Os portugueses, como povo, caracterizam-se por uma notável incapacidade de planear as suas actividades, organizarem-se e pensarem com sensatez o seu futuro, delineando as medidas adequadas para melhorarem e construírem um país próspero. Individualmente, aqueles que não ficaram anquilosados pela vivência na função pública ou pelo trabalho por conta de outrem, frequentemente pouco estimulante e motivador, são normalmente desenrascados, capazes de brilhantes improvisos ou mesmo de realizarem actividades prósperas e sustentáveis ao longo de uma vida de trabalho, conseguindo, muitos de nós, ter percursos, profissionais ou artísticos, plenos de sucesso. Mas como povo, sublinho, somos tal como caracterizei inicialmente.
Mas, se temos incapacidade em nos desenvolver e construir um país próspero, quando nos acontece algo na arena internacional que julgamos que menoscabe a nossa dignidade nacional ou que nos confere um estatuto de menoridade no concerto das nações, então, enchemos o peito, retesamos os músculos e bradamos a nossa ira contra os bodes expiatórios que estejam mais à mão de semear. Nada escapa à nossa fúria patriótica.
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Quando os ingleses nos fizeram um ultimato para reivindicarem enormes extensões de terras no interior de África, sobre as quais teríamos alguns direitos de paternidade, devido à travessia de Capelo e Ivens, mas que manifestamente não tínhamos capacidade militar e financeira para proceder à sua ocupação, a alma nacional comoveu-se, compôs-se a “Portuguesa”, cobriram-se de panos pretos a estátua de Camões, quotizámo-nos para adquirirmos um cruzador em 2ª mão, caíram ministérios, insultaram-se políticos que venderam a alma e o país à pérfida Albion, e promoveram-se mais um conjunto de acções de grande exaltação patriótica, que comoveram as populações que a elas aderiram, mas que foram absolutamente estéreis do ponto de vista do nosso poderio como potência.
Agora, o perdão concedido à Alemanha e à França pelo incumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento levou alguns comentaristas e muitos kamikazes da net a irromperem, de peito feito, cheios de exaltação patriótica, a verberarem tudo e todos, as potências europeias, que nos olham desdenhosas, a ministra “sem coerência nem dignidade” que aprovou a decisão de não aplicar sanções aos infractores, o governo lambe-botas, os políticos que se põem de cócoras perante os estrangeiros, etc., etc..
O grave da questão, é que nós, na realidade, estamos, económica e financeiramente, de cócoras. Estávamos quando entrámos na UE, continuámos a estar porque, para além dos fundos estruturais que aplicámos nas infra-estruturas viárias e ambientais, não soubemos desenvolver as nossas actividades produtivas (indústria, agricultura e pescas), malbaratámos os fundos para a formação, utilizando-o para manter o nível de emprego ou em acções sem qualquer eficácia e fomos permitindo que houvesse aumentos salariais na administração pública, e mesmo nas actividades privadas, por efeito de arrasto ou de contratação colectiva, muito superiores ao aumento das produtividades, que conduziu a uma situação grave de desequilíbrios financeiros que obrigaram a acções correctivas com efeitos negativos no rendimento disponível das famílias, numa conjuntura de recessão internacional, agravando os impactes dos efeitos negativos nas expectativas dos agentes económicos nacionais.
Nessa situação, o governo português não tinha alternativas. Ir votar a favor de sanções a países cujos contribuintes ajudam a pagar os fundos estruturais que Portugal recebe? A países em que parte do défice resulta justamente de serem contribuintes líquidos para a UE. E logo Portugal que, nos últimos anos se revelou um péssimo aluno, entrando em incumprimento em 2001, com um ministro das finanças que nunca chegou a saber, em tempo útil, ou mesmo inútil, a quanto montava o défice, Portugal que continua com o credo na boca sem saber se cumpre ou não a meta dos 3%?
Não é com exaltação patriótica, com patrioteirismos indignados, que ocorrem pontualmente, quando nos confrontamos com situações que nos ofendem como povo, que se resolvem estes problemas. Estas situações resolvem-se com o patriotismo quotidiano, com o trabalho que desenvolvemos, com as deliberações que tomamos para construirmos soluções que só a longo prazo produzem efeito, com determinação, com perseverança, aumentando a nossa produtividade, criando riqueza mas evitando distribuir aquilo que ainda não temos.
Em resumo, estas situações de menoscabo da nossa dignidade patriótica terão que ser sofridas no curto prazo mas devemos toma-las como exemplo para perseverarmos em construir um país mais próspero onde tal não volte a ser possível.
É esse o verdadeiro patriotismo, é essa a lição a tirar desta ocorrência e de outras, e será assim que poderemos sair da nossa situação de parente pobre da Europa. Injuriarmo-nos mutuamente e denegrir franceses e alemães não conduz a nada.
JOANA II (OU JOÃO II)
Sentiu-se desnacionalizada?
Tão mazinha para com os portugueses.
Em todo o caso,o proverbial "desenrascanço" nacional serve-lhe de consolação.
Esse "atributo virtuoso" faz parte da idiossincrasia "joanina"?
Não creio,porque a vejo inquilosada, como os que trabalham na função pública e incapaz de obra artistica ou de qualquer actividade de sucesso.
O facto de ter utilizado com grande rapidez o sujeito "nós",afigura-se-me que a Joana II não está incluida nesse âmbito.
Para quê a modéstia ou a humildade?
"NÓS" !
Assim seja!
Minha amiga,
Admiro a seriedade que põe na elaboração dos seus apontamentos, mas isso não me obriga a perfilhar todas as ideias que pretende passar. O país, como sabe, nasceu de cócoras, cresceu de cócoras e há-de viver de cócoras. Sem atitude erecta ou porte vertical da cabeça. E, até para o ajudar nisso, nos falta o almirante Pinheiro de Azevedo que estava disposto, com um pelotão de infantaria, a marchar sobre Olivença e talvez, sem dar por ela, acabar por anexar a Andaluzia.
O país que somos foi virtual desde sempre e nunca precisou de trabalhar para nada. Viveu de expedientes, apregoando banha da cobra e vendendo gato por lebre. Começou por ir ao encontro da Índia e trazer as especiarias, pirateando mares profundos e desconhecidos. Até que mais fortes piratas surgissem no horizonte e nos dessem no toutiço. Descobriu-se o Brasil, por erro de rota, e encontraram-se o ouro e as pedras preciosas. A corte, por Lisboa, vestiu-se de sedas e organdi, bailou pelas madrugadas dentro sob candelabros de ouro e prata ao som da música de Viena.
Depois o grito do Ipiranga, a perda da joia da coroa. Foi trágico e já aí, creio, terão sido congelados todos os salários, se os houvesse.
Em 1961 a teimosia irracional de um homem venerado como um pastorinho de Fátima fez com que inimigos armados se perfilassem em mais difusas frentes de batalha, lutando por direitos que a história, irreversível, tinha já reconhecido há umas dezenas de anos. No fervor da luta até petróleo se descobriu e o homem, solitário, terá comentado: só me faltava mais esta!
Depois o petróleo foi-se com as colónias e umas centenas de milhares regressaram a esta ponta da europa: sem dinheiro, sem trabalho e sem futuro. Por mim pensei: é desta, não nos resta mais nada, não tivemos a inteligência dos ingleses ou o pragmatismo dos holandeses. Temos que começar do nada com 900 anos de história.
Erros meus, má fortuna! A Europa deu-nos a mão, admitiu-nos no seu seio, deu-nos dinheiro. Que, como sempre, não soubemos utilizar. Fomos comprar chocolates e comprar canetas com que não sabemos escrever. Não se investiu como não se investe em nada, a não ser em moradias apalaçadas, em carros de luxo e em namoradas que, à cautela, se mantêm à distância do vale do Ave, não vá acontecer o que depois se viu em Bragança.
Invoca-se a produtividade a cada passo, sem se saber o que se diz e pensando-se que ela se aumenta voltando à escravatura. E, apesar de tudo, a Alemanha não optou pelo regime e, com dificuldades, vai-se aguentando competitiva. Nós, ainda ontem o ouvia dizer a um responsável político, queremos na UE comparar-nos aos pequenos, como a Espanha, dizia ele e já admitimos que a Alemanha seja maior do que nós e tenha o peso que nós não temos.
Não votámos a favor de sanções? Pois não e fizemos o que devíamos fazer. Até o Dr Louçã, que muitas vezes interessa eliminar linearmente com o qualificativo de demagogo, faria o mesmo. Não vejo o desgraçado país que somos ter a mão estendida para receber a esmola, escondendo a outra para arremessar a pedra.
A complicação chega agora, em Maio de 2004. Dos dez novos parceiros, metade vão passar-nos à frente com muito maior facilidade do que o fez a Grécia. São outra gente, que investiu naquilo onde nada ou pouco fizemos. É gente instruída!
Deus nos ajude e ilumine aqueles que devem ser iluminados. À força, a custo de porrada se for preciso. Para que aprendam que uma empresa não é uma quinta e se não gere como uma família do campo. Mesmo que os honorários pagos aos gestores sejam os mais elevados da Europa, na razão inversa da riqueza que produzimos.
São desabafos. Não os leve a mal. Pelo contrário, desenterre o amigo Eça e algumas das suas páginas mais brilhantes. Mude-lhes as datas e as personagens. Deslumbre-se com o país do século dezanove em que ele as escreveu. E em que nós vivemos hoje, excepção feita à suprema glória dos estádios da bola, edificados por instituições falidas desde sempre.
Afixado por: Placard em novembro 26, 2003 11:14 PMAcho um pouco cáustico, mas justo para connosco.
Falamos muito, mas não somos perseverantes
É por isto que passamos da euforia da auto-estima para a depressão mais absoluta, sem razões aparentes.
Afixado por: GPinto em novembro 27, 2003 01:53 AMSomos capazes do melhor e do pior
Afixado por: GPinto em novembro 27, 2003 01:53 AMUma coisa é certa, o país está de facto de cócoras
Afixado por: Humberto em novembro 27, 2003 09:26 PMNão há regra sem excepção.
Ai...ai...minha menina ! Esqueceu-se de mim,
O Pedro ?
Não se lembra o Pedrinho ?
Que falta de memória !
Todas as regras têm excepção! E seja bem aparecido
Afixado por: Joana em novembro 28, 2003 08:10 PMÉ o país que temos
Afixado por: GPinto em novembro 29, 2003 11:21 AMAcho a sua análise incómoda, mas mortífera. Infelizmente o que escreve é verdade
Afixado por: Viegas em dezembro 3, 2003 12:22 AMAcho a sua análise incómoda, mas mortífera. Infelizmente o que escreve é verdade
Afixado por: Viegas em dezembro 3, 2003 12:22 AMAcho a sua análise incómoda, mas mortífera. Infelizmente o que escreve é verdade
Afixado por: Viegas em dezembro 3, 2003 12:22 AMDedicatória
" por falta de um inventor
perdeu-se um invento
por falta de um invento
perdeu-se um produto
por falta de um produto
perdeu-se uma empresa
por falta de uma empresa
perdeu-se uma fábrica
por falta de uma fábrica
perderam-se milhares de empregos
por falta de milhares de empregos
um país perdeu seu futuro
tudo por falta de um inventor"
autor anónimo
www.invento.web.pt
Afixado por: fernando nogueira gonçalves em dezembro 20, 2003 03:27 PMO país está cinzento, os portugueses andam cinzentos, o fado é cinzento que me perdoem os fadistas mas, não há por aí uma marcha?
Afixado por: fernando nogueira gonçalves em janeiro 15, 2004 10:47 PMNão há marcha, mas de vez em quando aparecem aqui uns que se julgam marchistas