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outubro 31, 2003

Políticas do Ambiente 2

A questão do ICN

Há duas coisas que têm que acontecer para bem do país. O ICN tem que ser mudado de alto a baixo e as florestas têm que estar sob a mesma tutela das áreas protegidas, seja ela qual for.

O desleixo governamental de décadas deixou em autogestão uma série de institutos pagos pelo dinheiro dos contribuintes. Assim, em Portugal, começaram a ser classificadas áreas sob os mais variados pretextos: REN, rede natura, biótipo Corine, paisagem protegida, etc., etc. O país ficou todo classificado.

Quando se tentaram construir centrais eólicas, como elas têm que se situar em locais altos e menos habitados, verificou-se que não havia locais disponíveis: estavam todos classificados. Não se podiam abrir valas para a passagem dos cabos eléctricos porque se iria destruir a biodiversidade, as pás do equipamento eólico ameaçavam matar umas aves que tinham o hábito inveterado de passar por ali (como se as aves não fossem mais inteligentes que os seus defensores e capazes, ao fim de 3 ou 4 experiências desastrosas, de escolher outro percurso) … etc., uma desgraça.

Simplesmente a alternativa às centrais eólicas é o incremento da energia térmica e o não cumprimento dos protocolos de Quioto e das directivas da UE. Lá teve que ser: começaram a “desclassificar” as áreas em causa.

Outra ideia peregrina foi a de que a limpeza das matas e florestas destrói a biodiversidade. Não me refiro obviamente às queimadas, mas à desmatação, ripagem e frezagem executadas por meios mecânicos. Um distinto membro de uma protecção de uma liga de defesa da vida selvagem, em carta enviada ao Público, em Agosto, no rescaldo dos incêndios, era contra essa limpeza, dizendo que o que era necessário eram meios de prevenção e veículos todo-o-terreno. A desmatação liquidava a biodiversidade.

Aquele intelectual urbano amigo dos animais nunca deve ter visto uma floresta após meia dúzia de anos sem tratamento. As florestas ao encherem-se de mato ficam absolutamente intransitáveis. Não há veículo todo-o-terreno que lá entre! Só um tractor com a alfaia adequada que vai desmatando à medida que vai progredindo.

Aquele intelectual urbano amigo dos animais nunca deve ter visto mato a arder. A velocidade com que o fogo avança no mato, no verão, é medonha, é sinistra, é imparável. É muito difícil deitar fogo a uma árvore, mas se o mato à sua volta estiver a arder, a intensidade calorífica gera temperaturas elevadíssimas, as chamas passam à folhagem e aos ramos e rapidamente alastram às copas. Os caules não ardem, visto conterem muita humidade, mas as árvores não sobrevivem e terão que ser abatidas.

Ora muitos agricultores têm-se queixado que técnicos do Estado os impediram, em devido tempo, de proceder à desmatação de matas e florestas exactamente para proteger a biodiversidade.

Os técnicos que o fizeram, no seu desdém pela ignorância dos rurais, ainda não se devem ter dado conta da sua actuação criminosa, pois para eles apenas contam os imortais princípios da defesa da biodiversidade. Mesmo que o resultado seja o aniquilamento dessa biodiversidade. Mas aí há um alibi forte: a culpa é dos outros - quem pegou fogo, a mão criminosa, falta de meios dos bombeiros, etc..

Por isso o ICN (onde julgo que não há um único geólogo, como se a geologia não fizesse parte da natureza) terá que ser remodelado profundamente. Presentemente é uma organização perversa: paga pelo dinheiro dos contribuintes para criar situações calamitosas ao país.

Publicado por Joana às outubro 31, 2003 07:48 PM

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Comentários

Eu sou da zona de Portalegre e houve agricultores de cá indignados com isso e que culparam esses gajos da resposabilidade pelos incêndios

Publicado por: C Ventura às outubro 31, 2003 08:54 PM

Essa mania da classificação das áreas tem ajudado à desertdo país.

E facilitou os incêndios. Porque será que em Portugal os incêndios, os grandes, começam sempre em áreas protegidas?

Publicado por: Rui Silva às outubro 31, 2003 11:02 PM

Corrijo:
Essa mania da classificação das áreas tem ajudado à desertificação do país.

E facilitou os incêndios. Porque será que em Portugal os incêndios, os grandes, começam sempre em áreas protegidas?

Publicado por: Rui Silva às outubro 31, 2003 11:03 PM

Há lobbies e lobbies e um deles é o que se esconde por trás de questões tão importantes como as do ambiente. Por outro lado, reina um conceito velho e ultrapasado de áreas protegidas, em que estas são vistas como meio fechados e isolados - o que é totalmente incorrecto. Não são meios fechados mas têm um inter-relacionamento com o meio envolvente. Esquecem-se facilmente que as nossas áreas protegidas são áreas humanizadas, existem populações e, demonstra-se, que aí onde existe uma maior intervenção das populações é onde há maior valor de conservação da natureza e ali onde os poderes das APs afastaram a as populações e a intervenção humana é onde decaiu esse mesmo valor...
Quer se queira quer não, a maior parte da nossa floresta é uma floresta plantada, não é uma "floresta natural" que, aliás, ninguém sabe ao certo como era nos primórdios...
Dunas de S. Jacinto, o que existia lá antes do pinhal ser semeado? Nada! areia e dunas...
bem fico-me por aqui, desculpem lá.
vasco

Publicado por: vasco paiva às novembro 2, 2003 11:16 PM

Se você se mete com o ICN tem os ambientalistas todos à perna. Espero que corra bem e tenha a perna rija.

Publicado por: KK às novembro 5, 2003 10:31 PM

Óptimos trabalhos amiga.
Do mais sensato que lhe tenho lido.
Já pensou em se dedicar a esta área?

Publicado por: Marapião às novembro 6, 2003 08:08 AM

eu acho que nos deveriamos de ter um pouco mai de respeito com a nossa mae natureza por que é ela que nos da o em que respiramos vocês não acham pois eu acho que esses que desmatam a natureza não penssam na possibilidade que eles tem de matar todos nós. bom esse é o meu comentario sobre isso.....

Publicado por: monica pelentir de oliveira às fevereiro 16, 2004 04:21 PM

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