O Fim de uma Época?
Arafat foi uma das vítimas mais notórias do 11 de Setembro de 2001. Até essa data o terrorismo poderia ser assimilado a uma forma alternativa de resistência contra a ocupação israelita, e muitos o entenderam como tal. Depois desse atentado tudo mudou. O mundo apercebeu-se que o terrorismo tinha ganho uma autonomia própria e monstruosa, e que já não era possível desculpá-lo, entendendo-o como uma forma de luta de resistência nacional.
A primeira Intifada havia sido um êxito. O mundo comoveu-se com os adolescentes palestinianos a enfrentarem com pedras os blindados israelitas. A luta determinada entre miúdos armados apenas de pedras e um exército pesadamente armado foi igualmente um factor de desmoralização para esse exército um exército não foi mentalizado para enfrentar miúdos. Mesmo o apoio de Arafat ao Iraque aquando da invasão do Kuwait não impediu que o espírito da paz fizesse progressos e se assinassem os acordos de Oslo em 1993, que Arafat se instalasse na Palestina, no ano seguinte, e constituísse a Autoridade Palestiniana.
Essa evolução levou a que Arafat recebesse o Nobel da Paz. Diversas vezes os Prémios Nobel da Paz foram atribuídos a indivíduos que haviam estado envolvidos em acções violentas e em matanças, directa ou indirectamente. Mas prevaleceu sempre a tese do filho pródigo que regressa ao lar. Todavia a parábola do filho pródigo pressupõe que este deixe de ser pródigo, depois de acabado o conto. Está implícito na parábola. Infelizmente para Arafat, para os palestinianos e para as milhares de vítimas que se seguiram, tal não aconteceu.
O assassinato de Rabin provocou a paralisação no processo de concessão progressiva de autonomia à AP. A vitória de Ehud Barak relançou esse processo, mas Arafat não compreendeu as relações de força dentro da sociedade israelita e fez falhar a cimeira com Clinton e Barak pensando que este cederia com uma segunda Intifada.
É certo que esses acordos congelariam a ocupação de 5% da Cisjordânia por Israel e impediriam o regresso dos refugiados. Mas Israel nunca aceitará, sem ser pela força das armas, a entrada no seu território (que, descontando o deserto do Neguev, tem uma densidade demográfica de mais de 700 hab/km2) de uma população de vários milhões de pessoas que, na sua quase totalidade, já nasceu na diáspora. É óbvio que aqueles acordos seriam difíceis de justificar perante uma população embalada pelo radicalismo político. Mas seriam tanto para Arafat como para Barak junto de cada um dos seus povos. Os acordos de paz exigem cedências mútuas, a menos que uma das partes tenha sido liquidada militarmente pela outra.
Ora a segunda intifada, desencadeada semanas depois, a pretexto da visita de Sharon à esplanada das Mesquitas, falhou completamente os objectivos. Em primeiro lugar, Arafat apostou nas armas e no terror, em vez das pedras dos adolescentes. O terror liquidou de facto Ehud Barak, mas para levar ao poder Ariel Sharon. Portanto a primeira consequência da estratégia de Arafat foi a eleição de Ariel Sharon e o progressivo declínio da esquerda israelita.
A segunda consequência decorreu do 11 de Setembro, ocorrido um ano após o início da segunda Intifada. A partir do 11 de Setembro, a opinião pública mundial prevalecente foi a de que não havia terroristas bons, nem terroristas maus. Eram todos abomináveis. Adicionalmente a visão dos palestinianos a festejarem o derrube das torres gémeas caiu certamente muito mal entre os americanos, e não só. A partir do 11 de Setembro Arafat passou a ser, para os americanos, apenas um terrorista, e a própria União Europeia teve que aceitar as teses americanas. Diversas organizações palestinianas foram declaradas terroristas e deixaram de receber subsídios da UE. O terrorismo de Arafat passou a ser contraproducente.
Para salvar as aparências, Arafat apostou numa postura hipócrita: Falando para os meios de comunicação ocidentais condenava, em inglês, o terrorismo. Mas em árabe fazia discursos populistas inflamados que, objectivamente, incentivavam a população palestiniana para acções terroristas. Só após muitas insistências e um ultimato da administração Bush, Arafat se decidiu a fazer, em árabe, uma declaração pública de condenação do terrorismo.
Uma outra consequência foi que as autoridades europeias, em face dos escândalos de corrupção de Arafat e da AP, que entretanto começaram a ser divulgados publicamente, se viram forçadas a abandonar a sua atitude de hipocrisia sobre factos que certamente conheciam, mas que fingiam ignorar. Arafat foi compelido a aceitar, para voltar a receber os subsídios, uma comissão de inquérito sobre a origem da sua fortuna pessoal e sobre a corrupção na AP e a nomear Salaam Fayad para ministro das finanças. A 2ª intifada havia arruinado completamente a economia palestina e a AP precisa desesperadamente de auxílio internacional.
Uma outra imposição internacional foi a criação da figura de 1º Ministro, com o objectivo ilusório de neutralizar Arafat. Arafat viu-se constrangido a indigitar Abu Mazen, em Março de 2003, para ocupar o cargo. Mas Arafat deu com uma mão e tirou com a outra. Tirou o tapete debaixo dos pés de Abu Mazen e levou este a demitir-se 6 meses depois. A demissão de Abu Mazen veio sedimentar a ideia que, com Arafat, não haveria possibilidade de avançar no processo de paz.
Resta saber o que vai acontecer agora. Os líderes mundiais multiplicam-se em declarações hipócritas, elogiando as qualidades de Arafat e dizendo que agora podem estar criadas as condições para uma paz. Então, se a morte de Arafat pode criar condições para a paz, que qualidades o Nobel da Paz Arafat tinha que impediam essa paz?
As primeiras decisões são salomónicas: o radical Faruk Kaddumi, contrário aos acordos de Oslo e que quer lançar os israelitas ao mar, tornou-se o chefe da Fatah, permanecendo em Tunes. O pragmático Abu Mazen passou a chefiar a OLP e Ahmad Qorei mantém-se 1º-ministro.
Resta saber se Abu Mazen e Ahmad Qorei conseguem controlar o Hamas, a Jihad Islâmica e as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa. Se o conseguirem colocarão Ariel Sharon numa situação em que este terá dificuldade em colocar obstáculos ao processo de paz. A direita israelita é sustentada eleitoralmente pelo terrorismo dos radicais palestinianos. Se o terrorismo acabar, as forças da sociedade israelitas mais favoráveis a cedências e ao apaziguamento emergirão e poderá haver uma oportunidade para a paz. Todavia dificilmente os palestinianos alcançarão mais do que o que esteve quase acordado em Camp David.
A táctica dos falcões israelitas poderá ser a de ir colocando alguns paus na engrenagem do processo, de forma a que os radicais palestinianos sejam tentados a retomar os actos terroristas, criando o cenário de que os novos dirigentes da AP são incapazes de governar o país e controlar o terrorismo. Mas não é fácil implementá-la. A morte de Arafat suscitou uma esperança generalizada de que haveria agora condições para a paz. O governo israelita está obrigado, por esse clima, a mostrar abertura perante o processo de paz, senão diminuirá a sua credibilidade externa e interna, podendo as próximas eleições fazer com que as pombas substituam os falcões.
A bola está do lado da AP. Se ela manobrar com habilidade pode colocar o governo israelita na contingência de fazer algumas cedências e aceitar a instauração de um Estado palestiniano com fronteiras viáveis. Se não conseguir controlar os grupos radicais as suas possibilidades de êxito serão nulas, com a agravante que terá menos capacidade que Arafat em manter a unidade palestiniana. Se a AP falhar poderemos ver o caos instalar-se em Gaza e na Cisjordânia, o que não interessa a ninguém, nem mesmo aos israelitas.
A minha opinião sobre Arafat foi mudando ao longo dos anos. Apoiei a 1ª Intifada, e até à instalação da AP considerei Arafat um homem corajoso, empenhado na paz, que havia abandonado a fase do terrorismo. Fiquei chocada com o assassinato de Rabin e detestei a política israelita do Bibiaté à ascensão de Barak. Fiquei todavia muito decepcionada com a rejeição por Arafat da paz dos bravos, dos acordos de Camp David. Na altura, apenas considerei que havia sido um erro político. Depois, com o encadeamento dos factos posteriores e o começo da 2ª Intifada, apercebi-me que essa rejeição fazia parte de uma manobra política para vergar os israelitas através do terrorismo. Manobra política completamente estúpida, como se viu, e que levou Arafat e os palestinianos à situação actual. O 11 de Setembro foi outro elemento catalizador da minha rejeição da política de Arafat. O terrorismo é o mal absoluto e é um crime (ou um suicídio) pactuar com ele. Antes tal não seria claro, mas depois daquele dia passou a ser.
Parece inacreditável, mas só conheci este blogue através do FG Santos do Santos da Casa! Estou impressionado... Muitos parabéns e que continue com esta qualidade! Tem aí artigos com uma qualidade e actualidade invulgares!
Muitos Parabéns
Afixado por: O Corcunda em novembro 11, 2004 11:48 PMDo Blasfémias:
PORQUE É QUE O MUNDO CHORA ARAFAT?
Porque depois de ter sido um terrorista assumido durante 20 anos, vestiu a pele de cordeiro nos últimos 20 fingindo pregar a paz enquanto mantinha e apoiava grupos terroristas como a Al Aqusa e o Hamas?
Porque andou anos e anos a enganar grosseiramente o Ocidente chegando ao ponto de, no mesmo discurso, pregar a paz em inglês e apelar à jihad em árabe?
Porque amealhou uma das maiores fortunas pessoais do mundo enquanto o seu povo tenta sobreviver na mais abjecta miséria?
Porque boicotou TODAS as iniciativas de paz que os muitos dirigentes mundiais propuseram e que foram aceites por vários primeiro-ministros israelitas?
Porque fez um jogo cínico com Bill Clinton no ano 2000, em Camp David, quando pela noite aceitava as conclusões das negociações e logo de manhã voltava a recusá-las?
Porque instituiu uma das Administrações mais corruptas da actualidade (fazendo com que os extremistas do Hamas surjam aos olhos do povo como gente proba e íntegra)?
Porque foi um Senhor da Guerra, que vivia da guerra e por causa dela, a quem a eventualidade da paz liquidaria politicamente?
Porque sacrificou várias gerações do seu povo ensinando o ódio e exaltando a imolação?
Porque partiu deste mundo com as mãos tintas de sangue de milhares de inocentes?
Não.
Parte do mundo chora Arafat porque, simplesmente, tem os seus valores invertidos. Porque, principalmente nesta Europa, vivemos em plena confusão onde o certo e o incerto assumem cores indistintas e contraditórias.
Porque os sinais de decadência são evidentes deste lado do mar ao ponto de chorarmos um assassino, corrupto e empedernido, em conjunto com grupos terroristas e seitas fundamentalistas cuja grande ambição é liquidar a nossa Liberdade.
Felizmente temos a estrela do David para nos guiar neste proceloso caminho para a glória e iluminar as nossas obscurecidas mentes...
# : - ))
Afixado por: (M)arca Amarela em novembro 12, 2004 02:54 AMConcordo com a sua análise em alguns pontos. A estratégia de Arafat falhou. A realidade está lá para o provar.
Mas veja que os palestinianos têm sido despojados de parte do seu território ancestral. Não é fácil delinear estratégias muito racionais perante uma situação destas. E este é o fulcro da questão.
Há um ponto em que lhe dou razão. A pretensão do "regresso" dos palestinianos que vivem na diáspora é irrealista.
vitapis
O fulcro da questão é a paz. E tem que haver cedências. E essas cedências têm que reconhecer a realidade do terreno
O terrorismo é de facto uma coisa feia. Mas não posso deixar de pensar no que eu faria se fosse palestino.
Na Palestina viviam, sob tutela turca e depois inglesa, muitos árabes semi-adormecidos e alguns judeus que se tinham esquecido de se ir embora no século I da nossa era. Cansados de serem maltratados por essa Europa fora, alguns judeus acharam que seria melhor voltar à terra ancestral, e começaram a fazê-lo, em pequenos números, ainda antes da II Grande Guerra. As perseguições nazis - e a falta de compaixão de quase todos os outros países europeus - fizeram com que o que restava dos judeus europeus achasse que era altura de terem um país seu. A Declaração de Balfour, em 2 de Novembro de 1917, tinha aberto as portas à fundação de um estado judeu na Palestina, e os judeus acharam que era a altura de reclamar esse "direito". Em 1917 ninguém queria saber se os britânicos tinham o direito de dispor da terra alheia, mas em 1945 já deveria ter havido algum cuidado. Mas como a maioria dos europeus achava que livrarem-se dos judeus - embora de maneira menos cruenta do que fora praticado pelos alemães - era uma óptima ideia, lá se foi permitindo (ou fechando os olhos) à migração judaica para a Palestina. Ninguém se preocupou com o facto da Palestina não ser uma terra de ninguém, e que já lá havia uma população, maioritariamente árabe. Como, tal como ensina a física, dois corpos não podem ocupar simultaneamente o mesmo lugar, o corpo judeu foi empurrando o corpo árabe para fora das suas terras. Processo abusivo que a má consciência ocidental não deixava contrariar. Depois, em vez de remendar as coisas pela criação de um Estado multi-étnico na Palestina, cometeu-se a derradeira injúria ao direito internacional que foi a partilha da Palestina. A guerra de 1948 e a de 1967 contribuiram para esvaziar o lado judeu da maioria dos seus legítimos habitantes árabes, numa espécie de limpeza étnica. Nunca reconhecida pela comunidade internacional mas sempre tolerada.
Ora, como hão-de os palestinos sentir-se no meio disto tudo? Como nos sentiríamos nós se os judeus tivessem vindo para o Alentejo em vez de terem ido para a Palestina? Que direito tem um povo a uma região que tinham habitado e regido até há dois mil anos atrás? E se tivesse algum direito a para lá emigrar, que direito teria a expulsar os residentes actuais e a criar um estado próprio? Cansados de reclamar os seus direitos sem que ninguém os queira ouvir, confinados em campos de refugiados miseráveis há 50 anos, que alternativas restam aos palestinos? Conformar-se diante da violação dos seus direitos, ou combater? E se as suas forças militares forem insuficientes para forçar ao diálogo o povo invasor, que fazer? Se, em desespero de causa - e somos nós todos que os empurrámos a tal -, os palestinos recorrerem ao terrorismo, podemos apenas condenar esse terrorismo sem lhes proporcionar uma alternativa justa?
Condene-se o terrorismo, mas não sejamos hipócritas nem queiramos lavar as mãos das nossas responsabilidades colectivas. Fomos cúmplices na injúria cometida contra os palestinos. Somos obrigados a exercer toda a pressão sobre o Estado de Israel para aceitar de volta os árabes injustamente expulsos, e a promover uma federação palestina, com um estado árabe e um estado judeu.
Afixado por: Albatroz em novembro 12, 2004 09:11 AMParece que o ódio entre Árabes e Judeus terá começado cerca do ano 640, quando os primeiros, transformados em muçulmanos, em nome de Allah e do Corão, atacaram e subjugaram outros povos, entre eles a Palestina, e despojaram os Judeus das terras que estes haviam trabalhado ao longo de muitas gerações e através de muitas vicissitudes.
É um facto notável que os Judeus sempre se mantiveram culturalmente unidos ao longo de milénios e nunca renunciaram à sua pátria ancestral.
Hoje a situaçao está muito complicada. Penso que os Judeus são mais fortes que os Árabes, pois investiram as suas capacidades intelectuais na ciência e na tecnologia, acompanhando os países mais desenvolvidos. E souberam escolher os seus amigos e aliados.
Mas estão na situação do escaravelho no meio das formigas.
A coisa está preta.
E parece não ter solução.
Ou, a ter, será do tipo: Se não os podes vencer, junta-te a eles.
E serão os palestinianos a ter que dar esse passo.
Albatroz em novembro 12, 2004 09:11 AM
Como toda a gente sabe,os Judeus são muito mais antigos que os muçulmanos.
Ora quando os muçulmanos invadiram a Palestina, cerca do ano 640, não se preocuparam com o facto de esta não ser uma terra de ninguém, e que já lá havia um população, ancestralmente judaica.
Como dois corpos...etc., etc., o corpo muçulmano foi empurrando o corpo judeu para fora das suas terras.
Etc.,etc..
«...Como toda a gente sabe,os Judeus são muito mais antigos que os muçulmanos...»
Senaqueribe em novembro 12, 2004 10:36 AM
Ao contrário do que quase toda a gente diz, os muçulmanos não se podem confundir com os árabes.
Muçulmano é o seguidor de Maomé. E, para já, nem todos os árabes são muçulmanos. Tal como nem todos os muçulmanos são árabes, como é o caso da Indonésia.
Os árabes tiveram origem na península arábica.
São um povo semita, cuja ancestralidade radica em Ismael, filho do patriarca Abraão.
Em resumo, árabes e judeus têm uma origem comum.
Senaqueribe:
Após a 2ª revolta dos Judeus, no reinado de Adriano (a primeira foi jugulada no reinado de Vespasiano e Jerusalém conquistada pelo seu filho Tito), Jerusalém seria destruída e reconstruída depois, tendo o imperador Adriano ordenado a mudança do nome de Jerusalém para Aelia Capitolina, e o nome da Judéia para Síria Palestina (a Palestina estava administrativamente dependente da Síria nessa época).
Os judeus sobreviventes foram expulsos, muitos vendidos como escravos, etc.. Quando os Árabes tomaram a Palestina, derrotando as tropas bizantinas em Yarmuk, no tempo do Califa Omar (o 1º Califa), a população da Palestina era predominantemente cristã, do rito ortodoxo, ou orientais, mas cristã.
Todos os povos que a Bíblia refere: moabitas, amalecitas, madianitas, etc., eram tribos beduínas, portanto árabes. Os Filisteus, de cujo nome deriva a palavra Palestina, eram provavelmente oriundos de Creta e viviam na faixa costeira correspondente à actual faixa de Gaza, mas continuando um bom pedaço para o Norte. Os Cananeus eram os habitantes primitivos da actual Palestina, que foram subjugados pela conquista israelita, há mais de 3 mil anos.
Portanto a expulsão dos judeus da Palestina é anterior à conquista árabe.
Senaqueribe em novembro 12, 2004 10:36 AM
A diáspora judaica nada teve a haver com o conquista árabe e a conversão ao islamismo de parte das populações da Palestina. Após a revolta de Bar Kosiba (132-137 AD) os romanos mudaram o nome de Jerusalém para Aelia Capitolina e o nome de Israel para Syria Palaestina, e proibiram os judeus de entrar na cidade, o que muito contribuiu para uma diáspora que já começara no tempo em que os judeus foram levados para a Babilónia (722-586 AC). Nos séculos IV e V a política de cristianização do Império Bizantino levou a que os judeus deixassem de ser a maioria na Galileia. Por volta de 630, quando da invasão árabe, as comunidades judaicas na Palestina estavam reduzidas a cerca de 50. Logo, não é verdade que os muçulmanos tenham empurrado os judeus para fora de suas casas, o que justificaria (?) o processo oposto nos nossos dias. A criação do Estado de Israel foi uma flagrante violação do direito internacional, o que não significa que os judeus não possam viver na Palestina. Só que o não poderão fazer à custa dos direitos dos não judeus.
Afixado por: Albatroz em novembro 12, 2004 01:08 PMDeus nos livre se fossemos estabelecer, hoje, as fronteiras dos Estados recuando séculos ou até milénios. O que parece evidente e relevante é que, em 1947, todo o território da Palestina era habitado por 80 ou 90 mil Judeus e dois milhões de Árabes. Agora conclua-se ...
Afixado por: asdrubal em novembro 12, 2004 02:59 PMasdrubal em novembro 12, 2004 02:59 PM
Em 1915, antes de se falar de um lar judeu na Palestina, viviam aproximadamente 83.000 judeus na Palestina conjuntamente com 590.000 árabes muçulmanos e cristãos. Em 1936 já havia lá 400 mil judeus, e em 1947, 600 mil.
A partilha da Palestina em 2 estados foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 29 de Novembro de 1947. Os Estados árabes votaram contra e as suas tropas (do Egipto, Síria, Transjordânia, Líbano e Iraque), desrespeitando as decisões da ONU, invadiram Israel, mas foram vencidas após uma guerra que durou cerca de um ano. A linha de armistício (a linha verde) é a reconhecida pela comunidade internacional.
(M)arca Amarela em novembro 12, 2004 11:21 AM
Eu não confundi muçulmanos com árabes, embora estes sejam maioritariamente muçulmanos.
Eu apenas disse que os judeus são muito mais antigos que os muçulmanos.
Estava a referir-me aos aspectos culturais (incluindo a religião) considerando que o islamismo começou com o profeta Maomé e o judaismo começou muitíssimo antes. São estes aspectos que me interessam porque são eles que moldam os comportamentos das populações. Não estava a referir-me a origens étnicas.
E não confundo etnia com cultura.
Hector :
Não tenho uma fonte segura quanto ao número de habitantes Judeus e Árabes, em 1947, na Palestina. Por isso não posso contestar o que escreveu. Parece-me todavia que todas as cidades do território eram predominante e claramente Árabes, como por exemplo o porto de Haifa ... quanto à ONU, valia melhor falar-se em USA, mas pronto ...
Hector em novembro 12, 2004 03:45 PM
O facto de as Nações Unidas terem aprovado a partilha da Palestina não significa que tal partilha era legítima ou respeitasse os direitos dos povos. Fartas dos judeus e dos seus problemas, as grandes potências aceitaram uma solução que violava os direitos dos palestinos. A decisão da ONU violou o direito natural, e não pode por isso servir de argumento para justificar as injustiças cometidas.
Afixado por: Albatroz em novembro 12, 2004 04:06 PMJoana em novembro 12, 2004 12:59 PM
Albatroz em novembro 12, 2004 01:08 PM
Obrigado pelos vossos preciosos esclarecimentos.
Confesso que não sou versado em História (muito longe disso) e por isso tenho de recorrer, sobretudo, aos poucos elementos de que disponho na minha magra biblioteca. Neste caso, a dois livrinhos já um pouco bolorentos, "O Sionismo", de Claude Franck e Michel Herszlikowicz, e "A Civilização Islâmica", de Joseph Burlot, que, porventura não são de muita confiança. As minhas desculpas pelos erros que cometi sem querer.
Devo dizer, no entanto, que, destas e de outras fontes "ad hoc" consolidei a ideia de que a consciência nacional e de pátria independente é muito mais antiga nos judeus do que nos palestinianos. Estes só terão começado a ter essa consciência depois da Guerra Dos Seis Dias em 1967, instigados pelos outros Árabes, após a derrota.
Será assim?
De acordo com o relatório que se pode ler no seguinte endereço
http://www.sullivan-county.com/x/1921.htm
a Palestina (que incluia a actual Jordânia), tinha 700.000 habitantes, dos quais 76.000 eram judeus.
Afixado por: Albatroz em novembro 12, 2004 04:19 PMDe qualquer forma, o que verdadeiramente interessa é saber como é que vai terminar este conflito.
Porque, quanto a mim, uma coisa é certa: vai vencer o mais forte, seja lá o que se entenda por forte ou por força (astúcia, pedras, balas, bomba atómica, sorte...).
E o mais fraco só não será esmagado se adoptar a velha e útil máxima: Se não os podes vencer, junta-te a eles.
Ah, esqueci-me da diplomacia.
Mas isso é só para os politicamente correctos.
:-))
Albatroz em novembro 12, 2004 04:19 PM
Em 1921 ???
E em 1947 ?
Afixado por: Senaqueribe em novembro 12, 2004 04:42 PMOs dados que anteriormente comuniquei diziam respeito a 1921. As minhas desculpas pela omissão.
Afixado por: Albatroz em novembro 12, 2004 04:43 PMSegundo apurei, em 1946 a divisão da população, já sem a Jordânia, era: árabes: 1,237,000 (65%) judeus: 608,000 (35%)
Afixado por: Albatroz em novembro 12, 2004 04:46 PMÉ curioso ler o seguinte:
"In 1947, the UN proposed the partitioning of historic Palestine into two independent states, one Palestinian Arab (45%) and one Jewish (55%)".
Isto apesar da distribuição percentual da população ser muito diferente. Não será esta a razão pela qual os árabes se sentiram duplamente enganados?...
E não esqueçamos que depois da guerra de 1948, houve 700.000 árabes espulsos dos territórios mantidos ou conquistados pelo estado judaico. Dá que pensar...
Afixado por: Albatroz em novembro 12, 2004 04:51 PMExpulsos... é claro
Afixado por: Albatroz em novembro 12, 2004 04:52 PMAlbatroz em novembro 12, 2004 04:51 PM:
Mais de metade de Israel é ocupado pelo deserto de Neguev. Se não contarmos com o bico sul (o Neguev), o território de Israel é apenas ligeiramente maior que a Cisjordânia e Gaza Juntas.
Após a guerra de 1948, da iniciativa dos árabes, a parcela ocupada pelos Israelitas aumentou ligeiramente, até à chamada linha verde.
Os israelitas estavam, quando começou a guerra, praticamente desarmados (apenas tinham armamento ligeiro). É espantoso como conseguiram resistir a países com uma população 50 vezes maior. Muitas das armas israelitas foram então compradas a países da Europa de Leste que haviam votado na ONU a favor da criação do Estado de Israel.
Afixado por: Hector em novembro 12, 2004 05:21 PMNa práctica... Suponhamos que (pura ficção) a ONU, versus USA, decidia reimplantar os "mouros" numa qualquer região de Portugal, aonde, antes de nós, eles já lá tivessem vivido..., felizes e contentes, durantes séculos...
Como reagiriamos nós, ao vermos o seu expansionismo por todo o nosso Portugal... partindo de Lisboa..., com um colonato no Porto..., outro em Bragança..., mais outro em Beja..., e ainda outro em Silves, etc, etc... (mais os tremendos muros, adentro dos nossos territórios e, pior, adentro de nossas casas) e, tudo isto, porque fortemente apoiados e armados pelos STATES e OUTROS..."obscuros interesses".
Como é?! Estão preparados para a "devolução" aos mouros deste nosso bocadito à beira mar... "estragado"?!
Vá lá, sejamos honestos..., deixem lá o políticamente correcto...
Sou solidário com ambos os povos. Eles sofrem demasiado e hà demasiado tempo, mas..., o seu a seu dono!!!
Hector em novembro 12, 2004 05:21 PM
Não foi tão ligeiramente como isso. Foi de 55% do território total para 70%... E até à partilha só 7% do território era propriedade de judeus...
Afixado por: Albatroz em novembro 12, 2004 05:42 PMAlbatroz em novembro 12, 2004 05:42 PM
Se não contarmos com o Deserto do Neguev (14.000k2 com 800 mil hab) e que não fazia parte da Palestina Bíblica, o resto de Israel tem 8.200k2 com 6 milhões de hab.
A Cisjordânia e Gaza têm 6.200k2, onde vivem 3,5 milhões de hab e mais 250.000 judeus em colonatos.
De todos os erros, o mais trágico é, hoje, o Estado de Israel possuir armas nucleares.
Afixado por: asdrubal em novembro 12, 2004 08:14 PMOs caprichos de Soussou
De uma das janelas da sua suite, no Hotel Bristol, onde habitou durante vários meses, Suha Arafat tinha vista para o Eliseu, o palácio presidencial francês. A mulher do maior símbolo do nacionalismo palestiniano viveu durante os últimos quatro anos no luxo, na capital francesa, e os palestinianos não lhe perdoam esse pecado - sobretudo porque o marido sobreviveu dificilmente nos últimos três anos acantonado em Ramallah, onde ela nunca o visitou (...)
expresso online
joana,
é impressão minha ou o seu conceito de Terrorista está um pouco confuso ?
zippiz em novembro 12, 2004 10:39 PM:
É impressão sua ...
"De todos os erros, o mais trágico é, hoje, o Estado de Israel possuir armas nucleares."
Isso é vergonhoso-
É um pais sem profundidade estratégica e rodeado de inimigos, eu admiro-os por fazerem o necessário para sobreviver coisa que provávelmente nunca perceberás a não ser tarde demais nesta Europa pós-moderna.
O ódio a Israel deve-se ao facto de eles terem esquecido os Kibbutz socialistas e terem começado a ter apoio capitalistas...
"Não foi tão ligeiramente como isso. Foi de 55% do território total para 70%... E até à partilha só 7% do território era propriedade de judeus..."
convenientemente a esquecer a Jordânia? este problema em grande parte só existe por causa da Jordânia.
Afixado por: lucklucky em novembro 13, 2004 12:35 PMlucklucky :
Portugal também não tem "profundidade estratégica" e, se me não falha a memória, ao longo da História sofreu quinze ou desasseis invasões castelhanas. O Médio-Oriente, é o lugar do Mundo por excelência onde nem sequer uma "bicha nuclear" devia existir ...
Na zona mais povoada de Israel, onde estão Tel-Aviv e outrascidades, a distância média entre a Cisjordânia e o mar anda pelos 20 a 30 kms
Afixado por: Cerejo em novembro 14, 2004 03:00 PMEscreveu a Joana:
"A primeira Intifada havia sido um êxito. O mundo comoveu-se com os adolescentes palestinianos a enfrentarem com pedras os blindados israelitas. A luta determinada entre miúdos armados apenas de pedras e um exército pesadamente armado foi igualmente um factor de desmoralização para esse exército um exército não foi mentalizado para enfrentar miúdos."
Não há como fazer um elogia para dar credibilidade à crítica que se pretende fazer...não Srª Joana!? Muito provavelmente na altura diria que a OLP estava a utilizar crianças de forma irresponsável.
A retórica é também uma arma como bem sabe qualquer sofista!
Afixado por: amsf em novembro 15, 2004 01:22 PMamsf:
Não fui apenas eu a dizer isso. Abu Mazen também se opôs tenazmente à militarização da 2ª Intifada. Vejamos se ele sobrevive até às eleições.
Eu também poderia alegar que inventar processos de intenção é uma forma de desvalorizar o debate, não acha?
Afixado por: Joana em novembro 15, 2004 02:04 PMSuponho eu que inventar processos de intenção é menos desonesto do que inventar factos?!
Hoje demite-se o Colin Powell, provavelmente por motivos de saúde, quando o devia ter feito há muito tempo por inventar factos e processos de intenção e apresentá-los perante a ONU no caso do Iraque.
Já na altura quando eu afirmava aqui e noutros lugares que aqueles factos eram pura invenção diziam que estava a "inventar processos de intenção". O raciocínio é simples...ninguém ataca um país possuidor de armas de destruição em massa da forma que os EUA se preparavam para o fazer...se algum dia algum país possuidor dessa tecnologia for atacado será-o discretamente e usando tecnologia que o impossibilite de usar as armas não convencionais que possua...portanto sempre que os EUA concentrem meios para atacar um país com esse pretexto é garantia de que esse país não possui armas não convencionais prontas a serem lançadas...
Afixado por: amsf em novembro 15, 2004 05:04 PMOs palestinos árabes já têm seu estado, e ele é a Jordânia -- que nada mais foi à época de sua criação que a parte que cabia aos árabes na partilha proposta pelos ingleses. Quanto à proporção maior de árabes que judeus no território que hoje é Israel, no início do século passado, pode ser facilmente explicada pela imigração maciça de árabes das regiões vizinhas, atraídos pelas novas oportunidades de trabalho geradas pelos israelenses -- que estavam revitalizando com novas tecnologias uma região desolada e desabitada, até então repleta de desertos e pântanos.
Afixado por: Rafael Azevedo em novembro 15, 2004 05:57 PMSr. David,
E Ariel Sharon não é terrorista?! Nestas alturas é que gostaria de ver comentadores como você a serem reprimidos como tem sido o povo palestiniano! Esse Ocidente que o sr. tanto defende tem anos e anos de responsabilidade em muitos dos problemas que o Médio Oriente apresenta...disso ninguém fala! Quanto à nossa liberdade, essa terá sempre os dias contados enquanto houver um Bush a governar os EUA.
CF:
Quanto à nossa vida, ela poderá ter os dias contados, enquanto nõa eliminarem os terroristas.
Não percebo tanta lamentação pela morte de um dos homens mais ricos do mundo. A esquerda já não é o que era.
Afixado por: Fajula em novembro 16, 2004 07:21 PM