto às junho 3, 2004 01:06 AM
Na verdade o nível dos políticos da casa tem descido muito.
Mas olhe que isto é um mal do país. Já viu o estado a que chegou a comunicação social?
E o pessoal da net?
Publicado por: Hector às junho 3, 2004 10:30 AM
Por outro lado, Durão pode ter pouca coragem política, mas Sousa Franco mentiu ao país, continua a mentir e foi sempre um arrogante e caluniador dos outros colegas
Publicado por: Hector às junho 3, 2004 10:33 AM
Isto não quer dizer que não concorde consigo na generalidade e não ache que o seu texto está, como de costume, muito bem observado.
Aquela Ana Manso foi muito infeliz no que disse
Publicado por: Hector às junho 3, 2004 10:37 AM
o zippiz já disse tudo
Publicado por: dionisius às junho 3, 2004 11:30 AM
Joana:
Julgo que a menina está a fazer um percurso curioso. Começou por criticar os socialistas pela má governação.
Depois continuou a criticar os socialistas por não terem aprendido nada e continuarem a vender ilusões.
Agora está a verificar que a coligação centro-direita não apregoa ilusões mas desilude por estar a mostrar uma grande incompetência.
Não é verdade?
Publicado por: Vitapis às junho 3, 2004 12:31 PM
A extrema direita é que gosta de amandar abaixo com os políticos todos
Publicado por: Cisco Kid às junho 3, 2004 12:45 PM
Texto verrinoso
Publicado por: Damião às junho 3, 2004 01:01 PM
zippiz:
Você está a ficar com sentido de humor!
Será da frequência deste blogue?
Publicado por: Joana às junho 3, 2004 01:09 PM
Vitapis:
Tem alguma razão no que escreveu, embora esteja a simplificar um pouco.
E obrigada pela sua contribuição crítica, mas construtiva
Publicado por: Joana às junho 3, 2004 01:10 PM
Cisco: A extrema direita e o Bloco de Esquerda. E não só.
Publicado por: Joana às junho 3, 2004 01:10 PM
Joana, não tem de quê. Apesar de, pelo que me parece, estarmos em campos distintos, aprecio a forma com desenvolve a sua argumentação e o substracto cultural das suas intervenções.
O seu blog está, sem quaisquer dúvidas, entre os melhores do ponto de vista de intervenção política.
Digo-lhe isto, apesar de, normalmente, não estar de acordo com as suas ideias.
Publicado por: Vitapis às junho 3, 2004 02:27 PM
Muito bem Joana!...o discurso político desceu ao nível da sargeta! Não se discutem idéias nem programas! é só peixeirada!...
Publicado por: José Guerreiro às junho 3, 2004 05:27 PM
O Jorge Coelho, o de " quem se mete com o PS leva" vem hoje no DN a protestar contra os "insultos"
eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh eh
Só esta me fazia rir
Publicado por: David às junho 3, 2004 05:42 PM
Dizer que Sousa Franco é "um senhor careca, de óculos grandes e esquisitos" é um insulto?
Será uma infantilidade, mas um insulto?
Publicado por: simeão às junho 3, 2004 06:07 PM
Está tudo podre. O país está perdido
Publicado por: anonimo às junho 4, 2004 02:36 AM
O que nos salva é o futebol. O FCP.
A selecção não acredito
Publicado por: anonimo às junho 4, 2004 02:36 AM
Mas com o Mourinho pelas inglaterras já nem o FCP.
Só o berlinde
Publicado por: anonimo às junho 4, 2004 02:36 AM
E este blog é a sede da reacção blogueira.
Acreditem em mim
Publicado por: anonimo às junho 4, 2004 02:36 AM
Ainda bem que é anónimo. Um anónimo sem sentido
Publicado por: Valente às junho 4, 2004 02:54 AM
Vasco Pulido Valente escreveu hoje no DN: Na estrada, na praia ou num estádio qualquer quase ninguém irá pensar em eleições. De resto, as patéticas personagens que por aí andam em «campanha» (dizem elas) foram universalmente ignoradas. Daqui decorre que os resultados do dia 13, com uma abstenção esperada de 70 por cento e sobre uma matéria, a «Europa», que o País não entende, deviam ser em princípio irrelevantes, se existisse algum senso comum e sensatez.
Depois de ler e meditar nestes pensamentos, decidi-me: vou para férias.
Só volto 2ª à noite. Se tiver oportunidade e pachorra, passarei por aqui durante a próxima semana, pois levamos um portátil com GSM. Se não, até para a outra semana!
Em todo o caso, este sítio continua aberto a quem quiser dizer de sua (in)justiça.
Publicado por: Joana - Férias às junho 5, 2004 11:34 AM
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DATE: 02/27/2005 05:59:07 PM
Publicado por: Absnt às fevereiro 27, 2005 05:59 PM
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Publicado por: Absnt às fevereiro 27, 2005 05:59 PM