Este fim de semana, após a leitura do Expresso, a minha carreira política, que me aprestava para encetar, ruiu fragorosa e irrevogavelmente, sem sequer ter começado.
Fiz uma análise retrospectiva a alguns momentos da minha vida e tenho de vos confessar que sou uma criminosa, pior, uma criminosa contumaz, relapsa!
Não foram, nem dois, mas vários almoços e jantares que, aproveitando-se da minha débil condição feminina e da minha inexperiência no mundo do crime, me foram pagos por outrem. Estiveram envolvidos nesta série de crimes hediondos empresas diversas, bancos (até o BEI ... ah! Aqueles jantares no Luxemburgo devem ter custado fortunas, mais do que a factura justamente denunciada esta 6ªfeira) e mesmo, pasmem!, uma ou outra autarquia (não!, não assaquem este crime ao Isaltino porque desta co-autoria está ele livre!).
Como fui trouxa! Mais que o Portas! Quando eu, no fim de cada uma daquelas malfadadas refeições, me aprestava para pagar a minha parte, havia sempre um cavalheiro solícito que, sorridente e peremptório, me dizia: nem pense nisso! Homessa! Tinha mais que ver!
E eu, sorridente, tomava aquilo por cavalheirismo, talvez algo anacrónico, quando afinal se tratava de uma manobra sórdida e funesta para comprometer o meu futuro político!
Reparem que é um crime que está ao alcance de qualquer um. Não é uma fraude apenas passível de ser realizada por um banqueiro, um patrão de indústria, um autarca, enfim!
Qualquer um de nós, à mais leve negligência, pode cometer este crime hediondo. Por não ser suficientemente rápida a chamar o empregado, já entrei, por diversas vezes, na delinquência, quando um comensal mais pressuroso se adianta e pede a conta.
No desespero de evitar resvalar para o crime, por duas ou três vezes, naqueles momentos de angústia, pisquei o olho ao empregado, mas ele interpretava mal o sinal e entregava a conta ao meu acompanhante e a mim, discretamente, um papel com um número de telefone.
O país tem que se mobilizar para resistir a esta criminalidade que invade o nosso país e corrói todo o tecido social.
Se um membro do governo sujeito a esta suspeita não se redime dela é o descalabro moral do país.
27-Abril-2003
Publicado por Joana em outubro 2, 2003 09:22 PM | TrackBack