Ou como o Sr. Trichet deu um tiro no pé
Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, expressou hoje, pela primeira vez, a preocupação da autoridade monetária da Zona Euro com a apreciação da moeda única face ao dólar, afirmando que esta valorização pode ameaçar a subida das exportações. «Os recentes desenvolvimentos nas taxas de câmbio deverão ter um efeito negativo nas exportações», disse Trichet.
O mais curioso é que Trichet produziu tal afirmação à saída de uma reunião onde o BCE decidiu manter os juros em 2%, valor bastante superior à taxa americana.
Ainda mais curioso, ou talvez não, foi que o euro, que tinha descido nos últimos dias de 1,28US$ para 1,26US$, depois das declarações de Trichet voltou a subir quase 1%, ultrapassando os 1,27US$.
Durante semanas as chefias do BCE «desvalorizaram»a valorização do euro face ao dólar americano. Finalmente mostraram preocupações mas, simultaneamente mantêm as taxas de juro, quando se esperaria que as descessem, e têm um discurso ambíguo quando Trichet afirma que a subida do euro «está a ter um impacto negativo» nas empresas exportadoras, que, no entanto, deve ser «parcialmente compensado» por uma aceleração económica global. Portanto, o arrazoado de Trichet (e a cacofonia do seu nome alimenta sérias dúvidas sobre a sua fiabilidade) conduziu à subida do euro e, implicitamente, ao aumento dos receios de «um impacto negativo nas empresas exportadoras».
Ora o que tem preocupado muitos agentes económicos europeus é que a procura interna na UE não é suficientemente forte para superar o fraco crescimento das exportações, induzido pelo alto valor do euro. Ou seja, Trichet, ao produzir aquelas declarações, deu um tiro no pé.
Quanto a Portugal, segundo sábios economistas, não temos problemas, porquanto a quase totalidade das nossas exportações se dirige para os restantes membros da UE. Eu não estaria tão segura, porquanto nesses países as nossas exportações concorrem com produtos vindos de países terceiros, cujos preços, ligados ao dólar, devem ter descido. Mas são economistas sábios, avençados pelas televisões e jornais, que peroram no horário nobre, portanto acima de qualquer dúvida.
Uma coisa é certa: os economistas são excelentes a explicarem o passado; trapalhões a descreverem o presente; imperscrutáveis a preverem o futuro.
Esse Trichet ou tricheur tem um nome que não engana.
Não era eu que o punha a tratar do meu dinheiro!
De facto o BCE anda ah deriva, sem uma linha constante. Um Banco Central não pode proceder assim
Afixado por: Filipa Zeitzler em janeiro 8, 2004 11:10 PMClap, clap. Subscrevo, Joana.
O BCE não quis baixar as taxas de juro em 2003. Agora, em 2004, com um euro demasiado forte, vamos andar ao arames e a pagar a factura.
Esperemos que não por muito tempo.
Os economistas do BCE não se entendem entre si e com os comissários europeus. Cada vez que abrem a boca dizem coisas diferentes