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janeiro 02, 2004

Prodi engrenou a velocidade errada

Romano Prodi é o presidente da Comissão Europeia. Normalmente um presidente é suposto representar toda a população a que preside, mesmo aqueles que não votaram nele. É a regra dos países democráticos, onde a democracia representativa está alicerçada e desenvolvida.

Todavia, em entrevista ao jornal italiano «La Republica», hoje publicada, Romano Prodi afirma que «é claro que se a situação não for desbloqueada em 2004 então alguns países poderão, e se calhar deverão, tomar a iniciativa e prosseguir em frente».

Portanto, para Romano Prodi haverá várias visões da Europa, mas apenas uma “visão” correcta, a sua, ou seja, a de alguns países que poderão, e se calhar deverão, tomar a iniciativa e “prosseguir em frente”.

Para o presidente da Comissão Europeia, os Estados que podem vir a tomar a dianteira da Europa «podem ser membros fundadores» da UE, mas também, e esta situação é «mais provável e desejável», poderá ser «um grupo misto de antigos e novos Estados que partilhem a mesma visão da Europa».

Romano Prodi está equivocado. Ele é o presidente da Comissão Europeia e não o presidente do Fórum Social Europeu, onde há a visão “correcta”, a nossa, a das vanguardas conscientes, e a “obnóxia”, a dos outros, dos ignaros, das massas transviadas pela sociedade de consumo.

Uma Europa a 2 velocidades é um erro a curto prazo e absolutamente insustentável a longo prazo. Seria a destruição da unidade europeia. E Prodi sabe isso.

Mas Prodi não pretende a destruição da unidade europeia. Pretende apenas chantagear aqueles que se opõem ao diktat franco-alemão. Prodi esquece-se todavia que a própria política “imperial” franco-alemã já começa a ser contestada dentro dos próprios países. Os revezes internacionais sofridos pela França e pela Alemanha no ano passado, fruto das suas nostalgias de grandes potências e de uma grande inabilidade política ainda não penetraram “dans les petits crânes de Paris et Berlin”, mas já agitam as mentes de muitas personalidades influentes daqueles países.

Prodi arrisca-se a ter falado fora do tempo, a estar noutra velocidade, a ter engrenado a velocidade errada.

Publicado por Joana às janeiro 2, 2004 07:34 PM

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Comentários

Prodi não devia ter feito essa afirmação, mesmo que seja o seu pensamento. Contudo a história da europa a duas velocidades tem um precedente :"O Euro". O que parece que vai faltando é uma "linha de unidade" no projecto europeu e um lider carismático que defenda com unhas e dentes o futuro da UE. Não esquecer que já há mais dez novos "reivindicadores"

Publicado por: vmar às janeiro 2, 2004 08:16 PM

Há uma grande arrogância da parte de alguns dirigentes dos países maiores ou mais ricos. Julgo que também é uma mistura com o temor da entrada de 10 novos membros

Publicado por: Viegas às janeiro 3, 2004 11:50 PM

Embora eu concorde com muitas das posições do eixo franco-alemão em matéria de política internacional, como no caso do médio oriente, tenho que concordar que no que diz respeito à UE tem sido um desastre. E arrogantes.

Publicado por: Arroyo às janeiro 4, 2004 01:47 AM

Acrescento que de facto muitos alemaes se interrogam se este eixo com a Franca eh o melhor para a Alemanha e não seria preferivel a anterior politica do Helmut.

Publicado por: Filipa Zeitzler às janeiro 4, 2004 10:08 AM

A Europa tem que encontrar uma forma de união mais consistente e menos dependente dos chauvinista franceses e alemães

Publicado por: Gpinto às janeiro 5, 2004 01:40 AM

Gpinto:
Os alemaes não são chauvinistas como os franceses nem a maioria da populacao da Alemanha partilha a ideia do eixo. Uma coisa foi a guerra do Iraque, porque na Alemanha ha uma grande corrente pacifista, outra eh esta historia da aproximacao com o Chirac, que nao eh do seu agrado

Publicado por: Filipa Zeitzler às janeiro 5, 2004 02:50 PM

Prodi tem razão !

O sonho e a ambição da Grande Europa, tornado mais inadiável pela aliança imperial de Busharon, é partilhado pela maioria esmagadora (+ de 70%) dos europeus, ainda que alguns governos tenham posições contrárias às suas opiniões públicas.

E em todas as unificações há pioneiros. Na Europa foram 6, entre os quais os inimigos de 3 guerras em três quartos de século, a Alemanha e a França. Sem elas (os outros eram os 3 Beneluxes, sempre ensanduichados quando aqueles se defrontavam, e a Itália), nunca teria existido CEE...

E os outros tomaram o combóio em andamento, alguns talvez a contragosto...

Em todos os grupos há líderes e na Europa, são inquestionávelmente a Alemanha e a França. E é óbvio que têm todo o direito de avançar mais rapidamente que alguns novatos que gostam de fazer vénias excessivas a Washington... enquanto recebem (Espanha) ou se preparam para receber (Polónia) colossais subsídios daqueles que traem. Cães que mordem a mão do dono...

Foi assim com a abolição de fronteiras, com o euro e será assim com as Forças armadas euopeias e a política externa. Quem não quiser tem sempre a porta aberta... e no final não haverá nenhum governo que se atreva a afrontar os sentimentos patrióticos europeus da sua população. Entretanto o euro continua a desancar o dólar (já vai em 1,27) fazendo assim o PIB dos 15 superar o dos EEUU... Avante Europa !

Publicado por: liberal às janeiro 6, 2004 04:44 PM

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