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dezembro 11, 2003
Bem (ou mal) acompanhada
Ontem, Vítor Constâncio afirmou a impossibilidade de um país membro de uma união monetária apresentar uma taxa de inflação superior à dos outros membros durante um período prolongado de tempo e que quando isso acontece a economia desse país perde competitividade, deixa de vender ao exterior, porque os seus produtos ficam mais caros do que os da concorrência, entra em recessão e o desemprego sobe – É, ipsis verbis, o que escrevi aqui, por diversas vezes.
E para que não restassem dúvidas, Vítor Constâncio garantiu que «em união monetária o ajustamento de uma economia faz-se pela recessão e pelo desemprego», recomendando «um enorme realismo salarial em nome do emprego». Para não me repetir, não reescrevo o fecho do parágrafo anterior.
Para desespero dos meus críticos aos artigos que tenho escrito por aqui sobre a conjuntura económica portuguesa, Constâncio declarou ainda que “uma das principais consequências (de viver em união monetária) é o ganho da importância das políticas situadas do lado da oferta da economia». Da oferta … não da despesa, sublinho eu. Ah!? Vanitas vanitatum … o que eu poderia escrever agora se …
O futuro e alguns novos gurus economistas podem não me vir a dar razão no que andei a escrever semanas a fio. Se isso acontecer, resta-me a satisfação íntima de me sentir acompanhada, na sarjeta do pensamento económico, por Sua Excelência o Governador do Banco de Portugal.
Publicado por Joana às dezembro 11, 2003 07:37 PM
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Comentários
Espelho meu, espelho meu, existe on line alguém mais inteligente que eu?
Publicado por: bronca das neves às dezembro 11, 2003 09:17 PM
porque será que eu leio a intervenção de VConstâncio como uma critica ao governo da maioria PP-PPD ?
Publicado por: zippiz às dezembro 11, 2003 09:41 PM
É porque precisa urgentemente de um oftalmologista.
Publicado por: Joana às dezembro 11, 2003 10:16 PM
então arrange aí uma explicação tipo :
"modelo ou ideia de comportamento dos agentes económicos em que as relações analíticas exactas desenvolvidas matematicamente..."
que nos possa demonstrar como é que podemos apoiar , como Vc faz aqui todos os dias , um governo que nos afasta cada vez mais da média europeia e nos coloca em contra-ciclo com o resto da União .
Publicado por: zippiz às dezembro 11, 2003 10:27 PM
e sobre oftamologistas o que é que recomenda ?
um populista , tipo PP/PSL/AJJ , ou um mais á direita ?
Publicado por: zippiz às dezembro 11, 2003 10:31 PM
como é que a seguinte citação de VConstâncio:
(...)a impossibilidade de um país membro de uma união monetária apresentar uma taxa de inflação superior à dos outros membros durante um período prolongado de tempo e que quando isso acontece a economia desse país perde competitividade, deixa de vender ao exterior, porque os seus produtos ficam mais caros do que os da concorrência, entra em recessão e o desemprego sobe(...)
pode deixar de assentar como uma luva à política deste governo ?
A não ser que o actual valor da inflação portuguesa não seja suficientemente alto , ou que o "período prolongado de tempo" tenha só alguns meses, o que não é verdadeiramente o caso.
ps : arranje (não "arrange")...do meu post anterior.
Publicado por: zippiz às dezembro 11, 2003 10:50 PM
Repetindo:
"Vítor Constâncio garantiu que «em união monetária o ajustamento de uma economia faz-se pela recessão e pelo desemprego», recomendando «um enorme realismo salarial em nome do emprego» "...
Porque sem moderação salarial e dada a despesa pública excessiva que temos, gera-se uma ...
(repito)
"taxa de inflação superior à dos outros membros durante um período prolongado de tempo e que quando isso acontece a economia desse país perde competitividade, deixa de vender ao exterior"
A crítica que existe é a de que Constâncio acha (e eu também) que o governo deveria ter ido mais longe na contenção da despesa pública e na moderação salarial.
Fiquei a saber afinal que era esta a política que o zippiz também queria
Publicado por: Joana às dezembro 11, 2003 11:02 PM
Sobre Constâncio e despesa, será interessante ler Sousa Franco em entrevista na Visão [ http://www.visaoonline.pt/paginas/conteudo.asp?CdConteudo=33440 ]
(...)
V: Como interpreta, então, a decisão de Ferreira Leite de insistir no cumprimento do Pacto? Mera teimosia política?
ASF: Eu acho que é teimosia. Há pessoas que não sabem reconhecer os erros.
V: Mas a ministra não está sozinha: o governador do Banco de Portugal, Victor Constâncio, também acha que Portugal deve cumprir o PEC, apesar de moribundo.
ASF: Já se viu algum governador de um banco central dizer que os governos devem gastar mais e aumentar o défice? Um governador de um banco central tem de falar em nome de certos valores. Sou amigo e admirador do dr. Victor Constâncio, mas todos nos recordamos que quando foi aprovado o PEC ele foi um crítico do seu conteúdo, e com razão.
A pessoa em si tem um pensamento, mas o governador de um banco central tem que actuar como tal.
V: Também não se ouve nenhum ministro das Finanças a dizê-lo.
ASF: Então não há? Os ministros francês e alemão dizem que é mais importante o crescimento económico e o relançamento da economia do que o défice.
V: A Oposição não está a ter um discurso contraditório ao dizer, por um lado, que não há consolidação das contas públicas e, por outro, que a recessão se deve a uma política orçamental restritiva?
ASF: Acho que o erro maior não é a política orçamental, que não é assim tão restritiva. O erro foi a criação de expectativas extremamente negativas em relação à situação da economia nacional, o que não se justificava. E os portugueses, os empresários, os consumidores, ficaram completamente desanimados... Isto vai levar muito tempo a recuperar. Os estrangeiros ainda ficaram mais desanimados, mas esses têm uma boa alternativa, que é investirem noutro sítio, o que estão a fazer. Muitos portugueses, que dispõem de capitais, também os vão aplicar noutro lado.
V: Esse discurso negativo teve por base a «herança pesada». Não houve responsabilidades do PS pela situação a que se chegou?
ASF: Todos os governos dizem isso na campanha eleitoral. Em Itália, Berlusconi disse o mesmo.
V: Mas não é verdade?
ASF: Que a herança era pesada? Não. Herança pesada teve o governo Guterres quando eu entrei. Sabe qual é a média dos dez défices anuais do prof. Cavaco Silva? É de 5,9 por cento. No último ano ainda estava em 5,7%, quando dois anos depois tínhamos que estar abaixo de três e estivemos. Isso é que foi uma herança pesada. A dívida pública estava a crescer. Desde o início da década, de 91 a 95, cresceu sempre, e não se via que tivesse possibilidade de descer. E a verdade é que desceu 12 pontos até ao final dos governos de Guterres. Ou seja: a herança pesada vem de 1995, a herança leve vem desde 2001. Quando assumem a responsabilidade do Governo, os políticos têm a estrita obrigação de não lançar o País no alarmismo, nem no pessimismo, e de o defenderem bem perante o estrangeiro.
(...)
V: Existe alternativa à política do Governo?
ASF: Claro que existe. E a palavra-chave é selectividade. Há dois aspectos na estratégia do governo socialista que têm de ser retomados. Um deles é a prioridade do investimento e da despesa social. Os cortes na investigação em ciência e tecnologia, até porque têm pouco significado financeiro, são absolutamente injustificados, assim como os cortes em educação e formação. Segundo: ao contrário do que as pessoas dizem, foi no governo de Guterres que começou a consolidação orçamental. Parou, é certo, mas começou-se.
V: Parou em que ano?
ASF: Eu preferia não datar, mas nos últimos anos do seu governo. Em 1999, ao contrário do que acontece hoje, a cobrança de receitas excedeu em 90 milhões de contos a previsão orçamental.
V: A consolidação deu-se pelo lado da receita...
ASF: Claro. Mas, ao contrário do que as pessoas dizem, a consolidação por despesa só se consegue a médio prazo. É estrutural e exige reformas.
V: É, por isso, compreensível que este governo não consiga, em dois anos, cortar despesa pública estando, ainda por cima, a economia em recessão?
ASF: Não conseguiu e não se vê no Orçamento de 2004 que estejam lá medidas para isso. Em 2005 ninguém sabe, e 2006 é o tal longo prazo, em que se calhar estamos todos mortos. No governo Guterres houve consolidação pelo lado da receita, evidentemente. Com certeza que faltaram reformas, mas aí a culpa do governo foi só uma: não ter maioria parlamentar. As reformas foram apresentadas, mas o Parlamento votou contra.
(...)
............
Cara Joana,
Peço desculpa pela longa transcrição mas, se assim o fiz, foi para salientar aqueles pontos de vista.
Pelos vistos, há várias sargetas de pensamento económico.
Publicado por: re-tombola às dezembro 12, 2003 09:06 AM
re-tombola:
Concordo em muitas coisas ditas por Sousa Franco.
Mas tome em atenção uma coisa. Parte substancial da "consolidação orçamental" dos primeiros anos do governo de Guterres decorreu da descida abissal dos encargos com a dívida pública devida à descida das taxas de juro motivadas pela entrada na moeda única e ajustamento dessas taxas com as do resto da eurolândia.
Isto é, Portugal, só por entrar no clube dos 12, diminuiu substancialmente o défice público.
Outra situação foram as obras públicas realizadas no sistema "faça agora e pague depois" como o caso das SCUT's. Como eram em PFI e concessionadas, os respectivos investimentos não eram inscritos na despesa pública, mas apenas os pagamentos anuais com a prestação dos serviços, que só começaram a ocorrer depois da entrada em exploração das vias.
Se ler alguns dos meus textos anteriores encontra referências sobre estas questões.
EM qualquer dos casos, Sousa Franco é um homem competente e não foi por acaso que saiu dizendo que se tratava do pior governo desde D. Maria I.
Publicado por: Joana às dezembro 12, 2003 10:22 AM
"...e não foi por acaso que saiu dizendo que se tratava do pior governo desde D. Maria I..."
Dizia SF antes de conhecer a actual administração.
Publicado por: Marapião às dezembro 12, 2003 02:33 PM
"...ganho de importância da políticas situadas do lado da oferta": concordo plenamente, o que não é o mesmo que dizer, ignorem-se e desprezem-se as políticas que actuem do lado da procura.
"um enorme realismo salarial em nome do emprego": esta vai direitinha para o governo e para o que pensa fazer nos próximos 2/3 anos na função pública. Não repitam os erros do passado comprometendo a política orçamental devido ao "ciclo eleitoral". Isto também não é o mesmo que dizer, despeçam acriticamente todos os contratados e tenham por regra, que se prolonga já há largos meses e ameaça estender-se por muitos mais, a hipótese de usar a contratação de pessoal qualificado como um dos instrumentos de reforma da função pública. A governação deve-se fazer sem palas na vista, antes com óculos de grande amplitude, de preferência. O problema é que o governo como tantos outros não se sentiu com coragem para enfrentar o problema sem impor estas cristalizações teoricamente "simplificadoras". Optou por um second best...
Publicado por: Rui MCB às dezembro 13, 2003 02:01 AM
No DN de hoje vem um artigo do Pina Moura onde ele é mais papista que o papa (A Manuela)
Publicado por: Novais de Paula às dezembro 13, 2003 08:02 PM