Não foi apenas para registar efemérides que nestes últimos dias, e não só, escrevi diversos textos sobre acontecimentos que precederam a Segunda Guerra Mundial.
Se esses textos forem lidos com atenção, verificar-se-á que escrevi-os tentando pôr-me no papel de um observador contemporâneo desses acontecimentos, interpretando-os à luz do que tinha ocorrido até então, evitando que essa interpretação fosse afectada pelos acontecimentos posteriores. E várias vezes chamei a atenção que muitos dos factos ocorridos, se hoje em dia os julgamos de grande malevolência, na época poderiam ter, e tiveram, uma leitura muito diferente e apaziguadora.
Ora hoje em dia, como então, o nosso julgamento tem apenas como premissas os factos recentes e passados. Não sabemos o que se vai passar no futuro, nem somos capazes de julgar as nossas acções actuais com o entendimento dado pelos factos subsequentes, que sobrevierem até ao fim deste processo.
Aliás, o próprio Julgamento de Nuremberga, ao trazer à colação factos ocorridos antes do golpe de Praga (Março de 1939) e incriminando diversas personalidades políticas devido a eles (von Papen e von Neurath, por exemplo) deu uma imagem de «Vae victis!» ao seu juízo. Na verdade, todos aqueles actos foram aprovados pelas potências ocidentais e o próprio acordo de Munique e os seus signatários foram acolhidos em delírio pelas massas das democracias ocidentais. Portanto, repito, os juízes de Nuremberga, ao trazerem à colação os factos ocorridos antes do golpe de Praga, deveriam igualmente ter constituído arguidos todos os políticos ocidentais que tinham dado o seu assentimento às sucessivas exigências de Hitler e as populações de Paris e Londres que se manifestaram com tanto entusiasmo à chegada de Daladier e de Chamberlain. Não foram apenas Daladier e de Chamberlain que capitularam em Munique perante Hitler foram as populações francesa e britânica, principalmente a primeira, foram os políticos do Front Populaire que, enquanto a Alemanha se rearmava a grande ritmo e de uma forma clara, deixaram que o exército francês se tornasse obsoleto perante o alemão e que a sua força aérea se tornasse uma arma de segundo plano, tudo em nome de valores que então tiveram grande acolhimento e respeitabilidade.
Mas o entendimento então não era, de forma alguma, que tinha havido capitulação, nem na ocupação da Renânia, nem no Anschluss, nem sequer em Munique. Tinha havido apenas uma vitória da paz e da concórdia sobre a guerra. As forças da paz tinham vencido as forças da guerra. Só alguns detractores se atreviam então a falar de capitulação.
A situação actual terá que ser vista com mais discernimento do que a geração de então, que assistiu aos acontecimentos entre 1933 e 1939 e permitiu que tudo aquilo ocorresse. Temos no mínimo a obrigação de ter aprendido alguma coisa com esse passado. Não estou a tentar estabelecer mecanicamente qualquer ligação entre as duas situações, nem insinuar que bin-Laden é o equivalente de Hitler e Zapatero poderá ser a reencarnação de Daladier. Estou apenas a afirmar que se nos enganarmos agora e formos vítimas desse erro, não seremos nós que daqui a alguns anos ou décadas iremos fazer a análise histórica das tragédias que ocorrerem. Serão outros, e provavelmente tanto ou mais cáusticos e acusadores relativamente a nós e aos políticos actuais, como nós temos sido relativamente aos políticos ocidentais e ao espírito pacifista e capitulacionista do período entre as duas guerras.
Transigir julgando obter uma paz com honra, não é solução. Não haverá honra na transigência, nem se conseguirá a paz, antes maior pertinácia e sobranceria na agressão. Foi assim então, será assim agora.
O que queres bem eu sei.
Afixado por: Cisco Kid em março 17, 2004 11:49 PMEstou de acordo consigo sobre a leitura que faz quer de uma época, quer da nossa. Deveríamos reflectir sobre a situação actual com discernimento. Infelizmente, como a Joana escreveu num dos primeiros textos deste blog, entre os rotweilers de Wilson e os órfãos de Lenine, não temos muito espaço de manobra.
Afixado por: Hector em março 17, 2004 11:59 PMExcelente, este texto
Afixado por: Gustavo em março 18, 2004 01:22 AMEste texto é muito bom
Afixado por: joano em março 18, 2004 01:30 AMEu direi mesmo mais: é muito bom o texto
Afixado por: anaoj em março 18, 2004 01:31 AMÉ preciso ser muito inteligente para perceber a relação que há entre o terrorismo islâmico e o nazismo.
Afixado por: anonimo em março 18, 2004 01:33 AMVejo que tem vários apoiantes: todos iguais, pequeninos e com óculos
Afixado por: Rui Silva em março 18, 2004 09:15 AMSó que os óculos devem precisar de uma revisão.
Afixado por: Rui Silva em março 18, 2004 09:20 AMCara Joana
Não consigo perceber a sua associação de ideias, as suas preocupações "históricas", sobretudo porque no final, questiona algo disparatado (desculpe-me mas é mesmo isso )
você diz:
"Estou apenas a afirmar que se nos enganarmos agora e formos vítimas desse erro, não seremos nós que daqui a alguns anos ou décadas iremos fazer a análise histórica das tragédias que ocorrerem. Serão outros, e provavelmente tanto ou mais cáusticos
Ora o seu Texto, fala duma época, em que a maior potência mundial se chamava Alemanha, e critica os que alinharam com ela, será que está a querer dizer, que é um erro alinhar com os EUA ?
Mas... depois critica Zapatero e compara-o com os politicos que negociaram com Hitler, tentando evitar uma guerra.
É que, por mais que me esforce, há de facto, factos reais, que são indismentíveis. Os EUA não ocupam hoje o Afeganistão? O Afeganistão atacou alguém ? quem ? as torres ? Recorda-se daquele embaixador Taliban do Paquistão, que questionado por jornalistas, o seu espanto era tal... que se limitou a dizer humildemente:
- mas..nós..não temos tecnologia...que fosse possível ! o seu ar de espanto e sem saber o que dizer, não o esquecerei tão depressa.
Era como se caísse uma bomba atómica na China, e entrevistassem o nosso embaixador, dizendo que consideravam ser Portugal o agressor.
Vê-lo-ia...encabrunhado.. ( a pensar, estes gajos são é parvos ) e a dizer, mas Portugal não têm bomba atómica !
Sabe como designei a guerra do Afeganistão ?
" A guerra do míssil e do burro "
É que de centenas de imagens que vi...apenas vi..homens humildes a andar de burro.
Será que a minha tv, não mostra o que mostra a sua?
Não sabemos o que se vai passar no futuro, nem somos capazes de julgar as nossas acções actuais com o entendimento dado pelos factos subsequentes, que sobrevierem até ao fim deste processo
Sabemos, sabemos !!!
Você..é que não quer ver as coisas...prefere analisá-las depois delas passarem e enquadrá-las na sua mentalidade, pois muitos dos actos..para mim e para outros são vistos de maneiras bem diferentes.
Por exemplo já há 30 anos se sabia, que a 3ª guerra mundial, começaria no golfo.
Já se sabia, que a intolerância Israelita, iria dar nisto, que estamos a assistir actualmente.
Por incrível que pareça, a nossa esperança volta a residir na Rússia, pois tem um presidente, que sabe de guerra, e que negoceia em 2 tempos com os EUA a divisão do Mundo. EUA, fecham os olhos às atrocidades dos povos ocupados e a ocupar novamente pela rússia e os russos fecham os olhos ao golfo.
Voltaremos assim ao equilibrio das 2 potências Imperialistas, até que dá um certo jeito aos EUA, pois por agora, acham-se incapazes de o dominar totalmente pelas armas.
E como já lhe disse, o nosso futuro, passa pela Segurança, pois Mister Bush, já o anunciou oficialmente.
Até teve o desplante de explicitar melhor a sua IDEIA, ao dizer : depois de Madrid haverá mais atentados em todo o mundo, de maneira a criar um pânico generalizado !
- OLHE QUE ISTO É PARA LEVAR MUITO A SÉRIO !
ele não está a brincar... e diga-me...no mundo quem tem uma capacidade assim, de atacar em qualquer lado? quem ? nem a Rússia !
Cara Joana
A minha ideia que chamou de "inovadora " a da Segurança, é apenas fruto lógico das politicas emanadas dos EUA.
Note, que eu sou um "não alinhado" , por isso tenho asas e sou livre de pensamento, não me ligando a blocos portugueses ou internacionais.
E olhe, que se tivesse voz mediática, como tantos patetas na TV, acertava e com grande antecedência o que se vai passar.
Pois "advinhei" logo que Bush foi eleito, a tomada e ocupação do Iraque.
O problema de muita gente, é que ainda raciocina, como nos velhos tempos dos anos 60, e alinham-se à esquerda e à direita, parecendo até que ainda estamos nas Monarquias Feudais ( para lá caminhamos ) mas ainda falta percorrer uns caminhos !
- Quer com 5 anos de avanço, uma visão ?
- A China, está a crescer economicamente a um ritmo "assustador". Assustador, porque como se transferiram as velhas fábricas para lá, não tardam 5 anos, que a China necessite do dobro do petróleo que consome hoje... e aqui recomeça... o cerne da questão... petróleo !
Estando o controlo assegurado do petroleo.. " domina-se" o império Chinês.
Este xadrez mundial, hoje é bem mais fácil de analisar do que há uns 50 anos. Basta interligar as coisas e obteremos facilmente o " futuro ".
Portanto em resumo e para evitar alarmes descabidos o Terrorismo está perfeitamente controlado...e será aplicado à medida das necessidades.
A prova disto tudo, (que não é invenção minha )é que já se "sabia" que ia haver ataques, tal como Bush agora disse..ao nível Mundial.
Afixado por: Templário em março 18, 2004 11:04 AM"Portanto, repito, os juízes de Nuremberga, ao trazerem à colação os factos ocorridos antes do golpe de Praga, deveriam igualmente ter constituído arguidos todos os políticos ocidentais que tinham dado o seu assentimento às sucessivas exigências de Hitler e as populações de Paris e Londres que se manifestaram com tanto entusiasmo à chegada de Daladier e de Chamberlain. Não foram apenas Daladier e de Chamberlain que capitularam em Munique perante Hitler foram as populações francesa e britânica, (...)"
cara Joana
Após ter lido este texto fiquei apreensivo.
Mas depois de o reler parece ter visto nele uma mensagem nas entrelinhas.
Corrija-me se estou errado.
Quererá dizer a Joana que se um dia Saddam ou Bin Ladden forem julgados num tribunal credível e justo (mesmo que seja um tribunal de vencedores) também deveriam ser constituidos arguidos os que no ocidente apoiaram os fundamentalistas na luta contra a persença soviética no Afeganistão, ou as administrações americanas que fecharam os olhos à agressão iraquiana em 79 contra o Irão, ou ao facto de term assobiado para o ar quando Saddam alegadamente despejou umas garrafas de gás tóxico sobre apopulação curda durante essa guerra?
E que fazer se um dia alguem do GIA argelino for preso e levado a julgamento: o que fazer em relação à CIA e aos sauditas?
Vão a tribunal na qualidade de testemunhas, ou de arguidos?
Afixado por: Al_Mansour em março 18, 2004 12:20 PM***ATENÇÃO***
Gostava de pedir a todos os vizinhos proprietários de blogs que fizessem o obséquio de passar lá na minha casa.
Estamos em maré de confissões!
Quero saber a história do vosso blogue.
(Joana... desculpe o abuso, ok... Apareça!)
Caro Al_Mansour
Os EUA já sacudiram as mãos do julgamento do Saddam e entregam-no ás maõs dos seus representantes iraquianos, e acaba tudo muito bem, pois será julgado " pelo seu povinho ".
Imagine, que Saddam no tribunal Internacional, dizia:
- o dinheiro está na Alemanha, no Japão, na Rússia, era uma chatice da grossa.
- e se dissesse que sempre teve o apoio dos EUA ?
No fundo foi o que aconteceu antes da 2ª guerra mundial. Muitos líderes europeus e americanos e industyriais apoiaram Hitler, mas depois ninguém os chateou em Nuremberga.
Afixado por: fbmatos em março 18, 2004 02:08 PMCara Joana
Mais um dirigente a roer a corda.
O presidente Polaco, diz que foram enganados.
O presidente polaco diz que se sentem enganados, mas que isso não é razão para retirarem as tropas polacas do Iraque.
O Bush também dirá o mesmo ... só que dirá que foi enganado pelos serviços secretos.
Afixado por: Rave em março 18, 2004 06:41 PMA história pode ser vista de várias maneiras.
Depende dos óculos de cada um.
Percebo onde a Joana quer chegar, a sua argumentação está bem cimentada e começou a fazê-la nos textos que citou, mas eu não a compro.
Vitapis: O meu objectivo foi que a argumentação fosse consistente. Pelo que você me diz, consegui esse desiderato.
Mas vivemos em mercado. A minha oferta é consistente, mas caberá à procura comprar ou não. Você não compra. É a lógica do mercado.