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dezembro 04, 2003

A Pitonisa de Belém em Argel

Segundo os meios de comunicação, Sampaio verberou em Argel o «domínio estrangeiro» no Iraque e declarou que vê com maus olhos a presença estrangeira no solo iraquiano considerando que "nenhum país tolera hoje viver sob ocupação estrangeira, (...) muito menos um Estado com os pergaminhos e a história do Iraque" e que estamos perante uma «opressão intolerável».

A Pitonisa de Belém, que funciona com os vapores telúricos que emanam do subsolo, providenciados por Apolo, esqueceu-se, talvez porque em Argel esses vapores têm outra composição química, que a GNR está no Iraque, que há uma resolução da ONU, a 1511, que a suporta, e que ele próprio se tinha referido a essa resolução como um alívio que permitiria a ida do contingente da GNR, com um mandato claro do ponto de vista do Direito Internacional.

Afinal os GNR’s, que diariamente são entrevistados pelos canais televisivos, que quotidianamente enviam mensagens às famílias, que à noite comovem milhares de corações portugueses mais sensíveis, que … etc., etc., não passam de uma «força opressora», que exercem uma «opressão intolerável», cúmplice do «domínio estrangeiro» no Iraque que tem todo o direito de não os «tolerar». Mas a GNR está no Iraque com o aval de Sampaio. Portanto, nas suas imprudentes declarações, Sampaio afirmou aos argelinos que ele está mancomunado com os opressores do povo iraquiano e que ele próprio é um opressor do Iraque.

Ora é reconhecido pelo Direito das Gentes, o direito da resistência à opressão. Resta pois saber o que dirá Sampaio quando os iraquianos começarem a atirar a matar, a fazerem atentados suicidas, etc., sobre as forças «intoleravelmente opressoras» da GNR.

Se estiver sob a influência das emanações dos vapores telúricos de Argel, pela lógica das suas declarações argelinas, terá que aplaudir a heróica luta do povo iraquiano contra o intolerável opressor, isto é, contra a GNR que está no Iraque com o seu aval. Ou seja, contra si próprio, que a ajudou à sua tarefa de opressora do povo iraquiano.

Em Belém, se porventura as emanações tiverem uma composição química diversa, dirá uma daquelas sentenças que poderão ter 400 interpretações diversas e contraditórias e que o têm celebrizado pela criatividade verbal.

Todavia, quer em Belém, quer em Argel, há uma coisa certa. Aquelas declarações são impróprias de um Presidente da República. Sampaio tem toda a legitimidade de ter as suas opiniões sobre a questão iraquiana. Como PR tem que ter uma opinião que reflicta a posição do Estado português, nomeadamente depois de ele próprio a ter caucionado.

Publicado por Joana às dezembro 4, 2003 10:06 PM

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Comentários

Absolutamente de acordo com o PR. Com um senão , a saber : não deveria ter permitido a ida da GNR para o Iraque . E podia tê-lo feito na sua condição de Presidente da Républica.

Publicado por: zippiz às dezembro 4, 2003 10:32 PM

Não ponho em causa as opiniões pessoais do PR.

Mas o PR que representa o Estado Português, que caucionou publicamente aida da GNR para o Iraque não pode prestar declarações daquelas.

Além de tudo o mais é uma hipocrisia. Se ele tinha aquela opinião, devia ter-se oposto à ida da GNR para o Iraque.

Publicado por: Joana às dezembro 4, 2003 10:51 PM

A respeito de hipócrisia o país político está bem servido...

Publicado por: zippiz às dezembro 5, 2003 12:12 AM

Numa palavra: vergonhoso!

Publicado por: palms às dezembro 5, 2003 12:26 AM

É uma posição complicada, mas realmente o Dr. Jorge Sampaio deve separar as suas convicções pessoais enquanto cidadão das declarações que faz enquanto Presidente da República.

Nota:Este blog tem sido uma verdadeira revelação,os posts são de modo geral interessantes e bem fundamentados. As divergências de opinião apresentadas nos comentários são discutidas com toda a elevação.
Dá gosto e é um prazer passar por aqui todos os dias.

Publicado por: Amnésia às dezembro 5, 2003 12:04 PM

Pequenas provocações:

1- O que é a "posição do Estado português": a do Governo ou a do PR? (afinal quem vincula o Estado?)

2 - Desde quando a GNR (não pertencendo às Forças Armadas, das quais o PR é o Supremo Comandante) precisa do aval do PR para ir para o Iraque ou para Freixo-de -Espada-à-Cinta?

3- O PR Sampaio, pecou agora ao dizer o que disse ou, pelo contrário, pecou ao tentar justificar a ida da GNR para o Iraque?

Thanks's God, it's Friday...

Publicado por: re-tombola às dezembro 5, 2003 04:12 PM

re-tombola:
1 - Após a aprovação da resolução da ONU, que eu saiba, quer o PR, quer o governo, tinham, publicamente, a mesma posição.
2 - Não sei responder
3 - Numa das vezes ... pecou. Logo, pecou!
Resta agora, a cada um de nós, achar qual teria sido a altura em que pecou.

Publicado por: Joana às dezembro 5, 2003 07:42 PM

Acho que não se está a ver o problema do ângulo correcto, senão vejamos:
1: Em política, nem tudo o que pareçe é.
2: Em política nem tudo o que é o foi.
3: Em política nem tudo o que foi o é.
4: Em política, como no futebol, o que hoje é verdade amanhã é mentira e v.v.
Assim,como dizia o folósofo: Em Roma sê Romano.
Verás o discurso quando-p.exemplo - visitar os Estados Unidos ou a Inglaterra.


Um abração do
Zecatelhado

Publicado por: Zecatelhado às dezembro 5, 2003 08:36 PM

Afinal, por trás daquele ar sonso, o Sampaio é um pecador!

Publicado por: Humberto às dezembro 6, 2003 01:01 AM

Ao Sampaio fugiu-lhe a boca para a verdade-
Esqueceu-se apenas que era o PR

Publicado por: Hector às dezembro 6, 2003 11:23 PM

www.intercron.net

Publicado por: francisco@intercron.net às fevereiro 17, 2004 09:21 PM

www.intercron.net

Publicado por: francisco@intercron.net às fevereiro 18, 2004 02:18 PM

Que é que este gajo quererá?

Publicado por: fbmatos às fevereiro 19, 2004 12:06 AM

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Publicado por: agnux@hotmail.com às maio 20, 2004 11:11 AM

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Publicado por: whe às fevereiro 20, 2005 07:12 PM

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