A França e a Alemanha já haviam anunciado que não iriam cumprir o Pacto de Estabilidade. Agora parece decidido que não irão sofrer sanções por causa dessa infracção. Os ministros das finanças dos 12 da zona do euro aprovaram hoje por sólida maioria uma resolução que permite uma nova “interpretação” dos défices públicos da Alemanha e da França e que na prática suspende a aplicação do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Apenas o Comissário Solbes se empenha em acções “punitivas”. Teria aliás que o fazer, senão cairia no ridículo depois das ameaças que fez a Portugal durante 2002.
O que há de caricato em tudo isto, foi ser a Alemanha a principal impulsionadora do Pacto de Estabilidade e Crescimento, com os severos 3% de limite de défice orçamental que impôs por desconfiar da indisciplina crónica dos europeus mediterrânicos, e ser agora a principal incumpridora e a causa das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento passarem a letra morta.
Era bom termos um Pacto de Estabilidade e Crescimento. A União Europeia ao ter uma moeda única precisa de uma regra de disciplina orçamental. Era mau termos um pacto “cego”, fixado num valor de partida, arbitrário, independente das variações das conjunturas económicas dos estados membros e da UE no seu todo.
A necessidade do Pacto de Estabilidade e Crescimento é evidente: com a união monetária, os mecanismos económicos de controlo do endividamento para cada estado membro desaparecem e têm que ser substituídos por um instrumento legal.
Quando um país com moeda própria vive uma situação deficitária, quer orçamental, quer nas suas contas com o exterior, os mecanismos económicos actuam e levam aos reajustamentos das taxas de câmbio. Se Portugal não estivesse ligado ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, os governos de António Guterres poderiam ter continuado a sua política laxista, pois os mecanismos económicos agiriam na “sombra”, reajustando o valor da moeda, corroendo o poder de compra dos cidadãos e repondo a verdade económica à custa da carestia da vida, principalmente nos bens importados, mas mesmos nos bens de fabrico nacional que parcialmente incorporam importações (nem que fosse a energia).
Se o laxismo continuasse, Portugal poderia ter caído numa situação semelhante à que ocorreu na Argentina, onde as transacções se passaram a fazer preferencialmente em espécie, e que se transformou do país mais rico da América do Sul, num país a viver na maior das misérias.
Surgiriam então comentários indignados nos fóruns da net e em alguns artigos e notícias nos mídia, acusando tudo e todos da miséria da situação, nomeadamente os agentes económicos mais “imponentes” – Bancos, grandes empresas, etc. – mas com o resultado estéril a que as invectivas ignorantes conduzem.
É por isso que eu penso que este Pacto de Estabilidade e Crescimento é extremamente útil para nós e deve ser respeitado. Ele evita que os nossos governantes caiam no laxismo ou, quando caiem e não sabem como se livrar da situação, se demitam, como fez António Guterres.
O Pacto de Estabilidade e Crescimento obriga a que, apesar dos inúmeros cretinos que continuam a debitar disparates sobre a situação económica e social em Portugal, os nossos governantes ajam com responsabilidade, quer o governo actual, embora com incompetência e com uma Ministra das Finanças, excelente técnica ao nível da gestão de uma mercearia, mas discutível como gestora financeira do país, quer o governo de A. Guterres que, em vista da situação, se demitiu por incapacidade de a resolver, dados os compromissos e expectativas entretanto gerados.
Em qualquer dos casos, Portugal e os países cumpridores ficam agora numa situação óptima para pressionarem para que sejam flexibilizadas as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, não no sentido do disparo dos défices por excesso de consumo público corrente, mas para que possa haver uma política de investimento público que seja adequada à conjuntura económica de cada país. Os limiares devem distinguir entre despesas correntes e despesas de investimento, sendo restritivo para as primeiras e dando flexibilidade às segundas ,consoante a conjuntura económica de cada país.
E é preciso que o façam, pois é indispensável um Pacto de Estabilidade e Crescimento, mas um pacto assente em bases sólidas e que tenha em conta os sinais dos mercados e das conjunturas económicas. Senão arrisca-se a tornar-se letra morta, como este.
(...)apesar dos inúmeros cretinos que continuam a debitar disparates sobre a situação económica e social em Portugal(...) joana dixit.
cara joana : não se esqueça de juntar o ministro francês à lista dos seus "inumeros cretinos" !
Portugal mostra que PEC leva à recessão
Francis Mer, ministro francês das Finanças, recorreu ao exemplo da economia portuguesa, para mostrar que o cumprimento das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) tem por consequência a recessão, sublinhando ainda ter alertado os responsáveis de Portugal para o problema.
Em Bruxelas, Francis Mer justificava assim a decisão tomada pelo conselho de ministros da Economia e Finanças da União Europeia, que perdoou à França e Alemanha, os défices excessivos face ao limite de 3% do PIB previsto no PEC.
Em declarações registadas pela Rádio Renascença, o ministro francês lembrou que a difícil situação económica que Portugal atravessa deve-se à obrigação de ter de cumprir de forma rígida as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Francis Mer chega mesmo ao ponto de afirmar ter alertado os responsáveis portugueses pelas Finanças para o problema.
«Eu próprio disse na altura à minha colega portuguesa e aos demais ministros, que o que se está a pedir a Portugal vai conduzir irremediavelmente à recessão. E foi mesmo isso que aconteceu», sublinhou o ministro francês, acrescentando que «se na altura tivesse sido mais inteligente, teria proposto fórmulas um pouco mais matizadas em vez de uma aplicação rígida» do PEC.
Zippiz
Eu escrevi:
Era bom termos um Pacto de Estabilidade e Crescimento. A União Europeia ao ter uma moeda única precisa de uma regra de disciplina orçamental. Era mau termos um pacto cego, fixado num valor de partida, arbitrário, independente das variações das conjunturas económicas dos estados membros e da UE no seu todo.
E no fim:
é indispensável um Pacto de Estabilidade e Crescimento, mas um pacto assente em bases sólidas e que tenha em conta os sinais dos mercados e das conjunturas económicas. Senão arrisca-se a tornar-se letra morta, como este.
Portanto a minha opinião é a de que tem que haver um pacto, mas flexível.
Porém, e fui muito clara, flexível na questão do investimento público em situações conjunturais para permitir relançar a economia e nunca para continuar no despesismo das despesas correntes, que era o que muitos pretendiam em Portugal.
Quanto ao ministro francês das Finanças, está a ser juiz em causa própria. Pretende defender a posição francesa mostrando a situação de recessão em Portugal. É paradigmático que ele não tivesse falado assim há um ano!
Sendo assim não tenho qualquer pejo em o juntar à tal lista de cretinos.
Afixado por: Joana em novembro 25, 2003 05:22 PMNão existem pactos "mais flexíveis" , ou não serão pactos mas antes cartas de intenções, que serão tidos em conta consoante a oportunidade.
Sobre os "cretinos" é melhor aumentar as linhas da lista porque todos os dias aumentam os "cretinos" que estão contra os OPORTUNISTAS deste governo.
A posição portuguesa foi ditada pela táctica conjuntural de oportunidade, para memória futura.
Colocar-se ao lado dos dois países que ditam as regras , tendo em conta o periodo 2007-2013 , eis o "grandeza" da posição deste governo (até tenho vergonha de escrever "governo português".
Sobre a imprescindibilidade do Pacto de Estabilidade e Crescimento numa situação de moeda única, leia o que eu escrevi.
Essa sua frase Não existem pactos "mais flexíveis" , ou não serão pactos mas antes cartas de intenções não está correcta. Pode ser estabelecido um pacto definindo regras a ter com os défices orçamentais, separando situações em que há necessidade de maior ou menor investimento público em face da conjuntura económica. E não apenas a regra cega dos 3%.
Mas nunca para satisfazer as despesas correntes que era aquilo que os que até têm vergonha de escrever governo português" queriam para continuar com aumentos insuportáveis na função pública e outras despesas corrente sem qualquer efeito produtivo e com o laxismo do governo anterior.
Gente certamente com muito menos clarividência que o Guterres que, embora governando mal, apercebeu-se do buraco para onde estava a conduzir o país.
E se ler com atenção o que escrevi, eu não defendo a forma como a ministra geriu a situação. Antes pelo contrário. Todavia estou profundamente contra os que a atacam apenas porque queriam que se continuasse na "dolce vita" até chegarmos à situação da Argentina.
Essa gente é completamente irresponsável ... ou cretina
Afixado por: Joana em novembro 25, 2003 06:27 PMpor vezes Vc está contra as posições cretinas do governo ( ex: "eu não defendo a forma como a ministra geriu a situação" ) mas nunca quer dar o braço a torçer quando se trata de apoiar posições da oposição ;
ié : normalmente está de acordo que o governo de Durão tem metido os pés pelas mãos mas, como há sempre um "demagogo" Louça ou um "laxista" Guterres que dizem exactamente aquilo com que Vc está de acordo , vá de desancar nos "cretinos" da oposição (não vão os seus leitores bloguistas pensar que está feita com os esquerdistas do BE ou com os gastadores do PS !)
"Se nós é que somos os inteligentes, então desculpem lá mas, com o devido respeito, eu prefiro os estúpidos dos alemães e dos franceses".
participante no Fórum TSF
Vá, não se irrite, leia com atenção aquilo que escrevi e vai ver que concorda que eu tenho razão e o Louçã é um "demagogo".
Lembre-se que Portugal ultrapassou o défice numa situação completamente ridícula em que o Ministro das Finanças de então nem sabia a quantas andava ( e não quer que fale em laxismo!) e só escapou às sanções porque, no ano seguinte o governo andou a fazer das tripas coração para o diminuir, ainda por cima já em recessão internacional.
eu já não me irrito com facilidade...
mas acho que tenho direito a chamar-lhe demagoga ...não me parece que seja ofensa porque Vc , uma pessoa educada , não passa uma "posta" sem chamar demagogos a todos os lideres das oposições...
A questão é que as razões dos mais pequenos pesam menos que as razões dos maiores
Afixado por: Gros em novembro 25, 2003 10:18 PM"A questão do défice é uma daquelas em que o governo não pode falhar. É o principal elemento da legitimidade política da governação. É por isso que é incompreensível o apoio português à violação do Pacto de Estabilidade pela Alemanha e a França. É um voto de todas as ambiguidades: sobre o nosso défice, sobre as relações de força na EU, sobre o papel do euro, sobre a Europa do futuro, sobre o valor dos acordos e tratados."
alguma citação de um perigoso esquerdista ?
não, a citação de um ex-esquerdista : JPPereira !
Em primeiro lugar eu não tinha analisado a justeza da posição portuguesa. Em teoria abstracta JPP tem razão.
Na prática e na situação financeira e económica em que Portugal se encontra, tem que ter a atitude mais habilidosa possível.
Neste caso, o ter votado contra as sanções permite-lhe obter uma maior benevolência realtivamente a um eventual incumprimento e a tentar conseguir uma maior flexibilização do pacto futuramente.
Gosto do JPP porque diz aquilo que julga o correcto sem atender às consequências imediatas de se fazer o que ele propõe. Isso é uma virtude. Todavia, felizmente para ele, que não tem funções de gestão ... senão estava feito!
Afixado por: Joana em novembro 25, 2003 11:04 PMvolto a rescrever o essencial da minha posição :
(...)A posição portuguesa foi ditada pela táctica conjuntural de oportunidade, para memória futura.
Colocar-se ao lado dos dois países que ditam as regras , tendo em conta o periodo 2007-2013 , eis o "grandeza" da posição deste governo (até tenho vergonha de escrever "governo português" (...)
se Vc está de acordo com JPP , é uma contradição não estar de acordo com o que escrevi...
Afixado por: zippiz em novembro 25, 2003 11:16 PMDeviamos fazer uma manifestação de desagravo
Afixado por: anonimo em novembro 26, 2003 01:16 AMO artigo de hoje de José Manuel Fernandes reproduz, quase 24 horas depois, o que escrevi aqui.
Transcrevo-o a seguir, em 3 partes, dada a extensão
Entre a Estupidez e a Soberba (1)
Por JOSÉ MANUEL FERNANDES
Quarta-feira, 26 de Novembro de 2003
Quando os países das União Europeia aceitaram que deveriam conter os seus défices públicos abaixo dos três por cento do produto interno bruto, essa decisão tinha toda a lógica: tratava-se de acalmar as inquietações alemãs com a indisciplina orçamental dos países do Sul da Europa, acautelando para o euro um futuro tão sólido quanto havia sido o passado do marco. Na época era igualmente importante sossegar os mercados financeiros, que não acreditavam ainda na nova moeda.
Foram essas preocupações que estiveram na origem do carácter draconiano do Pacto. Porém, então como hoje, é boa e prudente política reduzir ou mesmo eliminar os défices das contas públicas, assegurando com isso um crescimento mais saudável e não acumulando dívidas que, no futuro, pesarão sobre os nossos filhos. Ou seja, uma política orçamental conservadora não deixou de fazer sentido apenas porque é hoje mais difícil de atingir: o que mudaram foram as circunstâncias externas, e essa mudança aconselhava uma revisão inteligente do tal "pacto estúpido".
Entre a Estupidez e a Soberba 2
Para já não foi isso que sucedeu. Na madrugada de ontem as propostas moderadas da Comissão Europeia, que impunham o mínimo dos mínimos dos compromissos à Alemanha e à França, foram por estas rejeitadas - e rejeitadas antes do mais pela Alemanha, o país que impusera o Pacto por desconfiar da irresponsabilidade orçamental dos outros. Em Bruxelas, a Alemanha comportou-se de forma arrogante, alardeando o seu estatuto de maior potência económica e de maior contribuinte da União Europeia para impor a sua posição. Não deu espaço para uma saída política que inevitavelmente teria de contemplar a revisão do Pacto e, no terreno das opiniões públicas, nunca poderia criar a imagem de que na Europa há os que podem e mandam e os que não podem e acatam. Como nós, os portugueses, que assistimos ao espectáculo penoso e incompreensível de Manuela Ferreira Leite a aceitar a indisciplina alheia quando em casa pede sacrifícios.
É certo que Portugal só se reforma por imposição externa. Só à beira do abismo, com os credores a baterem à porta, temos sido capazes de disciplina e contenção, pelo que não nos faz nada mal a camisa-de-forças que nos é imposta, mas com uma condição: conseguir-se, depois dos sacrifícios, a consolidação orçamental, a redução do desperdício na administração e um Estado mais leve, moderno e eficaz. A "obsessão do défice" não faz isso só por si, antes exige reformas que tardam. Mas sem essa "obsessão" suspeito que descarrilaríamos já amanhã.
Entre a Estupidez e a Soberba 3
Com contas públicas mais saudáveis, poupando nos tempos de crescimento económico para gastar nos períodos em que a economia precisa de estímulos e caiem as receitas fiscais, limitar o pacto a um tecto dos três por cento é redutor. Sobretudo agora, que o euro até dá insuspeitos sinais de solidez.
Haveria então de rever o Pacto, não apenas para o flexibilizar, mas para, por exemplo, desligar as despesas correntes dos Estados das despesas de investimento, as que mais falta fazem nos períodos de recessão. E também se deveria aproveitar para repensar nos estatutos do Banco Central Europeu, que impõem como política a absoluta prioridade ao combate à inflação e não consideram, ao contrário dos estatutos da Reserva Federal dos Estados Unidos, a promoção do crescimento económico.
Tudo isso devia ser feito com ponderação - uma ponderação que a soberba alemã ontem tornou virtualmente impossível.
Será realmente incompreensível o apoio português à violação do Pacto de Estabilidade pela Alemanha e a França, como afirma Pacheco Pereira?
O apoio português à violação do Pacto de Estabilidade é uma medida necessária para não enterrar de vez a nossa economia.
Ou será que Pacheco Pereira se esquece de que a Alemanha é o nosso principal cliente nas nossas exportações?
Uma Alemanha em recessão e com imposições de poupança aos alemães (aumentos de impostos, aumento do desemprego, etc) seria desejável a Portugal?
Já Rabelais dizia que os ovos de hoje são preferíveis aos pintos de amanhã.
Afixado por: re-tombola em novembro 26, 2003 01:58 PMespera-se uma "posta" da joana sobre a vitória de Valencia no america's cup.
os esquerdistas e toda a oposição que se resguardem porque como é sabido todos os males e derrotas do país são culpa destes perigosos anti-portugueses.
Afixado por: zippiz em novembro 26, 2003 05:52 PMViva a intiligência Portuguesa!
Abaixo a "estupidez" do eixo franco-alemão!
Isto só não dá vontade de rir porque hoje por hoje é quase dramática a situação em que se encontram as famílias portuguesas, vitimas da política dum governo "obcessivamente obcecado"
na observância dum numero: 3 ponto zero por cento! E nesta obcessão serviu-se dos mais diversos expedientes que não traduzem a aplicação
duma politica de consolidação orçamental.
Alguém é capaz de me explicar de que modo é que a venda da Quinta da Falagueira e a transferência do Fundo de Pensões dos CTT, só para falar destes dois, diminuiram as despesas ou aumentaram as receitas públicas?
E que dizer o brutal agravamento do desemprego em Portugal? Também aqui é arrepiante verificar-se qye tudo se resume a números, (450.000, 470.000 ou 7 virgula qualquer coisa), como se os portugueses se possam identificar com um número.
Neste particular, António Guterres tinha inteira razão quando dizia: Os portugueses não são números.(Lembram-se daquela bela tirada do deputado Guilherme Silva quando, ao referir-se ao número de vitimas dos incêndios do verão passado, disse tratar-se "dum número restrito de pessoas", o que abona em favor da sua sensibilidade perante a situaçao dramática vivida?)
Eu estou convicto de que todos nós que participamos neste e noutos foruns fomos uns previligiados, que falamos de barriga cheia,-e como é fácil falar nestas circunstâncias,-e que corremos o sério risco de vivermos alienados em relação a muitos dos nossos concidadãos.
Por mim já decidi: Qual o interesse destes enormes sacrifícios, se as famílias e as empresas portuguesas estão numa situação bem pior que em 2001 e 2002?
Afixado por: Luis Filipe em novembro 26, 2003 05:57 PMC&P do artigo de hoje do Sarsfield Cabral:
Instabilidade
A imposição do Pacto de Estabilidade pelo antigo ministro das Finanças alemão Theo Weigel, cristão-democrata, tinha em vista contrariar a relutância da opinião pública germânica em trocar a sua moeda pelo euro. Habituados ao marco, cujo valor quase não era comido pela inflação, os alemães receavam que a indisciplina financeira da Itália pusesse em causa a solidez da moeda europeia. Daí os limites do Pacto aos défices orçamentais. Limites demasiado rígidos, não distinguindo entre despesas correntes e de investimento, por exemplo. Com razão, logo foi ele apelidado de Pacto de Instabilidade.
Nascido torto, o Pacto acaba da pior maneira: fingindo que não acaba. É frequente na União Europeia esta tendência para a aldrabice. Mas, hoje como quase sempre, todos perdem com as falsas soluções. O euro perde credibilidade. A Comissão Europeia, guardiã dos tratados, fica em xeque e sai enfraquecida desta trapalhada. Reforça-se o método intergovernamental com a imposição da vontade - ilegal - de dois grandes países. É mais uma pedra na construção do Directório.
Nós, Portugueses, podemos tirar daqui vantagens tácticas: ninguém terá a ousadia, agora, de nos impor sanções se voltarmos a falhar. Daí o nosso voto. Mas teria sido melhor rever calmamente as regras do Pacto, tornando-as mais sensatas. É que, assim, corremos o risco de se diluir a disciplina que tem pendido sobre as nossas contas públicas - e sem a qual elas estariam bem mais descontroladas ainda. Como António Barreto admitia no Público de domingo a propósito do Euro 2004, nós precisamos de uma pressão externa para fazermos as coisas como deve ser. Recordem-se os acordos com o FMI e a entrada para o euro. Não será exaltante, mas é assim.
Luis Filipe:
O actual nível de desemprego em Portugal tem razões estruturais e não vai descer com a retoma.
Esse desemprego situa-se em actividades nas quais Portugal já não tem competitividade, pois se baseiam em salários muito baixos que já não são possíveis em Portugal.
Portanto, os sectores do calçado e têxtil, de produção mais indiferenciada, não vão poder subsistir. Ou as empresas se reconvertem para uma produção mais diferenciada, apostando no design ou em algo que diferencie o seu produto da produção oriunda dos países do Sueste Asiático e do Leste Europeu, ou os trabalhadores se requalificam para outra actividade, ou o desemprego aumenta.
O combate ao défice apenas poderá ter impossibilitado alguns ingressos na função pública e uma eventual ligeira diminuição de emprego no comércio (tenho dúvidas que tal tenha acontecido) por efeitos da diminuição da procura interna.
Afixado por: Joana em novembro 26, 2003 08:56 PMre-tombola:
Plenamente de acordo consigo.
zippiz:
O que é que o leva a supor tal coisa?
joana :O que é que me leva a supor tal coisa?
simples... a estatística !
Afixado por: zippiz em novembro 26, 2003 10:21 PMzippiz: Julguei que a esquerda radical considerava a Estatística uma ciência mistificadora, que não diferenciava o pobre do rico.
Vejo que foi recuperada.
Afixado por: Joana em novembro 26, 2003 10:43 PM
As locomotivas da UE têm falta de combustível.
No tempo dos socialistas portugueses também houve falta de combustivel para os navios de guerra se fazerem ao mar.
Gastadores como foram,teve de ser a direita a "endireitar" o que estava torto.Mas,a orgia gastadora foi tal que leva tempo a recuperar.
O governo de Raffarin sucedeu ao do socialista Jospin.
Lá teve novamente a direita de servir de muleta ao que ficou coxo do governo socialista.Esforços e mais esforços.
O que acontece na Alemanha? O senhor Schroeder é social democrata.Não confundir com a social democracia à Cavaco ou à Barroso.
A da Alemanha é rosa.
Nestes termos,os rosas alemães continuam gastadores e,por isso,o Pacto de Estabilidade é figura de retórica.
Aguarda-se a vinda da CDU/CSU ao poder para salvar a situação.
Enquanto isso não acontece, não há despesa pública que se mantenha no limite de 3%.
Tudo se compreende agora.
Afixado por: ZEUS 8441 em novembro 26, 2003 10:49 PMestatística ( INE , BP ou Governo ):
só não "nos" interessa quando o desemprego se aproxima dos 6% !!!
COMISSÃO VERSUS CONSELHO
O outro aspecto negativo da posição portuguesa sobre o défice franco-alemão é o de ser contraditória com toda a nossa tradição de defesa do fortalecimento da Comissão face ao Conselho. Esta é, aliás, uma das posições negociais de Portugal no debate sobre a Constituição europeia, a necessidade de uma Comissão forte que contrarie os interesses dos grandes países europeus e os seus egoísmos nacionais. A Comissão, obrigada aos tratados, sofre com esta decisão dos Ministros das Finanças, uma desautorização completa e grave do ponto de vista institucional.
Se é verdade que alguém (alemão neste caso) disse que não havia nenhum problema em diminuir o défice alemão cortando nas transferências para os fundos estruturais, este é um perigoso revelador de como estão as coisas na UE e lança uma séria suspeita sobre os motivos do entusiasmo franco-alemão sobre a Constituição europeia.
abruto/JPP
Muito bem, Joana ! Desta vez subscrevo o que diz. Aqui deixo o meu comentário anti-anti-europeus do Expresso Online:
"Aos anti-europeus idiotas...
A situação orçamental da França e Alemanha é passageira e as medidas excepcionais que foram adoptadas são também transitórias. O pacto de estabilidade continua a ter validade e a ser um instrumento útil de política económica.
Só que há idiotas anti-europeus que não compreendem que a economia não é o direito penal em que à infracção deve seguir-se necessariamente a sanção. Em economia deve haver regras (como o pacto de estabilidade) potencialmente cogentes, mas que admitem excepções em situações justificadas caso a caso segundo critérios de boa gestão económica. Perceberam ?
Acresce isto, seus idiotas eurocépticos: Portugal está a receber da Europa há 17 anos somas colossais. Este ano são cerca de 2.700 milhões de euros ! E sabem de onde vem sobretudo esse dinheiro ? Exactamente dos orçamentos alemão (25%) e francês (20%) !
Isto é, seria muito fácil a esses países (a 1ª e 2ª potência europeias) equilibrar rapidamente o seu orçamento se renunciassem ao seu dever de solidariedade patriótica europeia para connosco, a Espanha, etc.
É isso que querem, seus mal agradecidos que passam o tempo a lamber as botas ao Império Cóboi, o qual não nos dá um chavo e ainda nos crava soldados e fundos para o Iraque ? Não enxergam a que ponto vocês são estúpidos e anti-patriotas ?
VIVA A EUROPA ! "
Afixado por: liberal em novembro 27, 2003 10:06 AMzippiz
A posição do JPP, rigorosa do ponto de vista teórico e abstracto, não é realista face à posiçao portuguesa no concerto da UE.
Já lho disse várias vezes. Admiro o JPP por não se sujeitar à "Real Politik", mas também se tem que ter em conta que ele nunca exerceu funções de decisor. Tomar decisões é difícil e, frequentemente, tem que prevalecer a visão realista em face dos conceitos abstractos.
Zeus:
Penso que Jospin deixou a França numa situação péssima, com uma bomba ao retardador que são as regalis excepcionais que foram então outorgadas: horário de 35 horas, mais de 40 dias de férias, etc., etc.
É certo que a economia francesa tem uma pujança diferente da nossa, mas não sei como vai ser possível endireitar o barco. Não sei exactamente o que o governo de Raffarin anda a fazer, mas se não inverter a situação, a economia francesa vai ter dificuldade de superar a situação.
É o Pacto de Instabilidade e Estagnação
Afixado por: Humberto em novembro 29, 2003 11:22 AMÉ o direito dos mais fortes à liberdade
Afixado por: Rave em dezembro 5, 2003 02:42 PM