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março 17, 2005

Dois Socialismos?

O socialista Schröder apresentou hoje ao Bundestag um conjunto de medidas para reduzir o desemprego alemão (cuja taxa actual é de 12,6%). Baixar o imposto sobre as sociedades de 25% (um dos mais elevados da Europa) para 19% e reformar de alto a baixo todo o sistema fiscal aplicado às empresas. Em contrapartida prevê reduzir diversos benefícios fiscais – pretende reduzir as possibilidades de deduções nos impostos, reduzir subsídios, como o subsídio à compra de casa própria, e também aumentar os impostos sobre os dividendos e sobre os lucros mínimos.

Anunciou também um amplo programa de desburocratização, maiores facilidades à criação de empresas (diminuição do actual capital social mínimo de 25.000€, por exemplo) e eliminação de legislação supérflua (300 überflüssige Gesetze sollen wegfallen), ou seja, 300 leis “vão à vida”. 300? Porque não 299 ou 301? Este número “redondo” cheira a chavão publicitário, mais que a uma medida rigorosa!

Schröder promete um programa de investimentos públicos de dois mil milhões de euros em projectos no âmbito rodoviário nos próximos quatro anos, mais 700 milhões para a reabilitação de edifícios. As suas previsões são que estes projectos podem gerar investimentos adicionais vultuosos. Schröder pretende que os grandes consórcios energéticos realizem a breve prazo investimentos da ordem dos 20 mil milhões de euros e que as empresas, face ao novo enquadramento fiscal e administrativo, deixem de abandonar a Alemanha, rumo ao leste europeu.

A CDU/CSU, cujo apoio é indispensável, porquanto Schröder, tendo embora a maioria na Dieta Federal (Bundestag), não a tem no Conselho Federal (Bundesrat), acha-as insuficientes, pois pretende que a legislação laboral seja modificada no sentido de uma maior liberalização. Todavia é natural que acabe por as aprovar.

Não estou em condições de discutir se estas reformas serão ou não suficientes, nem se elas se traduzirão apenas num maior défice orçamental (embora a dimensão dos investimentos públicos seja reduzida, quando comparada com o PIB alemão). Também não sei se o optimismo de Schröder sobre o efeito multiplicativo dos seus investimentos é fundamentado, ou se é apenas uma fé messiânica. Mostram todavia uma vontade de diminuir o ónus que as empresas suportam e de desburocratizar a relação do Estado com a actividade económica.

Que se passa entretanto em Portugal? Num país que está décadas atrasado relativamente à Alemanha, que tem uma carga fiscal pesada, a burocracia mais asfixiante da Europa, e uma rigidez laboral paralisante? O silêncio socrático.

O grave é que é um silêncio cheio de recados. Campos e Cunha já avisou que, a médio prazo, é de esperar um aumento de impostos; subitamente vieram à baila as taxas do IVA e as suas eventuais alterações; Constâncio sugere que se aumentem os impostos sobre os combustíveis e sobre os veículos "como alternativa" a não se pagarem as portagens das SCUT’s. Com tantos recados, torna-se num silêncio ensurdecedor. Com o anterior governo o país já estaria em estado de sítio psicológico, e as “fontes de Belém” já teriam enviado dezenas de recados à comunicação social.

Ninguém fala em desburocratizar, em reestruturar o sector público, em pôr cobro à voracidade desse monstro que está a asfixiar o país. Não há o mais leve boato sobre estas matérias.

O país está encurralado. Os impostos e contribuições sociais sobre o trabalho atingiram níveis insuportáveis; os impostos sobre a actividade económica atingiram o limiar, limiar a partir do qual o aumento da fiscalidade se traduz na diminuição das receitas pela diminuição da actividade económica e deslocalização das empresas; o imposto sobre o tabaco está limitado pelo contrabando – quanto maior for o imposto maior é o rácio benefício-custo da actividade dos contrabandistas e mais atractivo este “nicho de mercado”. Outro tanto sucede com os produtos petrolíferos – quanto maior for o diferencial entre Portugal e Espanha, maior é a propensão para o adquirir em Espanha e sustentar o erário público espanhol em vez do português.

A economia paralela aumenta com a burocracia estatal e o fundamentalismo fiscal. Não vale a pena entoar jeremiadas na comunicação social sobre aquela actividade. Ela resulta da ineficiência da nossa sociedade. A maioria dos que protestam contra ela é conivente na prática com ela. Quando chamam um canalizador a casa, exigem-lhe factura? Por outras palavras, aceitam pagar mais 19% de IVA? Se recorrem a um advogado, exigem o recibo, aceitando pagar mais 19% de IVA? Protestamos contra a economia paralela, mas procuramo-la para obter bens ou serviços mais em conta. Imprecamo-la, mas sustentamo-la.

Só os hipócritas ou intelectualmente desonestos propõem alimentar o Moloch estatal com o fim da evasão fiscal e da economia paralela que eles próprios alimentam e com as quais são coniventes, sempre que têm ocasião. O fim do sigilo fiscal não passa de um mito porque é fácil de ser torneado. Terá alguns efeitos positivos, mas nada do que os adoradores do Moloch esperam.

O que resta? O imposto sobre os automóveis, em bruto ou em “prestações suaves”, como já se murmura, e os impostos sobre os bens imobiliários. A esses é impossível fugir. Mas atenção, o imposto sobre bens imobiliários é o que mais mexe sobre a totalidade do país. O primeiro objectivo dos revoltosos da Patuleia era o assalto às recém criadas repartições de finanças e o incêndio dos registos cadastrais. E não só em Portugal. Em diversos países tem-se verificado que o excesso fiscal sobre bens imobiliários conduz à revolta fiscal e à rápida queda dos governos que o promovem.

Como é diferente o socialismo em Portugal! ... o socialismo e o resto ...

Publicado por Joana às março 17, 2005 09:54 PM

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Comentários

O PS tá desesperado para arranjar massas. Vão mexer no meu bolso. Também não encontrar lá grande coisa

Publicado por: Coruja às março 17, 2005 10:49 PM

Não lhe mexem no bolso, mas mexem antes de lhe chegar às mãos para você meter no bolso. Vai ver (Ou não o vai ver!)

Publicado por: AJ Nunes às março 18, 2005 12:20 AM

"Ninguém fala em desburocratizar, em reestruturar o sector público, em pôr cobro à voracidade desse monstro que está a asfixiar o país. Não há o mais leve boato sobre estas matérias. "

Joaninha....

Parece que a "sova" que levou há um mes atras ainda esta a produzir os seus efeitos, e um deles foi o de lhe toldar os pensamentos.

Vá lá ler o programa do governo, mas lei-a-o ai umas trinta vezes, pois essa capacidade de entendimento deve andar ma mesma proporção que o seu partido obteve nas ultimas eleições

Publicado por: never mind às março 18, 2005 12:52 AM

É bom haver alguém que acredite que o PS vai desburocratizar e reestruturar o sector público.
E com veemência.
Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles será o Reino dos Céus.

Publicado por: David às março 18, 2005 01:08 AM

Dizem-me, e eu sou capaz de perceber, que se o «choque tecnológico» que consta do programa do Governo tiver sucesso, o desemprego vai disparar fortemente. Como o aumento de emprego, de acordo com o mesmo programa de Governo, faz parte das preocupações macroeconómicas do PM (150.000 novos empregos) alguém me diga por onde passou o «gato» que não o vejo ...

Publicado por: asdrubal às março 18, 2005 02:00 AM

Pois é, preso por ter cão, preso por não ter. O desemprego aumenta sempre

Publicado por: luba às março 18, 2005 09:44 AM

Ainda há alguns ingénuos que pensam que o tempo das lutas idiológicas estão de pé.

O que há são governos mais honestos, corajossos e pragmáticos, quer sejam de esquerda ou de direita, que optam por tomar medidas que possam dinamizzar a economia (que basicamente consitem em não atrapalhar tanto).

Depois há governos como o nosso, sem chama, de alma vazia, que pensam que tudo se resolve com esperança, com umas quantas medidas a vulso que "darão o exemplo", e à medida que as dificuldades se avizinham, preparam-se para subir os impostos desculpando-se com as obrigações sociais.

Mas o mais incrível são os indivíduos que acreditam nisso, que ainda pulam de contentes por a "direita" ter pedido as eleições, fazendo disto tudo um jogo em que os "feios e maus" perderam e os meus "amiguinhos simpáticos" ganharam e é tudo muito excitante, e toma que já almoçaste, estou a rir-me de ti, foi bem feita... A infância foi assim tão difícil que a tenham que a tentar reviver outra vez?

Publicado por: Mário às março 18, 2005 10:25 AM

A mim o que me dói é ver que, perante a crise ecológica brutal que se avizinha - com o petróleo a atingir o pico da sua produção global e, consequentemente, com o seu preço a disparar - o nosso país é apanhado completamente com as calças na mão. Ou seja, paralisado, fragilizado, e com todos os investimentos feitos ao contrário ao longo das últimas décadas. O Estado completamente sem capacidade de resposta para orientar o país na crise que se avizinha. Investiu-se em auto-estradas, ineficientes do ponto de vista energético, em vez de na ferrovia. Investiu-se em condomínios, ineficientes e ingovernáveis na partilha e na geração de energia (por painéis solares), em vez de se investir em pequenas casas para arrendamento e autosuficientes em termos energéticos.

Perante um tal panorama, as pessoas estão presas aos seus consumos energéticos e não têm escape. O Estado, delapidado, não lhes pode dar orientação, não pode fomentar o futuro. O país cai no abismo, puxado pelo seu consumo energético insustentável, que não terá dinheiro para pagar.

Publicado por: Luís Lavoura às março 18, 2005 10:41 AM

Luís Lavoura,

Os impostos sobre os produtos petroliferos dão muito jeito para equilibrar o OE.

Não percebo é como o aumento do preço do petróleo pode agudizar uma crise ecológica. Se o preço do petróleo sobe, outras fontes de energia limpas (ou mais limpas) tornam-se mais competitivas.

A industria automóvel poderá apostar definitivamente nas energias renováveis ou afins. Se não o fizer, deixará em aberto um nicho de mercado por desbravar, que poderá ser aproveitado por outros empresários com olho para o mercado (que podem vir da China).

Publicado por: Mário às março 18, 2005 11:05 AM

"Se o preço do petróleo sobe, outras fontes de energia limpas (ou mais limpas) tornam-se mais competitivas."

Sem dúvida. Mas experimente o Mário instalar em sua casa coletores solares para aquecer a água do seu banho, e verá que, dada a configuração da casa, a forma da sua administração, etc, isso pode não ser nada fácil - embora em termos puramente monetários seja atualmente mais barato aquecer água dessa forma do que usando gás natural. Experimente também ir de Braga a Beja de combóio, e verá que enfrenta diversos problemas, muitos deles relacionados com a estrutura dos caminhos-de-ferro - embora em termos energéticos seja muito mais barato do que ir de carro.

"A indústria automóvel poderá apostar definitivamente nas energias renováveis ou afins."

Quais? Automóveis solares? Ou elétricos, com eletricidade obtida através de ventoinhas eólicas? Quantas ventoinhas seriam precisas para prosseguir com o monstruoso desperdício de energia que a atual utilização de automóveis comporta?

Publicado por: Luís Lavoura às março 18, 2005 11:25 AM

Já era altura de se pensar a sério no bioetanol, produzido a partir do regadio possível com o Alqueva, talvez a partir da beterraba sacarina ou outras espécies produtoras de açúcares. A partir daí juntava-se tecnologia brasileira dos carros a alcóol e tinhamos uma inovação tecnológica lusófona, exportável para a europa.

Publicado por: pyrenaica às março 18, 2005 11:41 AM

pyrenaica, eu tenho a impressão (mas de forma nenhuma a certeza) que essa coisa do bioetanol é uma treta: gasta-se mais petróleo (sob a forma de adubos, gasóleo para os tratores, etc) a produzir a beterraba, do que o álcool que se obtem. É que a agricultura moderna é altamente consumidora de energia; por exemplo, um número típico para a gricultura americana é 50 calorias de energia gastas por cada caloria de alimento produzida.

No regadio do Alqueva, então, nem pensar. A água desse regadio tem que ser içada 200 metros de altura para chegar aos campos a ser regados. Levantar água 200 metros é altamente consumidor de energia.

Não fiz as contas, mas suponho que é inviável. Uma conta que eu fiz foi a seguinte. Suponha que você quer obter bioetanol (= álcool) a partir de uvas. O vinho custa 1 euro por litro, e tem no máxdimo 16 graus de álcool. Se você destilar esse vinho para ficar com álcool puro, precisa portanto de seis litros de vinho para obter um litro de álcool. Conclusão: obtem carburante a 6 euros o litro (sem impostos). Convenhamos que é bastante caro!

Publicado por: Luís Lavoura às março 18, 2005 11:57 AM

Luís Lavoura,

Não tenho acompanhado os últimos desenvolvimentos sobre as energias renováveis, por isso não me referia já ao curto prazo.

- Finalmente utilizo comboio para entrar em Lisboa, depois de esperar 10 anos por ele. Vale mesmo a pena.

- Há uns anos atrás era comum as empresas automobilísticas apresentarem uns protótipos que funcionavam a energia solar, eléctrica, hidrogénio... Não sei se era apenas fogo de vista.

- A investigação sobre a fusão nuclear tem sido um flop ou não?

- A energia eólica tem sido paralisada um pouco por todo o lado porque os "ecologistas" argumentam que os pássaros se vão suicidar todos contra os moinhos.

- O potencial da energia solar é enorme, mas não vejo ninguém sensibilizado para a utilizar.

- O petróleo não se irá esgotar, porque à medida que as reservas se aproximarão do fim, o seu preço será tão elevado que não servirá para nada. A minha dúvida e se vamos ter que esperar até esse ponto para fazer definitivamente a transferência para outras energias.

- Penso que o grande problema da ecologia é ter sido dominada por indivíduos que apenas apostam em causas pontuais, sem grande coerência entre elas, e muitas vezes motivados por motivos ideológicos. Fazem lembrar a estória dos dois pedreiros que trabalhavam lado a lado, em que um dizia que partia pedra, e o outro que fazia uma catedral. O problema dos "ecologistas" é este, apenas andam a partir pedra, não se importando muito com as consequências do que fazem.

Publicado por: Mário às março 18, 2005 12:10 PM

"A investigação sobre a fusão nuclear tem sido um flop ou não?"

Julgo que não, mas os próprios investigadores dizem que demorará pelo menos 50 anos até essa energia poder ser utilizada na prática. E, quando o fôr, será provavelmente altamente concentracionária - do tipo haver um reator em Madrid que fornece eletricidade para toda a Ibéria - e portanto altamente problemática do ponto de vista político-militar, e sujeita a falhas gerais calamitosas.

"O potencial da energia solar é enorme, mas não vejo ninguém sensibilizado para a utilizar."

Não basta sensibilização, são precisas condições.

Suponha que você vive no terceiro andar de um prédio de 10 andares, gerido em regime de condomínio. Aonde é que você instala coletores solares? No terraço? Ele pertence a todos os condóminos, e além disso você terá que fazer uma conduta de água para levar a sua água (do seu contador) fria até ao terraço para ser aquecida, e outra para a trazer quente, sete andares por aí abaixo, até ao seu apartamento. Além disso, se você viver sozinho, não se justificará instalar um coletor só para si, e possivelmente os outros condóminos - alguns dos quais nem sequer vivem no prédio, apenas lá têm casas vazias em regime de especulação - não estão interessados em colaborar.

O problema, Mário, é que é (muito) mais barato hoje em dia aquecer água com coletores solares do que com esquentadores a gás - mas todas as nossas casas estão construídas em função do uso de esquentadores a gás, jamais em função de coletores solares.

"O petróleo não se irá esgotar, porque à medida que as reservas se aproximarão do fim, o seu preço será tão elevado que não servirá para nada."

Exatamente. Aí é que está o problema!!!

Publicado por: Luís Lavoura às março 18, 2005 12:46 PM

A propósito de energias alternativas, vou fazer uns cenários sobre a energia fotovoltaica doméstica:

inflação: 3%
remuneração financeira: 2%

Custo de instalação por cada kW: > 6000€
Manutenção anual: 500€
Tempo de vida: 25 anos (há fabricantes que garantem os paineis por 20 anos).
Custo do kW/h em Lisboa, a preços de hoje: 0,35€.

Quem acha um bom investimento ?
Quem acha que o fotovoltaico pode ajudar a reduzir o défice comercial ?

Publicado por: João GM às março 18, 2005 02:26 PM

A Central Fotovoltaica de Amareleja, que ocupará uma área de 50 ha, pelo menos no projecto inicial (agora não sei o que se passa), tinha os seguintes indicadores.
Custo 200.000.000 €, com uma potência de Potência de 64.000 kW o que poderá produzir 192.000.000kWh/ano (admitindo 3000 horas de insolação média anual, o que talvez seja elevado). Isso dá cerca de 0,12€/kWh em termos de custo do equipamento inicial (amortização e juros), sem falar de outros custos de exploração. Depois haverá os custos de distribuição (subestação de saída, linhas, subestação para distribuição, etc.). É obviamente mais cara que a energia fóssil

Publicado por: Joana às março 18, 2005 03:08 PM

Os painéis domésticos são incomportáveis. Só por brincadeira. Agora uma instalção como a da Amareleja (ou outra do género) com o kWh ao preço "verde" tem pernas para andar.

Publicado por: Joana às março 18, 2005 03:10 PM

As contas do João GM estão possivelmente corretas, mas faço notar que ele se refere à energia fotovoltaica - isto é, à produção de eletricidade a partir do sol. Essa produção ainda não é hoje, em geral, comercialmente rentável. Por contraste, o aquecimento de água a partir do sol já é hoje comercialmente (monetariamente) MUITO rentável.

Faço também notar que, quando se discute isto, não interessa apenas saber os preços de hoje, interessa considerar quais se espera virem a ser os preços de amanhã. E, neste ponto, é indubitável que o preço do petróleo (e, com ele, o do gás natural ou não-natural) vai subir, gradualmente mas acentuadamente, ao longo dos próximos 10 ou 20 anos.

Ora, importa estarmos preparados para essa subida. Importa não fazermos como os lisboetas de há 10 ou 20 anos atrás, que construíram prédios sem garagens, a pensar que seria sempre possível estacionar o carro na rua, de tal forma que nós nos vemos hoje à rasca com toda uma cidade onde os moradores (fora os outros) não têm espaço para estacionar. Importa ser previdente!

Publicado por: Luís Lavoura às março 18, 2005 03:16 PM

Parque de Middelgrunden na Dinamarca
aerogeradores 20
Diámetro de rotor: 76m
Distancia entre turbinas adjacentes: 183m
Potencia nominal 2/0,4 MW
Potência total 40.000 kW
Energia anual 20.000.000kWh
Custo estimado por mim na base de 800€/kW 32.000.000 €, o que dá um valor ligeiramente superior ao que calculei acima. Uma das razões pode ser porque o rácio de 800€/kW é para aerogeradores de 1,5MW e em Middelgrunden são de 2MW. O custo deve ser idêntico.

Publicado por: Joana às março 18, 2005 03:23 PM

No caso dos transportes, a energia mais facilmente comercializável será a das células de combustível (O+H2). Há uma série de problemas técnicos ainda a resolver e depois haverá o problema do fornecimento e comercialização de Hidrogénio (parece simples, mas estes "pormenores" são complicados). Em vez de dióxido de carbono, emite vapor de água.
A fusão nuclear lida com temperaturas de muitos milhões de graus e não é praticável nas décadas mais próximas. Não há contentores físicos onde se possa controlar. Provavelmente terá que ser "aprisionada" dentro de campos electromagnéticos, mas saber como isso se faz ainda vem longe.

Publicado por: Joana às março 18, 2005 03:30 PM

Quanto ao biogás, se se admitir uma produção de 1 ton/ano de RSU por habitante, talvez se conseguisse, se fosse integralmente aproveitado, cerca de 300 kWh/hab durante 10 anos, o que para o abastecimento familiar poderia corresponder de 20% a 30% do consumo. A questão é saber recolhê-lo e aproveitá-lo. E isto não se faz por decreto. Faz-se com a colaboração de toda a população.

Publicado por: Joana às março 18, 2005 03:39 PM

As células de combustível por si sós não resolvem nada, uma vez que precisam... de combustível. O combustível é hidrogénio, o qual não existe em estado puro na natureza, precisamente por ser... combustível. Para produzir hidrogénio é necessária outra fonte de energia qualquer. Ou seja, o hidrogénio é apenas uma forma de TRANSPORTAR a energia de um sítio (aquele onde o hidrogénio é produzido, por exemplo a partir de energia eólica) para outro sítio (por exemplo, um automóvel).

Publicado por: Luís Lavoura às março 18, 2005 03:41 PM

Resolvem o problema do efeito estufa...

Publicado por: Joana às março 18, 2005 03:43 PM

Além do que o rendimento teórico máximo da energia térmica depende da diferença das temperaturas da caldeira e do condensador. Nunca é superior, em teoria, a 30% ou 35% (no caso dos automóveis nem 20% será). Enquanto que a reacção O + H2 é química. Portanto será 4 ou 5 vezes mais eficiente que a do C + O2.
Não é assim? Vocè é que é o físico.

Publicado por: Joana às março 18, 2005 03:47 PM

A maior eficiência que se consegue numa central térmica de produção de eletricidade (por exemplo, as centrais a gás natural) é da ordem dos 40%. Superior aos 30 a 35% sugeridos pela Joana.

A eficiência de um motor de combustão interna, não sei qual é, mas não deve andar longe dos 20% sugeridos pela Joana.

Uma célula de combustível tem de facto uma certa ineficiência, na medida em que produz calor, além de eletricidade. Esse calor pode, no entanto, em alguns casos ser aproveitado (por exemplo, numa casa, se se tiver uma célula de combustível na cave, pode produzir-se eletricidade para a casa e simultâneamente usar o calor para aquecer água para o banho, ou o ambiente da casa, ou então para aquecer uma piscina, etc). Não sei quais as eficiências usuais das células de combustível atuais.

Em todo o caso, à sua ineficiência há que acrescentar a ineficiência da produção do hidrogénio (a partir de energia eólica, ou de outra forma qualquer de energia), e eventualmente a ineficiência da transformação da eletricidade em movimento das rodas (no caso de a célula de combustível ser usada para fazer funcionar um carro elétrico).

Publicado por: Luís Lavoura às março 18, 2005 04:13 PM

asdrubal às março 18, 2005 02:00 AM:
Percebe-se. Se melhora a tecnologia e a produtividade, são precisos menos trabalhadores para fazer o mesmo. Portanto aumenta o desemprego.
Simples?

Publicado por: David às março 18, 2005 05:15 PM

Ó Joana, por acaso você percebe alguma coisa de anatomia dos cefalópodes.
De paleontologia nem pergunto, pois já vi que de Parques Jurássicos ...

Publicado por: V Forte às março 18, 2005 05:21 PM

David,

Esse mecanismo tem acontecido desde há muito. Quando os métodos e a tecnologia na agricultura mudaram, foram precisas menos pessoas para trabalhar nesta área. Há umas décadas em Portugal eram mais de 20%, hoje é quase ninguém.

Essas pessoas foram para o desemprego? Foram para outras áreas. Apenas à custa desse desemprego provisório se libertam recursos humanos para, a prazo, serem criadas outras áreas mais interessantes. Por isso, combater o desemprego de forma cega pode significar condenar pessoas à servidão.

As pessoas que ficam alarmadas com a vinda do têxteis chineses, e do desemprego que se poderá causar. Mas manter este tipo de empregabilidade indefinidamente condena as futuras gerações a fazer o mesmo tipo de trabalho semi-escravo.

Defender o emprego fica bem aos políticos, mas certos empregos são como certos casamentos, em que uma das partes é constantemente humilhada, mas não quer o divórcio por depender da outra financeiramente. Portanto, os políticos que falam sempre no desemprego são como aquelas casamenteiras que se metem na vida de todos.

Publicado por: Mário às março 18, 2005 05:32 PM

Joana,
A Alemanha tem uma estrutura industrial que nós nunca tivemos; nós temos cafés e pastelarias. A tributação na Alemanha recai sobre bens transaccionáveis; a nossa não. Por isso o IVA pode aumentar sem problemas, e podemos ter maus serviços públicos porque isso não vai afugentar o Investimento que, de qualquer forma, escolheria outras paragens mais proveitosas. Estou a exagerar um bocadinho, claro...

Publicado por: Rui Lizandro às março 18, 2005 05:35 PM

Lavoura e demais comentadores,

Falei com um eng. da EDP há já algum tempo (meses) que me disse que o rendimento das centrais térmicas rondava os 20%, sendo que a nova (gás natural) tinha um rendimento de 22%.

O rendimento médio de um automóvel ronda os 18%

O rendimento de um motor eléctrico ronda os 92% quando carregado de forma ideal (para o que foi pensado)mas tendo em conta o rendimento nas centrais de produção de energia eléctrica, estamos conversados...

Quanto à célula de combustível, o H2 é problemático, no manuseamento e no consumo, a produção do H2 também é problemática $$$$ e técnica, embora o rendimento possa ser razoável

O nuclear é MUITO problemático e dada a nossa pequena dimensão também não será tentador.

Parece que para as nossas casas, o solar será o futuro, mas para isso, teremos de usar (muito) as nossa células cinzentas.

Para os nossos carros os híbridos eléctrico/combustão, serão o caminho possível na actualidade.

Alguns pensamentos soltos...

Alves

Publicado por: Alves às março 18, 2005 06:45 PM

OK. Se fizermos a média temos ... os valores da Joana.
Para fazermos a média ponderada teriamos que saber a credibilidade de cada um.
Em qualquer dos casos o rendimento da produção térmica é muito baixo. Nisso estão todos de acordo.
Temos que mudar de formas de energia.

Publicado por: Diana às março 18, 2005 06:59 PM

Tenho a impressão que ainda alguém terá de inventar a máquina a vapor.
Só assim poderemos ter alguma independência energética.
Não?
:-)

Publicado por: Senaqueribe às março 18, 2005 10:02 PM

Já alguém leu o programa de governo?
Aquilo é só conversa. Não há nada concreto.

Publicado por: David às março 18, 2005 11:52 PM

Este post reflecte um melhoramento significativo, pois consegue confrontar "certas" teorias com a prática milenar da economia paralela, que mais não é do que a Inteligência Popular, face ao Poder Opressivo dos Impostos.

Apenas discordo...quando apresenta um quadro negro sem alternativas...porque elas existirão sempre, desde que desejemos resolver os assuntos.

A questão eterna será sempre...eles resolvidos são...mas a favor de quem ?

Publicado por: Templário às março 19, 2005 12:01 AM

Na questão dos rendimentos das máquinas térmicas temos que separar o rendimento teórico do rendimento normal (atritos, perdas por efeito Joule - que é um "atrito eléctrico", etc.)
O rendimento teórico é dado pela razão entre a temperatura da fonte quente e da fonte fria, sobre a temperatura da fonte quente (a fonte fria é o tal condensador). Esta temperatura é medida em graus Kelvin e não em graus centígrados. Logo, em teoria, se não houvesse mais perdas, o rendimento de uma máquina térmica dificilmente ultrapassaria os 40%. Para isso era necessária uma combustão com uma temperatura superio aos 300º C.

Publicado por: L M às março 19, 2005 12:02 AM

Depois há os outros rendimentos devidos às perdas por atrito, dissipação de calor, etc., que poderão variar entre os 90% a 95%.
Eu acho que uma central térmica moderna, trabalhando a regime constante (as centrais térmicas não devem variar os diagramas de carga senão as perdas térmicas aumentam muito), poderá ter um rendimento da ordem dos 30%, ou mesmo mais. O valor que deram ao Alves parece-me muito baixo

Publicado por: L M às março 19, 2005 12:08 AM

Em contrapartida, um automóvel tem um rendimento muito baixo, pois a temperatura da fonte quente nunca pode ser muito elevada e tem variações por causa das mudanças de velocidade.
É por isso que na cidade o carro gasta 30% a 40% mais que na estrada. Na estrada, sempre com velocidade regular, o rendimento teórico talvez chegue aos 20%.
É por isso que os motores diesel são ligeiramente mais eficientes que os de gasolina.

Publicado por: L M às março 19, 2005 12:11 AM

David às março 18, 2005 11:52 PM:
Você perdeu tempo a ler isso? Claro que é só conversa. Tal como foi o programa eleitoral.

Publicado por: Rui Sá às março 19, 2005 01:41 AM

O programa do PS não aponta qualquer medida prática. Só banalidades.

Publicado por: Jarod às março 19, 2005 11:39 AM

Esta mistura do PS com as máquinas térmicas tem o seu interesse.
Pôr o PS numa panela de pressão talvez tivesse um bom efeito económico

Publicado por: Coruja às março 19, 2005 11:48 AM

Se o PS se limitasse a não fazer nada já não era mau de todo. O problema é que vai mesmo gastar mais dinheiro. Como se dizia na minha terra: Não lhes custa a ganahr...

Publicado por: Mário às março 19, 2005 12:11 PM

Provavelmente é o que vai acontecer. O problema é que já não têm muito por onde gastar.

Publicado por: Coruja às março 19, 2005 12:51 PM

Coruja,

Acha que não? Olhe para o seu recibo de ordenado, e para as várias facturas que tem em casa e veja se não há mesmo margem de manobra para gastar mais.

Publicado por: Mário às março 19, 2005 01:21 PM

Ora viva!
O Zecatelhado, camarada destas lides da blogosfera, deseja para esta casa um fim de semana cheio de bons posts e demais coisas agradáveis.
Envia ainda
AQUELE abração amigo.

Zecatelhado

Publicado por: zecatelhado às março 19, 2005 01:48 PM

never mind às março 18, 2005 12:52 AM:
Eu já li trinta vezes. Tomei comprimidos para me manter acordado e não vi nada de concreto.
Agradecia que resumisse o que leu de concreto

Publicado por: Cerejo às março 19, 2005 02:48 PM

«Socialismo» é proibir a China de importar petróleo e exportar têxteis, ehehehe ... isto está bonito !!

Publicado por: asdrubal às março 19, 2005 07:41 PM

UMA DÚVIDA
Se a comunicação social nunca se referiu ao governo de Durão ou de Santana como o governo social-democrata-centrista porque é que se refere ao governo de Sócrates como o "governo socialista"?

Poderia chamar-lhe Governo da República, XVII Governo Constitucional, ou, muito simplesmente, Governo; mas não, parece-se que sendo um governo do Partido Socialista o governo tem mesmo que ser etiquetado. Ainda bem que Fidel Castro não vê a SIC Notícias ou apanhava o avião, fazia escala e ainda aparecia mais o Hugo Chavez na Portela para dar o abraço ao camarada Sócrates...

Irrita-me que alguns jornalistas continuem com pequenos truques, fazendo-me passar por parvo!


Posted at 3/19/2005 11:13:02 am by Roncinante
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blog jumento

Publicado por: zippiz às março 20, 2005 12:11 AM

"Irrita-me que alguns jornalistas continuem com pequenos truques, fazendo-me passar por parvo!"
É que esse jumento é mesmo parvo. Se o governo é do Partido Socialista, é um governo socialista.
A menos que o burro ou jumento tenha a patente dessa palavra e só o seu zurrar pode definir o que significa.

Publicado por: David às março 20, 2005 12:56 AM

Sobre energias alternativas:

A produção energética na Amareleja é inferior a 2000 horas anuais à potência nominal, no caso de se usar um sistema de paineis fixo. Com paineis que sigam o Sol é possível esperar um aumento de 40% na produção, variando o aumento do custo consoante a tecnologia e os ganhos de escala.

A energia eólica tem custos mais baixos mas continua a ser uma pequena produção face ao consumo nacional (um grupo da Termoeléctrica do Ribatejo produz mais do que todos os parque eólicos portugueses).

Em suma, parece-me que a única solução a curto prazo para minorar o nosso défice energético (e da balança comercial) é seguir o slogan da Union Fenosa: a energia mais verde é aquela que é poupada...

Nesta "onda", o Brasil deu-nos um bom exemplo em 2001: Na iminência de um "brownout" no Rio de Janeiro e São Paulo, os brasileiros descobriram formas insuspeitas de poupar electricidade. Tanto, que só agora, passados quatro anos de crescimento económico forte é que o consumo está a atingir os níveis de 2000.

O que me preocupa é que quando o PIB português cresce 1%, o consumo eléctrico cresce 4% ou 5% ou mais. E se o PIB diminui, o consumo cresce ainda 3%...

Publicado por: João GM às março 20, 2005 09:43 AM

http://jornal.publico.pt/noticias.asp?a=2005&m=03&d=20&id=12003&sid=1302

Joana :
o Público de hoje dedica-lhe a si, e a mais alguns parceiros, meia-página. Pela amostra não ficaram muito bem na fotografia.

Publicado por: zippiz às março 20, 2005 03:37 PM

Caro David,
Vc tem sempre bons argumentos ("É que esse jumento é mesmo parvo") e não é razoável contrariar certo tipo de personagens como o caríssimo.

Publicado por: zippiz às março 20, 2005 03:45 PM

zippiz às março 20, 2005 03:37 PM
Julgo que você anda com dificuldade de leitura. O guru Mesquita referia-se a blogues anónimos, ora este tem nome; referia-se à falta de humor, ora as “Fêmeas do Parque Jurássico” foi um rótulo que percorreu a blogosfera e foi citado por vários blogues, como uma nota de humor. Quem não teve réstia de humor foi a Ana Gomes que se cobriu de ridículo. ... e o guru e a sua aluna que revelaram muito azedume pelas críticas...
E o facto de eles terem regressado ao assunto à guisa de explicação adicional, prova que acertei no alvo.
Aliás, a questão não era, de forma alguma, a das mulheres no governo, era “aquelas” mulheres que eles escolheram. Como dizia o outro ... só como filme de terror

Publicado por: Joana às março 20, 2005 07:35 PM

Também acho que aquele artigo foi mais uma prova de fraqueza que de força.

Publicado por: AJ Nunes às março 20, 2005 11:27 PM

Quem ficou mal na fotografia foi o MM e a ASL. Ler
http://ablasfemia.blogspot.com/2005/03/explicaes-mal-amanhadas-e-habitual.html
http://ablasfemia.blogspot.com/2005/03/ironia-involuntria.html

Publicado por: David às março 21, 2005 12:02 AM

Concordo com o comentário de AJ Nunes, acima.

Mas, Joana, este blogue é anónimo, na medida em que "Joana" é um nome vulgar, que nada diz a ninguém. De entre as milhares de Joanas que há por este país fora, podemos legitimamente perguntar qual é a que nos entretem.

Já agora, gostaria que me explicasse o que quer dizer "Semiramis".

Publicado por: Luís Lavoura às março 21, 2005 09:48 AM

Li a reacção do Público....

Bem, a centopeia lá conseguiu mexer uma das pernas, mas propeçou nas restantes. Os jornais tradicionais e as suas estruturas rígidas, censórias, pseudo-certinhos, estão no seu ocaso. Pobres mediocres...

Publicado por: Mário às março 21, 2005 10:10 AM

Joana: Quer a questão das declarações do Cavaco, que o Público veio pedir desculpas e inclusivamente lhe enviou um mail, quer esta questão das "As Fêmeas do Parque Jurássico", mostra que já não há monopólio da comunicação social. Aqueles que estão enquistados na comunicação social começam a ver que têm concorrência escrita com influência. Já não têm uma cátedra só para eles. E isso é bom
Parabéns e continue.

Publicado por: Hector às março 21, 2005 11:53 AM

Luís Lavoura às março 21, 2005 09:48 AM
Pode ver no Google ... ou em http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2003/12/semiramis_e_o_n.html, mas noutro contexto

Publicado por: Joana às março 21, 2005 02:05 PM

queridinhas joaninhas e demais desmiolados que por mais calmantes que tomem, não irão conseguir tão cedo recuperar da mossa de tanto terem levado na tarraqueta nestes ultimos dias...
Vejam a opinião do vosso mais admirado comentador:
http://dn.sapo.pt/2005/03/22/opiniao/boa_surpresa_socrates.html

ATÉ ESTE... VÊ alguma coisa, seus desmiolados.

Publicado por: never mind às março 22, 2005 02:35 AM

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