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março 25, 2004

Ódio e humilhação

Inúmeras têm sido as iniciativas que promovidas em todo mundo relativamente ao conflito no Oriente Médio. Desde os “Acordo de Oslo” em l993, até ao último plano americano, o Road Map, têm havido diversas iniciativas de paz. Todas tiveram um objectivo comum: a paz. Todos tiveram um obstáculo comum: o ódio.

Enquanto isto, milhares de vidas foram perdidas nestas quase 6 décadas de conflitos e o abismo entre o avanço social e económico dos israelitas e o atraso dos palestinos foi-se aprofundando.

Apesar da maioria da população dos dois lados ser, em teoria, favorável ao diálogo, qualquer acto de violência dos suicidas palestinos bem como a ampliação dos colonatos ou construção de novos, ou o avanço do muro de contenção israelita eliminam de imediato qualquer avanço conseguido.

Nas escolas, os jovens palestinos são doutrinados no ódio aos israelitas. Basta ler os manuais escolares subsidiados pelos dinheiros da UE. Recentemente uma cadeia de TV libanesa começou a apresentar uma novela síria baseada no “Protocolos dos sábios de Sião”. O "Os Protocolos dos Sábios do Sião" é uma fraude feita na Rússia pela Okhrana (policia secreta dos Czares), com o intuito de culpar os Judeus pelos males do país. Foi publicado privadamente em 1897 e tornado público em 1905. É copiado de uma novela do século XIX e afirma que existe uma cabala secreta Judaica conspira para conquistar o mundo. A base da história foi criada por um novelista alemão anti-semita chamado Hermann Goedsche que usou o pseudónimo de Sir John Retcliffe. O seu propósito era politico: reforçar a posição do czar Nicolau II apresentando os seus oponentes como aliados de uma gigantesca conspiração para a conquista do mundo. Hitler usou este livro na sua campanha anti-semita.

Destila-se assim a forma mais letal de anti-judaísmo nas populações que deveriam estar recebendo uma orientação em prol da paz e do entendimento.

A primeira intifada recebeu as simpatias gerais no mundo ocidental e levou ao triunfo dos moderados nas eleições israelitas e aos acordos de Oslo. Mas a primeira intifada não se baseava no terrorismo e constituía de facto a imagem da luta de David contra Golias. O exército israelita sentia-se pouco à vontade a lutar contra miúdos e adolescentes que atiravam pedras. Foi o momento alto da causa palestina.

Com avanços e recuos, o processo foi avançando até Ehud Barak, mesmo com as contrariedades resultantes do assassinato de Rabin. Barak prosseguiu a política de Rabin: transferência de mais territórios para a AP; retirada do sul do Líbano (24-05-99); negociações de Camp David (15-20 Julho 2000).

Em Camp David, a proposta de Clinton previa a criação de um estado palestino com 95% da Cisjordânia e toda a Faixa de Gaza. Os palestinos também teriam soberania sobre regiões árabes de Jerusalém e parte do local conhecido pelos judeus como Esplanada das Mesquitas e pelos muçulmanos como Monte do Templo, embora Barak afirmasse que não entregaria aos palestinos toda a área do Monte do Templo, considerada sagrada tanto por judeus como por muçulmanos.

Outro entrave à aprovação da proposta norte-americana foi o destino dos refugiados palestinos. Segundo os planos de Clinton, apenas uma pequena parcela deles poderia voltar para as cidades onde viviam (eles ou os seus antepassados) antes da criação de Israel, posição contestada pela AP.

Enquanto se discutia uma maneira de retomar o diálogo, o líder do Likud (partido de direita), Ariel Sharon visitou a Esplanada das Mesquitas (28-09-00), acto considerado como uma violação de um local sagrado do islamismo, o que serviu de pretexto para a nova intifada. Esta intifada foi aproveitada por Arafat, para obter dividendos políticos. Todavia, essa estratégia redundou em fracasso.

Para começar, Arafat nunca tentou impedir a militarização do segundo levantamento. A primeira Intifada em 1987 foi um movimento popular durante o qual a violência se limitou ao lançamento de pedras contra as forças ocupantes. Foi essa a sua força, pois era uma força moral. Na segunda ocasião as pedras foram substituídas por pistolas e metralhadoras. Arafat optou por usar a violência como ferramenta de negociação, recusando as mais favoráveis condições que já haviam sido até então propostas para obter a independência palestina num contexto de paz. Todavia, apesar das armas, os combatentes palestinos não podiam fazer frente ao poderio muito superior do Exército israelita.

Adicionalmente, os movimentos radicais Hamas e Yihad e depois as Brigadas dos Mártires da Al Aqsa recorreram a outros tipos de armas, perpetrando ataques suicidas em território israelita. Com essa nova estratégia, os palestinos não apenas perderam o apoio que ainda recebiam de movimentos pacifistas como também de toda a comunidade internacional. Os palestinos perderam a força moral da primeira intifada e não tinham meios para ganharem pela força das armas.

Porquê a sua recusa? O que Arafat realmente queria? Como ele nunca declarou explicitamente o que queria, resta especular sobre algumas possibilidades:

1) Arafat não conseguiu reunir coragem ou vontade para vencer as pressões dos grupos palestinos mais radicais, que recusam a paz e a convivência com Israel. Mesmo percebendo a oportunidade, não quis arriscar o que Barak arriscou: enfrentar sua própria gente e convencê-la de que só com concessões mútuas poder-se-ia construir uma solução que fosse o início de um processo de paz verdadeiro. A partilha de Jerusalém como capital, o estabelecimento do Estado palestino, a cooperação económica, seriam o máximo de concessões exigíveis de Israel já no início do processo de convivência pacífica.

2) Arafat não quis aceitar uma solução a não ser em seus próprios termos e com a satisfação de 100% de suas exigências. Diante de uma proposta de conciliação irrecusável, as únicas alternativas são aceitá-la ou romper a negociação, exactamente para não ter de aceitá-la. A exigência de última hora de Arafat, que ele sabia muito bem não poder jamais ser aceita por Israel, foi a "volta de 3 milhões de refugiados" palestinos, não ao futuro Estado palestino, mas para dentro do Estado de Israel (Yaffo, Haifa, Tel Aviv, Bersheva, etc).

3) A AP nunca quis realmente uma paz definitiva com Israel e, na verdade, nunca teria abandonado seu objectivo estratégico de acabar com Israel como Estado judeu. Para isso, como está definido na Carta Palestina, as negociações e o Estado palestino seriam apenas uma etapa. A possibilidade de um Estado palestino com compromissos de paz e reconhecimento de Israel seria uma ameaça a esse princípio. O imigração de mais de 3 milhões de palestinos para um estado que tem 4,5 milhões de judeus e 1 milhão de palestinos seria o imediato desequilíbrio demográfico de Israel e a sua descaracterização.

Desmoralizado e sem apoios dentro do próprio partido ou dentro da coligação que o apoiava, Barak perdeu a eleição de 6 de Fevereiro de 2001 para Sharon, que fez a sua campanha atacando os acordos de Oslo. O prémio Nobel da Paz, Shimon Peres, tradicional adversário trabalhista de Sharon, aceitou ser seu ministro dos Estrangeiros num governo de coligação. Seria uma força de moderação dentro do governo, afirmou. Acabou por fazer o papel de ramo de salsa no leitão da Bairrada.

Depois dos atentados de 11 de Setembro, o primeiro-ministro Ariel Sharon tentou convencer o presidente Bush, de que a luta contra Arafat era idêntica à luta contra Osama bin Laden, passando por cima da diferença entre a resistência nacional palestina contra uma ocupação ilegal e a guerra santa declarada por um extremista muçulmano. Nesta argumentação Sharon foi ajudado pelos radicais palestinos que, pelas suas acções terroristas, ajudaram a mostrar que afinal não haveria diferenças entre eles e bin Laden. As organizações palestinas que se dedicavam a actos terroristas foram classificadas como organizações terroristas, quer pelos EUA, quer, depois, pela UE.

Após alguns sangrentos atentados palestinos, o governo norte-americano deu luz verde para uma praticamente total reocupação israelita da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, assim como o isolamento de Yasser Arafat. Com isso se desmantelou definitivamente o acordo de Oslo.

Passaram-se mais de 3 anos de conflito e foram perdidas mais de 4 mil vidas com 10 mil feridos e, entretanto, um novo ataque teve como motivo o mesmo local. Dessa vez, o pretexto para a violência foi a visita de um árabe muçulmano, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Egipto, que viera a Israel em missão de paz. Ahmed Maher recebeu, na ocasião, a mais humilhante agressão a um árabe, segundo a tradição da região, quando dezenas de sapatos foram atirados em seu rosto enquanto iniciava suas orações na mesquita de Al Aqsa. Aos gritos de traidor, radicais palestinos atacaram o visitante que teve que ser transportado para um hospital israelita.

Este episódio demonstra quão cego e profundo é o ódio reinante nas massas palestinas. Os atacantes são moradores da Jerusalém Oriental, onde os mentores do “Acordo de Genebra” propõem instalar a capital do futuro Estado palestino. Fica difícil imaginar o avanço desta proposição nas actuais condições.

Arafat está entretanto politicamente queimado perante a comunidade internacional. Condena formalmente os actos terroristas, mas não impede na prática que eles se façam; tirou o tapete debaixo dos pés de Abu Mazen, considerado um interlocutor válido para levar o processo de paz a bom termo e levou-o à demissão.

Quanto a Sharon, foi uma criação dos radicais palestinos. É o terrorismo destes que o sustenta. Se for apeado do governo, sê-lo-á por outro mais radical, como Benjamin Netanyahu.

E assim continuaremos, enquanto a melhor oferta de uma das partes nunca for suficientemente boa para a outra.

Publicado por Joana às março 25, 2004 07:50 PM

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Comentários

Não é por nada, mas, já que levantou aqui em Janeiro a questão da Sorefame/Bombardier, não lhe parece que esse é um assunto muito mais importante para Portugal do que o folhetim do Médio Oriente que está a publicar?

Publicado por: (M)arca Amarela às março 25, 2004 08:25 PM


Joana ,
não se esforce tanto .
já se percebeu qual é o seu lado.
deixe-se de demagogias e meta lá na sua análise - aparentemente elaborada mas declaradamente inquinada - o papel dos USA e do seu loby Judeu .

Publicado por: zippiz às março 25, 2004 10:24 PM

(M)arca Amarela: Não tenho mais dados, fidedignos, sobre a evolução do caso da ex-Sorefame.
Quando tiver direi qualquer coisa.

Publicado por: Joana às março 25, 2004 10:55 PM

Parabéns. Põe o problema de froma muito equilibrada. Tou farto de demagogias

Publicado por: Nunes às março 26, 2004 12:40 AM

Joana escreveu:

"um novo ataque teve como motivo o mesmo local. Dessa vez, o pretexto para a violência foi a visita de um árabe muçulmano, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Egipto, que viera a Israel em missão de paz. Ahmed Maher recebeu, na ocasião, a mais humilhante agressão a um árabe, segundo a tradição da região, quando dezenas de sapatos foram atirados em seu rosto enquanto iniciava suas orações na mesquita de Al Aqsa. Aos gritos de traidor, radicais palestinos atacaram o visitante que teve que ser transportado para um hospital israelita".

Quem não sober realmente o que aconteceu ficará chocado com a sua discrição...diria que a situação foi muito semelhante àquela com que alguns políticos foram brindados no "ocidente"...uns ovos ou um bolo no rosto....chocante!!!!!! Já parece a TVI!!!!

Publicado por: amsf às março 26, 2004 02:55 PM

Há muita razão neste texto. Após o 11 de Setembro, a resistência palestiniana ficou encurralada, refém da sua estratégia de terror. Ao usá-la, fica mal vista pela comunidade internacional (excepto uns tontos que andam pela net) que não pode considerar que há terrorismos bons (os de Arafat) e maus (os de bin Laden); não a consegue deixar de usar porque os radicais do movimento não o permitem.

Publicado por: Rui Pereira às março 27, 2004 05:39 PM

Lúcida esta análise. É difícil ter opiniões equilibradas sobre esta matéria. Só se ouvem gritos e insultos. Cada um quer a destruição do outro, embora muitas vezes não o dê a entender.

Publicado por: Filipe às março 28, 2004 06:01 PM

Quem ler esta droga há de pensar que os israelitas têm direito a estarem na Palestina.

Publicado por: Cisco Kid às março 30, 2004 11:25 PM

Com as conclusões da cimeira Bush Sharon, vai aumentar o "ódio e a humilhação"

Publicado por: Ventura às abril 16, 2004 01:17 AM

É claro que o terrorismo dos palestinos também mina a sua credibilidade política. É uma arma de 2 gumes.

Publicado por: Ventura às abril 16, 2004 01:18 AM

Seria de facto interessante analisar a situação decorrente do apoio de Bush a Sharon

Publicado por: Dominó às abril 16, 2004 10:09 PM

Os judeus passam a imagem para todas as nações da terra, que foram massacrados e destruídos pelos alemães de Hitler, mas o que está acontecendo que estão fazendo pior ou a mesma coisa com o povo palestino ? Acho que o Senhor Sharon teria que ser excluído de Israel pois ele mancha a imagen do povo e da nação de Israel. Se ele conseguir muito poder, será o Hitler do mundo no futuro.

Publicado por: Benigno Severino Bezerra às agosto 23, 2004 01:21 AM

Os judeus passam a imagem para todas as nações da terra que foram massacrados e destruídos pelos alemães de Hitler, mas o que está acontecendo que estão fazendo pior ou a mesma coisa com o povo palestino ? Acho que o Senhor Sharon teria que ser excluído de Israel pois ele mancha a imagen do povo e da nação de Israel. Se ele conseguir muito poder, será o Hitler do mundo no futuro.
Isso sem falar que ele através de seu "Serviço Secreto" que conhecidência ? essas iniciais não me são estranhas "SS" tem a mania de perseguir e matar os outros. Não estranhem leitores se eu aparecer morto em alguns dias, pois o seu "MOSSAD" ou seria "GUESTAPO" é muito eficiente no que faz.

Publicado por: Benigno Severino Bezerra às agosto 23, 2004 01:29 AM

wjtgfsdmngbvsm en erkhtk,erhfndkvg,msg

Publicado por: drutyidt às agosto 23, 2004 03:38 PM

assim é a vida , um dia da caça, outro do caçador...

Publicado por: indiferente às setembro 18, 2004 12:23 AM

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