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março 02, 2004
A Opinião Pública e os Intelectuais
Durante meses o país foi inundado com afirmações, proclamações, pregões, comunicados, manifestações, veladas à porta de tribunais, criticando a actual lei sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) e exigindo a sua revogação. Em fins de Janeiro, no noticiário do Canal 2, o deputado Francisco Louçã dizia, encolerizado, que «uma minoria fanática» continua a querer que as mulheres sejam condenadas por crime de aborto. Uma petição foi posta a assinar por entre fanfarras e o júbilo popular.
E durante 6 meses, com grande cobertura mediática, com máquinas partidárias em full-time e importantes meios financeiros, pareceu a todos nós, a avaliar pelas notícias dos meios de comunicação, que o país estava, em uníssono, empenhado em despenalizar a IVG. Mesmo deputados que tiveram a ousadia de afirmar que tinham uma não-posição foram glosados em diferentes motes e vituperados na praça pública pelo(a)s «jornalistas de causas». Como é possível uma não posição? Como é possível pactuar com essa hedionda «minoria fanática» fundamentalista de que falava Louçã?
Ao fim de 2 ou 3 meses, os noticiários, empolgados, já falavam em 25.000 assinaturas; mais 2 meses, por entre um delírio de entusiasmo elevado ao rubro, tinham-se atingido as 75.000 assinaturas; e, finalmente, quando a petição para o referendo sobre o aborto foi entregue ao presidente da Assembleia República, Mota Amaral, já lá constavam 121.151 assinaturas. Um êxito! Parecia, a dar crédito aos meios de comunicação, que o país se levantara em peso para apoiar aquela causa.
Havia valido a pena tanto esforço, tanto mediatismo, tanta publicidade, tanta entrega das máquinas partidárias, tantos apelos ao direito ao nosso corpo, tanto apoio dos meios de comunicação e dos jornalistas, sempre presentes quando se trata de causas sociais justas e contrárias a «uma minoria fanática».
Ontem, um movimento que eu desconhecia, que não tinha sido divulgado pelos meios de comunicação, que não tinha despertado qualquer entusiasmo mediático, que não fez, que eu tivesse visto ou ouvido, publicado ou transmitido, proclamações, pregões, comunicados, manifestações, apelos, veladas à porta de tribunais; que não teve apoio, pelo menos que fosse visível, das máquinas partidárias, que não vituperou nem insultou quem produziu opiniões diferentes, anunciou ter já atingido as 190.635 assinaturas para uma petição sob o lema «Mais Vida, Mais Família», contra a despenalização do aborto, petição que seria entregue hoje a Mota Amaral.
E tudo isto dá que pensar.
Não vou discutir aqui e agora a questão da IVG. Já expus aqui a minha posição por diversas vezes. Eu trouxe este assunto à colação por uma razão muito diversa e que tem sido o leit-motiv de muitos dos meus escritos aqui.
Em Portugal há dois países: o país dos meios intelectuais, que está omnipresente em tudo o que é comunicação e prolixidade de ideias, e o país dos não-intelectuais, que constitui, infelizmente, a esmagadora maioria da população.
Em qualquer país evoluído o intelectual é alguém ligado ao seu povo, cuja instrução e interesse pela cultura lhe permitiu sobressair da mediania, mas que compreende e sente o povo a que pertence, os seus anseios e as suas limitações. Normalmente trabalha para ajudar a melhorar o seu país, não como um professor ou um guia elitista, mas pela sua acção e labor quotidianos, tentando que aquelas limitações sejam superadas, compreendendo as suas causas, mas suscitando igualmente a dúvida sobre se o sentimento (ou sabedoria) popular não deverá prevalecer, por vezes, sobre uma visão intelectualizada das questões, eventualmente distorcida.
Pelo contrário, o nosso intelectual, muito minoritário, que campeia pelos meios de comunicação e pelos meios políticos, não tem quaisquer dúvidas sobre si próprio e nutre um completo desdém pelo povo, essa «minoria fanática» de que falava Louçã e que derrotou os seus pontos de vista em referendo.
Para esse intelectual, o povo, o operariado e o proletariado rural aos quais se refere nos seus discursos políticos ou culturais e que diz dedicar a vida a defender, são ícones, sem espessura nem densidade não existem. São imagens que apenas conhece pelo National Geographic Magazine. Esse intelectual, embora afirme falar pelo povo, não compreende que este possa ter opiniões contrárias à sua, encara com desdém e sobranceria essas opiniões, manifestamente ignaras, e desvaloriza-o completamente, quer em qualidade, quer em quantidade ... não passa de «uma minoria fanática», conforme foi decretado pelo deputado Francisco Louçã.
Estes intelectuais colocaram-se numa posição completamente alheia à população portuguesa, nunca terão qualquer influência na sua evolução, excepto pela negativa, e abdicaram de qualquer papel orientador ou de influência cívica e cultural.
E esses intelectuais constituem, infelizmente, a maioria nos nossos meios de comunicação e entre os nossos agentes culturais.
Publicado por Joana às março 2, 2004 10:12 PM
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Comentários
espero que JOANA goste deste intelectual...
Paulo Portas, 1982
Os excertos e os artigos (que podem ampliar na foto, para imprimir e oferecer a amigos) nem precisam de comentários, de tão claros que são.
Foram escritos por um homem que se diz coerente e de fortes convicções. Chama-se Paulo Portas. Estávamos em 1982. Leiam, vale mesmo a pena. Sobretudo as partes relativas ao aborto.
“Quanto ao poder laico, e livre, da política, é clara uma transferência do poder político para o poder religioso. É sintomático que as grandes discussões a que, desde há tempos, o País assiste tenham subjacente uma jaez militar ou religiosa. Progressivamente é essa a duplicidade institucional que ordena, solidifica. Do último ponto de vista dois exemplos recentes adensam a preocupação já expressa: por um lado a competição política, provinciana, que já se vislumbra e decerto crescerá, à volta da visita do Papa a Portugal. Pelo rumo que o facto leva vamos assistir naquele que devia ser um acontecimento pastoral e moral de extrema importância, a um jogo turvo de influências, para que saiba quem convidou, quem esteve mais minutos com Sua Santidade, quem mais o acompanhou, quem ganhou os seus louros. O segundo tem que ver com o tom ‘Cro-Magnon’ com que a questão do aborto tem sido tratada entre nós. (…) a AD não tem a menor autonomia de discurso, já se não pede de voto, nem de vontade, em relação à Igreja, e limita-se a repetir o que esta diz, a presenciar o que esta proclama. Os socialistas dividem-se entre a sua história e a história que a Igreja quer que eles façam.
Só por referência lembre-se, por exemplo, que em França foi uma liberal, assumida como tal, da maioria giscardiana, a senhora Simone Weil quem, contra os mais conservadores e os mais ortodoxos, impôs a lei do aborto. Lá, os socialistas não tiveram dúvidas. Giscard, líder da maioria, não interferiu. Quer isto dizer, uma vez mais, que somos subdesenvolvidos; e que, no caso, andamos atrasados, à direita e à esquerda. A menos que se rejeite a Europa moral e apenas se queira a Europa económica…”.
Paulo Portas, 4 de Março de 1982, semanário “Tempo”, (“Civis, Laicos e Europeus”)
“Não tem nada a ver com a Europa um país em que o discurso da social-democracia sobre as questões morais se limita a dizer que o aborto é a restauração da pena de morte. É próprio dos mais conservadores dentro dos conservadores, e sul-americano concerteza. Não tem nada a ver com a Europa que a livre iniciativa seja um palmarés deixado vazio, preterido pelas fáceis e dóceis concessões às corporações fácticas. É próprio dos Estados sobretudo confessionais e não de sociedades civis dinâmicas. Não tem nada a ver com a Europa que se regrida a ponto de substituir o acto livre e consciente, por isso pleno e sublime de escolher uma religião, pela imposição de um princípio de obrigatoriedade, por isso sem elevação, nas escolas, de uma confissão. É próprio do passado.”
Paulo Portas, 12 de Maio de 1982, “A Europa Mora ao Lado”, pg. 8, Tempo,
“Nesta coluna não deixei de fazer notar divergências a uma série de atitudes e propostas que não se coadunavam com princípios modernos de relacionamento entre a sociedade, o Estado e as instituições. Assim se fez quando o Governo anunciou a concessão de um canal de Televisão à Igreja; assim se fez quando surgiu na maioria um discurso primitivo e desinteressante a propósito das questões éticas ou morais, como o aborto, mais afeito a ‘slogans’ que à percepção de um problema que não é fechado; assim se fez, recentemente, a propósito da reintrodução da obrigatoriedade das aulas da religião e moral nas escolas, por considerar-se a escolha religiosa um acto só sublime quando livre.”
Paulo Portas, 20 de Maio de 1982, semanário “O Tempo” (“O Fascínio de João Paulo”)
In Barnabé, http://barnabe.weblog.com.pt/
Publicado por: zippiz às março 2, 2004 11:24 PM
zippiz: Em primeiro lugar a minha tese não estava relacionada com a questão da IVG. Era sobre a forma como alguns intelectuais se comportam.
Mas já que você trouxe esse assunto à colação, e sem querer defender P Portas, deixe-me dizer-lhe que na época, julgo, porque teria então uns doze anos, havia uma total proibição do aborto. Essa lei foi mudada entretanto e a Zita Seabra teve um papel importante nessa campanha e conduziu-a com muita habilidade.
Portanto não é líquido que Portas não esteja a defender uma moldura penal que é a que existe hoje. Mas isso terá que perguntar ao Portas.
Por outro lado, segundo ouvi dizer, Portas teria então 18 anos. Eu, por exemplo, mudei muito entre os 18 anos e hoje. Já votei PC (91), PS (95), BE (99-só para chatear o Guterres!)) e PSD sucessivamente e apenas uma vez em cada um (isto para a AR) ... e depois? Alguém me irá pedir responsabilidades?
Melhor, não me parece que tenha mudado assim tanto. O que aconteceu é coloquei como prioridade uma gestão mais eficaz da coisa pública em vez de considerar prioritária a ideologia política em abstracto.
Publicado por: Joana às março 2, 2004 11:58 PM
E o que é que o Portas disse quando tinha 5 anos?
Publicado por: fbmatos às março 3, 2004 01:08 AM
Cara Joana,
Dado que, como afirma em artigo, não discute a IVG e dado que, como afirma em resposta a um dos intervenientes, não discute as posições de Paulo Portas, resta-me divagar sobre o que não escreveu...
Mas, para isso, será necessário, primeiro, fazer umas correcções ao que respondeu a esse um dos intervenientes.
Primeira Correcção: Paulo Portas não teria, segundo ouviu dizer, 18 anos mas, sim, 20. Poderá não parecer grande a diferença, mas é só para que não restem dúvidas. Nasceu em Setembro de 1962 e escreveu os artigos em causa em 1982.
Segunda Correcção: nenhum dos artigos, quando lido na íntegra, pode levar à leitura de que foram escritos dentro de "outra época" ou de que "a moldura penal era diferente". (poderá lê-los em http://homepage.mac.com/ruitavares/.Pictures/Photo%20Album%20Pictures/2003-11-11%2019.00.45%
e em
http://homepage.mac.com/ruitavares/.Pictures/Photo%20Album%20Pictures/2003-11-11%2019.00.45% ).
Voltando, então, à minha divagação sobre o que não escreveu, parece-me que a Joana apanhou o vírus do "futebolês" que grassa no país: tudo se resume ao "o meu marcou mais que o teu" ou, o que é o caso " o meu assinou mais que o teu"
Ainda bem que cerca de 300 e tal mil cidadãos deste país se mexeram (os tais 120.000 + os tais 200.000): é sinal de que nem tudo estará perdido em favor das partidocracias.
Se a questão se resumisse a ver quem apresenta mais assinaturas, estaria tudo resolvido.
Mas, a questão não só não se resolve com assinaturas como, a meu ver, deveria ser resolvida em sede própria, isto é, na Assembleia da República.
E, aqui, estamos de acordo: os tais intelectuais estão muito afastados da realidade.
A realidade está nos Deputados da Assembleia da República e não nos gritantes "assinantes" de petições ou de pedidos de referendos.
Obriguem-se os Deputados a votar e a legislar.
Depois... bem, depois saberemos com o que contar para a próxima vez que se votar.
Em todo o caso, desculpe-me por intervir intelectaulmente num local de opinião pública como o seu.
Um abraço.
Publicado por: re-tombola às março 3, 2004 03:22 AM
re-tombola: está desculpado ... e intervenha sempre que lhe aprouver, a propósito, como agora, ou mesmo que pense que é a despropósito.
Como escrevi, não estava segura da situação existente na época Tenho ideia que a lei em questão foi mudada depois daqueles artigos, mas não estou certa, nem agora tenho tempo para ir incestigar esse assunto, que não me parece muito relevante.
Se as datas que indicou são verídicas, Portas poderia ter afinal 19 anos. Eu também nasci num dos últimos meses do ano e detesto que, por subtracção, me acrescentem um ano à idade!!.
Eu limitei-me a escrever que "segundo ouvi dizer" ... ora quem disse que tinha 18 anos foi justamente o Portas, ontem à noite.
Mas iso é relevante? Em primeiro lugar as pessoas têm direito a mudarem de opinião e em segundo lugar vir desenterrar peripécias da adolescência é de quem tem poucos argumentos, ou é parvo, ou é ambas as coisas.
Publicado por: Joana às março 3, 2004 09:16 AM
Já agora, antes que me critiquem pelo que disse sobre as mudanças de opinião de Sousa Franco em face do que escrevi no comentário anterior, eu, neste caso, não critiquei Sousa Franco pelas mudaças de opinião. Pelo contrário, critiquei-o por manter as mesmas opiniões sobre a sua desastrosa gestão financeira e pela sua petulância.
Quem critiquei foi o PS, porquanto depois do que se passou e das contendas que houve, a escolha de Sousa Franco deixou-me, no mínimo, perplexa.
Publicado por: Joana às março 3, 2004 09:20 AM
Cara Joana
Sobre o que está em questão hoje na AR não é se se está a favor ou contra o aborto.
Julgo que contra estamos todos, mesmo as mulheres que têm que abortar, por motivos como sejam os familiares (pressão dos pais sobre as jovens adolescentes) ou profissionais (a Joana sabia que há empresas que não empregam mulheres jovens que pretendam engravidar, ou cessam os contratos a termo se eles engravidarem?).
E sabia que se se estiver a trabalhar a recibos verdes nma empresa de um jovem empresário de sucesso, as mulheres que tenham filhos dificilmente terão direito aos 4 meses de licença de parto?
Julgo que saberá.
O que está em causa hoje na AR é votar pela discriminalização do acto de abortar.
Só isso.
Quanto às 190.000 assinaturas, ou a Joana acredita nas minorias silenciosas dos saudosos tempos do 28 de Setembro de 74, ou acredita no pai natal.
Ou acha que para a recolha de tantas assinaturas, se elas forem autênticas, não houve mãozinha do CDS e do PSD junto das bases (já que me parece que o CDS sozinho teria dificuldade em arranjar tantas assinaturas)?
Publicado por: Al_Mansour às março 3, 2004 12:28 PM
"...Eu, por exemplo, mudei muito entre os 18 anos e hoje. Já votei PC (91), PS (95), BE (99-só para chatear o Guterres!)) e PSD sucessivamente e apenas uma vez em cada um (isto para a AR) ..." (citação de Joana)
Wow!!!!
Joana tem entre 30 e 35 anos!
E tem stamina para dar e vender!
Se o voto correspondeu à consciência, em 91 Joana escrevia contra o PS e o PSD, em 95 escrevia contra o PC, em 99 escrevia contra todos à sua direita e hoje escreve contra todos à sua esquerda.
Um espanto!
# : - ))
Publicado por: (M)arca Amarela às março 3, 2004 07:22 PM
Al_Mansour em março 3, 2004 12:28 PM:
Francamente não sabia que tinha sido o Pai Natal que tinha recolhido aquelas quase 200.000 assinaturas. Eu não assinei e só soube da existência da petição ontem, quando veio anuciado nos jornais que ia ser entregue.
Quem acredita em maiorias silenciosas são os intelectuais que desdenham a opinião da ralé, a remete ao silencio e a torna uma maioria silenciosa, ou melhor, silenciada.
Publicado por: Joana às março 3, 2004 08:22 PM
(M)arca Amarela em março 3, 2004 07:22 PM
Estou perto do limite superior do intervalo que referiu.
Como já observou, eu critico aquilo que acho que devo criticar, independentemente dos partidos.
Tenho criticado aqui, por diversas vezes as políticas de ministros e secrertários de Estado da coligação. Faço agora, e fiz in illo tempore
Há todavia para mim, hoje em dia, alguns valores fundamentais. E talvez o mais fundamental é tirar o país do atoleiro em que está.
E isso não se faz com laxismos, absentismos, distribuir o que não há, etc.. Faz-se com rigor, apostanto na qualificação e na produtividade, encontrando mecanismos capazes de avaliar o desempenho das pessoas e dos serviços, principalmente na função pública, para ver se construímos um país moderno e próspero.
Este governo é pouco competente, mas a oposição deixa-me aterrorizada. Entregar novamente o país àquela gente seria um suicídio.
Espero sinceramente que haja uma profunda reviravolta do PS para ele se tornar uma alternativa viável.
Publicado por: Joana às março 3, 2004 08:31 PM
Possam os deuses ouvi-la (ou melhor, lê-la). Se não houver uma alternativa viável, Portugal pode tornar-se no palco de uma tragédia shakespeareana em que morre tudo no fim.
# : - ))
Publicado por: (M)arca Amarela às março 3, 2004 10:08 PM
(...)eu critico aquilo que acho que devo criticar, independentemente dos partidos.(...)
Joana ,
em outro post seu tentei (penso que consegui) mostrar que Vc o máximo que "criticou" PPortas neste meses foi numa breve referência relacionada com a Imigração.Vc , como se provou pelo seu escrito de Outubro de 2003 ,não ctiticou PPortas e ainda se deu ao luxo de apontar as baterias para outros, nomeadamente Pacheco Pereira .
Nesta altura seria de bom tom assumir que "casou" com o CDS populista e profundo e que uma critica séria sobre o papel do CDS nesta coligação é coisa que os seus leitores vão ter que esperar bem sentados.
ps: podia aproveitar para comentar o silêncio ensurcedor da direção do CDS acerca do arruaceiro Avelino Ferreira Torres.
Publicado por: zippiz às março 3, 2004 10:15 PM
Pois é Joana, estas suas últimas palavras revelam bem o actual drama nacional, o dilema de todos os portugueses. Votar ou abster-se ? Votar no menos mau ou ensaiar exercícios de auto-ilusão, autenticas profissões de fé acreditando na renovação das pessoas que têm acesso ao poder ? Pessoalmente, não acredito um segundo na actual classe política. Jogar de acordo com as regras não conduz a muito, em termos práticos. Dou-lhe um exemplo:
- Autárquicas de 2001, candidato numa autarquia da Grande Lisboa. 1ª questão: fundos para a campanha. 2ª questão: sabotagem da comunicação social. Embora a candidatura legalmente reuna condições de acesso, logo á partida existe uma sabotagem inicial de praticamente todos eles, televisões privadas, TSF, etc. Enfim, resumindo, num universo de mais de 150.000 votantes tivemos novecentos e tal votos, pagámos nós a campanha, e saiu a cerca de 1 conto de reis por voto. Mesmo assumindo alguma economia de escala nos grandes partidos, as contas são fáceis de fazer. Contraste-as com as contas oficiais publicadas pelos partidos (PS+PSD) e tire as suas conclusões.
A actual classe política deixou descambar o sistema recorrendo a práticas criminosas para se financiar e agora pretendem branquear a imagem com meras e ligeiras alegações, que reconhecem o problema (mas aparentemente nada fazem para o solucionar, apenas tentam aprimorar a engenharia financeira das ilegalidades cometidas) ? As referências do PR sobre este assunto foram patéticas, pois não foram visíveis medidas concretas e com alcance prático, que se deveriam seguir aos discurso públicos sobre a matéria.
Eu sou de opinião que os portugueses têm esta situação já interiorizada, independentemente do seu grau de intelectualização, mas não aceite. Trata-se de matéria em que dificilmente os políticos poderão esperar encontrar resignação e aceitação por parte das pessoas. Apenas vejo uma saída. Renovação das pessoas, onde aí sim, talvez pessoas como você tenham algum papel a desempenhar.
O caso F. Felgueiras, por exemplo, é ilustrativo.
Até que se saiba a verdade (se chegarmos a saber) tudo aquilo parece uma história de Ali-Babá e os 40 ladrões. Um dos ladrões obviamente fugiu, não lhe agradou o papel de bode expiatório, e o Ali-Babá continua por aqui, na maior, fingindo ser gente séria. E repare, que a comunicação social, se quiser, pode perfeitamente pegar numa ponta da meada. Qualquer jornalista estagiário, com 3 ou 4 perguntas no Rio de Janeiro sabe facilmente onde encontrá-la. Porque é que a história praticamente parou no directo da RTP do Rio de Janeiro ?
Enfim, desculpe ter tomado tanto "tempo de antena" aqui no seu blog, mas hoje deu-me para aqui...
Publicado por: LA às março 3, 2004 10:37 PM
Eu nunca pensei que umas simples 200000 assinaturas pudessem ser de tão dificil digestão aos discipulos do Louçã!
Faltou a minha para ser mais uma.
Lembrei-me da Táctica do Quadrado.
Veio o Louçã com toda a cavalaria e perante uns pobres "pé em terra" cairam nas "lobas".
Gostei da aflição do nosso conhecido ZIPPIZ.Colou e voltou a colar.Se não foste tu foi o teu pai.O menino Portas brincava à batalha naval e os ZIPPIZ's vesgos ainda vêem um Ministro da Defesa com o mesmo jogo no papel quadriculado.
Tenha paciência para aturar estes BE's !!!!
Publicado por: ZEUS8441 às março 4, 2004 08:23 PM
só pode ter sido uma cabala contra PPortas !
Publicado por: zippiz às março 4, 2004 09:34 PM
Foi uma surpresa para mim quando soube das 200.000 assinaturas. Isto depois da propaganda das outras, deve ter sido um balde de água fria para os que se julgam que sabem tudo
Publicado por: Cerejo às março 4, 2004 11:21 PM
do Público de 4-fev-04 ( sem comentários) :
"À iniciativa da associação "Mais Vida, Mais Família" compareceram diversos movimentos (Ajuda de Berço, Mulheres em Acção, Movimento de Defesa da Vida, entre outros) e dezenas de alunos de colégios da capital (externatos Planalto e Escravas do Sagrado Coração de Jesus), que foram dispensados das aulas para participar na marcha"
Publicado por: zippiz às março 4, 2004 11:51 PM
Caro ZEUS8441 em março 4, 2004 08:23 PM ,
Essa da Táctica do Quadrado é perigosa quando utilizada em tempo de decadência...
Ou já não se lembra de Átila? O huno derrotou a tal tática do quadrado romano disparando setas para o ar e depois, enquanto os romanos se defendiam com os escudos virados para cima, disparou directamente em frente...
O facto é que, sem querer, Átila acabou por dar força ao Papa romano da altura (e nessa altura havia 5 papas espalhados pelo mundo) e a dar origem àquilo que hoje chamamos civilização ocidental (a tal de raízes judaico-cristãs)...
Esperemos que a sua defesa da da Táctica do Quadrado não venha a originar outros papas...
É que com tantas conversetas contra o Louçã & Cª ele já vai em 2 Deputados e parece que a tendência é para subir.
A da Táctica do Quadrado, quanto a mim, só funciona contra não-Bárbaros...
Publicado por: re-tombola às março 5, 2004 04:24 AM
Muito bem recortado o perfil do intelectual que temos por contraposição ao que gostariamos que fosse, pegando no Louçã, que terá sido um instrumento para o raciocínio. Se olhassemos para o outro lado, veriamos Pacheco, tomado como exemplo, a defender contra a maioria da opinião pública, a tese de que a guerra no Iraque foi necessária, bem fundamentada e recomendável.
Parabéns pelo post.
Publicado por: Pedro Lima às março 6, 2004 08:16 PM
Cara Joana
Espero que não sinta, esta minha vaga de comentários, como uma " perseguição " mas é que não consigo ficar com os dedos quietos perante tamanhas " artimanhas " de uma INTELECTUAL... à qual lhe é exigido no mínimo seriedade Intelectual ou ética como queira !
Ia lendo seu artigo de opinião... ( é a sua, e tem direito a ela ) quando você fez uns atropelos à minha inteligência "esguia".. esguia para para ficar esmagadinho, tal o atropelo !
Ora aqui vamos:
Ontem, um movimento que eu desconhecia...........
ESTA AQUI É A 1ª GRANDE MENTIRA, QUE PASSA como " quem não quer a coisa " , como se diz cá neste povinho..... e vai daí remata com o resultado pretendido ....,
.... já atingido as 190.635 assinaturas para uma petição sob o lema «Mais Vida, Mais Família», contra a despenalização do aborto, petição que seria entregue hoje a Mota Amaral
Isto minha cara intelectual, é um atentado terrorista à minha inteligência e à de muita gente. Porque é colocada, elaborada de maneira falaciosa...manhosa...tipo " Correio da Manhã " !
Então, a Sra. porque imagina, o esforço que é necessário para ter 190.000 assinaturas ?
Mas pense bem...imagina mesmo.... já alguma vez, andou com um abaixo-assinado a recolher assinaturas ou só sabe dos livros da biblioteca ou que é isso ?
Por isso lhe chamo atentado à inteligência.
Por isso lhe digo que não é séria.
Olhe, sem fazer pesquisas... nem de bibliotecas, nem de estatísticas parolas, lhe digo assim claramente e sem me enganar, que a ORGANIZAÇÃO DESSAS 190.000 ASSINATURAS É A MAIOR DE PORTUGAL !
Chama-se religião Católica Apostólica Romana que Domina ainda este Povo.
E se os distraídos, julgam que ela já não tem os poderes de outrora, só pelo que você acabou de escrever...comprova o que acabei de dizer.
O maior partido em Portugal, foi, e ainda é a Religião Católica.
O maior propriétário Foi e ainda é a Religião.
O maior em Adeptos foi e ainda é a religião !
quer mais ? realmente você até irrita um Santo !
Em Portugal há dois países: o país dos meios intelectuais, que está omnipresente em tudo o que é comunicação e prolixidade de ideias, e o país dos não-intelectuais, que constitui, infelizmente, a esmagadora maioria da população.
(deveria aqui acrescentar, que essa maioria ignorante, é dominada pelos intelectuais religiosos, que às boas maneiras Talibans, não perdem uma ovelha do seu rebanho ! )
Em qualquer país evoluído o intelectual é alguém ligado ao seu povo, cuja instrução e interesse pela cultura lhe permitiu sobressair da mediania, mas que compreende e sente o povo a que pertence
Esta parte final do seu texto, julgo que a enquadro no seu auto-retrato... é a sua consciência a falar..é o seu lindo espelho !
DE FACTO COM INTELECTUAIS DESTES, que conhecem os autores e todas as matérias, QUE ESTUDARAM Platão, sabem de cor a sapiência de Sócrates, declamam Camões ou Pessoa com a facilidade que eu bebo uma bica, que conseguem explicar qualquer assunto, que não dão erros ortográficos, que desde pequeninos sempre fizeram tudo direitinho, que têm médias de 18,19, ou até de 20 valores...
e mesmo assim.... não conhecem o povo ao qual pertencem, direi... tanta COLTURA PA QUÊ MAN ?!
Publicado por: Templário às março 16, 2004 08:25 PM
Templário: julgo que o país que retrata, no que respeita à influência religiosa, talvez ainda exista em alguns locais remotos do norte do país, mas não deve ter sido essa gente que assinou a tal petição.
À quanto tempo não sai de casa e dá uma volta por aí? O país já não é o mesmo do tempo do "Crime do Padre Amaro"
E para mostrar que não considerei que houvesse perseguição, respondi a tudo ... não foi um trabalho, foi um prazer
Publicado por: Joana às março 17, 2004 12:25 AM
Cara Joana
Acaba sendo simpática, mas sabe esquivar-se ao confronto de ideias, sobretudo quando me parece que foi " apanhada " nas falhas tendenciosas que apresenta, fruto da tal mentalidade que a deixa " agarrada à mentalidade do tempo do Eça, e acabo sorrindo, com consegue precisamente evocar o Grande Crítico Eça de Queiroz .
Quem leu o meu comentário e a sua resposta, verificará que que lado está a boa visão e análise desta questão da petição.
Por vezes fala de números e contas, portanto lhe digo que se você pegar na tal petição e conseguir umas 12 assinaturas por hora...é muito bom, pois dá 5 minutos por cada.
Como não é profissional do ramo, nem é paga, o seu voluntariado é de 3 horas por dia, ( oque é bem, bom ) e consegue assim umas 36 em 3 horas, o que é optimo.
190635 a dividir por 12 = 15.886 horas
vamos supor que temos 100 pessoas nessa tarefa.
15886:100pessoas x3 horas=
15886:300= 53 dias
resumindo
qual a organização deste País que consegue 100 voluntários a trabalhar afincadamente durante 53 dias ?
Já nem O PCP !
portanto não me fale de assinaturas tipo geração espontânea...please..olhe a minha inteligenciazinha..que é sensível...
cumprimentos intelectuais :))).
Publicado por: Templário às março 17, 2004 10:25 AM