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fevereiro 22, 2005

Sócrates e o Desemprego

Uma das bandeiras da campanha de Sócrates foi a da recuperação do emprego. Não explicou como, para além de prometer colocar (a expensas dos contribuintes) mil licenciados em gestão e em tecnologia em PME’s. Não explicou, nem o conseguiria facilmente. Não é ao Estado que cabe criar empregos, mormente o Estado português que deveria, em vez disso, emagrecer substancialmente no que respeita ao volume dos seus efectivos, justamente para aumentar a competitividae da nossa economia. Ao Estado cabe implementar políticas que promovam o emprego.

E como promover o emprego? Há medidas a médio e a longo prazo que são necessárias e que já deveriam ter sido tomadas. Tornar eficiente o nosso sistema de ensino, apostar na componente profissional e tecnológica como alternativa à procura pelas saídas universitárias, muitas delas sem qualquer interesse no mercado de trabalho. Não é gastar mais dinheiro nele, pois já é o mais caro da Europa. É aplicá-lo melhor. Não é apenas criar cursos profissionais e tecnológicos, é torná-los atractivos, porque a fraca procura que há por esta alternativa, para além das suas deficiências, tem muito a ver com a mentalidade dos portugueses que continuam a ver o canudo como um “seguro de vida”.

Mas as medidas enunciadas no parágrafo anterior apenas terão efeito a longo prazo. No curto prazo outras terão que ser tomadas. O primeiro conceito a reter é que o factor trabalho é um bem sujeito à oferta (de quem busca emprego) e à procura (do empregador). Funciona portanto em mercado. E a eficiência do mercado do trabalho maximiza-se quando estão reunidas as condições de concorrência perfeita: transparência, atomicidade e independência dos agentes intervenientes , total liberdade de entrada e saída, racionalidade (minimizar o consumo de um dado factor para o mesmo nível produtivo) e mobilidade perfeita dos factores de produção (*).

O mercado do trabalho em Portugal tem-se aproximado, no que respeita a algumas daquelas condições, do modelo concorrencial. A transparência tem aumentado e o Estado tem tido algum papel nisso através dos seus serviços (Instituto do Emprego, por exemplo) (**). A atomicidade e independência dos agentes tem aumentado no sector privado, pela diminuição drástica da influência sindical, fruto aliás do protagonismo inicial excessivo dos sindicatos e das situações de impasse a que esse protagonismo conduziu os trabalhadores. A racionalidade na utilização do factor trabalho cabe aos empregadores. Em teoria, o próprio funcionamento do mercado “expulsaria” as empresas que não fizessem escolhas racionais neste campo. Na prática, a protecção estatal pode manter artificialmente no mercado empresas que não funcionem com racionalidade. É uma violação das condições estruturais que constitui um ónus para a sociedade e para os restantes agentes económicos.

Todavia a questão central, por ser a mais delicada e não estar resolvida , é a da mobilidade perfeita do factor trabalho. A experiência tem mostrado que enquanto numa economia liberal, como a dos EUA, uma retoma económica obtém níveis mais elevados e o pleno emprego se atinge rapidamente em iteração com o crescimento económico, em economias com maior rigidez laboral, como as europeias, essa rigidez acaba por se tornar um travão ao próprio desenvolvimento económico.

Tomemos o caso português. Em Portugal coexistem duas situações – um “mercado” de trabalho absolutamente rígido, e um mercado completamente flexível, baseado nos “recibos verdes” e nos contratos precários. A existência deste último mercado tem sido a principal responsável pelo crescimento económico português. Quando as expectativas sobem, os empresários não têm dúvidas em aumentarem o nível do emprego, porque sabem que se essas expectativas se gorarem poderão reduzir os seus efectivos. Sucede que, na maioria dos casos, essas admissões acabam por se tornar permanentes porque a economia estimulada pelas decisões desses empresários cresceu o suficiente para assegurar a manutenção desse nível de emprego.

É por isso que Portugal, tendo embora uma legislação laboral mais rígida que no resto da Europa, tem tido taxas de desemprego menores. A nossa legislação protege os «insiders», incluindo os que têm emprego e não querem trabalhar. Mas existe um mercado paralelo, embora legal, completamente liberalizado, com uma mobilidade porventura superior à americana, e que tem servido de impulsionador ao nosso crescimento económico. Sem ele, a nossa situação actual seria certamente muito mais calamitosa.

Todavia, não é possível construir uma economia sã, com uma mercado rígido coexistindo com um mercado selvagem. É uma situação socialmente injusta e prejudicial do ponto de vista da inovação e qualificação. Quer o trabalhador asilado, quer o trabalhador que subsiste em completa precaridade têm poucos incentivos à melhoria da sua qualificação profissional e à inovação.

São estes conceitos que Sócrates e a sua equipa terão que interiorizar se querem criar empregos. A aposta na qualificação e formação profissional é necessária, mas não é suficiente, e no curto prazo terá mesmo efeitos muito diminutos. O governo anterior considerou que a reforma das leis laborais tinha carácter de urgência. O resultado foi tíbio. Sócrates, se quer dinamizar o mercado de emprego, terá que ir mais além. Conseguirá ultrapassar os preconceitos ideológicos dos seus pares? É uma questão de pôr os olhos no seu correligionário alemão, que tem conduzido reformas laborais e sociais muito mais profundas do que a coligação de direita portuguesa alguma vez tentou levar a cabo.

Sócrates tem porém uma vantagem. Se quiser fazer essas reformas, poderá contar com o humor corrosivo da direita, mas contará certamente com os seus votos, ou pelo menos com a sua abstenção.

Quanto a colocar (pagos pelo erário público) mil licenciados em gestão e em tecnologia em PME’s, não passa de um gesto inócuo, que só terá um simbolismo passageiro. As condições para a continuação do aumento do desemprego em Portugal não foram eliminadas. A hecatombe dos têxteis e da construção civil perfila-se no horizonte. Não é apenas necessário recuperar os empregos perdidos nestes últimos anos. É igualmente necessário encontrar empregos para os efectivos de diversas empresas têxteis que estão condenadas, e para o excesso de emprego na construção civil (quando comparado com a percentagem dos outros países europeus), emprego que tenderá a decrescer, fruto da retracção imobiliária e da diminuição das empreitadas de obras públicas.

Notas:
(*) O conceito de concorrência pura e perfeita é obviamente teórico. Por isso os economistas anglo-saxónicos introduziram o conceito do 2nd Best, ou da “Workable Competition” que consubstancia um conjunto de regras de validação da concorrência, em face das restrições ou violações das condições estruturais que dificultam, na prática, a concorrência pura e perfeita. O modelo teórico constituiria assim uma assimptota face a uma curva imaginária onde cada ponto fosse o resultado das combinações possíveis das diversas violações, em quantidade e qualidade, dos pressupostos de base.

(**)Aliás, o papel principal do Estado, numa economia de mercado é aumentar a sua eficiência e estabelecer procedimentos e legislação que impeçam as violações das regras da concorrência e assegurem a legalidade dos comportamentos dos agentes económicos. E sublinho isto, porque quando falo da liberdade de mercado, aparecem sempre aqueles que citam o tráfico de droga ou a prostituição como razões para limitar essa liberdade. Esquecem-se de uma coisa, a criminalidade vive num mundo paralelo, à margem da lei. Ao fazerem-se leis restritivas ao funcionamento dos mercados, elas aplicam-se apenas àqueles que vivem na legalidade, pois os criminosos já estão à margem da lei. Aquelas preocupações não passam assim de hipocrisia e de desonestidade intelectual.

Publicado por Joana às fevereiro 22, 2005 07:55 PM

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Comentários

..."Todavia, não é possível construir uma economia sã, " ????

o que será uma economia sã ?

" com um mercado rígido coexistindo com um mercado selvagem. É uma situação socialmente injusta e prejudicial do ponto de vista da inovação e qualificação. " ???
????
Em que ficamos então ?

o que é o tal mercado selvagem? os recibos verdes ? o trabalho temporário ? ambos sem direitos sociais nenhuns e portanto à medida que aumentarem serão mais uns milhões que deixarão de pagar impostos e segurança social !?


..." Quer o trabalhador asilado, " ???
É o funcionário público ?

quer o trabalhador que subsiste em completa precaridade têm poucos incentivos à melhoria da sua qualificação profissional ???

quem lhe meteu na cabeça, que as pessoas não gostam de evoluir ?

Olhe mude de psicólogo..porque é da natureza humana querer evoluir !

O que irrita os humanos é serem tratados e pagos como atrasados mentais !!!

Publicado por: Templário às fevereiro 22, 2005 10:46 PM

A aposta na qualificação e formação profissional é necessária, mas não é suficiente, e no curto prazo terá mesmo efeitos muito diminutos.

Este chavão hoje ESTÁ VAZIO E GASTO.

Este chavão já nada quer dizer.

Já estamos noutra fase bem mais simples/complexa ...

Tenho aqui 100.000 trabalhadores Portugueses de Portugal de Lisboa sua Capital.

Tal e qual estão, com a sua formação e/ou qualificação, estão disponíveis hoje mesmo para trabalhar:

- se os colocar no Luxembourg, Alemanha, Inglaterra ou Espanha, produzirão e ninguém se queixará de suas qualificações, antes pelo contrário, acharão até que são bons em informática, línguas, capacidade de apreeenderem novas técnicas, educados, gentis, modernos tudo...mas mesmo tudo do melhor da europa.

- ...em Portugal...ninguém os quererá...porque não há economia... e quando alguém precisa...vão-lhes oferecer uns 600 euros e já gozam...

Este é o problema de Portugal !

No outro dia um francês dizia... já há 100.000 jovens franceses em Londres... Impensável para os Franceses há 15 anos atrás !!!

Publicado por: Templário às fevereiro 22, 2005 10:57 PM

Na falta de paciência que fui acumulando com a leitura dos "lençóis" da Joana, fico sem saber como é que a direita, que tem governado o país nos últimos anos, não "comprou" esta teoria do Pleno Desemprego, elaborada pela Joana!

Publicado por: zippiz às fevereiro 22, 2005 11:09 PM

Não explicou, assim como o Santana também não explicou como iria, durante o ano 2005, arranjar 75.000 empregos.

Ainda o homem está a saborear a tremenda derrota que infligiu aos amigos neoliberais da direita mais retrógrada da Europa, já o estão a querer crucificar.

A propósito o Portas disse, que não acreditava nas sondagens, pois só existia 1 ponto percentual de diferença entre os trotskistas e os democrata-cristãos, eu explico, é que com uma direita radical contrapõe-se uma esquerda mais acérrima na defesa dos direitos fundamentais (que de trotskista nada tem).

Publicado por: Gato Fedorento às fevereiro 22, 2005 11:20 PM

Templário: "Tenho aqui 100.000 trabalhadores Portugueses de Portugal de Lisboa sua Capital"
Se forem funcionários públicos pode levá-los à vontade.

Publicado por: Coruja às fevereiro 22, 2005 11:39 PM

«...O nosso sistema de ensino [...] já é o mais caro da Europa».
Em termos relativos, parece que sim. Em termos de euros gastos por estudante, de certeza que não. Caso contrário, como explica que eu em Portugal dê aulas de sobretudo e cachecol quando na Suíça as dava em mangas de camisa?

Publicado por: Zé Luiz às fevereiro 22, 2005 11:51 PM

Tá a ver? Na Suiça nem tinha dinheiro pra comprar sobretudo e cachecol.
Onde é que se ganha o bago?

Publicado por: Coruja às fevereiro 23, 2005 12:02 AM

Coruja por vocês serem assim é que levaram a derrota histórica, eu quando falo dos portugueses não faço distinção

Publicado por: Templário às fevereiro 23, 2005 12:03 AM


Coruja, os da direita, não entendem uma coisa simples:

Portugal já não é um País de atrasados mentais, apesar do atraso do País em Empresários de jeito !

Devido a esta coisa simples, não atinam com o discurso, o discurso é simples, Portugal já está Globalizado, Portugal está em consições de Competir, pense um bocadinho e perceberá o que faz falta e porque é que a burguesia já vota nos Trotskystas.

Afinal estas coisas é só para quem sabe pensar global... e não é infelizmente o seu caso.

Publicado por: Templário às fevereiro 23, 2005 12:09 AM

Nem eu. Quando os funcionários públicos chegarem ao Luxemburgo quem fará distinção são os luxembyurgueses. Mandam-nos de volta.

Publicado por: Coruja às fevereiro 23, 2005 12:09 AM

você só desconversa...o que prova que suas ideias estão erradas e se baseiam nas vossas ideologias da direita:

- não há produção porque os empregados são preguiçosos.

- não produzimos mais porque não nos deixam utilizar o chicote (leis laborais).

Sabe que mais ? o que vale é que a evolução do mundo não vos deve nada, nem às vossas ideias, nem às vossas teorias patéticas

Publicado por: Templário às fevereiro 23, 2005 12:18 AM

Um artigo interessante mas já um tanto gasto. Além disso falha em alguns pontos fundamentais. Sobretudo no aspecto em que o desemprego não pode ser visto separadamente de outros indicadores económicos. Já agora, recomendo um blog sobre a base ideológica da Esquerda moderna em Portugal: http://politicaxix.blogs.sapo.pt/

Publicado por: TheStudio às fevereiro 23, 2005 12:20 AM

Templário, para quê tanta bla bla, eu apenas desejo que você leve os 100.000 funcionários públicos para o Luxemburgo.

Publicado por: Coruja às fevereiro 23, 2005 01:26 AM

E se levar mais 100.000 para a Alemanha, melhor.
Cadilhe diz que há 250.000 funcionários públicos a mais.

Publicado por: Coruja às fevereiro 23, 2005 01:30 AM

oh...Madame Coruja, au Luxembourg on a déjà 25% de la population Portugaise, si cela continue on deviendra une nouvelle colonie...

Publicado por: Français às fevereiro 23, 2005 01:33 AM

Não há problema. Se puserem lá 100.000 funcionários públicos, têm que importar 50.000 ucranianos para os sustentar.

Publicado por: Coruja às fevereiro 23, 2005 01:35 AM

Poderíamos com a exportação de 300.000 tugas, colocar a Capital no Luxembourg, era mesmo vantajoso, estarmos ali no coração da Europa, e além do mais aquilo é terra de ninguém.

Publicado por: Templário às fevereiro 23, 2005 01:36 AM

Não há problema. Se puserem lá 100.000 funcionários públicos, têm que importar 50.000 ucranianos para os sustentar.

Publicado por: Coruja às fevereiro 23, 2005 01:41 AM

Corujinha estás a falhar com as altas tecnologias e a ficar xé-xé....eheheheheh a única desculpa que te dou...é que ainda tás de ressaca da pancadaria forte e feio que levaste no Domingo... vais levar tempo pra te recompores...eheheheheh

Publicado por: Templário às fevereiro 23, 2005 01:43 AM

Como ponto prévio, cara Joana, permito-me lembrar-lhe que a subjectividade e a emotividade são capazes de produzir os mais maravilhosos e trabalhados comentários de opinião.

É o caso do seu comentário e, concerteza, do meu que se seguiria mas que prefiro não fazer.

Limito-me a tentar fazer um comentário ao seguinte:

"A transparência tem aumentado e o Estado tem tido algum papel nisso através dos seus serviços (Instituto do Emprego, por exemplo)"

Não sei que experiência tem tido a Joana em relação ao Institudo do Emprego (I.E:).

Por razões que agora aqui não interessarão mencionar, tive (infelizmente, digo eu) a oportunidade de seguir vários casos de pessoas reais na sua experiência com o I.E..

O I.E. existe, quanto a mim, como placebo. Não forma, não fomenta emprego, dá despesa ao erário público sem que se divise qualquer menor mais-valia, etc..., mas! exibe uma imagem de "excelência": funcionários com uniformes "griffe", instalações apelativas (para o marketing de panfletos) e , calcule!, umas coisas em cima das mesas a que chamam cumputadores mas que estão condenadas a que, ao serem usadas, só emitam "ordens" do género "Faça favor de preencher 10 formulários Modelo xpto em triplicado" ou "A sua inscrição só será considerada no nosso sistema após apresentar os 10 formulários Modelo xpto (anteriormente solicitados) por correio registado com aviso de recepção".

Enfim...

O tal placebo a que me refiro funciona! Mantém as pessoas entretidas e todos sabemos que enquanto as pessoas estão entretidas não chateiam porque não têm tempo de pensar no disparate das coisas que lhes exigem...

Há uns anos atrás, tive a oportunidade de participar numa iniciativa da "Missão para a Sociedade da Informação".

Às tantas, um senhor Presidente de uma empresa de que não menciono o nome, saiu-se com esta: "A partir de hoje já será possível solicitar uma Certidão de Nascimento através da internet!"

Após os "ahhh"'s e os "ohhhh"'s de admiração e espanto, um participante levantou o braço pedindo a palavra e perguntou: "E será que me pode explicar uma razão plausível para que alguém precise uma Certidão de Nascimento?"

Pois é...

Parece-me que continuamos sempre a cometer os mesmos erros, seja qual for a situação em que nos encontremos.

Dispor de computadores numa repartição pública e ver um funcionário pegar num telefone para tentar ( e ele tentar já é uma vitória do "lado de cá do balcão")ligar ao andar de baixo para saber algo que deveria estar no tal sistema informático não é anacrónico?

Ir ao I.E. do Porto entregar um certificado de formação profissional e pedirem ao infeliz utente que o envie por correio para Lisboa porque se forem eles (I.E.) a fazê-lo demora 30 dias e se pode perder, é anacrónico ou surreal?

A transparência do I.E. é muito nublosa: existe para justificar papéis que permitem ir buscar uns euros ao Fundo Social Europeu, fundos esses que permitem o emprego... dos funcionários do Instituto de Emprego!

Publicado por: re-tombola_em_Lisboa às fevereiro 23, 2005 01:49 AM

Concordo consigo Re-tombola

E pra que se quer um segurança à entrada ?

pra indicar é no 2º piso ...é no 3º piso ...

Publicado por: Templário às fevereiro 23, 2005 02:06 AM

Que raio de palermice, "100000 trabalhadores" agora nasce-se trabalhador? não podem começar a própria empresa? Vai ao Alentejo e não encontras gente para trabalhar porque muitos vivem dos cursos da UE. E não é só no Alentejo que há falta de mão de obra.

Publicado por: lucklucky às fevereiro 23, 2005 08:04 AM

Estou numa encruzilhada. Na quase totalidade dos posts desanco a ineficiência do Estado. Criticam-me ...
Quando referi ingenuamente um Instituto que, julgava eu, na tal ingenuidade, teria algum papel em dar a conhecer aos interessados as possibilidades de colocação, eis que ...
O Estado está mesmo pelas ruas da amargura.
O surpreendente é que muitos dos que reconhecem isso continuam a defender soluções que, ao fim e ao cabo, levam à manutenção, e mesmo ao reforço, deste Estado ineficiente e gastador..

Publicado por: Joana às fevereiro 23, 2005 10:10 AM

Uma das formas como o Estado incentiva a atração pelo "canudo" universitário é através da promoção automática, ou da contratação em escalões superiores, de pessoas munidas com canudo.

Um amiga minha, funcionária de uma bilioteca pública, tirou um curso superior em horário pós-laboral (com enorme sacrifício da parte dela, naturalmente) apenas para poder passar a ganhar mais, sem que no entanto esse curso superior, em si mesmo, tenha qualquer relevância para o trabalho que ela faz na biblioteca.

Este tipo de irracionalidades na contratação pelo Estado tem, naturalmente, custos pesados, por um lado para os contribuintes, que são quem paga estas promoções, por outro para toda a eficiência do sistema.

Publicado por: Luís Lavoura às fevereiro 23, 2005 10:20 AM

Joana,

A base de apoio de Sócrates não pensa de forma muito diferente da maior parte dos comentadores aqui residentes. Como vê, são completamente imunes a qualquer tipo de argumentos, e mesmo no poder comportam-se como se estivessem na oposição.

Sócrates foi eleito para dar esperança, não para resolver alguma coisa.

Mas sobre a economia americana, não se pode dizer que é liberal quando parte importante do seuorçamento vai para milhares de subsídios...

Publicado por: Mário às fevereiro 23, 2005 10:22 AM

Mário: "sobre a economia americana, não se pode dizer que é liberal quando parte importante do seu orçamento vai para milhares de subsídios"

Outra parte importante do orçamento do Estado americano vai para a guerra. A guerra é, em si mesma, a coisa menos liberal que pode haver. O orçamento americano da guerra serve basicamente como subsídio encapotado a uma data de empresas que à custa dele vivem. O Pentágono funciona efetivamente como uma forma de Estado keynesiano, esse Estado que os liberais tanto abominam.

Dizer que a economia americana é liberal, ou sequer que se aproxima do liberalismo, é uma completa anedota.

Por exemplo, o que acontece se um fundo de pensões privado (e.g. da General Motors) ou um banco privado americano vão à falência? Resposta: o Estado federal apanha com os compromissos. Isto é liberalismo? Não penso que seja. Mas é muito importante, como forma de dar segurança e estabilidade ao sistema...

Publicado por: Luís Lavoura às fevereiro 23, 2005 11:46 AM

Contudo, apesar de todo o intervenionismo do governo americano (e dos subsídeos que já não controla à décadas) ainda fica muito aquém do que acontece na Europa.

Penso que quando a Joana falava na economia liberal americana, pelo contexto, estava implícito que era por comparação com a nossa, e apenas em determinados aspectos.

Publicado por: Mário às fevereiro 23, 2005 11:59 AM

Quando Cliton foi eleito pela 1ª vez, deparou-se com um endividamento familiar dos americanos, que na maioria dos casos era incomportável, as causas era a grande pressão que os bancos faziam para a aquisição de bens não duradouros, a medida que Cliton tomou foi criar um gabinete onde essas dividas eram negociadas, com regras apertadas e que os bancos foram obrigados a aceitar.

Este é um caso de um estado pouco liberal, mas uma medida de muita coragem.

Publicado por: Gatos Fedorentos às fevereiro 23, 2005 12:01 PM

Joana em fevereiro 23, 2005 10:10 AM

Isso suscita-me uma pergunta: quem é que tem gerido o Estado português nos últimos 50 anos?

É que, não estando o Estado em auto-gestão, alguém tem andado (e anda) a gastar mal o nosso dinheiro. Quem terá sido (será)?

Publicado por: Colherada às fevereiro 23, 2005 12:02 PM

Anteriormente era para ter escrito «(e dos subsídios que não controla há décadas)».

Temos que começar a corrigir os nossos erros :)

Publicado por: Mário às fevereiro 23, 2005 12:02 PM

Sócrates garantiu ("garantiu"?) uma disciplina na admissão de funcionários públicos, permitindo que a reforma de 150.000 funcionários públicos prevista para a próxima legislatura conduza apenas à contratação de 75.000 novos funcionários. Ao mesmo tempo prometeu ("prometeu"?) a criação de 150.000 novos postos de trabalho. Como 75.000 pessoas integrarão a função pública, isso significa que Sócrates espera que o Funcionalismo Público seja responsável pela criação de metade dos empregos novos... Esperemos é que a actividade económica produtiva, na agricultura, nas pescas, nas indústrias, nos serviços, se desenvolva e crie mais riqueza. Segundo as contas de Sócrates, os novos 75.000 trabalhadores no privado serão capazes de fazer uma produção suficiente para eles, para os 75.000 novos funcionários públicos e para os 150.000 novos reformados - é obra!

Publicado por: Pedro Lisboa às fevereiro 23, 2005 12:47 PM

Sócrates garantiu ("garantiu"?) uma disciplina na admissão de funcionários públicos, permitindo que a reforma de 150.000 funcionários públicos prevista para a próxima legislatura conduza apenas à contratação de 75.000 novos funcionários. Ao mesmo tempo prometeu ("prometeu"?) a criação de 150.000 novos postos de trabalho. Como 75.000 pessoas integrarão a função pública, isso significa que Sócrates espera que o Funcionalismo Público seja responsável pela criação de metade dos empregos novos... Esperemos é que a actividade económica produtiva, na agricultura, nas pescas, nas indústrias, nos serviços, se desenvolva e crie mais riqueza. Segundo as contas de Sócrates, os novos 75.000 trabalhadores no privado serão capazes de fazer uma produção suficiente para eles, para os 75.000 novos funcionários públicos e para os 150.000 novos reformados - é obra!

Publicado por: Pedro Lisboa às fevereiro 23, 2005 12:52 PM

Afixado por: Pedro Lisboa em fevereiro 23, 2005 12:52 PM

Só não percebi a parte de se reformarem 150 mil.

Onde foi dito isso?

Publicado por: Mário às fevereiro 23, 2005 01:17 PM

Mário em fevereiro 23, 2005 11:59 AM:
Eu falava do mercado de trabalho. Todavia, não existe o laissez-faire laissez-passer puro. Tal não é socialmente possível, pois conduziria à exclusão social dos menos aptos (aptos em termos das necessidades do mercado de trabalho), ou a salários demasiado baixos para os pouco qualificados.
Neste entendimento, o Estado deve colmatar essa situação, sem retirar os incentivos à satisfação dos interesses dos agentes económicos, que são o motor do desenvolvimento.
O imposto progressivo, as pensões de reforma ou invalidez, o salário mínimo, a saúde e a educação, tendencialmente gratuitas (ou a preços simbólicos), são formas de redistribuição social.
O problema português não se situa nessas transferências socias, que são relativamente baixas, nem nos serviços prestados pelo Estado, que são péssimos. Situa-se na completa ineficiência da máquina estatal que vive em autofagia. É essa ineficiência que tem combatida, sob o risco do país falir.

Publicado por: Joana às fevereiro 23, 2005 01:26 PM

Colherada em fevereiro 23, 2005 12:02 PM:
O Estado está mesmo em auto-gestão. Está completamente desorganizado, e há dois lobbies a quem isto convém: às chefias, que têm poder, e aos sindicatos.
Leia o que escrevi num post anterior:
(Atavismos ... - http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/182758.html)

"Durante dois anos [governo de DB], se se exceptuar um anémico pacote laboral, não se fez mais nada senão cortar nas despesas. Mas, numa empresa, quando se pretendem reduzir custos, o controlo de custos estabelece-se em paralelo com a reorganização da empresa em termos dos serviços produtivos e administrativos, procedimentos, etc. Tentar controlar apenas os custos não resolve nada, até porque os custos numa “organização” desorganizada têm uma característica singular: são sempre imprescindíveis e inadiáveis. Foi o que aconteceu com MFL. Ela cortou, congelou, restringiu ... mas a despesa cresceu sempre, inexoravelmente. O défice corrente, apesar das medidas restritivas, continuou assim superior ao limiar aceitável. É óbvio que a má conjuntura económica internacional ajudou a este mau desempenho das finanças públicas, mas só parcialmente. A razão primordial foi a ausência de reestruturação do sector público, foi a ausência de um projecto coerente e capaz."

Publicado por: Joana às fevereiro 23, 2005 01:33 PM

Ora, ao menos, depois da esquerda ter ganho, a discussão é muito menos trauliteira do que antes. Quanto à ineficiência do Estado o problema principal é de mentalidades: quando há esperança as pessoas trabalham mais e melhor, em vez de serem empurradas para a prateleira ou para o desemprego.

A direita no poder foi uma depressão em Portugal, e quanto à gestão dos governantes basta lembrar que a Manuela F Leite contratou um director-geral de impostos a ganhar balúrdios, em nome da eficiência do sistema, para se vir a concluir que 92% dos ricos deixaram de declarar impostos. Fica mesmo à vista quem é que ele lá foi ajudar. E ainda recorde-se que o Estado pagou, no último ano, 50 milhões de contos de pareceres jurídicos e estudos técnicos. A quem? Aos amigalhaços está-se bem a ver.

Publicado por: pyrenaica às fevereiro 23, 2005 01:48 PM

Joana,

Então acha que há espaço de manobra para uma solução social-liberal?

Publicado por: Mário às fevereiro 23, 2005 01:55 PM

Eu acho que não é possível o Estado liberal puro, pelas razões que a Joana apontou no comentário, nem o Estado Social pesado, que protege as pessoas, mas trava o desenvolvimento, situação que está a preocupar os países do norte da Europa que estão a repensar a modificação do modelo.

Publicado por: Hector às fevereiro 23, 2005 02:38 PM

pyrenaica em fevereiro 23, 2005 01:48 PM
"Manuela F Leite contratou um director-geral de impostos a ganhar balúrdios, em nome da eficiência do sistema, para se vir a concluir que 92% dos ricos deixaram de declarar impostos. Fica mesmo à vista quem é que ele lá foi ajudar."
O que é que tem a ver o director-geral de impostos com as declarações que milhares de famílias preenchem? Será que é ele que as preenche?
Note que eu não defendo, como fez o sindicato, o sujeito em questão. Apenas assinalo a incongruência dos seus argumentos.

Publicado por: Hector às fevereiro 23, 2005 02:42 PM

Fico satisfeito por verificar que a Joana, ao contrário daquilo que eu pensava (talvez por vir aqui desde há só pouco tempo), não é uma liberal radical, estilo Blasfémias, que defenda o desmantelamento total das tarefas redistributivas do Estado.

É que eu considero que, embora essas tarefas redistributivas sejam sempre passíveis de criar injustiças e ineficiências (toda a distribuição de dinheiros pelo Estado, desde os subsídios à agricultura até ao Rendimento Mínimo Garantido, é sempre suscetível de acabar por dar dinheiro a quem não o merece), elas são não obstante indispensáveis para manter uma sociedade minimamente coesa e minimamente humana.

Publicado por: Luís Lavoura às fevereiro 23, 2005 02:53 PM

Afixado por: Luís Lavoura em fevereiro 23, 2005 02:53 PM

Sendo leito do blasfémias, o que diz não é verdade.

Publicado por: Mário às fevereiro 23, 2005 03:04 PM

Tem que haver um equilíbrio, para manter a coesão social. Mas nunca um excesso de Estado, nomeadamente no sector produtivo, onde o Estado é completamente ineficaz

Publicado por: David às fevereiro 23, 2005 04:29 PM

Lá vamos evoluindo lenta e penosamente.
Gostei muito daquela do «Templário» que diz que a burguesia até já vota nos Trodskistas, ehehehehe !
Mas eu sei que é verdade.
Há mais de trinta anos que eu vi pela primeira vez os «fils à Pápá», militantes da IV Internacional, aos gritos pelas ruas de Paris, com sapatinhos de «chez Dior» ...

Publicado por: asdrubal às fevereiro 23, 2005 05:21 PM

“Sei que por uma ou duas vezes percebeu que o esforço era inglório, e que queria pedir ao PR que convocasse eleições, e isso só enobreceu o seu carácter, capacidade de avaliação correcta da situação política, e um grande espírito de sacrifício.”
Luiz Delgado in DN

Escreve assim o testa de ferro (grande amigalhaço do PSL).
Afinal o homem já sabia que não tinha condições!
Só empatou o "maralhal"...

Publicado por: locas às fevereiro 23, 2005 06:43 PM

Pelo menos não é camaleão. É nas derrotas que se revela o carácter. Quando se ganha é fácil elogiar.

Publicado por: David às fevereiro 23, 2005 06:51 PM

Não é camaleão mas um "glutão"...
Foi a "Lusa" é a PT multimédia, posiciona-se para a Lusomundo,...um fartote!
Assim só tem é que elogiar os amigalhaços, pudera!

Publicado por: locas às fevereiro 23, 2005 07:24 PM

Não se preocupem com isso, que já chove...;-)

Publicado por: Bem Visto às fevereiro 23, 2005 11:07 PM

Afixado por Mário em fevereiro 23, 2005 01:17 PM

Acho que li no Público a previsão de Sócrates de ocorrerem 150.000 reformas de funcionários públicos nos próximos anos. On-line encontrei na Agenda Financeira este texto: "A promessa eleitoral do Partido Socialista (PS) de criar 150 mil empregos durante a legislatura parece bastante difícil de atingir.
Isto mesmo considerando que metade destes, ou seja, 75 mil, serão criados na função pública com a saída de 150 mil trabalhadores e a imposição da regra de um novo por cada saída, avança o Semanário Económico (SE)." (http://www.agenciafinanceira.iol.pt/noticia.php?div_id=1730&id=498399)

Claro que o texto parece ter uma imprecisão, porque a regra é a da "reposição" de um funcionário público, quando ocorre a saída de dois funcionários.

Publicado por: Pedro Lisboa às fevereiro 24, 2005 11:32 AM

Mas isso não é a criação de emprego. O emprego já existe.

Publicado por: hanibal às março 3, 2005 08:42 PM

A ser assim era uma aldrabice.

Publicado por: hanibal às março 3, 2005 08:44 PM

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