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outubro 04, 2003

A imigração 2 - Postal algarvio 1

Há uns 3 ou 4 anos, estávamos no Algarve, num lugar que frequento desde que me conheço, e almoçámos, num restaurante onde somos “habitués”, com os meus pais e um casal amigo deles (e meu), cujo marido era um deputado do PC.

Em conversa com a dona do estabelecimento, o meu pai, por brincadeira, referiu que, para além de já ter 3 ucranianas na cozinha, havia agora uma jovem ucraniana a servir à mesa que, toda despachada, tinha chegado à nossa mesa e dito, interrogativamente: “arrôche de chócoch”, à espera que lhe apontássemos onde devia colocar o tacho de barro com os chocos.

A senhora, pondo a mão em cima do ombro do nosso amigo deputado que ela conhecia não só por ser uma figura mediática mas também por já dever ter ali aparecido mais vezes, disse (… com evidentes segundas intenções!):

- Sabe, com o rendimento mínimo garantido e com o subsídio de renda de casa, muita da malta jovem daqui não quer trabalhar. Além do que estes, eu explico como é e eles aprendem facilmente e fazem bem, enquanto que com os nossos farto-me de explicar e nunca fazem como eu quero!

Fez-se um silêncio. Tememos o pior. Aquele nosso amigo era um homem de convicções fortes e, embora com bastante charme, era conhecido pela capacidade argumentativa e agressividade nos debates televisivos. E não só na TV: eu e ele, apesar da estima que tínhamos um do outro, e eu tive sobejas provas do afecto que ele tinha por mim, havíamos tido discussões bravias sobre os mais variados temas. Estávamos quase sempre em desacordo, mas sempre amigos!

Mas não. Os políticos na intimidade são muito mais tolerantes e abertos do que aparentam nos mídia (nem todos …). Ele fez um sorriso compreensivo, ela afastou-se delicadamente e ele comentou para nós:

- Pois … é muito complicado fazer-se a fiscalização do RMG. Depois há a questão dos ciganos que não têm rendimentos declarados … é de facto muito complicado.

Se os políticos portugueses tivessem a coragem de dizer em público aquilo que dizem em privado aos amigos em quem depositam confiança, Portugal seria um país muito mais tolerante, aberto, civilizado e desenvolvido.

22 de Setembro de 2003

Publicado por Joana às outubro 4, 2003 01:10 AM

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