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julho 16, 2004

O Feitiço da Lua

Sempre postulei que não há coisas inexplicáveis. Especializei-me mesmo, profissionalmente, em encontrar explicações irrefutáveis para os factos passados, em encontrar razões sólidas e irrefragáveis para sustentar as previsões relativas aos cenários futuros, e em inventariar argumentos irrecusáveis para as razões que poderão levar a que ocorra o cenário A em vez do cenário B e vice-versa. Isto é, explicar, sem margem para dúvidas, o passado, aquilo que ocorreu e explicar o futuro, qualquer que seja o cenário que ocorra, com razões absolutamente sólidas, coerentes e necessárias, por muito contraditórios que sejam os cenários.

Tudo isto foi posto decisivamente em causa, hoje de manhã, ao abrir um jornal e ver os resultados de uma sondagem realizada de 2ª feira para 3ª feira passadas.

Há uma semana metade dos portugueses era favorável a eleições antecipadas e, da metade restante, apenas metade é que não punha obstáculos a um governo chefiado por Santana Lopes. Na 6ª feira Sampaio anunciou a sua decisão e na 2ª feira indigitou Santana Lopes. Nesse dia, à noite, a maioria dos portugueses achava que o presidente da República decidiu bem ao optar por não convocar eleições antecipadas. Isto é, 57,1 por cento dos inquiridos concordava com Sampaio e a indigitação e apenas 39,4 por cento dos interrogados preferia que tivesse sido tomada outra decisão. Em 3 dias (incluindo o fim de semana) Santana Lopes havia angariado mais de 30% de adesão.

O que é que acontecera entretanto? A argumentação do PR? Não trouxe novidades. A acção de Santana Lopes? Mas ele se não tinha feito nada, para além de uma entrevista à SIC, cheia de trivialidades, bastante criticada aliás pelo Guru Marcelo? Tudo irrelevante ou mesmo inconveniente.

Mas a sondagem não acaba aqui. Surpreendentemente, apenas 21,7 por cento dos inquiridos achava que o novo governo seria pior do que o Executivo demissionário. Os restantes achavam que seria igual ou melhor. Ou seja, os resultados das sondagens anteriores apareciam agora completamente invertidos. Mas como, se Santana Lopes havia sido indigitado há horas e ainda não havia nem governo, nem qualquer nome, além do dele próprio, para o integrar?

No painel dos líderes, Santana Lopes entrou imediatamente para o topo. Em simpatia aparece distanciado com 17,5 valores. Bem ... simpatia ... vá que não vá ... sabe-se que em matéria de coração ... um olhar ... um gesto ... um «coup de foudre» ... bastam minutos! Mas a questão é que também foi considerado o líder partidário mais competente conseguindo uma nota de 14,3 valores. Mais competente? Como foi possível naquelas poucas horas, sozinho, sem governo, obter uma nota tão elevada em competência? Como explicar?

Naquelas horas diminutas, houve apenas um prémio em que só obteve a aproximação. Foi na actuação. Francisco Louçã ficou com o primeiro lugar com 13,6 valores, seguido de muito perto pelo presidente social-democrata, com 13,1 valores. Ingrato povo! Então Carvalhas, Portas e Ferro que têm actuado anos a fio, assim postergados por apenas algumas horas de actuação daquele diletante da política! O próprio Louçã, que actua infatigavelmente, desdenhosamente, há tantos anos, viu o seu lugar ameaçado, Santana colado aos seus calcanhares por uma actuação curta e aparentemente trivial.

Dei tratos à imaginação e ainda não encontrei uma explicação baseada em deduções lógicas, solidamente assentes nos princípios teóricos das Sociologias, Filosofias, Psicologias Sociais, Gestões, Economias, Ciências Políticas, Ciências Genéticas, Paraquedismos, Desportos Radicais... todas!

Todavia não posso desistir. Não sou mulher de desistências. Há áreas de conhecimento por desbravar e vou desbravá-las. Há ciências que ainda dão os primeiros passos e vou-lhes dar o amparo amigo do meu ombro para caminharem. Por exemplo, a influência do campo gravítico e electromagnético da Lua nos instintos e vontades dos terrenos.

Deve ter sido isso ... o feitiço da Lua.

Publicado por Joana às julho 16, 2004 09:58 PM

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Comentários

Antigamente, quando um comboio de longo curso chegava à estação terminal, um trabalhador, munido de um martelo de longo cabo, inspecionava as rodas, batendo com o martelo em cada uma, para ver se se encontrava rachada.
Uma vez assinalou todas as rodas de um comboio como estando defeituosas, o que causou grande alarme nos engenheiros responsáveis, perplexos com tal acontecimento nunca antes ocorrido.
Deram tratos à imaginação para tentarem encontrar uma explicação baseada em deduções lógicas, solidamente assentes nos princípios teóricos das Técnicas, das Engenharias, das Físicas, das Mecânicas, das Resistências dos Materiais, etc, etc, etc, ...todas! :-) Nada encontraram por este lado.
Mas não desistiram! Não eram engenheiros para desistências :-). Desbravaram outras áreas, resolveram analisar o martelo e descobriram, finalmente, que este é que estava rachado.
Tinha sido o feitiço... do Sol.
:-) :-)

Publicado por: Senaqueribe às julho 16, 2004 11:15 PM

Não estará também "rachado" o "martelo" da tal sondagem?

Publicado por: Senaqueribe às julho 16, 2004 11:20 PM

Dá-me ideia que esses engenheiros eram do CDS...

Publicado por: Átila às julho 16, 2004 11:47 PM

A sondagem apareceu hoje no Correio da Manhã. Está no site.

Publicado por: Joana às julho 16, 2004 11:53 PM

Parece inacreditável!
Há uma grande instabilidade na opinião pública.
O PR fez bem: o PSL ainda ganhava as eleições e eram 4 anos em vez de 2.

Publicado por: c seixas às julho 16, 2004 11:56 PM

que tal ver do lado dos medias... penso que condicionam fortemente a opinião do povo... (esta semana na SIC anunciaram quinta feira, que Socrates vai ganhar e será sem duvida alguma secretario geral do PS)

que tal ver do lado das próprias sondagens (se são sempre feitas pelas mesmas pessoas e se são fiaveis... sondagens apontavam o PS como grande vencedor nas últimas eleições presidenciais em France... e à segunda volta o PSD obtinha mais de 80% dos votos contra o... FN)

que tal tentar saber quais perguntas foram pedidas ao inquiridos, do tipo:
O Presidente foi exemplar na sua decisão não foi?
O Pedro SL é um grande candidato não é?
o Socrates vai ser o futuro secretário geral não vai?

são ideias minhas... ha muito mais razões para estas reviravoltas no nosso país... pequenino... e tenho a certeza que a Joana, a pesar de ter escrito este texto, terá suas ideias sobre a questão...

bom fim de semana

ps. O nosso guarda redes da Selecção era o pior guarda redes do pais antes de defender o penalty contra os ingleses e Scolari era dos piores treinadores... dizia-se que se fosse português, não teria ficado tanto tempo na selecção...
exemplos assim vejo-os todos os dias... o português não sabe assumir uma posição durante um dia inteiro, basta o patrão do café da esquina dizer o contrário daquilo que pensa para mudar de ideias...

só mais uma nota sobre TV portuguesa...
Ao meio dia vejo a RTP, falam das tais crianças que morreram carbonizadas, mas não mostram as imagens por serem demasiado horriveis
esta noite vejo a TVI, e mostram-nas, sem pudor, sem sentimento... :-(
os únicos programa tv portugueses que vejo são os TV jornais, mas infelizmente neles reencontro aquilo que fujo: telenovelas, sencacionalismo, manipulação, demagogia, propaganda...

UM BOM FIM DE SEMANA

Publicado por: Ch'ti às julho 17, 2004 12:34 AM

Correio da Manhã? Será que é da Aximagem? A empresa que "acertou" num empate técnico nas últimas Europeias?

Nem todas as sondagens valem o mesmo. Cuidado...

Publicado por: Rui MCB às julho 17, 2004 01:42 AM

Não sei se estão familiarizados com o Grupo Bildeberg (atentem a teorias da conspiração). Quem foram os portugueses presentes na reunião do grupo em Itália. Pinto Balsemão, há anos no grupo, Santana Lopes e quem, sim esse mesmo José Sócrates.
Olho Aberto

Publicado por: Braveman às julho 17, 2004 06:22 PM

É a frente Berlusconi a atacar!

Publicado por: Zousa às julho 18, 2004 03:27 PM

A economia é, por um lado, uma coisa que se compreende sem grande dificuldade nas suas linhas gerais, mas que exige, ao mesmo tempo, algum cuidado. É louvável a preocupação de Joana com as questões económicas, mas as coisas não são assim tão lineares como lhe podem parecer.

Durante décadas (e até séculos), alguns países europeus dominaram politica e economicamente graças a enormes vantagens tecnológicas e a uma acumulação de capital que permitiram a chamada revolução industrial. Com o acto suicida a que chamamos Segunda Guerra Mundial, a Europa colocou-se fora de jogo. E agora, com a crescente capacidade técnica e produtiva de países como a China, a Índia e o Brasil, a Europa encontra-se verdadeiramente acossada, a caminho da segunda divisão.

Nem a iniciativa privada nem a intervenção estatal podem, só por si, resolver a questão. Porque o problema não é de liberalismo ou de keynesianismo, mas de competitividade, e a Europa está condenada a perder competitividade. Os problemas da Europa resumem-se a dois: manter ou melhorar o nível de vida dos europeus e eliminar a exclusão social. Objectivos esses aparentemente incompatíveis no quadro liberal globalizante em que vivemos. Com efeito, a esfera económica e a esfera social são concorrentes na captação de recursos escassos. Canalizar fundos para a esfera social significa subtrair esses mesmos fundos à esfera produtiva. Face à concorrência cada vez mais feroz de países menos desenvolvidos, a tentação é canalizar tudo - ou quase - para a esfera produtiva, sacrificando o chamado modelo social europeu. E aumentando assim a exclusão social. Daí as dificuldades não só de países menos prósperos como Portugal, mas também de países como a França e a Alemanha. Por este caminho vamos conseguir adiar um pouco o mais grave da crise, enquanto sacrificamos a esfera do social, mas o dia chegará quando não teremos estado social e não teremos economia. A alternativa, num quadro europeu, seria pegar no mercado de 500 milhões de pessoas que iremos representar, e fechar as fronteiras. Exportando apenas o que fosse necessário para pagar as importações por enquanto indispensáveis, como o petróleo.

Poderá isto parecer uma tontice, mas não esqueçamos que o modelo social europeu foi construido à sombra do proteccionismo. Foi porque as empresas europeias, protegidas, geravam lucros significativos, que foi possível canalizar fundos suficientes para a segurança social. Vínculos laborais estáveis, subsídios de desemprego e de doença, complementos de reforma, tudo conseguido à custa de uma forte rentabilidade empresarial. Com a necessidade de fazer face à concorrência internacional e portanto de reduzir drasticamente os custos de produção, tudo isto é posto em causa. Dada a capacidade europeia de produzir quase tudo o que precisa, o encerramento das fronteiras económicas permitir-nos-ia manter e até aumentar a nossa prosperidade. Mesmo que muitos produtos fossem mais caros na Europa do que noutros países, a nossa prosperidade não seria ameaçada, porque não haveria saída de meios monetários da área económica europeia. Se necessário, até se poderia tornar o euro numa moeda não livremente convertível. E já seria possível canalizar mais fundos para os países menos desenvolvidos da Europa - como Portugal -, para acelerar a sua convergência com a média europeia. Quinhentos milhões de pessoas seriam suficientes, durante alguns séculos, para garantir a prosperidade geral.

Publicado por: Albatroz às julho 18, 2004 11:08 PM

Peco desculpa, mas um lapso informatico fez com que afixasse aqui um comentario que pertencia noutro local...

Publicado por: Albatroz às julho 18, 2004 11:13 PM

E eu respondi-lhe nesse local
E obrigada pelo seu comentário

Publicado por: Joana às julho 19, 2004 12:22 AM

De facto o Santana é um animal político. E a «ternura» dos miúdos dele a beijarem-no no acto de posse!

Publicado por: Mocho às julho 19, 2004 09:49 AM

Já tinha reparado que o PSL andava aluado

Publicado por: rotes às julho 20, 2004 09:08 AM

Viu-se quando lia o discurso

Publicado por: Vitapis às julho 20, 2004 12:04 PM

Vi essa sondagem. Não me parece muito fidedigna.

Publicado por: Daniel às julho 20, 2004 02:50 PM

Parece que o feitiço da Lua tá-se a acabar

Publicado por: c seixas às julho 23, 2004 11:35 AM

Durou uma semana

Publicado por: c seixas às julho 23, 2004 11:39 AM

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