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maio 10, 2004

A Rã e o Preço dos Combustíveis

A polémica sobre o aumento do preço dos combustíveis faz lembrar a história do cientista investigador.

Um cientista estava, no seu laboratório, a investigar a influência das pernas no comportamento da rã.

Gritou: Salta! ... e a rã saltou.

E anotou no seu canhenho: A rã com as duas pernas, salta.

Cortou-lhe então uma perna, voltou a colocá-la na mesa laboratorial e gritou: Salta! ... e a rã saltou.

E anotou, novamente, no seu canhenho: A rã só com uma perna, salta.

Cortou-lhe então a outra perna, voltou a colocá-la na mesa laboratorial e gritou: Salta! ... e a rã nada. Insistiu: Salta! ... e a rã sempre imóvel.

E anotou, finalmente, no seu canhenho: A rã sem nenhuma perna fica surda.

Houve duas ocorrências na sequência da liberalização do mercado dos combustíveis:
1) o progressivo aumento do preço do crude
2) o progressivo aumento do preço dos combustíveis.

O crude é a matéria prima na produção dos combustíveis. O preço destes tem subido à medida que sobe o preço daquele. Há dias, o preço do barril de crude atingiu os 40 dólares, o máximo desde a Guerra do Golfo em 1990. É da ordem natural das coisas que o preço de um bem suba quando sobe o preço da matéria prima da qual ele provém. A Economia está segura e tranquila sobre esta relação.

Mas diversos sectores continuam a ligar o aumento do preço dos combustíveis à liberalização do mercado dos combustíveis. A única ligação segura entre essas duas realidades económicas é a ocorrência temporal. A rã também deixou de obedecer às ordens do cientista depois de ter ficado sem pernas.

Publicado por Joana às maio 10, 2004 10:00 AM

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Comentários

É um facto Joana. Mas o que os Portugueses estavam habituados era que o governo por motivos eleitorais fazia repercutir sobre todos os contribuintes essas variações no preço da matéria prima.
Ou seja para beneficio dos utilizadores de veiculo próprio todos os que não o possuíam ou não utilizavam tinham que pagar na mesma as diferenças de preço na compra do crude.

Publicado por: Paulo às maio 10, 2004 11:16 AM

Concordo consigo, Paulo. Há em Portugal o hábito de dizer mal do Estado, mas tentar viver à custa dele (ou seja, de todos nós) e isto é válido para as pessoas e para os empresários.al o hábito de dizer mal do Estado, mas tentar viver à custa dele (ou seja, de todos nós) e isto é válido para as pessoas e para os empresários.

Publicado por: VSousa às maio 10, 2004 05:13 PM

Lá está a Joana a lançar poeira para os olhos. Claro que desde a liberalização dos preços dos combustíveis, os preços só têm subido. Os capitalistas das petrolíferas estão conluiados para aumentarem o preço, aproveitando os aumentos do preço do petróleo mundial

Publicado por: Cisco Kid às maio 11, 2004 12:25 AM

Caríssima (efeitos do preço da gasolina, já se vê) Joana

Julgo que você tem as condições necessárias para nos explicar duas ou três coisas a propósito do preço dos combustíveis.
Primeiro, saber qual o peso efectivo do preço do crude no preço do litro de gasolina. Como é óbvio, a um aumento de 10% no preço do crude não pode corresponder um aumento de 10% no preço da gasolina. Seria interessante saber qual a percentagem dos custos da gasolina que corresponde ao crude.
Segundo, saber qual tem sido a curva dos preços do crude e dos preços da gasolina nos últimos doze meses. Melhor ainda, estabelecer a correlação entre as duas séries.
Terceiro, tendo em conta que o preço do barril é cotado em dólares e que o euro se valorizou significativamente nos últimos doze meses, dizer-nos qual foi a variação REAL dos custos do crude para Portugal.
Estou certo de que essa sua contribuição será mais esclarecedora do que a fábula da rã.

Publicado por: (M)arca Amarela às maio 12, 2004 11:53 AM

Essa história da rã não se aplica apenas a isso. Há para aí muito menino expert em deduções desse género.
Então no BE e no PCP é demais.

Publicado por: David às maio 12, 2004 05:02 PM

caro Marca Amarela

Permita que complete o seu post. Além das dúvidas que suscita, a Joana deverá ainda opinar sobre:

1. A suposta recente liberalização. Tanto quanto pudemos observar já existia antes liberalização, pois existiam diferentes preços de venda em diferente bombas de gasolina, apenas com um tecto máximo fixado. A recente "liberalização" apenas retirou esse tecto máximo, pelo que, mais que uma liberalização foi uma autorização dada pelo governo às petrolíferas.
2. Segundo, sendo sabido que a carga fiscal no preço é (muito) superior à media europeia, dizer-nos qual o feito real desse factor na nossa economia. Ou seja, beneficiamos mais em manter essa carga fiscal e penalizar/refrear o consumo e a actividade económica, ou seria preferível utilizar essa margem como almofada para absorver as variações na origem ?

Puxando um pouco pela cabeça certamente que iremos encontrar muitas mais dúvidas no plano económico que a Joana poderá contribuir para esclarecer, em vez de ofender a mediana inteligencia das pessoas com pretensas verdades de La Palice.

Bom dia a todos

Publicado por: LA às maio 13, 2004 10:24 AM

Caros MA e LA:
Acho que a Joana deve ainda opinar sobre a anatomia da rã. Não basta vir para aqui dizer coisas sobre as pernas da rã. Ela deve contribuir para um conhecimento mais profundo dp esqueleto da rã, das articulações entre as coxas e o resto do animal, os músculos que permitem os saltos, etc.
Cumprimentos

Publicado por: David às maio 13, 2004 12:37 PM

Você tem uns leitores muito exigentes!
Que tal servir também uns cafés?

Publicado por: JCorreia às maio 13, 2004 04:26 PM

LA em maio 13, 2004 10:24 AM:
Longe de mim ofender a sua “mediana inteligencia”.
Quanto às “pretensas verdades de La Palice” deixe-me dizer que essa frase, filosoficamente, é uma contradição nos termos. E isto porque uma verdade de La Palisse é uma “verdade de tal forma evidente que enunciá-la se torna ridículo”. Ao adjectivá-la com “pretensa” vem dizer, na mesma proposição que uma verdade evidente afinal não o é ...
Por exemplo, há uns meses atrás, Sampaio avisou que as leis são para se cumprir. Houve logo gente que se apressou a designar aquela frase do PR como uma lapalissade (ou verdade de La Palisse). Imagine que aparecia o LA a desdizer aquela gente e a declarar que o aviso do PR era uma “pretensa verdade de La Palisse”.
Ou será que pretendeu dizer que as minhas verdades que pareciam de uma evidência ridícula afinal não o eram ... são verdades geniais?
Estou confusa: serei genial ou serei banal?

Publicado por: Joana às maio 13, 2004 10:49 PM

(M)arca Amarela em maio 12, 2004 11:53 AM :
Exmo Senhor

Recebi a V/consulta que me está a merecer a melhor atenção.

Todavia verifico que o processo de consulta está incompleto, por lhe faltarem peças essenciais.

Assim, queira V.Exa indicar o prazo de execução do parecer, o preço base e as condições comerciais.

Estou segura que poderei apresentar uma proposta competitiva, com uma metodologia sólida e um currículo adequado.

Informo ainda que as facturas cujo vencimento ocorrer após 31-12-04 serão sujeitas à aplicação de uma fórmula de revisão.

Na expectativa de ter correspondido ao requerido,
com os meus melhores cumprimentos

Joana

Publicado por: Joana às maio 13, 2004 11:01 PM

LA em maio 13, 2004 10:24 AM
Exmo Senhor

Recebi a V/consulta que me está a merecer a melhor atenção.

Todavia verifico que o processo de consulta está incompleto, por lhe faltarem peças essenciais.

Assim, queira V.Exa indicar o prazo de execução do parecer, o preço base e as condições comerciais.

Estou segura que poderei apresentar uma proposta competitiva, com uma metodologia sólida e um currículo adequado.

Informo ainda que as facturas cujo vencimento ocorrer após 31-12-04 serão sujeitas à aplicação de uma fórmula de revisão.

Na expectativa de ter correspondido ao requerido,
com os meus melhores cumprimentos

Joana

Publicado por: Joana às maio 13, 2004 11:02 PM

David em maio 13, 2004 12:37 PM:
Exmo Senhor

Recebi a V/consulta que me mereceu a melhor atenção, mas que me vejo obrigada a declinar pelo facto de não poder apresentar um currículo adequado no âmbito do parecer que pretende

..............
E também porque julgo que você ... pelo menos você, deve estar no gozo!

Publicado por: Joana às maio 13, 2004 11:05 PM

Parece que a sua proposta não vai ter respostas.
O pessoal quer tudo de graça.
Além do mais, isto está uma crise!

Publicado por: Arroyo às maio 14, 2004 04:24 PM

Expresso 15 Maio 2004:

Saddam Hussein

Foi o único líder da OPEP que ousou vender petróleo em euros. A decisão foi tomada em Novembro de 2000 e a reposição do dólar é apontada como a verdadeira razão para o derrube do líder iraquiano. Outro membro do Eixo do Mal, a Coreia do Norte passou a fazer as trocas comerciais em euros a partir de Dezembro de 2002

Verão Americano

...cerca de 35 milhões de americanos preparam-se para ir de férias, consumindo no curto lapso de 20 dias a mesma gasolina que 40 milhões de espanhóis gastam num ano(ou 10 milhões de portugueses em vários anos)....que em ano de presidenciais os eleitores norte-americanos paguem o preço recorde de 1,76 USD/galão de gasolina (tradução europeia: uns estonteantes 78 escudos por litro) ....

-----------------------------------------
Público 14 Maio 2004:

O preço da gasolina sem chumbo 95 octanas poderia ser mais barato 23,5 cêntimos e o gasóleo 6,3 cêntimos o litro se o imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP) cobrado pelo Governo fosse o mínimo estabelecido na lei.
O Orçamento do Estado estabelece um intervalo para a fixação das taxas do ISP entre os 28,7 cêntimos de mínimo e os 55,3 cêntimos de máximo para o litro da gasolina sem chumbo 95 octanas. No caso do gasóleo rodoviário, esse intervalo oscila entre os 24,5 e os 33,9 cêntimos o litro. A última actualização da taxa de ISP, através da portaria governamental de 12 de Fevereiro deste ano, fixa o imposto nos 52,6 cêntimos sobre o litro da gasolina sem chumbo 95 e em 30,8 cêntimos sobre cada litro de gasóleo rodoviário.


Unqt

Como vê, cara Joana não são divagações minhas.
Quanto à sua proposta, agradeço, mas declino, básicamente porque não sou parte interessada.A parte neste processo é o estado português, e para este (e outros) efeitos terá um executante, o governo.

Numa coisa estamos de acordo, eu também não trabalho de borla, por isso faço votos para que consiga despertar algum interesse nos seus amigos do governo por um estudo deste tipo (já agora, incluam tambem os transportes maritimos, alem de se tratar de sector geoestratégico, os fretes também são exclusivamnente em USD e têm subido muito mais que o petróleo...)

Quanto à sua resposta, em primeiro lugar devo agradecer a sua correção e apresentar as minhas desculpas públicas à memoria do Sr. La Palisse por lhe ter alterado o nome. No que diz respeito ao conteúdo da mesma, e usando as suas próprias palavras, diria que você, neste comentário, foi de uma banalidade pretensamente genial.

cumps

Publicado por: LA às maio 18, 2004 11:06 AM

Aumento do preço do crude = 33%
Aumento do preço da gasolina = 10 %

Aumento da procure de crude = 20%

Façam as contas

Publicado por: Nuno Almeida às junho 30, 2004 11:18 AM

Seria bom que as pessoas se lembrassem que existe uma coisa chamada reservas obrigatórias (120 dias). Ora o crude que constitui essas reservas foi adquirido a preços diversos. Por outro lado não se anda a comprar crude todos os dias, semanas ou mesmo meses. Logo a justificação simplista (quase diria de advogado...)"sobe a matéria prima sobe o produto final" está incorrecta. Para já não falar de que há crudes e crudes e a gasolina resulta de um processo industrial que pode assumir diferentes estádios, pelo que o seu custo de produção varia substancialmente. E depois há efectivamente um cartel que fixa os aumentos das gasolinas e do GPL. Olhe, repare na formação de preços do gás natural, muito mais coerente e permitindo "domesticar" as variações sensíveis do seu custo.

Publicado por: Átila às julho 1, 2004 01:47 AM

Tem toda a razão, Átila.
Todavia eu apenas pretendi afirmar que a relação que havia era entre aquelas 2 variáveis, não necessariamente linear, e não com outros factores.

Publicado por: Joana às julho 1, 2004 10:03 AM

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