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janeiro 11, 2004

António Sardinha

António Sardinha morreu em 10 de Janeiro de 1925 (em Elvas) com apenas 37 anos, faz hoje 79 anos. António Sardinha foi, sem quaisquer dúvidas a principal figura do Integralismo Lusitano e a sua morte prematura foi um dos factores decisivos para o rápido enfraquecimento daquele movimento político e cultural.

A doutrina política e cultural que desenvolveu constituiu a base e a evolução do Integralismo Lusitano, Sardinha foi o seu mais destacado dirigente e aquele que mais influência deixou, a tal ponto de alguns chegarem a propor a substituição de D. Manuel II, considerado incapaz e desinteressado pela causa monárquica, pela sua pessoa.

O nascimento “institucional” do movimento dá-se em Abril de 1914, com o aparecimento da revista Nação Portuguesa, que se torna progressivamente no núcleo de combate à República, e às suas expressões mais variadas na cultura, na política e sobretudo na religião. Este último ponto é particularmente importante pois o Integralismo Lusitano encontrou grande apoio nos sectores católicos da sociedade, a quem desagradava o cariz anti–clerical da 1ª República.

O primeiro director da Nação Portuguesa foi Alberto Monsaraz, mas foi sob a direcção de António Sardinha que ela alcançou plena pujança. Após a morte de Sardinha a revista foi vegetando durante mais de uma década até se extinguir.

O Integralismo Lusitano reveste um carácter eminentemente nacionalista. A concretizar esta tendência está a perspectiva apologética e patriótica: uma visão heróica, quase mítica, dos feitos portugueses de outrora, carácter supremo da Alma nacional; a ideia de uma pátria predestinada, por mandamento divino, à grandeza imperial, líder no progresso material e espiritual dos povos, enfim, a ideia da grandeza histórica de outrora, das épocas dos nossos gloriosos antepassados, dos “nossos Maiores”, grandeza hoje perdida, mas que urge recuperar.

Escrevia António Sardinha que « O que se nos impõe é restituir à Pátria o sentimento da sua grandeza - não duma grandeza retórica ou enfática, mas naturalmente, da grandeza que se desprende da vocação superior que a Portugal pertence dentro do plano providencial de Deus, como nação ungida para a dilatação da Fé e do Império. Dilatar a Fé e o Império, equivale a sustentar o guião despedaçado da Civilização. Os motivos de luta e de apostolado que outrora nos levavam à Cruzada e à Navegação, esses motivos subsistem» (Ao Princípio era o Verbo - 1924)

Ao que qualificava de ilusões das doutrinas liberais, o integralismo opõe uma doutrina de vida e salvação. Longe de se basear nos princípios abstractos da razão pura, como os teóricos do liberalismo, o integralismo parte do estudo do que julga serem as realidades. É a experiência e a história, essa experiência do passado, que nos dão a conhecer as leis por que se hão de reger as sociedades. Enquanto a República é o regime em que as instituições e as leis são impostas pela razão de teorias abstractas, independentemente da índole dos diversos de povos, a Monarquia é o regime do facto, e as suas leis são o produto da experiência particular de cada nação.

Portanto a unidade social não se pode basear no indivíduo, um átomo de consciência, que só vale enquanto parte de um grupo social. A unidade social base de uma nação, constituída pelos vivos, pelos mortos e pelos que ainda hão de nascer, pela Pátria eterna, é a família. A Monarquia integral fará, pois, tudo para aumentar a coesão social e não para a dissolver, como fazem os regimes liberais, que pretendem desagregar a sociedade em átomos dispersos e sem coesão.

A Monarquia integral assenta nos municípios, dotados de autonomia administrativa, onde se agrupam as famílias. A Câmara Municipal deve ser a representação económica, técnica ou profissional, mas não política. Os Municípios agrupam-se, por sua vez, em províncias, administradas por Juntas Provinciais, dotadas também, como o município, de autonomia económica. Essas Juntas são constituídas pela delegação dos respectivos Municípios, pela representação dos sindicatos operários e patronais, pelos directores das escolas e dos institutos de utilidade pública, enfim, por todos aqueles que representam interesses corporativos e sociais organizados.

Acima de todos estes organismos representativos há, como chefe natural da Nação, o Rei hereditário. E é na transmissão hereditária do poder do Rei que consiste precisamente a maior superioridade da Monarquia. «Ninguém escolhe o Rei, como ninguém escolhe o próprio pai para lhe obedecer». O simples facto do nascimento já dá ao Rei amplas garantias de bom governo. Filho de rei sabe reinar. Além disso, a sua educação especializada habilita-o superiormente para o desempenho da função a que o destino o chamou.

O poder pessoal do Rei é soberano. Escolhe livremente os seus ministros e os conselhos que os assistem e elaboram as leis, ministros e conselhos que não ficam dependentes de nenhuma sanção e de nenhuma vontade, a não ser a sanção e a vontade exclusivas do Rei. «Na paz e na guerra, dentro e fora das fronteiras, o Rei personaliza a Nação, a sua vontade é soberana, e nenhum poder mais alto se lhe impõe, embora ela deva ser sempre esclarecida pelo conselho dos órgãos competentes». «Esse poder é ilimitado, é arbitrário? Será. É, na verdade, menos ilimitado e arbitrário do que o poder paternal, que se não limita nem arbitra pelo controlo do agrupamento familiar».

Um papel fundamental neste corpo social idealizado pelo integralismo cabe à nobreza, mas à nobreza de sangue. Escrevia Sardinha «Não somos conservadores - dada a passividade que a palavra ordinariamente traduz. Somos antes renovadores, com a energia e a agressividade de que as renovações se acompanham sempre. O nosso movimento é fundamentalmente um movimento de guerra. Destina-se a conquistar - e nunca a captar. Não nos importa, pois, que na exposição dos pontos de vista que preconizamos se encontrem aspectos que irritem a comodidade inerte dos que em aspirações moram connosco paredes-meias. É este o caso da Nobreza, reputada como um arcaísmo estéril em que só se comprazem vaidades espectaculosas. A culpa foi do Constitucionalismo que reduziu a Nobreza a um puro incidente decorativo, volvendo-a numa fonte de receita pingue para a Fazenda. Foge, cão, que te fazem barão!- chacoteava-se à volta de 1840. Mas para onde, se me fazem visconde?! E nas cadeiras da governança o cache-nez célebre do duque de Avila e Bolama ia esgotando os recursos do Estado em matéria de heráldica.» A nobreza idealizada por Sardinha era a nobreza medieval, perante a qual os reis eram primus inter pares, não as fornadas de títulos nobiliárquicos criadas pela monarquia constitucional.

Neste sistema os conflitos sociais são resolvidos dentro da própria estrutura da Monarquia orgânica. Cada classe constitui-se em sindicatos autónomos. Entre os capitalistas e os traba1hadores estabelece-se o contrato colectivo do trabalho. «O capital é necessário para desenvolver a indústria. O trabalho é necessário para produzir. De forma que entre um e outro há uma comunidade de funções. Um sem outro nada é.». O operariado deve, nestas circunstâncias, confinar-se nos seus interesses profissionais, sem se envolver em lutas po1íticas, na tarefa utópica da reorganização da sociedade. Tarefa utópica, porque o nivelamento das classes é contrário à própria natureza das coisas e porque a hierarquia é a condição de toda a vida social.

O Integralismo baseia a sua visão social no regime medieval português, idealizado: o Rei, a Nobreza e o Terceiro Braço agrupado nos municípios. É certo que admite a representação administrativa e profissional. Mas não é, por esse facto, um regime democrático, pois que não há democracia onde não há representação da opinião pública e a sua fiscalização. Em vez de um Parlamento de pura representação política e eleito pelo sufrágio popular, o Integralismo preconiza um organismo de representação de classes, recrutado exclusivamente no seio dessas classes para a representação dos seus interesses, com voto puramente consultivo, tendo por funções a aprovação dos impostos e do orçamento e «a consulta sobre a aplicabilidade, na prática, das leis que os ministros e os respectivos conselhos técnicos elaboram». Essa assembleia (ou Cortes) não se pode sobrepor à vontade esclarecida do rei e dos seus ministros: está limitada à única missão de ponderar e de esclarecer.

A Monarquia integral é, portanto, a solução necessária e suficiente de todos os problemas, o lugar geométrico de todas as medidas de salvação nacional.

As ideias e os princípios liberalistas e igualitários são o produto de doutrinas estrangeiras, invasoras. Ao eliminarmos essas ideias da nossa sociedade, entraremos na plena posse dos nossos destinos, das nossas tradições, das nossas crenças e das características originais da nossa raça. Depois das «medidas purgatórias» da crítica e da higiene intelectual, voltará a haver novamente um Portugal dos portugueses.

Sardinha morreu muito novo, com 37 anos, antes da queda da 1ª República. As suas ideias constituem o núcleo das ideias fascistas que eclodiram em diversos países europeus, entre eles Portugal. Mas não assistiu ao resultado da aplicação prática da sua doutrina. Teria ficado horrorizado? Actualizaria as suas teorias por forma a acolher as monstruosidades que se praticaram decorrentes das suas premissas? Tentaria justificar-se alegando que a sua doutrina tinha sido pervertida?

Na verdade os regimes autoritários que se estabeleceram na Europa levaram a situações diametralmente opostas às que Sardinha fazia entrever na sua visão idílica de uma sociedade harmoniosa, onde cada um na sua função, que lhe cabia pelo sangue ou pela inteligência, ordeiramente, concorria com a sua quota-parte para o bem comum.

O Integralismo Lusitano e a Seara Nova foram os principais grupos doutrinadores na 1ª República. Tinham uma coisa em comum: o erro de pensarem que a pedagogia política conseguia, por si só, modificar a sociedade. Politicamente estavam em pólos opostos. A pujança de ambos não sobreviveu à queda do regime democrático. O Integralismo perdeu a sua razão de ser porque não tinha possibilidade de constituir uma alternativa prática ao salazarismo. A Seara Nova foi amordaçada pela censura e foi sobrevivendo penosamente até reflorescer em meados da década de 60. Mas estava ferida de morte. Já não era a Seara dos eminentes pensadores que lhe tinham dado vida. O PCP era, por via de alguns dos seus membros, o accionista maioritário, e logo que julgou que já não precisava de uma plataforma unitária, no início de 1975, tomou conta da revista e sucedeu à Seara Nova o que aconteceu às restantes publicações do PC: faliu por diminuição das vendas e respectivas receitas


Nota: Curiosamente, o nacionalismo de Sarinha não o impediu, como se pode ler no seu “Aliança Peninsular”, de defender os Filipes, considerando que se tratava de uma monarquia dualista, como o Império Austro-Húngaro, e que a liberdade, cultura, língua e identidade nacionais não estavam ameaçadas pelos reis estrangeiros. Para Sardinha havia uma grande complementaridade entre Portugal e Espanha e ele visionava a futura grandeza portuguesa alavancada pelo maior peso da Espanha, seguindo uma via comum.

Publicado por Joana às janeiro 11, 2004 08:01 PM

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Comentários

Enquanto estudante António Sardinha foi um destacado republicano municipalista, mas depois da implantação da República desiludiu-se (xatiou-se?) profundamente com o novo regime.

Vai daí, converte-se ao catolicismo e à monarquia.
Com Alberto de Monsaraz, Hipólito Raposo, Luís de Almeida Braga e Pequito Rebelo fundou a revista Nação Portuguesa para defender a "monarquia tradicional, orgânica, anti-parlamentar". Era o movimento “Integralismo Lusitano” onde se destacou- pela força da sua palavra.

Em 1915, em conferência na Liga Naval de Lisboa, alertou contra o perigo da absorção espanhola.

Foi deputado pela minoria monárquica.

Depois de ter participado na falhada tentativa restauracionista de Monsanto, exila-se em Espanha, em 1919, donde regressa para a direção do diário A Monarquia de que se serviu para ir aventando a absorção do país pela Espanha defendendo o catolicismo hispânico (??).

Em matéria de convicções o nosso António fartou-se de mudar, não foi?
A valores de hoje, (e perdoem-nos de forçar um pouco) diríamos que da extrema esquerda até à extrema direita.
Como verificamos, outros lhe seguiram os passos corrigindo com celeridade os erros de juventude.

Vade-retro...

Publicado por: Marapião às janeiro 12, 2004 07:58 AM

Marapião: Mudou aos 19/20 anos, no início da sua vida universitária. Mas manteve-se municipalista.
É a idade das mudanças!.

Publicado por: Joana às janeiro 12, 2004 09:06 AM

Cara Joana,

Este comentário vou passar...
Prefiro sardinhas assadas...
Fico à espera que venha defender este governo ou os Americanos, para dar o meu melhor...
Prometo...

Publicado por: Anarca às janeiro 12, 2004 07:27 PM

(...)
o Rei, a Nobreza e o Terceiro Braço agrupado nos municípios
(...)

Desde muito novo me habituei a chamar "comunas" aos seguidores de Sardinha, exactamente pela vertente do Terceiro Braço, recuperado depois pelo PPM.

Com os "anos de brasa" de 74 e 75, esse termo "comunas" foi apropriado pela direita para alcunha dos comunistas e eu (como muitos outros) deixei-o arquivado no esquecimento das coisas a lembrar.

Este texto da Joana sobre Sardinha, re-avivou-me a memória dos "comunas" e, também das Conferências do Casino, conferências essas onde Antero ("Causas da Decadência dos Povos Peninsulares")opunha à monarquia centralizada a federação republicana, com larga democratização da vida municipal.

A "apologia do historicismo" funciona sempre em épocas de crise social...

Por outro lado, não encontro contradições entre o nacionalismo de Sardinha e a defesa dos Filipes, mas isso levar-nos-ia muito mais longe que aquilo a que a Joana se propôs ao assinalar a efeméride da morte de Sardinha.

Porque, se hoje é pacífico a nível académico terem-se os nacionalismos europeus como coisa recente (200 - 250 anos, no máximo), segundo a "apologia historicista" tal não acontece.

E daí todas as "emendas históricas" (que alguns chamam "revisionismo")que se verificaram ou verificam em
países ditatoriais (Portugal, Espanha, União Soviética, Cuba, etc.).

Sardinha não sobreviria à sua teoria, tal como Rolão Preto não sobreviveu.

Publicado por: re-tombola às janeiro 12, 2004 08:16 PM

Caro re-tombola:
Sardinha era o teórico, Rolão Preto foi o prático, embora sem consequências. Sardinha corresponderia ao Rosenberg, enquanto Rolão Preto ao Ernst Roehm. Isto numa visão muito simplista, porquanto Portugal não é a Alemanha e Sardinha morreu antes do início do fascismo enquanto Rolão Preto sobreviveu à queda do fascismo, ao invés do que sucedeu a Rosenberg e Roehm.

Publicado por: Joana às janeiro 12, 2004 10:49 PM

Sardinha foi um fascista. Rolão Preto um fascista que se arrependeu na velhice.
Não percebo os paninhos quentes com gente desta. São piores que a Ana Gomes, que é uma democrata.

Publicado por: Cisco Kid às janeiro 12, 2004 11:01 PM

Marcelo Caetano, quando estudante, conviveu com Sardinha. Li um escrito dele com grandes elogios ao Sardinha.

Publicado por: Hector às janeiro 13, 2004 12:55 AM

Penso que a sorte do Sardinha, no que trata do prestígio que arranjoi, foi ter morrido antes do 28 de Maio. Senão acabaria como os outros

Publicado por: J Ribeiro às janeiro 13, 2004 01:22 AM

António Sardinha foi um visionário...
Actualmente quase todos os politicos passam de fascistas a comunas e vice-versa, de acordo com as conveniências...

Publicado por: Anarca às janeiro 13, 2004 09:51 AM

Embora António Sardinha nunca tivesse sido "o dirigente" do Integralismo Lusitano - Hipólito Raposo teve sempre ascendente no seio do grupo integralista e foi, aliás, o seu secretário durante anos - importa, sem dúvida, lembrar o altíssimo magistério de portugalidade de António Sardinha, e sobretudo agora que a globalização nos impõe rasgos visionários de Grande Política em grandes Espaços - Foi na verdade pela escrita de António Sardinha que o Hispanismo (de Hispânia e não de Espanha!) surgiu como rasgo visionário, bem patente na obra «Aliança Peninsular» (ver advertência, em http://www.angelfire.com/pq/unica/il_ms_alianca_peninsular_.htm).

Manifestamente, o Integralismo Lusitano, extinto em 1932 enquanto organismo político, mas que se manteve até hoje como movimento de ideias, nunca esteve tão actual. Creio que o atestam muitos textos publicados na Internet. Apenas mais dois exemplos:

O Integralismo como doutrina - http://www.angelfire.com/pq/unica/il_br_integralismo_como_doutrina.htm

A obra «Razões Reais» de Mário Saraiva: http://www.angelfire.com/pq/unica/il_2003_j_m_a_quintas_.htm

Publicado por: Rodrigo às janeiro 19, 2004 03:09 PM

O Integralismo Lusitano e sua Actualidade:

http://www.angelfire.com/pq/unica/il_ms_integralismo_e_sua_actua.htm

Publicado por: Rodrigo às janeiro 19, 2004 03:15 PM

A história da cultura portuguesa tem nesta matéria alguma coisa a recordar. Recordemo-la, portanto.

Na 1ª República vivia-se no país uma situação muito semelhante à actual: a mesma partidocracia com parecidos efeitos mafiosos na desmoralização política e na degradação corruptora; idêntico sentido desnacionalizante pelo desensino da história pátria; paralelo rebaixamento dos níveis espirituais; igual disparidade e divórcio entre o Estado e o Povo.

Foi nesse clima social que apareceu o Integralismo Lusitano, o qual, por via das razões do seu ideário, exerceu a mais forte influência na mentalidade dos contemporâneos, e de tal modo perdurável que ainda hoje, tantos anos volvidos, o seu pensamento se encontra sólido e válido para servir. Na realidade a organização estatal assentava então exclusivamente nos clãs partidários, senhores da Coisa Pública.

Tudo, afinal, como acontece hoje. E não admira que assim seja, porque esta 3ª República é, nos princípios, uma reedição da 1ª República, com as mesmas características, se bem que habilmente desenvolvida no desfruto das disponibilidades públicas a favor dos interesses partidários.

Depois de Abril de 74 repetem-se os mesmos males, os mesmos que em 1910 se incentivaram. O termo incentivaram emprega-se aqui no seu exacto significado. Na verdade a partidocracia com os seus erros e abusos vinha de longe, do equívoco «liberalismo»; todavia acima dos clãs partidários existia então uma autoridade nacional - extrapolítica e suprapartidária - a do Rei, que travava um tanto os excessos exploradores da politicagem.

Com o «5 de Outubro» as coisas neste ponto pioraram substancialmente. A chefia do Estado passou às mãos de Presidente mas, dado que estes são políticos de origem, e confirmados por via eleitoral, desapareceu aquele travão que podia impor-se aos desmandos partidários. Doravante senhores do Parlamento, do Governo e da Presidência, consumou-se o seu poderio total, sem impedimento legal, porquanto as leis, eles as fariam e desfariam conforme as conveniências.

As mesmas causas, como é lógico, produziram os mesmos efeitos. E chegamos onde estamos: os mecanismos estatais de decisão (da Presidência, ao legislativo e ao executivo) não protegem o Povo; funcionam, isso sim, a favor dos «políticos»; no entanto à custa do Povo. Registe-se, se não é repetir demais, o insultuoso confronto entre o regime de reformas dos trabalhadores, e o novo e privilegiadíssimo regime inventado pelos «políticos» para suas próprias reformas!

Em tempos antigos clamava-se «Aqui d'EI-Rei» porque a Realeza tinha como missão e primeiro encargo velar pela justiça na República. E hoje, que acima dos poderes político-partidários não existe nenhum outro poder (porque todos eles são de natureza político-partidária), o que resta legalmente ao Povo ofendido senão ir sofrendo as leis iníquas? Alegam do lado de lá que o povo, usando o direito de voto, pode substituir os governantes, e que nessa possibilidade reside a grande virtude da Democracia. A alegação, no que é capciosa, tem uma resposta pronta. O mal maior não está tanto nos indivíduos, como no vício do sistema, que torna os indivíduos viciosos. Mudar os governantes pouco adianta, se continuar a viciosa partidocracia.

Está demonstrado que os partidocráticos agem todos igualmente, porque Ihes são comuns as conveniências. A prova disto está no facto sucedido (não o esqueçamos) de terem subido os vencimentos deles em perto de 100 por cento, deixando aos trabalhadores apenas o aumento de 11 por cento.

Os integralistas, deparando no seu tempo com idênticos problemas aos dos nossos dias opunham-se à partidocracia exclusivista e imperante, e propugnavam pelo reconhecimento constitucional dos órgãos vitais da sociedade e, consequentemente, pela sua inserção de pleno direito nas estruturas do Estado.

Traduzindo as intenções para o presente, pensaríamos de imediato no assento dos "parceiros sociais» (alargados como de direito) nas bancadas da "Assembleia da República”: A «concertação social» far-se-ia aí: teríamos então dado o primeiro passo em frente, legitimando a designação de Assembleia da República à que agora usurpa esse nome, mas não passa de uma assembleia restrita de deputados de alguns partidos políticos.

Neste novo ordenamento, ajustado às realidades, e sob os auspícios da restauração monárquica viam os integralistas uma transformação de coisas e de mentalidade, capazes estas de contribuírem decisivamente para o preciso saneamento da vida política portuguesa.

Não se amofinem com a proposta os directórios partidários. O monopólio de que têm gozado tem fatalmente de terminar. Aliás os senhores partidocratas contribuíram bastante para apressar o fim com leis discriminatórias e a generalizada corrupção.

Será prudente não esperar que o povo ganhe consciência das injustiças de que vai sendo vítima e ultrapasse exasperado as disciplinas partidárias ou sindicais, e venha para a rua reivindicar direitos humanos de igualdade de tratamento; e, inclusive, exija responsabilidades. Os exemplos alastrantes do Leste constituem um aviso sério para esta indulgente e enganada população do Ocidente.

O ideário integralista que, embora por motivos diversos, foi válido na 1ª e na 2ª República, não o é menos nesta 3ª República, diremos que actualizado na medida em que se agravaram os males antigos que combateu.

O estudo das suas fundamentações conserva a mesma importância e aponta soluções que ainda não foram superadas pela crítica moderna.

As gerações novas, viradas para o descobrimento da História que, anti-patrioticamente, Ihes tem sido ocultada, mostram uma curiosidade especial para as doutrinas integralistas, também estas escondidas pelos facciosos meios de comunicação e de informação.

(In Mário Saraiva, Frontalidade, Lisboa, Universitária Editora, 1995)

Publicado por: Rodrigo às janeiro 19, 2004 05:11 PM

Obrigada, Rodrigo, por me dar a conhecer esses escritos e pela sua contribuição para este debate.

Publicado por: Joana às janeiro 19, 2004 08:53 PM

Só pode discutir quem lê.
Sardinha nunca defende uma "nobreza de sangue", não confundam, pois da confusão só pode sair confusão. Defende uma nobreza de mérito, o que não é manifestamente a mesma coisa. Não se defende um pensador, da estirpe de Sardinha, levianamente, e de acordo com os nossos interesses pessoais. Sardinha merece o respeito que nos merece qualquer intelectual, concordemos ou não com ele, são as suas ideias que devem ser defendidas ou atacadas, nunca a pessoa, que nele era invejosamente virtuosa se comparada com os nossos melhores políticos de hoje. Alguém disse que ele mudava muito, é verdade. Que mal tem isso, se a mudança significava corrigir-se, melhorar-se, emendar-se? Preocupa-me é quem não muda. Marioti foi um seu acérrimo critico, só quem luta tem criticos, só quem pensa e expõe os seus pensamentos pode ser confrontado. Muita gente que escreveu nesta resposta o que é que propõe anti-sardinha, nada, só conversa da treta. Um pensamento merece ser tratado como tal. Chamar-lhe fascista é desonestidade intelectual, ele foi um integralista lusitano, o que não é o mesmo que fascismo, cada um de nós tem semelhanças com os progenitores e não é por isso que somos o mesmo. Não quero dizer que havia semelhanças entre o integralismo e o fascismo, mas leituras atentas à n"Nação Portuguesa" encontramos críticas acérrimas ao fascismo italiano, comparando-o ao bolchevismo. As ligações ao fascismo nos integralistas só surgem depois da morte de Sardinha. Provem-me o contrário.
Falta um "Punhal dos Corcundas" da contra-revolução de 25 de abril.
Haja coragem, abril foi bom e mau. Mais de bom que de mau, claro. Mas devemos respeitar a razão, nem tudo de antes de Abril era mau nem tudo de depois de Abril é bom. Lapalisse.
Estudar os integralistas é uma tarefa árdua, pois encontramos muitas divergências entre eles, por isso é que a leitura de Sardinha ainda não está verdadeiramente feita do ponto de vista político. Há para aí uns estudos bibliográficos, mas ideográficos ainda não. Já vai sendo tempo de se deixar de dizer vãnidades e estudar como deve ser, seja por pessoas ditas da direita ou ditas da esquerda, mas estude-se.
A um respondedor quero dizer-lhe que António Sardinha chegou a nomear-se de "extrema esquerda". E esta heim!
É que eu digo é que é preciso ler para compreender, não basta mandar uns palpites aqui e ali.
Esta discussão ganhará se antes lerem o que "realmente disse Sardinha" e não o que se pensa que disse ou o que queriam que ele tivesse dito.
um corcunda

Publicado por: punhal dos corcundas às janeiro 22, 2004 12:13 PM

Punhal dos Corcundas:
Não sou especialista em António Sardinha. Li algumas coisas dele e apenas quis dar lembrança de uma figura que marcou o pensamento português durante a 1ª República e injustamente esquecida.
Permita que discorde sobre a questão da nobreza. Leu certamente o que ele escreveu sobre a atribuição de títulos de nobreza durante a monarquia constitucional, e que eu citei alguns trechos. Leu certamente que Sardinha considerava que a corrupção de valores da sociedade vinha da época do iluminismo, e os seus germes estavam no renascimento.
Para mim resulta evidente que a nobreza “verdadeira” para Sardinha teria sido aquela que se teria constituído na reconquista, na época das presúrias de Entre Douro e Minho (séc IX e X) e que remontava à monarquia goda. Uma nobreza de mérito naquelas épocas, mas de sangue pelos seus descendentes.
Quanto a Sardinha não ser fascista, poderá ter razão. Mas veja que quando ele morreu ainda não havia fascismo em Portugal. Como todos os líderes do Integralismo Lusitano estiveram, em maior ou menor grau, ligados ao fascismo português (que não coincidiu exactamente com o salazarismo) poderá supor-se que ele poderia, se não tivesse morrido tão novo, ter o percurso dos restantes

Publicado por: Joana às janeiro 23, 2004 12:00 AM

NOBREZA

Acerca da Nobreza, vale a pena recordar as célebres palavras de Dom Duarte Nuno: «NÃO COMPREENDO UMA NOBREZA QUE NÃO SEJA ABERTA, TANTO PARA OS NOVOS VALORES QUE APAREÇAM COMO PARA AQUELES QUE POR INDIGNIDADE DEVAM SAIR».

A Nobreza, segundo António Sardinha, ia na mesma direcção: “Viver à «lei da nobreza» era ser-se «autoridade-social», era servir-se, com mais encargos do que direitos, o bem-comum.” («Ao Ritmo da Ampulheta», 2ª edição, 1978, p. 138).

Publicado por: Rodrigo às janeiro 23, 2004 08:41 PM

TRADIÇÃO

A Tradição, segundo António Sardinha:

“Para nós a «Tradição» não é somente o Passado. É antes a PERMANÊNCIA no DESENVOLVIMENTO. Sendo assim, - e não é outra a base filosófica das doutrinas tradicionalistas - , as instituições de um povo não podem nunca considerar-se como uma acto de exclusiva vontade pessoal ou como uma imposição deliberada de uma grupo maior ou menor de indivíduos. A sociedade é uma CRIAÇÃO , não é uma construção, - não é um mecanismo. (...) por «Tradição» nós temos que entender necessariamente o conjunto de hábitos e tendências que procuram manter a sociedade no equilíbrio das forças que lhe deram origem e pelo respeito das quais continua durando.
(...)
“Se, por exemplo, se fala no municipalismo português, ninguém pensa em voltar aos forais, tal como a Idade Média os concebeu, nem aos procuradores das vilas, recebidos em Cortes por procuração passada em termos imperativos. O que se pretende é conservar esse apreciável instinto localista que assegura de per si a realização de mais saudáveis medidas descentralizadoras no interesse do Estado e no aproveitamento das diversas representações regionais e provinciais. Deste modo, a política é para nós uma REALIDADE, uma como que EXPERIÊNCIA, garantida e comprovada pela história.
A história – e não as nossas predilecções doutrinárias – é que nos deve guiar na determinação do regime que mais convém aos destinos de uma nacionalidade.”
(...)
(Parafraseando o visconde de Bonald)... “as instituições do passado não são boas por serem antigas, mas são antigas por serem boas”.
(...)
Ser-se tradicionalista – que é o oposto de ser-se conservador! – “é aceitar do Passado o impulso dinâmico, a sua força vivificadora... tudo o que é repousa naquilo que foi. A Tradição não é assim um ponto imóvel na distância. É a continuidade no desenvolvimento.” (Na Feira dos Mitos, ed. de 1942 - artigo «Do valor da Tradição», página 9 e seguintes)

Publicado por: Rodrigo às janeiro 23, 2004 08:45 PM

Isto está a dar um debate muito interessante.
Para um personagem que andava bastante esquecido, tem tido uma grande afluência.

Publicado por: Hector às janeiro 23, 2004 09:16 PM

INTEGRALISMO E FASCISMO

Para se perceber a suposta evolução dos integralistas na direcção do “fascismo” , nada melhor do que ler um fascista ainda vivo, António José de Brito, atacando com ferocidade os integralistas lusitanos, na sua comunicação ao Congresso Nacionalista, realizado recentemente.

Primeiro, A. J. Brito começa por afirmar – com verdade – que Rolão Preto não era fascista, e nem mesmo durante a fase nacional-sindicalista. E por isso cita Rolão Preto em 16 de Julho de 1933, num discurso no teatro S. Carlos, quando ele proclama "nós estamos para além do fascismo que é a escravidão do homem em proveito do Império". (Cit.por José Plácido Barbosa, Para além da Revolução… Revolução, entrevistas com Rolão Preto, Porto, 1940, p.127).

Mas o que preocupa o fascista, e salazarista, António José de Brito, percebe-se logo de seguida, quando cita o para si “insuportável” Pequito Rebelo:

“Pequito Rebelo, em 1942, numa conferência proclama "a doutrina da personalidade um indicador da tendência da evolução", achando que "o integralismo se mostrou mais pró personalista que anti-individualista" (...) e depois, para cúmulo] ainda “apontou à segunda geração integralista a missão de "combater a Pseudo Nação" que era como designava o Estado Novo. Isto no momento em que no nosso país a anti-nação erguia de novo a cabeça. Mas combater a pseudo nação de que ponto de vista? Pelo que tinha de transigente, de vestígios de democracia, de não rigorosamente autoritária? Nada disso. Interessava-lhe como um dos pontos básicos a "salvaguarda da dignidade e dos direitos da pessoa humana". (Citando P. Rebelo em «Pela Dedução à Monarquia», p. 295)

Porque Almeida Braga considerou o fascismo como uma “doutrina satânica” (Luís Almeida Braga, Idem, p. XII) e não como “estado ético” (como pretende o fascista A. J. Brito), ainda afirma: “Almeida Braga, em 1944, no prefácio a livro de um militar heróico, que se mostrou insensato leader político (diga-se entre parêntesis que por exemplo em 37 ele achava que "o nosso libelo contra o liberalismo não visa as alegadas finalidades de liberdade e fraternidade que são justas e cristãs e como tais dignas de franca aprovação, mas sim apenas as suas fórmulas de realização prática", Almeida Braga, repetimos, exalta "a liberdade política" (Luís Almeida Braga, Prefácio à Profissão de Fé citada na nota anterior, p. XV.), condena "a rigidez molesta da censura".

Um dos supremos crime dos integralistas, surge de seguida: “Alberto de Monsaraz, em 1945, em plena ofensiva do MUD contra o Estado Novo, em que anti-nação parecia prestes a triunfar, lá veio com um opúsculo Altura Solar, exalçando "as múltiplas liberdades individuais com que se dignifica a personalidade humana" (Alberto de Monsaraz, Altura Solar, Lisboa, Pro Domo, 1945, p. 29) e apontando "o alto exemplo da Inglaterra monárquica, derradeiro baluarte de liberdades". (Alberto de Monsaraz, Idem, pp. 29-30).

Enfim, para se perceber a relação entre Integralismo Lusitano e Fascismo, nada melhor do que ler os fascistas vivos.

Publicado por: Rodrigo às janeiro 23, 2004 10:06 PM

INTEGRALISMO E FASCISMO (revisto em benefício da clareza, espero)

Para se perceber a suposta evolução dos integralistas na direcção do “fascismo” , nada melhor do que ler um fascista ainda vivo, António José de Brito, atacando com ferocidade os integralistas lusitanos, na sua comunicação ao Congresso Nacionalista, realizado recentemente.

Primeiro, A. J. Brito começa por afirmar – com verdade – que Rolão Preto não era fascista, e nem mesmo durante a fase nacional-sindicalista. E por isso cita Rolão Preto em 16 de Julho de 1933, num discurso no teatro S. Carlos, quando ele proclama "nós estamos para além do fascismo que é a escravidão do homem em proveito do Império". (Cit. por José Plácido Barbosa, Para além da Revolução… Revolução, entrevistas com Rolão Preto, Porto, 1940, p.127).

Feita a clarificação – como quem diz: "de um lado eu, A. J. Brito, orgulhosamente fascista, e do outro lado eles, os integralistas lusitanos"...

Mas o que no fundo preocupa o fascista António José de Brito, percebe-se bem, quando cita o para si “insuportável” Pequito Rebelo:

“Pequito Rebelo, em 1942, numa conferência proclama "a doutrina da personalidade um indicador da tendência da evolução", achando que "o integralismo se mostrou mais pró personalista que anti-individualista" (...)
E depois, para cúmulo, Pequito Rebelo ainda cometeu o seguinte crime: “apontou à segunda geração integralista a missão de "combater a Pseudo Nação" que era como designava o Estado Novo”. E António J. Brito logo acrescenta, escandalizado: “Isto no momento em que no nosso país a anti-nação erguia de novo a cabeça. Mas combater a pseudo nação de que ponto de vista? Pelo que tinha de transigente, de vestígios de democracia, de não rigorosamente autoritária? Nada disso. Interessava-lhe como um dos pontos básicos a "salvaguarda da dignidade e dos direitos da pessoa humana". (Citando P. Rebelo em «Pela Dedução à Monarquia», p. 295).

Porque Almeida Braga considerou o fascismo como uma “doutrina satânica” (Luís Almeida Braga, Prefácio à Profissão de Fé, p. XII) e não como “estado ético” (como se lhe refere A. J. Brito), ainda afirma a respeito deste último:

“Almeida Braga, em 1944, no prefácio a um livro de um militar heróico [Henrique Paiva Couceiro], que se mostrou insensato leader político (diga-se entre parêntesis que por exemplo em 37 ele (LAB) achava que "o nosso libelo contra o liberalismo não visa as alegadas finalidades de liberdade e fraternidade que são justas e cristãs e como tais dignas de franca aprovação, mas sim apenas as suas fórmulas de realização prática"), Almeida Braga, repetimos, exalta "a liberdade política" (Luís Almeida Braga, obra citada, p. XV.), condena "a rigidez molesta da censura".

Também Alberto de Monsaraz é acusado do mesmo crime de lesa-salazarismo e de lesa-censura. Nas próprias palavras de A. J. Brito:

“Alberto de Monsaraz, em 1945, em plena ofensiva do MUD contra o Estado Novo, em que anti-nação parecia prestes a triunfar, lá veio com um opúsculo «Altura Solar», exalçando "as múltiplas liberdades individuais com que se dignifica a personalidade humana" (Alberto de Monsaraz, Altura Solar, Lisboa, Pro Domo, 1945, p. 29) e apontando "o alto exemplo da Inglaterra monárquica, derradeiro baluarte de liberdades". (Alberto de Monsaraz, Idem, pp. 29-30).

Enfim, para se perceber a relação entre Integralismo Lusitano e Fascismo, nada melhor do que ler os fascistas vivos.

Publicado por: Rodrigo às janeiro 23, 2004 11:21 PM

Hector dixit: "para um personagem que andava esquecido, isto está a ter muita afluência".
Sabe porquê?
R.: Tradição
Os seus pensamentos políticos tocam-nos hoje como tocarão amanhã. Quer concordêmos com ele quer não. Há no Integralismo muito a aprender, a começar pelo amor à pátria, aos concidadãos e ao bem comum. Só isto já faz com que o ideal do Integralismo Lusitano não morra nunca, apesar de poder morrer o movimento. É isto que faz os grandes pensadores, as suas verdades são-no para todos os tempos.
Há algo de admirável no movimento integralista que não pode ficar esquecido neste morronhento Portugal, que é o seu inconformismo perante a partidocracia e os interesses pessoais. Eram interventores convictos na sociedade, eram temidos pelas verdades que diziam, por um lado, e temidos pelas ideias que defendiam, por outro. Quer concordemos quer não, são exemplares pelo modo como lutaram pelos seus ideais, sem medo nem freios na língua. A verdade acima de tudo. Devemos-lhes, pelo menos, a reverênia de nos ensinarem a amar o país (digo) a nação que fomos, que somos e que certamente seremos.
"Rodrigo", parabéns, pelos conhecimentos que demonstra sobre o mestre António Sardinha e outros integralistas.
"Joana", permita que lhe diga, mas o assunto da "nobreza" está encerrado com o que disse o Rodrigo. Diz-nos algumas verdades nas críticas de António Sardinha à nobreza, mas elas são mais profundas profundas e vão até antes do iluminismo, mas enfim a ideia básica é que conta, ele defende é uma Nobreza de Méritos e não de sangue, quanto a isso sou intransigente, caso contrário era indefensável o Integralismo Lusitano tal como foi sendo delineado. Quanto ao fascismo, uma leitura atenta à "Nação Portuguesa" ver-se-à que há um integralismo antes e após Sardinha, e como sabe houve grandes dessidências entre o movimento integralista, havendo até dois movimentos. Isto para dizer que era tão repugnante ao 1º integralismo o fascismo como o bolchevismo. Está escrito, só é preciso ler.
Claro que fascismo e salazarismo não é o mesmo, é evidente. Se António Sardinha estivesse (ses e mais ses) eu estou convencido que não seria salazarista nem fascista claro. Seria Integralista, esta é que é a verdade. O integralismo queria ser uma doutrina e uma prática política, e ele era um dos arautos dessa doutrina. Por muito que custe temos que admitir que a morte de Sardinha foi a agonia do integralismo, não porque os outros o não fossem, não. Mas, pelo facto de ser ele quem faria germinar o novo ideário, era ele "O MOÇO" que queria tornar-se "O HOMEM" e te-lo-ia se a morte o não colhesse tão cedo. Depois dele, com Manuel Múrias, perdoem-me os integralistas, mas o movimento nunca mais foi o mesmo, andou moribundo e depois fascisou, por um lado, e salarizou-se, por outro. (Claro que também o salazarismo tem que se lhe diga - não é um movimento homogéneo em toda a sua extensão temporal, não nos podemos esquecer que nos seus alvores a esmagadora maioria da nação portuguesa era salazarista, ou pelo mesnos acreditava naquilo que Salazar representava. O pior veio depois e quanto a isto não nos podemos esquecer que muitos integralistas passaram pelas masmorras de Salazar, não esquecer.
"Joana" para terminar:
Estou convicto de que não se nasce nobre, a nobreza é algo que se adquire pelos actos. A sua hereditarieade só tem significado quando o herdeiro segue os passos do herdado, aí sim, e só aí, é que honramos os nossos avós e não quando abusamos dos direitos que eles honradamente adquiriram. Temos que nos fazer merecedores deles e não meros herdeiros de títulos. A nobreza é um estado de alma não um dote.
Integralismo Lusitano, sempre!
Não o folclórico mas aquele que nos empurra para o trabalho e não para o ócio. Muito devemos aos integralistas, pelo seu trabalho em desvendar a nação que somos. Só por isso já merecem o nosso respeito.
Como digo, ataquem-lhes as ideias e deixem-se de fascismos e salazarismos. O Integralismo já era antes deles, e isso é inultrapassável, portanto não se tome a nuvem por Juno.

Publicado por: punhal dos corcundas às janeiro 29, 2004 10:45 AM

punhal dos corcundas:

Saúdo as suas intervenções, carregadas de pertinência, mas não posso deixar de discordar com uma pequena passagem:

"Depois dele [António Sardinha], com Manuel Múrias, perdoem-me os integralistas, mas o movimento nunca mais foi o mesmo, andou moribundo e depois fascisou, por um lado, e salarizou-se, por outro."

O integralismo "fascisou" com quem? Com Rolão Preto? Então não era Rolão Preto quem dizia que o fascismo era um "totalitarismo divinizador do Estado", dotado de uma doutrina contrária ao pensamento cristão da tradição portuguesa?

Quanto a Manuel Múrias pertence na verdade ao grupo dos dissidentes do Integralismo, a par de Marcelo Caetano, Teotónio Pereira, João Amaral, entre outros. Os integralistas na altura acusaram-nos de traição, mas creio que os integralistas actuais, não têm que se ofender por isso. Eles fizeram a sua escolha. Escolheram a Salazarquia, e por isso mesmo não podiam continuar no Integralismo.

Publicado por: Rodrigo às janeiro 29, 2004 09:19 PM

Concordo consigo, Rodrigo.
Na verdade não foi o integralismo que fascizou ou "salazarizou", foram algumas personalidade, peço desculpa de tomar "a nuvem por Juno".
Apenas uma nota: Não é preciso militar para se ser isto ou aquilo (digo fascismo ou salazarismo), por isso é que posso afirmar que as simpatias ora de uns ora de outros "integralistas" (à época) pelo fascismo italiano foi evidente e pelo salazarismo também. Concordo plenamente consigo quando separa as ideologias das pessoas, só isso manterá o integralismo (integro e entegral), as pessoas corrompem-se os ideais são imorredoiros.!
O punhal estará embainhado, mas pronto, não para assassinar mas para servir a Ordem Nova, e a Justiça.

Publicado por: punhal dos corcundas às fevereiro 5, 2004 11:59 AM

Bem, em tudo aquilo que eu li neste blog só os comentários do corcunda e do rodrigo é que fazem algum sentido. Parece-me que são os únicos bem informados (bem é uma forma de expressão!). Isto se exceptuarmos os comentários bem dispostos (bem é uma forma de expressão) do Anarca.
No entanto, vou ficar atento às calinadas que vocês vão dando.
Fiquem bem (bem é uma forma de expressão)

Publicado por: novo princípe às fevereiro 5, 2004 03:53 PM

Esse novo princípe quem é que julga que é?
Pensa que só ele é que conhece os textos dos integralistas? E o integralismo no Brasil? Onde é que anda o Eneias? e o Enoé? e o 2MIL? Tem a mania que só ele, o corcunda e o rodrigo é que sabem! Machistas. Força Joana!

Publicado por: aurora às fevereiro 5, 2004 03:58 PM

Não percebo porque são tantos salamaleques por um fascista que a Joana desenterrou

Publicado por: Cisco Kid às fevereiro 7, 2004 10:46 AM

Olá

Gostava de saber, se não for incómodo, se o António Sardinha era ou não fascista.

Publicado por: mariotte.jr às fevereiro 25, 2004 04:54 PM

mariotte.jr em fevereiro 25, 2004 04:54 PM:
Lamento não o poder ajudar, mas eu própria estou a ficar confusa sobre essa matéria.

Publicado por: Joana às fevereiro 25, 2004 08:10 PM

António Sardinha foi um destacado Integralista Lusitano. Reproduzo, com a devida vénia, uma síntese do historiador José manuel Alves Quintas:

(ver corpo do blog)

Publicado por: Rodrigo às fevereiro 29, 2004 03:15 PM

Joana
Agradeço a sinceridade da sua resposta. A questão não é fácil de resolver. O texto do Rodrigo é como os provérbios do Sancho Pança, vêm a propósito e a despropósito. Já agora, não é necessário transcrever a tese do J. M. Quintas que está publicada e inclusive se encontra no site dos integralistas. Por isso, pergunto-lhe a si, Rodrigo, o Sardinha é ou não é fascista? Dispenso qualquer outra informação, principalmente aquela que se encontra já publicada.

Com os melhores cumprimentos
Mariotte Jr

Publicado por: Mariotte Jr às março 1, 2004 12:51 PM

Mariotte Jr em março 1, 2004 12:51 PM:
Obrigada pela informação.
Em qualquer dos casos, como o texto era demasiado extenso para comentário e como tem, na verdade, interesse documental, acho que ficou melhor no corpo do blog.
E como tal, o pessoal que tem mantido esta polémica terá mais um local para tal, se o quiser

Publicado por: Joana às março 1, 2004 10:13 PM

Mariotte Jr,

Acho divertido o nome que escolheu, uma vez que o seu «pai» era o Padre Vasconcelos, um maurrasiano dos quatro costados (portanto, monárquico afrancesado), depois de ter sido aquilo que alguns gostam de designar por «republicano», isto é, e com muito maior propriedade, presidentista.

António Sardinha também foi presidentista até perto dos 20 anos, mas não era "republicano, laico e socialista" como Mussolini. Aí, nessa trilogia, começa toda a diferença.

António Sardinha era um "republicano municipalista" e que teve a oportunidade de observar, logo no início da 1ª república, o que eram os "republicanos" no poder - a falta de respeito que eles tinham pelos municípios, e pela religiosidade católica da maioria dos portugueses.

Quanto aos municípios, Sardinha considerava-os como que "as células-mãe da Pátria Portuguesa". Para Sardinha os municípios eram mesmo a razão de ser do Estado, o seu fundamento. Vai daí, face ao ataque que a 1ª República lhes moveu, continuando aliás a obra da Monarquia da Carta, Sardinha coverteu-se à Monarquia quando, por via dos estudos históricos que realizou, concluiu que a Nação Portuguesa havia nascido de uma estreita aliança entre os municípios e a Instituição Real. Portugal, segundo Sardinha, fortalecera a sua independência em 1383-85, aliás, porque os concelhos haviam aclamado rei D. João I, Mestre de Avis. Depois dos portugueses terem derrotado militarmente os castelhanos e a alta nobreza, que se aliara aos primeiros, as Cortes portuguesas confirmaram D. João como Rei e foi com base nessa aliança entre Concelhos e Rei que Portugal pode continuar. Essa era a visão histórica de Sardinha para se converter ao ideário monárquico.

Que relação tem este pensamento e ideário de Sardinha - sucintamente apresentado - com o pensamento de Mussolini?

No plano dos fundamentos, nenhum. Mussolini, que era ateu, simulou aliança à Igreja e até fez uma Concordata, mas considerava o Estado central como uma entidade quase divina; "Divinizou o Estado" como dizia Rolão Preto, um dos companheiros de Sardinha no Integralismo Lusitano.

Para resumir, os integralistas eram cristãos, católicos (portanto personalistas) e monárquicos, enquanto Mussolini era "republicano, ateu e socialista". Mussolini dizia, "Tudo pelo Estado, nada contra o Estado", os integralistas diziam "Tudo pelo Homem, nada contra o Homem."... No plano dos fundamentos filosóficos, pertenciam a dois mundos contrários, direi mesmo - irreconciliáveis.

Publicado por: Rodrigo às março 2, 2004 12:43 PM

Rodrigo

Como cortesia digo-lhe que o seu nome também é engraçado, embora não seja maurrasiano. Como já disse aqui atrasado, os seus comentários são como os provérbios do Sancho Pança. Por outro lado, limitou-se a dizer generalidades. Já leu a 2ª série daquela revista que já citou - se não se lembra eu avivo-lhe a memória: chama-se a Nação Portuguesa.
Recomendo-lhe a leitura dessa série e da seguinte, pelo menos até à morte de Sardinha. Serão também de alguma utilidade a leitura dos artigos do Afonso Lucas e do Rolão Preto nas citadas séries. Quando tiver essa informação escreva que eu estarei sempre pronto para lhe responder.
Por último, a teoria municipalista foi na origem, tanto em Portugal como em Espanha, uma doutrina defendida por socialistas, federalistas e, ó pasmo, anarquistas. Será que não se lembra quem era o autor da Teoria do Socialismo.
Digo-lhe de novo, escreva sempre embora não tenha um nome tão curioso como o meu.

PS - Já agora o nome do padre é Amadeu de Vasconcelos, por que Vasconcelos há muitos (Já leu os Meus Cadernos? ou melhor os do meu "pai"). Já agora, também sabe quem é o punhal dos corcundas?

Mariotte Jr

Publicado por: mariotte Jr às março 4, 2004 11:47 AM

Agradeço a referência, mas vocês que são "integralistas" entendam-se. Eu sou só monárquico, desde que o rei seja euzinho.
Estou a brincar, claro.
É preciso apimentar a discussão. Fascismo ou não, o que interessa são os princípios que os integralistas defendem, quanto ao resto são ou parecem ser pedras no sapato, facilmente removíveis. Tirem essas areias e encontrarão uma doutrina política aportuguesada.
Aportuguesemos Portugal na cultura europeia, já que é irreversível a europeização de Portugal.
Viva Portugal. O reino de Portugal sobrevirá à história, independentemente da vontade do presente. É-se também aquilo que se foi. Isto é incontestável. Ser português é carregar com a nossa história, que para uns é um "fardo" e para outros um alento.
Integralistas contemporâneos unam-se, não pela discussão de se o integralismo é ou não fascista, mas pelo Portugal português, que também teve influências fascistas na sua história. Negar a história é negar Portugal. Negar o presente também. A construção do futuro depende também do nosso passado. É isto o tradicionalismo.
Mariotte jr. e Rodrigo promovam a discussão e nascerá a luz.

Publicado por: Punhal dos corcundas às março 4, 2004 12:33 PM

Mariotte Jr,

Não cheguei a perceber se é, ou não, maurrasiano, como seu «pai». Se fôr monárquico - isto é, defensor da Instituição Real na Chefia do Estado português - mesmo sendo afrancesado, isso seria «ouro sobre azul».

Quanto ao sancho-pancismo - ó homem, não se acanhe e diga de sua justiça! De generalidades estou eu farto, a começar pelas que eu próprio digo e escrevo. E o que nos faz aqui falta são quixotes e dixotes! E não deixe de citar quem e o que lhe aprouver, desde o Afonso Lucas ao Rolão Preto, na 1ª ou na 2ª série da revista «Nação Portuguesa». Também pode citar artigos do jornal «Revolução». O que não vale é citar a «Nação Portuguesa» depois dos mestres integralistas se terem dela afastado; aí por 1929, segundo fontes seguras me apontam, o Manuel Múrias mudou-se por essa altura de armas e bagagens para a «Salazarquia». Todas as citações são pois bem-vindas. Só lhe peço que não se esqueça de referir as datas e as páginas, não vá o «diabo tecê-las».

Post scriptum (vai por extenso, para evitar confusões). Em vida de meus pais, perguntei-lhes um dia o motivo do meu nome próprio. Resposta: «- porque gostamos». Respeito a memória de meus pais, e só muito mais tarde fiquei a saber quem foi o rei D. Rodrigo. Sabe quem foi, meu estimado filho de Amadeu?

Publicado por: Rodrigo às março 4, 2004 02:57 PM

...É claro que há outros Rodrigos e rodriguinhos... Rodrigo Diaz de Bivar, por exemplo.

Publicado por: Rodrigo às março 4, 2004 03:55 PM

Caro Rodrigo

Se conhecesse a revista citada saberia que a 2ª série é de 1922-24 e a 3ª de 1925-26 e também saberia que o director da revista até à sua morte (Janeiro de 1925)foi António Sardinha. Se quiser tratar do tema em questão cá estarei, doutro modo despeço-me com amizade . Já agora os primeiros elogios a Salazar começam na 5ª série aí por 1928.

PS(para haver confusão) quanto a ideologias cada um com a sua e Deus com todas.
Mariotte Jr

Publicado por: Mariotte Jr às março 4, 2004 04:00 PM

Eu cá tenho estado, graças a Deus. Quem ainda verdadeiramente não está... é vossa mercê. Faz perguntas e afirmações, em tom de desdém e de ameaça, mas ainda não desemburrou nada que valha a pena. Diz que os primeiros elogios a Salazar começam aí por 1928. Pois é... desemburre homem - afinal, porque é que na sua opinião os integralistas são absolutamente contrários ao fascismo. Ou será que, no plano dos fundamento filosóficos, não são? Para torto, torto e meio -desta vez, não lhe dou datas...

Publicado por: Rodrigo às março 4, 2004 06:01 PM

Cumprimentos também para si. Tom de desdém e ameaça??? O que é um facto é que a questão é um pouco complicada. Se é verdade que o integralismo não foi assumidamente fascista, também é verdade que o seu elogio foi corrente nas páginas da Nação Portuguesa. António Sardinha chegou a afirmar que a única coisa que faltava a Mussolini ( e a Primo de Rivera) era uma ideologia que os sustentassem (no plano teórico) e deixa a entender que essa doutrina podia ser o integralismo. Por isso, contrários ao fascismo não me parece. O que há é, posteriormente, um desencanto com essas ditaduras como haveria com a saída depois do 28 de Maio e a "salazarquia" (nas palavras de Hipólito Raposo).
Bem, a questão está nestes termos. Se vossa mercê quiser acrescentar algo desemburre também. Agora, volto a dizer, desdém e ameaças não me parece que tenha feito, meias palavras sim, mas para bom entendedor...

Muitos cumprimentos para vossa excelência

Mariotte Jr

Publicado por: Mariotte Jr às março 5, 2004 12:18 PM


Mariotte Jr,

Nos anos 20, Churchill considerara Mussolini como o estadista mais importante da sua época, enquanto Gandhi afirmava que ele era um novo Mazzini.

Talvez não sejam necessárias as famosas «cartas secretas» trocadas entre Mussolini e Churchill para destruir a reputação deste último, basta ler os elogios que Churchill fez publicamente a Mussolini antes da invasão da Etiópia pela Itália, em 1934.

Mas o que era o fascismo nos anos 20 (quando Sardinha ainda estava vivo)?

Uma enorme confusão doutrinária e ideológica. Se dissermos que a definição de fascismo estava no programa dos «fasci»... então a confusão era total.

Mussolini fez uma «marcha sobre Roma», mas sentou-se na cadeira do poder pela mão dos liberais...

Nos anos 20, depois de assinar a Concordata, Pio XI chegou a afirmar que Mussolini era um homem enviado pela providência. Compreende-se: o ateu Mussolini, aquele que queria expropriar os bens da Igreja assim que chegasse ao poder – ver programa dos «fascii» - tinha afinal reconhecido à Igreja o direito a existir enquanto Estado do Vaticano. O mesmo Vaticano que depois condenaria veementemente o fascismo em «Non abiamo bisogno»...

A questão de fundo é esta: não existe doutrina fascista antes dos anos 30, em rigor antes de 1932. Só então é que Mussolini, com a ajuda de Giovanni Gentili, definiu em que é que consistia o fascismo – um totalitarismo estatista, inspirado em Hegel. Depois, foi o que se sabe: invasão da Etiópia, leis raciais, entrada na guerra ao lado da Alemanha. O Rei de Itália afastou-o do poder, mas Hitler vai protegê-lo na chamada «República de Saló».

Entretanto, o que é que os mestres integralistas da Junta Central que sobreviveram a Sardinha, disseram acerca de Mussolini, depois deste ter feito a definição doutrinária do fascismo? À cabeça de todos eles, na denuncia do fascismo, recusando o seu conceito totalitário, está precisamente aquele que alguns vesgos – ou gente de má-fé - chamam de o “fascista português”. Rolão Preto afirmava, por exemplo: “O Fascismo, o Hitlerismo são totalitários divinizadores do Estado cesarista, nós outros pretendemos encontrar, na tradição cristianíssima do Povo Português, a fórmula que permita harmonizar a soberania indiscutível do interesse nacional com a nossa dignidade de homens livres, de vivos seres espirituais...” (Francisco Rolão Preto in « Revolução», 10 de Janeiro de 1933, p. 2.).

Já não havia lugar a dúvidas, em 1933...

Publicado por: Rodrigo às março 5, 2004 06:37 PM

Post scriptum:

Nos anos 30, o Papa Pio XI escreveu uma série de encíclicas condenando os regimes totalitários - «Non Abiamo Bisogno» (1931) contra o fascismo italiano, «Mit Brennender Sorge» (1937) contra o nacional-socialismo alemão, e a «Divini Redemptoris» (1937) contra o comunismo soviético, em particular na sua forma russa.

Em rigor e com justiça, creio que se deve afirmar que os integralistas lusitanos, ao condenarem o fascismo, nada de novo diziam. Limitavam-se a seguir o magistério da Igreja. Não eram os integralistas que diziam que Portugal decaíra porque se afastara da direcção espiritual do Papa de Roma? A própria expressão "divinização do estado" atribuída à doutrina fascista por Rolão Preto tem um autor: Pio XI.

Publicado por: Rodrigo às março 5, 2004 08:15 PM

Rodrigo
Finalmente estamos de acordo. Embora as minhas informações se reportem aos anos 20 e as suas aos anos 30 e, como sabe, o integralismo começa nos anos 10 em Gand. No entanto, as suas informações estão absolutamente correctas e era por isso que eu dizia que a relação entre fascismo e integralismo tinha o seu quê de complicada.
Porém, encontro-me sempre disponível para entabular conversa - polémica ou não.

Com os melhores cumprimentos

Mariotte Jr.

Publicado por: Mariotte jr às março 6, 2004 12:19 PM

Mariotte Jr,

Do meu ponto de vista, a "complicação" está do lado do fascismo e não do lado do Integralismo Lusitano.

O integralismo afirmou-se sempre, com toda a clareza, como tributário da doutrina social da Igreja. Não era estatista. Estava do lado das liberdades e do municipalismo e, por ser português, era monárquico.

É do lado do fascismo que há tergiversação. Começa por ser um socialismo ateu e anti-clerical. Vai para o poder em aliança com liberais. No poder, condescende inicialmente em permitir a liberdade da Igreja. E afirma-se nacionalista. Depois, inflecte na direcção do estatismo socialista. Termina na "república de Saló", sob a protecção dos nazis, recuperando o programa inicial dos "fasci": um programa socialista (estatista) e anti-clerical.

Percebe-se bem a expectativa dos integralistas face ao fascismo dos anos 20, quando o fascismo chega ao poder. Tendo o fascismo permitido inicialmente liberdade à Igreja e afirmando-se nacionalista, não estavam aí razões suficientes para alimentar alguma esperança de entendimento?

Quando o fascismo inflectiu na direcção do estatismo, provocando a reacção da Igreja, os integralistas depressam perceberam que já não havia qualquer terreno para um entendimento. A definição doutrinária do fascismo, em 1932, desfez todas as dúvidas, sem ainda algumas houvesse. A "complicação" estava desfeita. Os integralistas reagiram, por isso, em conformidade: condenaram o fascismo. Como dizia Luís de Almeida Braga, o fascismo era, na verdade, uma "doutrina satânica"; o seu sinuoso percurso político - com o seu quê de maquiavélico - bem como a sua doutrina faziam inteiramente jus ao jacobinismo.

Com os melhores cumprimentos.

Rodrigo

Publicado por: Rodrigo às março 6, 2004 09:36 PM

No final, a Joana introduz uma nota onde afirma:

"o nacionalismo de Sarinha não o impediu, como se pode ler no seu “Aliança Peninsular”, de defender os Filipes, considerando que se tratava de uma monarquia dualista, como o Império Austro-Húngaro, e que a liberdade, cultura, língua e identidade nacionais não estavam ameaçadas pelos reis estrangeiros. Para Sardinha havia uma grande complementaridade entre Portugal e Espanha e ele visionava a futura grandeza portuguesa alavancada pelo maior peso da Espanha, seguindo uma via comum."

É falso que Sardinha considerasse que os reis estrangeiros não constituiam uma ameaça. Depois de 1640, passou a ser condição essencial para se ser rei em Portugal o ser-se português! Sardinha achava até que a condição prévia, incontornável, de uma Aliança Peninsular, era precisamente a da restauração da monarquia em Portugal, com Rei Português. Sardinha e os integralistas pertenciam aos monárquicos apoiantes da Dinastia de Bragança, então representada por D. Duarte Nuno, pai do actual Duque de Bragança.


Transcrevo, a propósito:


“Verdadeiramente «A Aliança Peninsular» não se reduz a uma qualquer programação no plano banal e corrente de relações de vizinhança ou de negócios, como o poderão levianamente supor quem apenas olhe as letras do titulo, ou leia o livro sem nenhuma atenção. Supera e transcende em muito esse propósito. A Aliança Peninsular traça-se num sentido eminentemente espiritualista e a sua projecção aponta-se até às novas nacionalidades onde prevaleceu a cultura das duas nações mães.

Elevando-se sobre as baixezas partidaristas em que ao tempo se enleava e absorvia por completo a política oficial, António Sardinha, grande pensador e grande português, preocupava-se doridamente com o destino ameaçado da pátria decaída e ousava chamá-la a voltar aos caminhos abandonados da sua vocação e da sua glória. Homem de fé e de génio - não fora ele também um poeta! - visionava que Portugal continuasse a sua missão histórica, tão precisa quando a própria civilização de que éramos porta-estandarte enfermava de crise gravíssima.

(...)

No formoso poema inacabado, ansiadamente clamava António Sardinha:

“Europa! Europa!.............

........................................

Onde ficou o lábaro de Cristo?

Onde deixaste, Europa, a tua flama?”

Na centelha da inspiração, a alma do poeta ouvia soar uma daquelas horas dramáticas em que os filhos eleitos do destino são chamados a guardar o património e a honra dos pais:

“Sozinha, nos penhascos do Ocidente,

ouvindo ao mar o ímpeto brutal,

pariste longa e dolorosamente

um moço a quem chamaste Portugal!

...............................................

não temas, ó Europa, ................

já tens quem te dilate a Fé e o Império!”

Império entende-se aqui como o da civilização Ocidental e Cristã, que o materialismo ateu prometia varrer da superfície da terra.

Não se perdia, porém, António Sardinha nos entusiasmos de um sonho de grandeza. Português no mundo, via claramente as dificuldades e os perigos que se nos opunham, na pequenez relativa dos nossas forças, para tamanha empresa. Daqui a inspiração aberta à Aliança Peninsular. Também a Espanha, a nossa vizinha e irmã (filhas, como éramos da “Madre Hispânia”) se achava em similares circunstâncias e com responsabilidades análogas a Portugal: constituindo-se em parcelas ultramarinas ainda a civilizar, igual connosco na progenitura de nacionalidades no continente americano. Incompletadas as missões de Portugal e de Espanha, havia que prossegui-las numa segunda e nova fase, em moldes actualizados, começando por efectivar, lado a lado, as comunidades de línguas portuguesa e castelhana e fazendo em seguida a aliança necessária à defesa e universalidade da obra comum. Isto seria retomar na contemporaneidade “o antigo paralelismo de Quinhentos”. Assim pensava António Sardinha, por volta de 1920, antecipando-se às tendências, hoje em generalizada execução, dos grandes blocos.

“Hispanismo” (de Hispânia e não de Espanha!), concebia-o, em seu rasgo visionário de “grande política”, como “a palavra que exprime e coordena todas as aspirações criadoras, não só das pátrias peninsulares, como das nacionalidades hispano-americanas, Brasil incluído.”

A implícita “unidade hispânica” determinava-a “exactamente no dualismo político, inconversível mas concordante das duas soberanias em que Portugal e Espanha se expressam para melhor garantia do seu interesse comum.”

Em espíritos temerosos, a ideia da Aliança Peninsular tem despertado, bem se sabe, algumas desconfianças e compreensíveis receios. Aliás António Sardinha foi o próprio a dizer que “O estado espanhol herdeiro do centralismo absorvente do Conde-Duque, quando olha Portugal, olha-o como uma parte sua, que interesses criminosos separaram do sua integral gravitação”. Mas como não se muda a situação geográfica, nem é possível alterar ou ignorar a realidade que nos fez confinantes, e por conseguinte esquivarmo-nos é nossa circunstancialidade histórica, António Sardinha via na Aliança, o meio mais adequado para disciplinar as nossas relações de vizinhos. E, na verdade, é sempre mais fácil, por menos notório e menos escandaloso, faltar a um dever, se esse dever é simplesmente moral e não foi assumido voluntariamente na letra de um contrato. Uma aliança desempenha neste sentido as funções de um potente travão; pode tomar-se como um instrumento dissuasivo a conter instintos de atropelo e impulsos de ofensa. Todavia, a precaução de António Sardinha levou-o a considerar, na sua vária extensão, os perigos potenciais da Aliança. Uma boa parte do texto deste livro se lhes refere em concreto.

Não ignorando, não escondendo, nem menosprezando as ambições unitaristas ou unionistas acalentadas no seio das “direitas” nacionalistas espanholas ou das “esquerdas” de lá ou de cá, António Sardinha foi peremptório: antes, e como condição sine qua non do estabelecimento da Aliança, punha, para segura garantia das respectivas independências, o fortalecimento moral e institucional das duas nações. E, repare-se, não só de uma, mas das duas. Efectivamente uma união centrada em Madrid ou em Lisboa iria a dar no mesmo, especialmente para nós. Esse astucioso engodo de fazer a união com um rei português e a capital em Lisboa fora-nos, aliás, já lançado por mais de uma vez.

Na condição prévia de confiar a manutenção das independências nacionais – portuguesa e espanhola – à guarda das respectivas Dinastias reais, via António Sardinha o mais seguro, se não o único meio de evitar que uma aliança descambasse numa união ou numa absorção, de que, como é evidente, só nós poderíamos ser vítimas. E não é de estranhar ou de desvalorizar esta condição, pois que, em sentido inverso, também assim era visto o problema. Os unionistas ou federalistas (o que vem a dar no mesmo) confirmavam a sua validade ao acusarem a Dinastia portuguesa de impedir os seus desígnios. O grão-mestre Sebastião de Magalhães Lima o confessa em La Fédération Ibérique: - “La Fédération a eu jusq’ici un grand ennemi: c’est l’interet dinastique”. Do lado espanhol lê-se o mesmo, quase pelas mesmas palavras: “Sobre esa Dinastia (a de Bragança) pesa la responsabilidade de haber deshecho en tiempo de Filipe IV la obra de Filipe II, y si fuera restaurada renacerian con ella todos los obstáculos que desde 1640 vinieron impediendo la Union Ibérica”. (J. Segalerva)

Sirvam estas insuspeitíssimas palavras de solene aviso ao patriotismo dos Portugueses!

Enquanto estivermos em república e, pior ainda, se, quando restaurada a monarquia espanhola só nós estivermos em república, quaisquer ligações ou compromissos políticos, feitos embora dissimuladamente, esbatendo fronteiras sob o aspecto de fraternidades regionais ou a pretextos de intercâmbios festivos, de empresas de interesses comuns, etc., etc., temia-os também, com toda a clarividência, António Sardinha. São de ver os comentários veementes que lhe provocaram os planos de Afonso XIII apresentados na entrevista de Miramar. Apesar de tudo, ou fosse por insuficiente leitura dos seus escritos, ou incompreensão destes, ou fosse ainda por decisiva aleivosia, não faltou (ontem como hoje!) quem confundisse a doutrina hispanista de António Sardinha com a ideologia do federalismo iberista. Esta acusação denuncia uma lamentável leviandade, se não uma desonestidade intelectual.”


Excerto da nota prévia à 3ª edição da obra Aliança Peninsular de António Sardinha, por Mário Saraiva (Julho de 1972).

Publicado por: Rodrigo às março 7, 2004 01:09 PM

Rodrigo

Era precisamente a essa expectativa em função do fascismo que eu me referia. De facto, e António Sardinha compreendeu-o bem, o fascismo era falho de ideologia e necessitava de algo que o sustentasse. É evidente que o apelo à ordem e à disciplina e ao nacionalismo tivessem dado alguma esperança aos integralistas. Como as ditaduras (Sidónio Pais e 28 de Maio) deram. O desencanto só viria depois.
No entanto, e como nota final, o que eu não percebo é a ânsia (passo a expressão) de elogiar o fascismo como fica claro nos artigos de Rolão Preto, na citada 2ª série da Nação Portuguesa - Veja-se nº 1, pp. 33 a 36, nº 4, pp. 171 a 173 e nº 6, pp. 273 a 276. Resulta claro que o autor está iludido pelo pretenso monarquismo e nacionalismo de Mussolini mas, porém...
Quanto ao texto sobre a aliança peninsular (hispanismo, união hispano-americana) haveria também algo a dizer. No entanto, como o texto é bastante longo deixo esses comentários para outra ocasião.

Com os melhores cumprimentos

Mariotte Jr

Publicado por: Mariotte Jr às março 8, 2004 01:45 PM

Mariotte, Jr

Mussolini foi nomeado primeiro-ministro em Outubro de 1922, ficando no mês seguinte com plenos poderes ATRIBUÍDOS pelo Parlamento.

A 2ª série da revista «Nação Portuguesa» – como Mariotte, Jr recordou acima – decorre entre 1922 e 1924, cobrindo parte do primeiro período do regime fascista, aquele em que as realizações do «Duce», tinham o apoio de vastos sectores políticos italianos, desde conservadores a liberais.

Mas o «Duce» gozava então de uma enorme popularidade, tanto interna como externa. E não era apenas Churchill que o considerava “o maior estadista do seu tempo”. Muitos outros estadistas ocidentais lhe faziam os mais rasgados elogios. A sua «autobiografia», por exemplo, foi publicada em 1928, vangloriando-se da obra realizada até então.

Essa «Autobiografia», foi prefaciada por Richard Wasburn Child, ex-embaixador dos Estados Unidos da América em Itália.

Richard Wasburn Child escrevia então:

“Time has shown that he was neither violent nor absurd. Time has shown that he is both wise and humane.
It takes the world a long time to see what has been dropped into the pan of its old scales!
In terms of fundamental and permanent effect upon the largest number of human beings –whether one approves or detest him – the Duce is now the greatest figure of this sphere and time.” (Richard Wasburn Child in Benito Mussolini, «My Autobiography», New York, 1928, pp. XVIII-XIX)

O ponto mais alto da sua carreira, aos olhos dos estadistas ocidentais, foi a assinatura com a Igreja do Tratado de Latrão, em 1929.

O que é interessante quando lemos as apreciações dos integralistas acerca do «Duce», entre 1922 e 1924 – a ditadura legal do «Duce» só começou em 1925! -, é, para além da esperança “nacionalista”, a inquietação que não deixam de manifestar quanto ao vazio ideológico do fascismo - o fascismo era então, e na verdade, falho de ideologia...

Sabemos como é que os integralistas reagiram quando Mussolini preencheu esse vazio, dissipando todas dúvidas.

Post scriptum - quanto à «Aliança Peninsular»: ó homem, não se acanhe e diga de sua justiça!

Publicado por: Rodrigo às março 8, 2004 04:14 PM

Caro Rodrigo

Se um dia for roubado na rua sente-se melhor no outro dia se o ladrão, que o roubou a si, roubou mais 50 pessoas?
Peço desculpa pelo argumento analógico mas parece-me o mais apropriado.

Com os melhores cumprimentos

Mariotte Jr

Depois do Escrito - Sobre a aliança peninsular só uma pergunta: que é isso de união hibérica ESPIRITUAL.

Renovo os cumprimentos

Publicado por: Mariotte Jr às março 12, 2004 12:55 PM

Mariotte Jr

António Sardinha defendeu que a Aliança Peninsular é o contrário de União Ibérica: a Aliança supõe dualismo de soberanias, a União impõe fusão de soberanias.

O fundamento mais sólido e promissor dessa Aliança Peninsular viu-a Sardinha na unidade espiritual da península.

Que unidade espiritual é essa?

Sardinha recorreu a Luís de Camões para a explicar. Foi Camões quem escreveu, no canto III de «Os Lusíadas»:

Eis aqui se descobre a nobre Espanha,
como cabeça ali da Europa toda.

E logo acrescenta:

Com nações grandes se engrandece,
Cercadas com as ondas do Oceano,
Todas de tal nobreza, e tal valor,
Que qualquer delas cuida que é melhor.

Neste quadro camoniano, a unidade hispânica é espiritual, compreendida como uma espécie de super-nacionalismo.

Depois, colocando "na boca daquela ninfa que anuncia ao Gama com «voz doce» os vaticínios do futuro, acrescenta Camões:

«Vedes a grande terra que confina
Vai de Calisto ao seu contrário Polo,
Que, soberba a fará a luzente mina
Do metal, que a dor tem do louro Apolo:
Castela, vossa amiga, será dina
De lançar-lhe o colar ao rudo colo...»

Era a América a terra que, indo dum polo ao outro, Castela - «vossa amiga», cantava a ninfa ao Gama -, seria digna de a sujeitar.

... Em capítulo tão conflituoso como o da conquista ultramarina, Portugal e Espanha ensaiavam um paralelismo que, segundo Sardinha, apenas se compreende por nelas existir uma comum visão espiritual.

Partilho a visão de Luís de Camões e de António Sardinha. Se as identidades se descobrem pelo contraste entre o “eu” e o “outro”, vejo a singular espiritualidade da península pelo contraste com a espiritualidade do resto da Europa.

O tema tem sido objecto de grossos volumes, procurando aprofundá-lo. Houve pensadores que definiram a espiritualidade hispânica – sempre nela incluída a portuguesa - como assente numa Teologia do Ser por oposição a uma Teologia do Devenir. Houve também quem salientasse o predomínio de uma concepção personalista por oposição a uma concepção individualista.

Pela minha parte, sinto e penso a singularidade espiritual peninsular como uma singular forma de amor ou aspiração ao Absoluto, a matéria-prima de que são feitos os missionários e os descobridores. Creio que, na Europa, Portugueses e Espanhóis são os únicos que se glorificam com o título de fundadores de nacionalidades ou de criadores de nações. A espiritualidade peninsular é Universal como não conheço outra.

Publicado por: Rodrigo às março 13, 2004 08:28 PM

Seria interessante pensar não em iberismo ou peninsulanismo, e bacocadas que tais.
Falemos na nossa pátria comum, a LINGUA PORTUGUESA.
O Mariotte jr. é um nacionalista nacional.Mas me parece vislumbrar um nacionalismo internacionalista em Rodrigo. Não se deve confundir nacionalismos nacionais com nacionalismos internacionais, pois isso é puro imperialismo, e isto não posso aceitar como verdadeiro tradicionalista.
seu
Punhal, cada vez menos Corcunda

Publicado por: punhal dos corcundas às abril 14, 2004 07:14 PM

Ao Punhal, cada vez menos Corcunda,

Não sou nacionalista internacionalista, como julga. Nem tão pouco nacionalista, no sentido de partidário de um pensamento fechado e exclusivista em torno do umbigo nacional. E, precisamente porque penso na LÍNGUA PORTUGUESA como a nossa pátria comum, prefiro designar-me como PATRIOTA português, isto é, como PORTUGUÊS E UNIVERSALISTA.

E, tal como Luís de Camões e António Sardinha, também eu considero que, de todas as culturas, aquela que nos é mais próxima é a dos povos hispânicos.

Portugal é uma nação filha da Madre Hispânia, tal como a Espanha. E, na Europa, é com a Espanha que nos deveremos prioritariamente entender, logo que tenhamos recriado Portugal e se a Espanha não fôr, como está querendo ser hoje, uma região da federação franco-alemã.

Publicado por: Rodrigo às abril 22, 2004 07:04 PM

Entre o eixo franco-alemão e o anglo-hispano-italiano venha o diabo e escolha.
Quero, hoje, um Portugal Europeu e não ibérico, defendendo as nossas idiossincrasias e a nossa LÍNGUA, europeu não significa um espaço físico mas um espaço cultural e científico que se alarga a todo o planeta. Somos maiores que a França, a Alemanha e a Itália na língua, logo não devemos ter medo do nosso nacionalismo linguístico.
"Eixos", não obrigado. "Alianças" já não só peninsulares mas culturais.
Dizia Protágoras que com a "palavra" se governam mundos, por isso estou confiante, a nossa "palavra" chega mais longe que muitas outras.
O "nacionalismo" de Portugal é-o pela sua história. Não tenha medo de olhar para o umbígo, pois de lá vem o nosso primeiro sustento. O corte úmbilical também deve ser para com os nossos vizinhos, geográfica e lingusticamente falando.
Portugal não é um espaço geográfico, é um espaço espiritual.
Cumpra-se Portugal! Com ou sem portugueses!

Publicado por: Punhal dos Corcundas às abril 29, 2004 03:35 PM

OK,Punhal dos Corcundas, importemos ucranianos e moldavos que o pessoal daqui não tem qualificação e «Cumpra-se Portugal! ... sem portugueses! ... com ucranianos!

Publicado por: David às abril 29, 2004 07:05 PM

Como comentário apenas lhe posso dizer que não me lembro de alguma vez "David" ter medo de "Golias".
Ainda não percebeu a diferença entre espaço físico e espiritual?
Não é o "Bilhete de Identidade de Cidadão Nacional" que faz o ser-se PORTUGUÊS, é a alma. A alma manifesta-se na PALAVRA, logo na Língua Portuguesa, é o nosso "Verbo". Alma de PORTUGUÊS tem-na quem de PORTUGAL tiver a Língua. Quantos filhos de Portugueses há por esse mundo fora que tendo outra nacionalidade no B.I. têm a Alma de Portugal. Quantos?
O facto de se preocupar com os moldavos ou os ucranianos mostra que não sente o ORGULHO e a FORÇA de se ser PORTUGUÊS. Não temos qualquer renitência em relação a outros seres humanos portadores de uma cultura humanista, temos é que nos preocupar com os tecnocratas que põem acima da pessoa humana considerações economicistas e chauvinistas. Portugal só será Portugal quando se afirmar como tal. Prefiro que Moldavos ou Ucranianos, ou outros, se lembrem e tenham Portugal no coração pelo que cá puderam obter que Moldavos ou Ucranianos (não é o caso mas podia ser) que recebecem emigrantes portugueses e olhassem para Portugal como um paísinho de "pobres e maltrapilhos" - era isso que queria? Não, presumo. Então não sabe que eles fazem cá o trabalho que nós já não queremos fazer, ou por falta de dignidade ou por excesso de pedantismo. O trabalho ENOBRECE, nunca se esqueça. Qualquer estrangeiro que venha para Portugal trabalhar enobrecer-se-á, tal como os nossos compatriotas se enobreceram nos confins do mundo. Nesses confins onde PORTUGAL existe de Coração e de Alma.
A mim preocupam-me mais aqueles que dizendo-se portugueses, porque o são no BI, fogem ao fisco, enganam os seus compatriotas e vivem, não do trabalho mas de expedientes.
Ser Português de espírito é ser um cidadão para o Mundo e do Mundo, nunca abdicando da nossa história, pois, nunca se esqueça, foi ela que deu "novos mundos ao mundo".
"Portugal semper avis"
Punhal dos Corcundas

Publicado por: punhal dos corcundas às maio 6, 2004 03:23 PM

David

Desculpe que lhe diga, mas desculpe mesmo. Você é um imbecil! Se não o é, parece. E, como dizia Sartre, aquilo que parece...

mjr

Publicado por: Mariotte jr às maio 6, 2004 03:26 PM

Mariotte jr em maio 6, 2004 03:26 PM:
Vejo que é muito susceptível. Eu peguei na frase "Cumpra-se Portugal! Com ou sem portugueses!" e fiz um trocadilho com a frase, com a nossa baixa qualificação e com a imigração de leste, mais qualificada em média.
Se eu sou imbecil, é porque a frase não o é menos, não acha?

Publicado por: David às maio 6, 2004 05:17 PM

David

A frase só é idiota para si porque você não leu toda a polémica que se vem desenrolando neste sítio. Ou se leu não percebeu, o que não abona em seu favor.

Com as mais cordais desculpas

Mariotte Jr

Publicado por: Mariotte Jr às maio 8, 2004 01:09 PM

David

A frase em sí não pode ser idiota ou inteligente, ela em si mesma não permite tais adjectivos.
As interperetações que das frases se fazem é que podem padecer de tais categorias.
Ou foi idiota quem a escreveu ou quem a leu, nada mais pode ser imputado à frase.
Se fui eu que a escrevi devo redimir-me, se foi quem a leu eu nada posso fazer.
Tendo sido eu, penso ter explicado o sentido da palavra "português", quer tenha gostado ou não (é-se português pela alma não pelo B.I.).
O meu "idiotismo" fica sanado pela explicação, o do interprete ainda não. Espero-o.
de v.m.
Punhal dos Corcundas

Publicado por: Punhal dos Corcundas às maio 26, 2004 03:30 PM

Depois deste tempo todo não sei se alguém vai ler isto.

Eu adoro o passado mas só tenho tempo para o futuro. As minhas preocupações são as dos integralistas, as minhas respostas são diferentes. Porque sou tradicionalista fazem-me confusão as "esquerdas" e as "direitas". Acima de tudo quero preservar Portugal, o que só se poderá fazer em Monarquia. Mas a Monarquia não chega. Portugal parece estar na Europa, mas não é Europa. Portugal é Índia, é China, é África, é Brasil. Portugal é querer ser-se português sendo-se católico, budista, hindu, muçulmano ou animista, sendo-se branco, negro ou pardo. Portugal é ser-se universal em língua portuguesa. É nesse universo lusófono que nos podemos finalmente realizar. Com um Rei que o seja e numa opção radical pelos pobres. É este o meu programa. Não sei como realizá-lo.

Publicado por: Albatroz às junho 23, 2004 09:58 AM

hola queridos hermanos portugueses;

no tengo ni idea de portugués, pero me he dado cuenta que después de un rato leyendo atentamente vuestros comentarios, llego a entender la idea general, es por esto por lo que me aventuro a escribiros en español esperando que vosotros también lo entendaís. Antes de nada me gustaría pediros perdón de ante mano por entrar en este foro, pero el tema me interesa. Sinceramente me ha extrañado leer en este y en otros foros portugeses la rabia que se tiene a España, sinceramente, no es recíproco, a mi me gusta portugal reconozco su identidad su grandeza y su historia, la considero mi hermana y parte de algún modo mía. Con la gente con la que yo me muevo piensa lo mismo que yo, también es cierto que tenemos heridas hístoricas que han hecho imposible un entendimiento más fluido entre nuestras patrias. Mi idea de la unificación política es distinta a la que se han expuesto, sería la de recuperar las monarquías hispánicas del siglo XII XIII de los reinos de Portugal, Castilla, Aragón, León y Navarra constituidas como comunidades autónomas con derechos hístoricos y lenguas propias, hablo del portugés del castellano del vasco del gallego y del catalán. Se que es difícil de conseguir por la desconfianza que esto puede generar entre portugeses y españoles pero bueno este es mi sueño. El nombre de esta nueva comunidad política podría ser Iberia, Reino Hispano ect... solución que ya existe en las islas Británicas como Reino Unido. No se nos pasa en España por la cabeza la incorporación sin más de portugal, manteniendo el nombre de España, sería abasurdo. Cambiaríamos la bandera de tal manera, que todos estubiesemos agusto con ella. Sin embargo yo soy monarquíco y considero que la actual monarquía parlamentaria que tenemos en España es ideal, pues sirve de nexo común entre todos nuestros reinos y ejerce como embajador en el resto del mundo. Digo sin embargo porque Portugal es una República lo que perjudica el invento.

un saludo a todos, desde vuestro amigo en España.

Publicado por: Juan às novembro 8, 2005 01:42 PM

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