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janeiro 23, 2004
Bombardier a Sorefame
A Sorefame é uma das principais metalomecânicas portuguesas e a única no que respeita ao fabrico de material circulante.
As dificuldades pelas quais a Sorefame está a passar, pela ausência de encomendas em carteira, é um exemplo dos resultados que podem advir da apropriação de empresas portuguesas por capitais estrangeiros e da sua estratégia de mercado deixar de ser definida em Portugal.
Não é líquido pensar que se a Sorefame se tivesse mantido em mãos portuguesas estaria hoje melhor, ou se ainda existiria. As encomendas de material circulante num país pequeno como o nosso são pontuais e muito flutuantes. Em teoria, a sua absorção por um grupo maior poderia facilitar-lhe o ter uma carteira de encomendas mais estável.
Na prática, a Sorefame perdeu autonomia estratégica e ficou dependente dos interesses do accionista principal, primeiro a ABB e depois a Bombardier. Em vez de, eventualmente, diversificar a sua actividade, concentrou-se no material circulante.
Que fazer agora, em face da carência de encomendas? Jornalistas e políticos falam das carruagens do TGV. Todavia em obras financiadas pela UE têm que ser respeitadas as regras da concorrência e a adjudicação das compras do material circulante para o TGV ser objecto de concursos públicos internacionais. O Estado não pode dar de mão beijada a fabricação daquele material circulante à Sorefame. Só políticos chicaneiros e jornalistas ignorantes se arriscam a produzir declarações nesse sentido.
Por outro lado, o lançamento dos concursos para aquisição do material circulante não sairá, provavelmente, ainda este ano e, pelo tempo normal de andamento de um processo de concurso desse tipo, nunca antes de finais de 2005 seria adjudicada essa fabricação.
O aumento das redes dos metros e ferroviária obriga à aquisição de mais material circulante. Quando, por exemplo, uma rede aumenta o seu percurso em 10% e se se quer manter a mesma distância, no tempo e no espaço, entre composições, haverá necessidade de adquirir mais 10% de composições. Isto para além das reparações do equipamento existente ou da sua substituição. Poderá haver encomendas nessa área.
Não tenho mais elementos sobre esta matéria, para além das notícias dos jornais e de declarações de políticos, algumas delas absolutamente disparatadas. Apenas sei que é importante salvar a Sorefame, o know-how que ela tem e que se deve pôr a imaginação a funcionar para, no quadro institucional vigente e dentro das obrigações internacionais do país, encontrar uma solução para a manutenção daquela empresa e do seu quadro de efectivos.
Publicado por Joana às janeiro 23, 2004 07:56 PM
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Comentários
Também eu estou preocupado com a Sorefame. Aliás, todos os portugueses deveriam estar. Ainda por cima ela deixou de fazer outras construções metálicas para se dedicar mais ao material circulante. Vai ser uma situação complicada.
Publicado por: Hector às janeiro 23, 2004 09:26 PM
Não tinha ideia que a Sorefame estivesse mal. Eh uma pena se fechar.
Publicado por: Filipa Zeitzler às janeiro 23, 2004 09:49 PM
A questão da Sorefame não é de fácil solução, como aliás a Joana reconhece. Terá que haver pressões sobre o grupo que detém as acções, para evitar alguma decisão má para a Sorefame. Resta saber se temos força para isso
Publicado por: Nereu às janeiro 24, 2004 04:38 PM
O problema da Sorefame é o da globalização. As multinacionais apropriam-se da nossa riqueza e exploram-nos. Tem que haver um mundo diferente.
Publicado por: A Nunes às janeiro 24, 2004 06:09 PM
O problema da Sorefame é idêntico ao de muitas empresas portuguesas. A diferença reside apenas, e é importante, no facto da Sorefame ser uma empresa de elevada tecnologia e as outras serem empresas de baixa tecnologia que estão condenadas a desaparecer.
Publicado por: A Valente às janeiro 24, 2004 09:31 PM
Pois é, cara Joana, a globalização capitalista tem destas coisas.
Quando fala em «solução no quadro institucional vigente» (que raio será isso?) não está a pensar em subsídios do Estado, pois não?
Em relação ao que escreve no terceiro parágrafo, deixe-me esclarecê-la de que o crescimento da Sorefame resultou das vendas ao exterior. Estava a Sorefame bem arranjada se alguma vez tivesse dependido só do mercado interno.
Publicado por: (M)arca Amarela às janeiro 26, 2004 08:23 AM
O que eu designei por quadro vigente são o conjunto de obrigações que temos relativamente às regras da concorrência e que eu também referia no meu texto.
Aliás hoje houve uma reunião dos trabalhadores com o ministro Carmona Rodrigues e à saída o representante dos trabalhadores afirmou: "Estamos a acabar o Metro do Porto e os suburbanos da CP para o Porto" e acrescentou que as encomendas acabam em Abril. "A partir daí a empresa fica sem trabalho. O problema que se põe é no curto prazo, porque nos próximos anos haverá uma grande expansão da ferrovia ainda antes do TGV"
Para 2005 o Metro de Lisboa tem previstas mais 60 unidades para o alargamento da rede e para o desenvolvimento do Metro do Porto foi lançado um concurso público internacional, disputado pela Bombardier e pela Siemens.
Para representante dos trabalhadores, estas duas obras garantiriam a estabilidade da empresa por mais de um ano.
Veremos o que se consegue.
Publicado por: Joana às janeiro 26, 2004 07:53 PM
O Ministro não vai fazer nada. São só balelas. Venderam Portugal aos estrangeiros
Publicado por: Cisco Kid às janeiro 26, 2004 10:20 PM
Não sei se será possível resolver a questão da Sorefame a contento. Não é seguro que a Bombardier ganhe os concursos públicos. Há normas e há critérios. Mas mesmo que ganhe, daqui a 4 ou 5 anos estamos outra vez a discutir este assunto.
Publicado por: Novais de Paula às janeiro 26, 2004 11:18 PM
A globalização é que paga as favas, todos nós sabemos que,determinadas multinacionais compraram empresas nacionais,não foi para investirem , mas para ganharem mercado, depois e só fechar, porque basta ficarem com o armazem para guarda temporária de materias que sejam solicitados a outras Filias, localizadas em locais de mão de obra barata.
Esta uma uma nova forma de terrorismo do século XXI.
Cumprimentos.
Publicado por: Jose António às março 26, 2004 04:21 PM
Esta história da Sorefame/Bombardier faz-me lembrar uma outra história dos meus tempos de estudante. Um colega, que não gostava nada de estudar, dizia: "Se eu tivesse dinheiro, comprava o nosso liceu". - "Para quê?", perguntaram os colegas. Resposta: - "Para o fecha a seguir".
Estamos perante uma consequência negativa da globalização económica: compra-se a fábria e encerra-se. Evita-se um concorrente e depois vem-se cá vender os prudoros fabricados noutro país pela mesma Multinacional. O esquema é claro e altamente lesivo dos interesses dos trabalhadores e do país.
Publicado por: Manuel do Faro às abril 2, 2004 12:03 PM
O sindicatos Portugueses de orientacao Socialista ou Comunista sao contra o patronato privado nacional ou estrangeiro mas cada vez que uma fabrica fecha e amanda para os desemprego desemprego os sindicatos lutam para que esses mesmos madlditos patroes continuem a explorar os trabalhadores exigindo que a eles fiquem em Portugal.
Este dilema transcende a capacidade intelectual dos chefes sindicais que demogagicamente continuam a vender ilusoes aos trabalhadores Portugueses.
Publicado por: Claude às maio 1, 2004 07:15 PM
Que pena ler isso sobre a Sorefame.
Esta empresa nos bons tempos, nos enviou profissionais de alta qualidade para troca de tecnologia em mecânica pesada para a construção das grandes usinas hidrelétricas no Brasil.
Na empresa em que trabalhava a época, fiz alguns queridos amigos portugueses que se orgulhavam da empresa em que trabalhavam. Hoje esses amigos devem também lamentar certas medidas do governo portugues, as mesmas que lamentamos aqui por ver nosso (ex) governo ter disponiblizado nossas melhores empresas públicas para estrangeiros que nada fazem para a melhoria da qualidade desses serviços e de nosso povo.
Publicado por: Beth às maio 22, 2004 04:29 PM
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Publicado por: financial assistance às setembro 27, 2004 04:58 PM
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Publicado por: ROMSIL às outubro 15, 2004 04:32 PM