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julho 04, 2005
Encruzilhadas
O problema da modernização do nosso Estado e da postura adequada perante o que está actualmente em jogo é complexo. É certo que a esquerda continua presa na teia ideológica de mitos que criou há muitas décadas. Mas seria simplista dirimir a questão entre esquerda e direita. A questão é mais funda e prende-se com o processo histórico e social de formação da classe política portuguesa. O nosso pessoal político não só da esquerda, mas também do centro e da direita, tem sido recrutado no sector público, o que não facilita a compreensão do funcionamento do sector produtivo e não permite que se aperceba da urgência e do sentido das reformas.
Basta ver o conteúdo de muitos comentários sobre os meus posts relativos ao Tigre Celta (como é conhecida a Irlanda depois dos resultados da última década), para se constatar a dificuldade que as nossas mentalidades têm em lidar com fenómenos que escapam à síndrome da pasmaceira da protecção estatal. Se a esquerda pode ser acusada de permanecer há décadas presa de ícones ideológicos, em vez de se esforçar em favorecer um diálogo social e uma mentalidade moderna e aberta à inovação e à mobilidade, a direita não lhe ficou muito atrás no conservadorismo político e económico, deixando-se colonizar por aqueles ícones ideológicos, julgando assim conseguir suporte eleitoral. Ora o poder político não é um fim em si próprio, mas um meio para gerir os negócios do Estado com o objectivo de promover a prosperidade e o bem estar social.
Tanto a questão não pode ser vista como algo que divide esquerda e direita, que coube a Tony Blair, um socialista, o ter a coragem de, perante um Parlamento Europeu maioritariamente hostil, fazer um diagnóstico lúcido e corajoso da situação com que a Europa se confronta e dizer claramente quais são as prioridades: concentrar-se na investigação, educação, inovação, infra-estruturas tecnológicas, ou seja, onde se joga o futuro da Europa. Obviamente que essas afirmações colidiram com os hábitos instalados e com os governos que estão reféns de interesses corporativos, entre os quais o nosso.
A PAC tem quase 50 anos e já não pode ser uma prioridade para a construção europeia. O pensamento dos empresários não é o dos burocratas, dos políticos e dos diplomatas. Se queremos empresas com capacidade de gerarem emprego é preciso que elas consigam explorar as vantagens comparativas próprias do tecido social em que se inserem. Sobre esta questão, temos, de um lado o UK, a Irlanda, a Espanha, os países do Norte da Europa e os novos aderentes. Do outro lado temos o núcleo inicial da UE.
Portugal está, pela ideologia governativa, do lado do núcleo inicial da UE, mas pelas necessidades de sanear as contas públicas, do lado oposto. Na realidade, nada disto sucede. Portugal está apenas à porta, com a mão estendida, à espera que o vencedor desta pugna esportule o óbolo habitual. E esta postura nem sequer é uma questão partidária. Se fosse o governo de PSL provavelmente faria o mesmo. É uma postura atávica.
No caso português há ainda o entrave sindical. Os sindicatos têm uma estrutura arcaica e são dominados pelo sector público, praticamente a sua única base de apoio na actualidade. A modernização e a competitividade passa-lhes completamente ao lado. Nem sequer as compreendem, mesmo quando falam delas. O modelo sindical português aposta no imobilismo e compraz-se nele. O reverso é que o mundo e a economia são feitos de mudança. E essa mudança é cada vez mais simples e rápida: se as empresas não estão bem, mudam-se.
A presidência de Blair pode provocar na Europa uma viragem no sentido da modernização e do desenvolvimento económico e da sustentabilidade de um modelo social que sobreviva pela eficiência económica, pelo crescimento, pela competitividade e pela sua própria flexibilidade. Só com prosperidade se combate a exclusão social. Distribuir o que não há apenas conduz ao agravamento da crise geral. Erigir uma muralha da China para proteger sectores de menor valor acrescentado tem efeitos opostos, pois torna-se uma prisão para os sectores de elevada tecnologia, onde a Europa joga a sua prosperidade.
A influência de uma presidência europeia que enfrente a globalização e os problemas que se colocam hoje à Europa com uma estratégia ofensiva e não com a estratégia defensiva e proteccionista do eixo franco-alemão pode ser uma alavanca importante para construir uma nova via para a Europa e criar um ambiente favorável ao fortalecimento do tecido empresarial europeu. E, porque não, conseguir que Portugal ultrapasse os seus atavismos e o imobilismo das suas instituições. Os portugueses fora do rectângulo têm mostrado capacidade de inovação e de assumirem riscos. Há que liquidar os entraves que, dentro do rectângulo, imobilizam essa nossa capacidade.
Publicado por Joana às julho 4, 2005 10:56 PM
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Comentários
Nos P&C de hoje foi abordado o tema da inovação um pouco na mesma perspectiva
Publicado por: Sa Chico às julho 5, 2005 01:27 AM
Continuas com ilusões, Blair não é flor que se cheire. Só tem um olho meio aberto numa terra de cegos.
"investigação, educação, inovação, infra-estruturas tecnológicas" patetices o estado não tem maneiras a de chegar a isso não ser que seja um estado gargantual.
Não se ultrapassa os EUA sendo EUA(-)
O modelo sindical é partidário e isso é a morte dos sindicatos, se fossem espertos quando o Ronald Reagan morreu todos devia tê-lo homenageado na morte, ele que foi um sindicalista que subiu ao posto politico mais importante dos EUA.
Publicado por: lucklucky às julho 5, 2005 01:34 AM
Mas a verdade é que um possível caminho que a UE pode utilizar para subsidiar a investigação, ciência, etc. é a industria aeroespacial (com capacidade reconhecida), nuclear (idem) e de defesa (esta muito mais atrasada que a americana). Afinal, o meio através do qual o governo norte-americano subsidia as industrias de tecnologia de ponta (as que necessitam de subsídios) são contratos de defesa, exploração espacial, e por aí fora.
Mas para isto, também é necessário que o estado deixe de se imiscuir no ensino do modo como o faz: a ânsia reguladora europeia não faz mais que nivelar o nível de prestações por baixo. Qualquer pessoa deve interrogar-se e pensar no que está errado com o sistema de ensino europeu quando uma única universidade norte-americana (Harvard, por ex.) tem um orçamento superior ao orçamento público para a totalidade do ensino superior de países como a França ou o Reino Unido.
Publicado por: Pedro Oliveira às julho 5, 2005 08:50 AM
Blair é capaz de ser um oportunista, embora tenha formalmente razão
Publicado por: soeiro às julho 5, 2005 09:20 AM
Bem, ter um olho meio aberto numa terra de cegos sempre é melhor que nada.
Publicado por: Gpinto às julho 5, 2005 09:37 AM
Desengane-se, Joana, na terra dele o Blair é acerbamente criicado pelos setores liberais. O RU tem trilhado sob Blair um caminho completamente anti-liberal.
Aquilo que o Blair disse sobre investigação, educação, inovação, etc é conversa da treta. Guterres já dissera o mesmo. Toda a gente está de acordo com essas lindas palavras, de facto. Nada têm de novo.
Quanto à classe política em Portugal: o problema é a dependência dessa classe política. Essa classe política depende financeiramente de construtores civis e, em termos de votos, da distribuição de benesses de curto prazo à população (estilo Valentim Loureiro a oferecer frigoríficos). Isto é verdade tanto da direita como da esquerda. É isso que aproxima o nosso país da Argentina: a extrema fragilidade da classe política, a qual não ousa enfrentar um conjunto de grupos de pressão dos quais depende.
O problema da nossa classe política não é o ser oriunda do setor estatal. O problema é a sua dependência financeira e a sua fragilidade perante uma população muito virada para o curto-prazo.
Publicado por: Luís Lavoura às julho 5, 2005 09:49 AM
Eu não sei se o discurso de Blair foi um mero oportunismo para mascarar a não aceitação do fim do "cheque britânico". Só sei o que ele disse, pois não estou dentro das meninges dele.
E o que ele disse faz sentido, foi importante ser dito numa Europa em busca de uma saída, e foi corajoso perante um Parlamento mais adepto da Muralha da China e da defesa do passado que da inovação e de uma estratégia económica ofensiva em vez de defensiva.
Publicado por: Joana às julho 5, 2005 10:06 AM
Chirac faz rir Schroeder e Putin à custa dos britânicos
"A única coisa que eles fizeram para a agricultura europeia foi a vaca louca" ou "não podemos confiar em pessoas que cozinham tão mal" foram algumas das piadas lançadas pelo Presidente francês, Jacques Chirac, aos seus homólogos russo e alemão durante o encontro de domingo em Kalininegrado, segundo relatou o jornal Liberation, que diz ter estado presente neste momento e que jura que Gerhard Schroeder e Vladimir Putin se riram às gargalhadas.
Publicado por: ardina às julho 5, 2005 10:15 AM
Não me parece que o RU tem trilhado sob Blair um caminho completamente anti-liberal. Pelo menos muitas das reformas da Thatcher permanecem.
E se compararmos Blair com Chirac e outros, então!
Publicado por: David às julho 5, 2005 11:25 AM
Chirac é bem capaz de ser o pior político da Europa Ocidental no pós Segunda Guerra. Espanta-me a gratuitidade de muito dos seus actos, já me tinha espantado a quando da Guerra contra o Iraque.
Sim, Blair de positivo só tem ser anti-proteccionismo.
Publicado por: lucklucky às julho 5, 2005 11:30 AM
A parte do Estado na Economia passou de 35+% para perto de 44%. O número de trabalhadores do estado actualmente já ultrapassa o valor de 1979 quando a Thatcher chegou ao poder.
Publicado por: lucklucky às julho 5, 2005 11:35 AM
lucklucky em julho 5, 2005 11:35 AM:
Onde é que é possível obter esses números?
Publicado por: Hector às julho 5, 2005 11:39 AM
Pedro Oliveira em julho 5, 2005 08:50 AM:
Nos últimos tempos, tenho encontrado muitas vezes essa afirmação de que o orçamento de uma grande universidade americana seria maior que o orçamento para o ensino superior de qualquer país europeu.
Não sei qual é a sua fonte, mas, pela minha experiência, estou em crer que as receitas de Oxford, Cambridge ou da Sorbonne devem ser pelo menos 30% das de Harvard.
Não haverá qualquer engano a contar os "billions of dollars"?
Publicado por: grim às julho 5, 2005 11:54 AM
grim às julho 5, 2005 11:54 AM
Harvard não é uma "grande universidade americana". É, que eu saiba, uma universidade relativamente pequena - em número de estudantes.
A Universidade Carnegie Mellon, na qual eu trabalhei em 1991-1894, tinha à data o melhor departamento de "computer science" dos EUA e o segundo melhor departamento de "drama" (= teatro) dos EUA. Tinha um total, em todos os departamentos, de 7.000 estudantes - o mesmo número que o Instituto Superior Técnico. Não era, de forma nenhuma, grande. O seu campus tinha dimensões apenas pouco maiores do que o do IST.
Uma grande universidade americana é a da Califórnia, que é estatal e tem dezenas de milhar de estudantes, repartidos por 11 campus diferentes, espalhados por todo o estado (e república) da Califórnia.
Publicado por: Luís Lavoura às julho 5, 2005 12:40 PM
Hector às julho 5, 2005 11:39 AM
Vá ao blogue "Bicho Carpinteiro" e procure os posts da Joana Amaral Dias. Num post postado por alturas do discurso do Blair (i.e. lá para fim do mês passado) ela pôs um texto sobre Blair que apanhou de uma revista inglesa liberal. O texto dá para cima do Blair que não é brincadeira. Nesse texto verá que, sob Blair, o Estado inglês tem crescido sem cessar.
Publicado por: Luís Lavoura às julho 5, 2005 12:44 PM
Estive a verificar, e de facto o Orçamento público da França para o ensino superior será entre 2 e 3 vezes (os números não sãp muito claros, é necessário fazer uns cálculos) o da Universidade de Harvard (página 34 e seguintes). Note-se no entanto que Harvard é apenas uma universidade privada. França: entre 6,000 e 8,000 milhões de ; Harvard University: 2,561 milhões de USD.
Publicado por: Pedro Oliveira às julho 5, 2005 12:55 PM
Quanto às causas do "iliberalismo" da classe política portuguesa acho que a Joana tem alguma razão. A ligação aos interesses dos empreiteiros é apenas uma consequência do estatismo. É mais uma sequela que a causa.
Publicado por: Hector às julho 5, 2005 12:59 PM
Quando falo da consequência do estatismo, refiro-me à apetência para obras públicas faraónicas
Publicado por: Hector às julho 5, 2005 01:00 PM
Quem conhece a Administração Pública sabe que esta é um amontoado de vícios, grupos de pressão, interesses instalados, conluios, etc., etc. Um monstro praticamente sem hipóteses de racionalização, ao fim de anos a fio sem que alguém pusesse alguma ordem na coisa.
Publicado por: E B às julho 5, 2005 01:26 PM
A apetência para obras públicas faraónicas está amplamente espalhada pelo mundo, não é nenhum exclusivo de Portugal...
Publicado por: Pedro Oliveira às julho 5, 2005 01:28 PM
Os líderes do grupo das oito países mais industrializados - Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido e EUA - (G8) - reúnem-se mais uma vez numa Cimeira anual para tomar decisões sobre os assuntos políticos e económicos que dizem respeito a todos os seres vivos deste planeta.
Estas Cimeiras têm vindo a ser postas em causa por movimentos sociais globais,nos últimos dez anos. Devido a essas manifestações de repúdio, estes encontros têm-se realizado em locais cada vez mais isolados. Este ano o G8 reúne-se no hotel e campo de golfe de Gleneagles, na Escócia, situado aproximadamente a uma hora de Edimburgo (norte).
Coincidindo com esta Cimeira, realizar-se-ão uma série de acções,encontros e manifestações massivas onde estão previstas estejam 100 mil pessoas.
Contigo podemos ser 100 mil e uma!
http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=53180&cidade=1
Publicado por: xatoo às julho 5, 2005 01:34 PM
xatoo em julho 5, 2005 01:34 PM: Antes a malta ia a essas acções para proteger os pobrezinhos do 3º mundo. Agora vai lá para proteger os remediados do 1º mundo.
Publicado por: Coruja às julho 5, 2005 01:51 PM
No discurso do Blair, só é lamentavel que tenha de ser um socialista a ter de dizer isto aos parlamentares europeus:
"O debate sobre a Europa não devia ser conduzido debaixo de insultos, ou em termos de personalidades. Devia ser uma troca de ideias aberta e franca. E desde já quero descrever claramente como defino esse debate e os desacordos subjacentes.
A discussão não é sobre uma Europa de "mercado livre" e uma Europa social, entre os que se querem refugiar num mercado comum, e os que que acreditam na Europa como projecto político.
Isto não é apenas uma falsidade. Serve para intimidar todos aqueles que querem a mudança na Europa, por apresentarem o desejo de mudança como uma traição ao ideal europeu, tentanto fechar o debate sobre o futuro da Europa, alegando que a sua discussão implica abraçar a anti-Europa.
É um sistema de pensar contra o qual combati toda a minha vida politica. As ideias sobrevivem através da mudança. Morrem pela inércia frente à mudança."
..."Esta é uma união de valores, de solidariedade entre as nações e povos, não apenas um mercado comum onde se fazem negócios, mas um espaço politico comum onde vivemos como cidadãos.
Será sempre isso.
Acredito na Europa como projecto político. Acredito na Europa como uma dimensão social forte e acarinhadora. Nunca aceitaria uma Europa que seja apenas um mercado económico.
Dizer que isso é o que está agora em causa é escapar ao verdadeiro debate e escondermo-nos na zona confortável das coisas que dissemos uns aos outros em momentos de dificuldade.
Não existe nenhuma divisão entre a Europa que é necessária para ter sucesso económico e a Europa social. A Europa politica e a Europa económica não vivem em quartos separados.
A finalidade da Europa social e da Europa económica é a de sustentarem uma a outra.
A finalidade da Europa Política devia ser a de promover as instituiçoes democraticas e eficientes para promover políticas nessas duas esferas e em todos os lados onde queremos e precisamos de cooperar no nosso interesse mutuo.
Mas afinalidade da liderança politica é a de fazer as politicas correctas para o mundo de hoje.
Há 50 anos que os líderes da Europa fazem isso. Falamos de crise. Vamos falar antes de sucessos. Quando a guerra acabou, a Europa estava em ruínas. Hoje a Europa é um monumento ao sucesso politico. Quase 50 anos de paz, 50 anos de prosperidade, 50 anos de progresso. Pensem nisso e agradeçam."
..."A discussão não é sobre a ideia da União Europeia. É sobre a modernização. É sobre as politicas. Não é um debate como abandonar a Europa, mas como transforma-la naquilo para que foi concebida: melhorar a vida das pessoas. E as pessoas hoje não estão convencidas. Considerem isto.
Durante quatro anos a Europa conduziu um debate sobre a nossa nova Constituição, dois anos na Convenção. Foi um trabalho detalhado e cuidadoso fazendo as regras para governar uma Europa de 25, e no seu tempo de 27, 28 e mais estados membros. Foi endossada por todos os governos. Foi suportada por todos os líderes. Foi então completamente rejeitada em referendos por dois estados fundadores, no caso da Holanda por mais de 60 por cento. Na realidade, na maioria dos estados membros, seria hoje dificil obter uma maioria de "sim".
Há duas explicações possíveis. Uma é a de que as pessoas estudaram a Constituição e estiveram em desacordo com os seus artigos. Duvido qe isso esteja na base da maioria do "não". Não se tratava de um caso de má fraseologia.
A outra explicação é a de que a Constituição se tornou o veículo pelo qual as pessoas manifestam um grande e profundo descontentamento com o estado das coisas na Europa. Acredito que esta seja a análise correcta.
Se é assim , não se trata de uma crise das instituições politicas, mas sim uma crise de liderança politica. As pessoas na Europa estão-nos a colocar questões difíceis. Preocupam-se com a globalização, segurança no emprego, pensões e níveis de vida. Vêm que não é só a economia mas também a sociedade que está em mudança ao seu redor. Comunidades tradicionais são destruidas, modelos étnicos mudam e é a própria vida familiar que está em apuros quando se quer fazer o balanço entre a casa e o trabalho.
Estamos a viver uma era de alterações e mudanças profundas. Olhem para os vossos filhos e para as tecnologias que usam e para os mercados de trabalho que os esperam. O mundo está irreconhecível do que experimentamos como estudantes há 20, 30 anos atrás. Quando essas mudanças ocorrem compete aos moderados mostrar liderança. Se não o fizerem são os extremos que ganham força no processo politico. Acontece nos países. Está a contecer na Europa agora.
Reflitam nisto: a Declaração de Laeken que lançou a Constituiçao foi desenhada para "trazer a Europa mais perto das pessoas". Fê-lo? A agenda de Lisboa foi lançada em 2000 com a ambição de tornara Europa "o mercado mais competitivo do mundo em 2010". Já passou mais de metade do tempo. Conseguimos?
Assisti a inúmeras conclusões de Conselhos da Europa, descrevendo que "estamos a conectar a Europa com os seus povos". Estamos mesmo?
É altura de encarar a realidade. De sermos acordados. As pessoas estão a tocar trompetas nas muralhas da cidade. Estamos a ouvir? Temos a vontade politica de ir ao encontro delas para que encarem a nossa liderança como parte da solução e não parte do problema?"
..."Como deveria aparecer uma nova agenda politica europeia?
Primeiro modernizando o nosso modelo social. Alguns sugeriram que eu quero abandonar o modelo social europeu. Mas digam-me: que modelo é este que tem 20 milhões de desempregados, os níveis de produtividade a cair para baixo do Estados Unidos; que permite que mais licenciados em ciencias sejam produzidos pela India que pela Europa; e que, em qualquer indice relativo de uma economia moderna - especialistas, pesquisa e desenvolvimento, patentes, tecnologias de informação, está a descer e não a subir. A India vai expandir o seu sector biotecnológico cinco vezes nos próximos cinco anos. A China triplicou nos ultimos cinco o seu investimento em pesquisa e desenvolvimento.
Das 20 melhores universidades do mundo só duas estão agora na Europa.
A finalidade do nosso modelo social devia ser a de melhorar a nossa capacidade de competir, ajudar os nossos povos a lidar com a globalização, deixa-los abraçar as suas oportunidades e evitar os seus perigos. Claro que precisamos de uma Europa social. Mas uma Europa social que funcione.
E já nos disseram como fazê-lo. O reltório Kok de 2004 mostra o caminho. Investimento em conhecimento, em peritos, em politicas de trabalho activas, em parques da ciencia e inovação, em educação universitária, em regeneração urbana, em ajuda às pequenas empresas. Esta é politica social moderna, não é a regulamentação e protecção do emprego que podem apenas salvar alguns empregos agora a expensas de muitos empregos no futuro."
etc etc,
Foi este (parcialmente) o discurso de Blair.
Só que o manhoso do Chirac conseguiu transformar uma tremenda derrota eleitoral, numa discussão sobre o cheque britânico. A nossa acéfala comunicação social seguiu a reboque e traduziu do francês. O resultado é que o Blair aparece como um perigoso neo-liberal....
Publicado por: Joao P às julho 5, 2005 02:00 PM
"A ligação aos interesses dos empreiteiros é apenas uma consequência do estatismo."
A ligação dos políticos portugueses aos interesses dos empreiteiros decorre diretamente da necessidade de os partidos políticos se financiarem. Nomeadamente e principalmente a nível local. Os interesses dos empreiteiros não se encontram só nem principalmente nas obras públicas, faraónicas ou não, mas sim no mercado privado da habitação, escritórios, etc. Neste ponto a responsabilidade do estatismo está em que, através das responsabilidades urbanísticas da autarquias, e através dos terrenos pertencentes ao Estado, os políticos têm um grande espaço de manobra para vender o Estado aos empreiteiros. Os políticos podem oferecer terrenos do Estado aos empreiteiros (exemplo: Expo 98), ou negociar com eles autorizações para urbanizar terrenos.
Por outro lado, não concebo que o nosso urbanismo fosse melhor do que o que é se o Estado não tivesse responsabilidades nele. Isto é, se o Estado fosse totalmente liberal e não regulamentasse o urbanismo, provavelmente o caos das nossas cidades não seria menor do que o que é.
Publicado por: Luís Lavoura às julho 5, 2005 02:31 PM
Publicado por: Luís Lavoura às julho 5, 2005 02:31 PM
"Por outro lado, não concebo que o nosso urbanismo fosse melhor do que o que é se o Estado não tivesse responsabilidades nele. Isto é, se o Estado fosse totalmente liberal e não regulamentasse o urbanismo, provavelmente o caos das nossas cidades não seria menor do que o que é."
Pois é, provavelmente tens razão. Só que esse mesmo caos tinha saído muito mais barato...
Publicado por: Pedro Oliveira às julho 5, 2005 02:53 PM
Pedro Oliveira em julho 5, 2005 12:55 PM:
A ideia que tenho confere plenamente com esses números ;)
Outro factor que pode criar alguma confusão é o dos fundos plurianuais (endowments) que as universidades americanas recebem. Quando preparei uma visita de estudo a Harvard (Department of Comparative Literature) há um ano, a informação era de que estes fundos ascendiam a mais de 20 mil milhões de dólares. Mas aí é muito difícil fazer comparações com as universidades europeias.
Luís Lavoura em julho 5, 2005 12:40 PM:
Creio que aquele meme comparava mais a grandeza dos orçamentos das universidades americanas e europeias do que o seu número de alunos :)...e aí não tenho dúvidas que, embora não seja (de longe) a universidade mais frequentada, Harvard é a universidade mais rica do mundo.
Publicado por: grim às julho 5, 2005 03:57 PM
Hector :
"Independent and reliable OECD figures, to which Blair-Brown never refer and of which the British media is wholly ignorant, show that UK public spending has surged from 37.5% of gross domestic product (GDP) in 2000 to an expected 45.2% next year. This is the fastest rise in public spending of any country in the world and has drastically closed the gap with the Euro-zone: in 2000 UK public spending as a share of GDP was 9.6% percentage points below the Euro-zone average; by next year the difference will be down to 2.2 percentage points."
A base parece ser os números da OCDE
Veio de um artigo daqui:
http://www.thebusinessonline.com/
Publicado por: lucklucky às julho 5, 2005 04:42 PM
http://www.thebusinessonline.com/Stories.aspx?StoryID=B7E1D949-20E3-401E-B767-277F168B7F2C
Troubles ahead! a acreditar no texto.
Icarus Brown heads for the sun
By : Andrew Neil July 03, 2005
(...)Gross domestic product (GDP) growth in the first quarter of 2005 has been revised downwards for a second time to 0.4% (from 0.5% previously and 0.6% originally). In annualised terms, the British economy expanded by 1.6% in the first three months of the year, under half America's 3.5% rate. Even more dramatically, British GDP growth over the year to the end of the first quarter was slashed to 2.1%, dramatically less than the 2.8% previously seen and making Brown's 3% to 3.5% growth forecast for 2005 look like fantasy. The true picture is worse: real economic growth is best gauged by looking at gross value added, a measure which, unlike GDP, is not exaggerated by the inclusion of value added tax, excise duties and some subsidies. Seem through this less distorting prism, in the year to the end of the first quarter growth was a mere 1.9%.
Weaker growth makes it even more improbable that Mr Brown can meet his budget deficit forecast for the year; and his self-imposed Golden Rule, which stipulates that tax receipts must match spending excluding investment over the course of the economic cycle, has never been in greater danger. Of course, Mr Brown's amour propre will not allow the rule to be seen to be broken; the figures will be fiddled to make it seem otherwise. Observers of the British economy should brace themselves for yet another series of massive fudges so that The Chancellor can declare that his rules have been met, despite what the naysayers predicted. Cynical? No, just expectation born of experience. In recent years, the British Chancellor has resorted to an especially devious move to bring forward future North Sea Oil tax revenues to this economic cycle from the next to bolster his Budget; and his Treasury has managed to convince a compliant Office for National Statistics (ONS) that road maintenance should be classified as investment rather than current spending, thus not counting towards the Golden Rule limits. (...)
Publicado por: lucklucky às julho 5, 2005 04:51 PM
Publicado por: grim às julho 5, 2005 03:57 PM
Note-se, no entanto, que o orçamento pouco claro que consegui apurar para a França refere-se a 1,3 milhões de estudantes... (os valores são de 8,370 por estudante sendo que entre 60 e 70% vêm do orçamento de estado, o restante, pelo que percebi, de fundos privados).
Publicado por: Pedro Oliveira às julho 5, 2005 06:44 PM
Tinha alguma curiosidade em saber, na opinião da Joana, qual deveria ser o papel do sindicalismo. Dado o seu liberalismo algo fundamentalista será que acha que os sindicatos deveriam contribuir para a precarização do trabalho, para a redução dos salários, para o aumento do número de horas de trabalho?... E será que os sindicatos deviam renunciar ao direito à greve e à contratação colectiva?... Finalmente, achará a Joana que seria melhor integrar os sindicatos nas organizações patronais?... Ou, já agora, reconstituir a organização corporativa do Estado Novo?...
Publicado por: Albatroz às julho 5, 2005 09:46 PM
E eu gostaria de saber a sua: acha que os sindicatos devem continuar a conduzir os trabalhadores para siuações de imapsse? (a menos que ele estabeleçam acordos "contra os sindicatos", como na Auto-Europa ou na Opel); acha que devem continuar a defender as situações diferenciadas que existem na função pública? Acha que devem promover continuamente greves de transporte, que só prejudicam os mais desfavorecidos? Acha que devem continuar a ignorar a situação económica do país e apelar à descida ao abismo?
Publicado por: Joana às julho 5, 2005 11:13 PM
Responderei às suas perguntas quando responder às minhas, nomeadamente: na sua opinião, qual deve ser o papel e a forma de actuação dos sindicatos?
Entretanto não esqueça que face à concorrência de países como a China, com níveis de competência profissional já bastante elevados mas com custos laborais muitíssimo mais baixos, o sistema liberal globalizado, da sua preferência, ou obriga os trabalhadores dos países europeus a aceitarem condições de trabalho cada vez mais próximas das dos trabalhadores chineses, ou nos condena a assistir à deslocalização progressiva das actividades produtivas para a China e países similares. Deverão os sindicatos conformarem-se com essa situação? Eu defendo que a única resposta eficaz a esta ameaça é o encerramento das fronteiras económicas da Europa, criando um mercado autosuficiente de 500 milhões de pessoas, onde o sucesso económico não dependa do sacrifício crescente dos trabalhadores. E onde os sindicatos e entidades patronais possam desempenhar as suas respectivas funções em equilíbrio de forças. Mais tarde, muito mais tarde, quando os custos laborais na China tenham atingido níveis mais próximos dos nossos, pode-se voltar a falar de globalização.
Publicado por: Albatroz às julho 5, 2005 11:36 PM
Então agora que a China derrubou as muralhas da China que lhe tinham causado a estagnação há muitos séculos, vamos nós construir uma muralha da China?
A Europa são 500 milhões, mas a China são 1.300 milhões e abriu-se ao exterior
Publicado por: David às julho 5, 2005 11:56 PM
E a quem vai vender a Europa os produtos de alta tecnologia? Os finlandeses vão nisso? e os alemães e os suecos que vivem da exportação?
Publicado por: David às julho 5, 2005 11:57 PM
A Europa venderá os produtos da sua alta tecnologia a quem os quiser e deles precisar. Se ninguém os quiser, porque poderão ser feitos fora da Europa a melhor preço, então terá a indústria europeia de os dirigir para o interior. O que nós não podemos é aceitar, em nome do liberalismo, a degradação das condições remuneratórias dos trabalhadores europeus ou a perda de postos de trabalho. O liberalismo é muito bonito para quem tiver vantagens comparativas. Enquanto fomos nós a tê-las, tudo bem. Agora que estamos a perdê-las não podemos arruinar a economia europeia em nome de um princípio. Um mercado de 500 milhões de consumidores é mais do que suficiente para produzir tudo o que necessitamos sem perda do factor concorrência. Só que será uma concorrência entre produtores europeus. Em vez de podermos escolher entre um Opel, um Toyota ou um KIA, vamos ter de escolher entre um Opel, um Citroen ou um Volvo. O único problema que teríamos seria o da energia, mas talvez que isso nos obrigasse a chegar mais depressa às energias alternativas, inclusive o hidrogénio.
Publicado por: Albatroz às julho 6, 2005 01:09 AM
Albatroz: desculpe dizer-lhe, mas isso não tem qualquer viabilidade.
Só algumas pessoas nos países mais atrasados e pouco competitivos da UE defende isso. Não encontra empresários europeus a defenderem isso.
Publicado por: Rui Sá às julho 6, 2005 01:20 AM
Há países europeus que conseguem competir e ter um modelo social razoável (pelo menos melhor que o nosso). Não vejo porque os outros não podem fazer.
Publicado por: Rui Sá às julho 6, 2005 01:21 AM
Rui Sá,
Vai ver com que velocidade a realidade económica chinesa vai mudar as percepções de muita gente. Quando os chineses começarem a produzir automóveis, aviões, computadores, electrodomésticos, motores, combóios, etc., tão bons como os nossos e muito mais baratos; quando milhões de europeus perderem os seus empregos por causa da concorrência chinesa, vai ver como esta ideia que não tem qualquer viabilidade se vai tornar a política oficial europeia... Dou-lhe, no máximo, dez anos.
Publicado por: Albatroz às julho 6, 2005 01:50 AM
(cont.)
Os empresários europeus podem não estar interessados porque se preparam para ir produzir na China para vender na Europa. É o europeu comum, aquele cujo emprego se vai perder, que vai obrigar os políticos a mudarem de música.
Publicado por: Albatroz às julho 6, 2005 01:53 AM
Albatroz às julho 6, 2005 01:50 AM
10 anos ?
Você parece desconhecer a velocidade a que a China se está a transformar, e também não tem a noção do que é ter 1000 milhões de escravos a trabalhar afincadamente com altas tecnologias !
A China daqui a 10, terá superado largamente a Europa e os EUA em tudo, em PIB, em rendimento per capita, em infraestruturas, em Tecnologia, em Ciência, em armas, em tudo !
Por isso nestes 10 anos, haverá uma guerra para se defenir o futuro destes 3 blocos. Como é evidente, ela já começou aliás pelo Petróleo, e ao tentarem "aguentar" o crescimento da China pelo aumento do barril, a paciência Chinesa esgotará !
Quando os Chineses invadirem um País produtor de Petróleo, por exemplo Irão, então é que veremos como se alinham as forças mundiais.
Publicado por: Templário às julho 6, 2005 02:18 AM
Estou farto de ouvir previsões dessas: Foi a URSS, o Japão, o Brasil, agora a China e a Índia, etc.
Publicado por: V Forte às julho 6, 2005 08:55 AM
Falharam sempre. Não me parece possível que 1000 milhões de escravos consigam trabalhar afincadamente com altas tecnologias. Só com baixas tecnologias.
Publicado por: V Forte às julho 6, 2005 08:57 AM
Os 1000 milhões de "escravos" estão a fazer com que a economia chinesa cresça ao ritmo de 10% ao ano, construiram o primeiro comboio "maglev" comercial do mundo, têm um programa espacial que se prepara para ir à Lua, produzem mais doutorados por ano do que os Estados Unidos, etc. Subestimar os chineses poderia ser o acto mais imbecil que poderíamos fazer. Neste momento os chineses estão a copiar tudo o que podem dos EUA, da Europa e do Japão, estão a tentar criar tecnologias próprias para tudo, de forma a ficarem independentes das patentes ocidentais, e tudo isto se vai traduzir numa colossal invasão dos mercados mundiais. Imagine-se o Japão da década de 60 mas com 12 vezes mais gente e com uma vontade avassaladora de ser bem sucedido. A China vai fazer rebentar a OMC e todas as veleidades de globalização. Garantido.
Publicado por: Albatroz às julho 6, 2005 10:30 AM
A sua visão proteccionista não tem qualquer sustentabilidade e arruinaria a Europa em poucos anos.
Publicado por: Joana às julho 6, 2005 12:55 PM
Quanto a algumas das obras de fachada do regime chinês e de quem as louva, fazem-me lembrar os que louvavam as obras de fachada da defunda União Soviética: programa espacial, misseis balisticos intercontinentais, metro de Moscovo. Esqueciam-se do reverso da medalha: fronteiras fechadas, passaportes internos, cidades proibidas, etc.
Publicado por: Pedro Oliveira às julho 6, 2005 01:17 PM
Joana,
A sua afirmação de que o que proponho arruinaria a Europa em poucos anos é fruto de uma intuição feminina ou fez algumas contas?
Pedro Oliveira,
Esteve na China ultimamente? Eu estive, um mês em Pequim. Não vi fronteiras fechadas, não vi passaportes internos nem cidades proibidas (a não ser a Gu Kong imperial, em Pequim, muito visitada pelos turistas...). Vá-se divertindo com esse sentido de superioridade ocidental, mas depois não se queixe...
Publicado por: Albatroz às julho 6, 2005 01:30 PM
Pois é Albatroz, mas tu não és chinês... Se fosses talvez não achasses tão assim tão simples viajar.
Publicado por: Pedro Oliveira às julho 6, 2005 02:46 PM
Mera intuição económica.
A intuição feminina é absolutamente certeira quando incide sobre os comportamentos dos maridos. Em economia tem um efeito menor.
Publicado por: Joana às julho 6, 2005 02:56 PM
Albatroz às julho 6, 2005 10:30 AM:
Com essa sua política, os países europeus que estão no G8 daqui a alguns anos passariam para os do Live8
Publicado por: Rui Sá às julho 6, 2005 03:54 PM
Joana às julho 6, 2005 02:56 PM
Ah! A famosa intuição económica. Mas olhe que ela também é do género feminino... Deixando a intuição de lado e passando à reflexão, verifico que o comércio externo da União Europeia (25 países) está próximo do equilíbrio - apresenta um excedente de cerca de 1,5% do PIB conjunto. Ou seja, o valor das importações é ligeiramente inferior ao valor das exportações. Logo, com excepção dos bens que não podem ser produzidos na Europa - café, chá, petróleo, etc. - seria possível, por um processo de substituição de importações, eliminar quase por completo a necessidade de recurso ao comércio externo. Isso traduzir-se-ia certamente nalgum agravamento de preços, mas parece-me que tal seria mais do que compensado pela redução do desemprego e pela manutenção do poder de compra médio dos europeus. É óbvio que eu não aconselharia esta medida para uma economia nacional, mesmo com 70 ou 80 milhões de consumidores. Mas à escala europeia, com 500 milhões de consumidores e aptidão para produzir quase tudo o que necessitamos, não me parece que o resultado fosse catastrófico. Muito pelo contrário, mesmo que tivesse de beber cevada em vez de café - e nada me garante que o café não se dá no sul de Portugal e de Espanha - e tivesse de andar num carro a hidrogénio em vez de a gasolina. Em termos de economias de escala um mercado de 500 milhões de pessoas é mais do que suficiente, mesmo para bens como aviões comerciais, pelo que por aí nada perderíamos em termos de eficiência. Nós estamos é de tal forma sujeitos a preconceitos de raíz liberal, que nem nos damos ao trabalho de reflectir. Tal como os cãezinhos de Pavlov, assim que ouvimos a palavra proteccionismo entramos em coma profundo... (bem sei que não era isso que acontecia com os cãezinhos de Pavlov, portanto não vale a pena corrigir-me...)
Publicado por: Albatroz às julho 6, 2005 05:15 PM
Albatroz: a balança comercial não são apenas números. São mercadorias. Você está a misturar produtos de elevada tecnologia: Airbus, TGV's, electrónicas, telecomunicações, com produtos de baixa tecnologia: lingerie, calçado, etc.
Se a Europa diminuir a produção de AT e a substituir por BT (admitindo qie isso fosse possível), está a diminuir muito a sua produtividade.
E você quer convencer os finlandeses a reduzir a produção dos Nokia para 30% e produzir, em vez disso, o têxtil que deixa de vir de fora?
Será que isto custa a perceber?
O que é que isto tem a ver com Pavlov?
Publicado por: Hector às julho 6, 2005 05:25 PM
Outros cãezinhos de Pavlov, ao ouvirem a palavra globalização começam a salivar socialismo por todas as glandulas... Enfim, a cada um os seus reflexos condicionados.
Publicado por: Pedro Oliveira às julho 6, 2005 05:44 PM
Hector às julho 6, 2005 05:25 PM
Independentemente do grau de tecnologia, a balança de transacções compara valores. O Valor das exportações europeias é quase igual ao Valor das importações. É isso que conta. Depois, está a elaborar num erro quando acha que a Europa importa quase só bens de baixa tecnologia. A Europa importa automóveis, navios, aviões, computadores, electrodomésticos, televisores, equipamento audio e vídeo, etc.. Depois ainda, a Europa continuaria a exportar bens de elevada tecnologia, enquanto não houvesse substitutos chineses. Mas não se esqueça de que, quando esses substitutos existirem, deixará de haver exportação europeia, com ou sem proteccionismo. E fique descansado que os finlandeses continuarão a fabricar telemóveis e outros bens de tecnologia equivalente, deixando para os romenos e para os portugueses a produção têxtil...
Publicado por: Albatroz às julho 6, 2005 05:48 PM
Pedro Oliveira às julho 6, 2005 05:44 PM
Ao contrário do que pode pensar, não sou socialista. Mas também não sou estúpido... Por isso sei muito bem - sem ter de recorrer à intuição económica - o que vai acontecer à economia europeia se continuar por este caminho... E nem sequer estou muito mal acompanhado: leia "The Myth of Free Trade" do economista americano Ravi Batra. Só para lhe aguçar o apetite passo a citar:
"Why are economists and the US administration so obsessed with free trade? In fact, why is the Western world in general so fond of free trade, when all it has brought is nothing but miserable wages to millions of people? Those in Japan and Korea don't care much for commercial liberalization. They have prospered remarkably well under the shelter of protection. Then why is the West so enamored with free trade?"
Mas, é claro, estou certo que os comentadores deste blog sabem mais economia do que Ravi Batra...
Publicado por: Albatroz às julho 6, 2005 06:11 PM
Albatroz em julho 6, 2005 06:11 PM: "não sou socialista. Mas também não sou estúpido".
Esse "mas" significa que se poderia supor que quem fosse socialista, seria estúpido?
Publicado por: Sa Chico às julho 6, 2005 08:55 PM
Esse Ravi Batra deve ser um monhé.
Publicado por: lucas às julho 11, 2005 05:12 PM
E se fosse monhé?
Dizer disparates não depende da raça.
Publicado por: Susana às julho 12, 2005 06:57 PM