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outubro 04, 2003

O Alqueva e o jornalismo

O Público apresentou em meados de Agosto uma reportagem extremamente negativa sobre o Alqueva, onde predominavam a superficialidade e a falta de rigor. A análise aos Relatórios e Contas da EDIA, por exemplo, era uma vergonha do ponto de vista técnico.

Perguntar-se-á: então não teria sido preferível o Público munir-se de um técnico de contas competente? Ingenuidade! Se os meios de comunicação portugueses se munissem de pessoal qualificado na elaboração de reportagens deste tipo, perdia-se 99% do sensacionalismo da notícia. Como diria Eça: deve cobrir-se a nudez “monótona” da verdade, com o manto diáfano da fantasia…ou, mais recentemente, Kelly, fazer-se o “sex up” da verdade.

O empreendimento do Alqueva é um projecto a 20 anos, do qual a 1ª fase é a construção da barragem. Barragem cujo enchimento ainda não deve ter atingido os 40% do volume médio. O empreendimento está no começo.

Após este conjunto de notícias e reportagens, o Público pôs uma questão aos seus leitores: ”Acha que a barragem do Alqueva serve para alguma coisa?” Se os leitores do Público acreditassem no seu jornal, a resposta seria um rotundo “Não”!

Surpreendentemente, a resposta foi um rotundo “Sim” (72%)! Esta resposta mostra como os receptores dos meios de comunicação não são tão estúpidos como os jornalistas, do alto do seu desdém pelos ignaros a quem vendem gato por lebre, acreditam.

Dias depois, no mesmo jornal, uma reportagem noticia que os preços dos terrenos da área do perímetro de rega da barragem tinham disparado para valores 3 e 4 vezes superiores e que empresários espanhóis se apressavam a comprar aqueles terrenos, vizinhos de uma barragem que “não servia para nada”.

Dirão: que bela lição! Digo eu: uma lição só aproveita quem quer aprender. Lições destas há-as todos os dias e o aproveitamento dos alunos é nulo. O estreito segmento social onde se arregimentam os nossos jornalistas é caracterizado pela satisfação íntima da detenção da verdade absoluta e de que quem não partilha dessa verdade é inculto, estúpido, reaccionário, alguém cujo único lugar possível é a sarjeta da história. Os factos ajustam-se sempre à sua mundividência … é apenas uma questão de interpretação dos mesmos e de realçar aqueles que se encaixam e de considerar despiciendos aqueles que contrariam a “verdade a revelar”. Muitos dos nossos jornalistas não se detêm perante o empecilho incómodo dos factos porque só detectam os que estão de acordo com o que pensam e interpretados no “sentido correcto”. Tudo o resto é irrelevante.

Mesmo quando os factos apontam para o contrário, como o caso do “estranho” comportamento dos empresários espanhóis, os jornalistas portugueses mostram à evidência que o seu cérebro está compartimentado por septos. A informação que circula num lóbulo não é transferida e confrontada com a informação que circula no lóbulo vizinho. O cérebro séptico dos jornalistas não consegue aperceber-se que aquelas 2 reportagens se contradizem e que se uma está certa, a outra será falsa.

28 de Agosto de 2003

Publicado por Joana às outubro 4, 2003 12:00 AM

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Comentários

É estranho ninguém vir para aqui dizer coisas. Este texto é importante

Publicado por: Novais de Paula às novembro 7, 2003 12:47 AM

É estranho ninguém vir para aqui dizer coisas. Este texto é importante

Publicado por: Novais de Paula às novembro 7, 2003 12:47 AM

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Publicado por: Novais de Paula às novembro 7, 2003 12:47 AM

Peço desculpa, mas como carreguei no afixar e isto não entrava, apareceram mais comentários

Publicado por: Novais de Paula às novembro 7, 2003 12:49 AM

Peço desculpa, mas como carreguei no afixar e isto não entrava, isto estava lento, apareceram mais comentários

Publicado por: Novais de Paula às novembro 7, 2003 12:49 AM

Peço desculpa, mas como carreguei no afixar e isto não entrava, isto estava lento, apareceram mais comentários.

Publicado por: Novais de Paula às novembro 7, 2003 12:50 AM

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