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novembro 29, 2004

A Lei de Gresham e o Entesouramento dos Políticos

A velhinha Lei de Gresham afirma que a má moeda expulsa a boa moeda da circulação devido ao facto do ouro ser entesourado, em virtude do seu valor comercial ser superior. Explicando por miúdos, na época em que o valor do dinheiro equivalia ao seu peso em ouro ou prata, se houvesse quebra da moeda (o rei ou o governo decidisse cunhar moeda com o mesmo valor nominal, mas com menos teor em ouro ou prata), então os possuidores da moeda antiga preferiam guardá-la, porque embora o valor nominal para as transacções no mercado fosse o mesmo, ela valia intrinsecamente mais. Portanto, pouco a pouco, as transacções faziam-se usando apenas a má moeda, enquanto a boa moeda era entesourada nos baús caseiros. Segundo Cavaco Silva descobriu há dias, o mesmo fenómeno está agora a ocorrer entre os políticos.

Temos assim que os maus políticos estão a expulsar os bons políticos da circulação. Estamos portanto perante o fenómeno do entesouramento dos bons políticos. Os agentes económicos portugueses (famílias e empresas) estão a açambarcar os bons políticos, deixando os maus políticos para as trocas do dia-a-dia.

Sempre fui contra os açambarcamentos, embora reconheça que quando o mercado não funciona, os agentes económicos reagem na defensiva. Trata-se portanto de um mau funcionamento do mercado. Por razões ainda por esclarecer, mas que já deveriam estar sob a alçada da Inspecção-Geral das Actividades Económicas, estão a ser lançados no mercado políticos de qualidade medíocre. O IGAE, que vigia a oferta de produtos e serviços nos termos legalmente previstos, já deveria ter procedido à investigação e instrução dos respectivos processos por contra-ordenação.

E ao mesmo tempo o IGAE deve investigar quem açambarcou, e onde param, os bons políticos. Eu desde já asseguro que não tenho na minha posse qualquer político, quer mau, quer bom. É um bem muito sujeito a flutuações que considero arriscado transaccionar. Políticos, Pararede e BCP são coisas a evitar.

Em qualquer dos casos, ordenei hoje de manhã, ao sair, uma aspiradela rigorosa por todos os recantos da casa, não fosse o diabo tecê-las, pois hoje em dia, os jardins escolas e os primeiros ciclos do básico são locais onde se efectuam as trocas mais inesperadas.

E ao chegar a casa verifiquei que apenas haviam sido recolhidos 42 peças de puzzles da Majora, um urso de peluche, um Action Man Operation Cuba e um Tito Gusanito, que eu julgava que já tinham ido para o ecoponto, 2 Spiderman Action, 75 peças legos, 2 kgs de plasticina e 5 kgs de cotão. Políticos ... nem um.

Tenho as minhas suspeitas sobre quem açambarca os bons políticos: as empresas privadas. E açambarcam com tal proficiência que as próprias empresas públicas apenas conseguem obter maus políticos. Dos bons políticos nem um sobeja para o serviço público.

Além do que os bons políticos converteram-se num recurso muito escasso, demasiado escasso. E pelas leis do mercado, quando os recursos são escassos, o seu preço de equilíbrio aumenta vertiginosamente. Será que a situação financeira do país permite remunerar adequadamente os bons políticos?

Publicado por Joana às novembro 29, 2004 07:10 PM

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Comentários

Ó Janica,

Nem de propósito! Três no mesmo dia? Não tens mesmo mais nada que fazer ou então o partido anda a exigir muito, caraças.
Tás-me a desiludir por ficares menos cautelosa.

Publicado por: Átila às novembro 29, 2004 07:10 PM

Janica,

Tive que voltar. Tu queres acreditar que há ali tótós no OE do Expresso que acreditam que és tu que escreves estas loas? Olha, têm o que merecem...

Publicado por: Átila às novembro 29, 2004 07:24 PM

Eu também não tenho, nem quero, políticos cá em casa

Publicado por: asser às novembro 29, 2004 09:48 PM

Isto tá mau para a política em Portugal.

Publicado por: Diana às novembro 29, 2004 09:57 PM

Há um profundo descrédito pela classe política em Portugal. E todos tentam ganhar dividendos com isso e vão-na enterrando cada vez mais.

Publicado por: Carrilho às novembro 29, 2004 11:29 PM

"Pararede e BCP são coisas a evitar"

Já vi que que também percebe de bolsa...no entanto penso que não podemos comparar o BCP com a Pararede a nível de risco!

Publicado por: amsf às novembro 30, 2004 01:52 PM

"Action Man Operation Cuba "
Esse boneco já deve ter uns 70 anos...se estiver bem conservado ainda vale uns trocos no mercado de colecionismo...se já o deitou no lixo o Fidel Castro pontuou uma vez mais!!!

Publicado por: amsf às novembro 30, 2004 01:56 PM

A política portuguesa precisade caras novas com ideias novas... os nossos políticos só nos tentam impressionar com fogos de vista, licenciamentos de urbanizações e de campos de golfe, estádios de futebol, mas não há coragem de tentar combater o nosso maior problema, a educação.
Temos 9% de analfabetos, e quase metade da população é analfabeta funcional; a tudo isto devemos juntar o elevado número de estudantes que nem termina o secundário e mais aqueles que terminam o ciclo sabendo basicamente ler e escrever. Juntando tudo isto, o cenário é aterrador.
Por tudo isto somos um dos países da Europa com maior número de pequenos e médios investidores, os quais investem em bares, cafés, restaurantes, quiosques...
E depois, segundo o Eurostat, fomos em 2001 o país da Europa dos 15 com maior percentagem de área urbana, à frente de países com densidades populacionais duas e três vezes superiores à nossa como a Holanda. É que em Portugal, as câmaras municipais, para ganahrem votos, não param de aprovar cada vez mais blocos de apartamentos, centros comerciais e vivendas, enquanto os centros das cidades são abandonados. Isto vai-nos sair caro por diversos motivos:
- onde haverá dinheiro para manter as infra-estruturas de suporte dos arredores das cidades (iluminação, acessos, esgotos, etc)?

- o aumento da impermeabilização dos solos é das principais causas de cheias de grandes proporções, e o nosso clima é favoravel à ocorrencia de chuvas torrenciais...

Publicado por: Frederico às janeiro 4, 2005 07:40 PM

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