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maio 04, 2004

O Democrata Prodi

Romano Prodi é o presidente da Comissão Europeia. Normalmente um presidente é suposto representar toda a população a que preside, mesmo aqueles que não votaram nele. É a regra dos países democráticos. Escrevi isto em 2 de Janeiro deste ano, quando Prodi ameaçou as «ovelhas negras» da Europa com a «Europa a duas velocidades», casos os países recalcitrantes não cedessem ao «diktat» franco-alemão.

Há poucos dias Romano Prodi, em face da decisão do governo de Tony Blair de referendar a Constituição Europeia, declarou que um «não» britânico à Constituição Europeia terá "consequências graves para a Grã-Bretanha". Não especificou quais. Também não precisava: tratava-se apenas de uma ameaça.

O democrata Prodi estava visivelmente contrariado por Tony Blair pretender consultar o eleitorado britânico sobre matéria que envolve a soberania da nação.

Quando a Irlanda disse não ao Tratado de Nice, Romano Prodi, o estrénuo democrata, não gostou do voto do povo irlandês e foi a Dublin dizer ao Governo da República da Irlanda que o povo deste país «estava a exercer a ditadura das regras da democracia sobre os restantes povos membros». Palavras então de Prodi à Rádio Irlandesa: «Se o Tratado de Nice não for rectificado teremos sérias consequências políticas ... Porque deseja a Irlanda ditar as regras da democracia nos outros países? A ideia da Europa é a única grande ideia do nosso tempo e do futuro. Todas as dificuldades actuais resultam do facto de que a Europa está a viver um processo democrático».

Por outras palavras: para Prodi a democracia só é aceitável e líquida quando o voto surge na convergência com os interesses dos «países grandes» da Europa. Mas se uma nação se nega a esses interesses e vota, livremente, contra eles, então está a submeter os outros à ditadura da sua vontade.

Pleiteando incansavelmente sobre esta matéria, Romano Prodi advertiu noutra entrevista que se a Constituição Europeia não for adoptada, a Europa será "ingovernável". "Se a Constituição não for adoptada, se não conseguirmos progressivamente ultrapassar essa regra da unanimidade para alcançar um número crescente de decisões de maioria qualificada, a Europa será ingovernável a 15 (Estados-membros), 25 ou 35".

Portanto, o presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi acha que, actualmente, a UE está ingovernável. Ele deve sabê-lo, visto ser o presidente.

Noutra declaração, Prodi afirmou ainda que “Se tivermos uma Constituição, se tivermos regras, poderemos gerir perfeitamente a Europa e a Europa tornar-se-á uma verdadeira potência mundial”

Resumindo o pensamento Prodiano, quando os países pequenos e médios pretendem exprimir a sua vontade, estão a submeter os outros à ditadura da sua vontade. Nem mesmo a Grã-Bretanha escapa à sua visão totalitária da democracia. Em contrapartida se se aceitar uma constituição que permita que o directório franco-alemão-italiano imponha as suas regras, então haverá a «democracia» e a « Europa tornar-se-á uma verdadeira potência mundial». Aliás, as dificuldades actuais resultam do facto de que a Europa está a viver um processo democrático. Quando se travar esse processo incomodamente democrático, emergirá uma grande potência.

Por enquanto, e no que se refere às relações com os EUA, a Itália ainda não alinha totalmente com o eixo franco-alemão, mas quando Prodi, o líder da «Coligação Oliveira», vencer Berlusconi nas eleições de 2006, então a sintonia entre os 3 grandes será total.

Porque Romano Prodi, embora Presidente da Comissão Europeia, mantém, paralelamente, uma acção política importante em Itália, como dirigente da Coligação Oliveira. Assim, quando fala, nunca se sabe se o faz na condição de Presidente da Comissão Europeia ou de chefe da oposição em Itália.

Há um ponto em que o Presidente da Comissão Europeia Romano Prodi e o dirigente político italiano Romano Prodi estão de acordo: o apoio ao eixo franco-alemão e à política europeia de reforço do papel dos grandes países consubstanciada no projecto da nova constituição europeia e no novo sistema de votação no Conselho por maioria qualificada que permite o bloqueio de decisões naquele órgão, caso aqueles dois países, juntamente com a Itália, se aliem.

Roman Prodi, católico, oriundo da democracia cristã, acabou chefiando, em Itália, um governo integrando comunistas. Tem-se visto que o espírito seminarista temperado no aço do proletariado leva ao totalitarismo mais hipócrita – Stalin havia sido um seminarista. Espera-se que Prodi não vá tão longe.

Publicado por Joana às maio 4, 2004 09:27 AM

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Comentários

Prodi e a França e a Alemanha precisam urgentemente desta constituição. Os novos estados são, na sua maioria, pró-americanos. A sua entrada vai fazer com que a fractura europeia fique com mais peso do lado contrário ao de Prodi, em termos de número de países.
Prodi precisa do voto qualificado com urgência

Publicado por: Novais de Paula às maio 4, 2004 10:17 AM

E esqueceu-se da “desilusão” de Prodi sobre resultado do referendo de Chipre.
Este Prodi é um cromo.

Publicado por: Gros às maio 4, 2004 11:27 AM

Não batam mais no Prodi que tem o fim do mandato à vista. Mais 3 ou 4 meses no máximo.

Publicado por: Vitapis às maio 4, 2004 02:35 PM

Vai ser a nossa sina, termos uma constituição aos empurrões sem sermos para isso achados

Publicado por: J Ribeiro às maio 4, 2004 07:27 PM

Andámos nós décadas a fazer uma constituição e depois a desfazê-la ano sim ano não, sempre com muitas discussões e agora, de repente, ficamos com uma constituição imposta do exterior e nem dizemos uma palavra.

Publicado por: J Ribeiro às maio 4, 2004 07:28 PM

Sempre empolgada... o maniqueísmo de sempre... a descompensação do costume. Tome Prozac.

Publicado por: JJ às maio 4, 2004 07:42 PM

Joana, vejo que continua em forma.
Concordo consigo sobre o Romano Prodi. Eh muito fraco. Assim como o Schröder que vai deixar a Alemanha de rastos economicamente.
O pessoal votou nele por causa do Iraque e esqueceu-se que a economia era ainda mais importante.

Publicado por: Filipa Zeitzler às maio 5, 2004 04:28 PM

De facto Prodi tem ar de seminarista frustado

Publicado por: David às maio 5, 2004 06:56 PM

Inicialmente tinha melhor impressão do Prodi do que tenho actualmente. Acho-o muito faccioso. Dá a ideia que não pretende ser o presidente de "todos os europeus".
Ou então não é capaz de fazer de outra maneira.

Publicado por: Viegas às maio 5, 2004 07:03 PM

Esta não perdoa o Prodi ter feito uma aliança com os comunistas.

Publicado por: Cisco Kid às maio 6, 2004 12:30 AM

Prodi é um jesuita mascarado de radical de esquerda. Só diz asneiras.
Agora os anti-americanos andam com ele ao colo por causa do Iraque.

Publicado por: Mocho às maio 6, 2004 10:51 AM

Os ingleses devem decidir de uma vez por todas: ou entram ou saiem. Mas não podem continuar a empatar, porque a Grande Europa não tem tempo a perder... Foi isso que Prodi quis dizer e muito bem. É o que pensam pelo menos 80% dos europeus.

Publicado por: euroliberal às maio 7, 2004 11:09 AM

A ganda estatístico! 80%?
De certeza? Assim num olhar apenas?
Alá é grande!

Publicado por: Mocho às maio 7, 2004 01:30 PM

A ganda estatístico! 80%?
De certeza? Assim num olhar apenas?
Alá é grande!

Publicado por: Mocho às maio 7, 2004 01:30 PM

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Publicado por: absin às fevereiro 27, 2005 08:18 AM

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Publicado por: absin às fevereiro 27, 2005 08:19 AM

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