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outubro 02, 2003
A descida do Maelstrom
A descida do Maelstrom - Bush
Actualmente, o mundo faz lembrar a forma irreversível como as potências europeias, incapazes de dirimir os seus interesses com prudência e ponderação, foram conduzidas para a terrível conflagração da 1ª Guerra Mundial, embora a situação seja, quantitativamente, muito distante e se espere que os seus efeitos sejam muito menos devastadores.
A administração Bush foi incapaz de analisar, com objectividade, o sentimento da comunidade internacional, agastada com a sua sobranceria e sem compreender a sua política errática e sem coerência. Vítima do seu unilateralismo, a administração Bush avançou para uma guerra sem se aperceber que teria muita dificuldade em promover uma coligação alargada, nas condições em que actuou.
A partir de uma certa altura, Bush, na via por onde tinha enveredado, já não tinha alternativa para a guerra, a menos que retirasse e deixasse Saddam a vangloriar-se que havia derrotado o Grande Satã e numa posição política muito mais forte que anteriormente.
A descida do Maelstrom - Saddam
Saddam fiou-se em demasia no patrocínio da França e da Rússia, contando com os avultados interesses económicos que aquelas 2 potências tinham no Iraque. Durante 12 anos fez gato-sapato da comunidade internacional, não se desarmando e mantendo ou ampliando, porventura, o seu arsenal bélico. Apenas nos últimos meses, com Bush “ad portas”, começou a aceitar as inspecções e o desarmamento a conta-gotas, negando a existência de armas, para reconhecer a sua existência tempos depois, e assim sucessivamente.
Mas mesmo assim, Saddam não se demite. Saddam está, como os dirigentes nazis nos últimos meses da guerra, à espera do “Milagre da Casa de Brandenburg”, que permitiu a Frederico o Grande, da Prússia, salvar-se de uma coligação mortífera da Áustria, Rússia e França, por rotura imprevisível dessa mesma coligação, numa altura em que a posição de Frederico era desesperada. Quando Roosevelt morreu, Goebbels viu aí um sinal de que esse milagre estaria próximo o que, felizmente, não veio a acontecer.
Do mesmo modo Saddam agarra-se à esperança que algo aconteça que trave a máquina militar americana – pressão francesa e russa; efeitos “colaterais” reais ou empolados, que aumentem a hostilidade da opinião pública mundial e, principalmente, americana e que tornem insustentável a posição de Bush; etc..
A descida do Maelstrom – Chirac e Putine
A França e a Rússia, na defesa dos seus interesses petrolíferos no Iraque, seguiram durante os últimos anos uma política concertada de apoio a Saddam, ajudando ao enfraquecimento progressivo das inspecções e facilitando, mesmo que essa não fosse, porventura, a sua intenção, a manutenção da política dissimulada do ditador iraquiano.
Mais recentemente, a França, pela sua declaração peremptória e definitiva sobre o uso do veto, ficou sem possibilidade de recuar, sem perder a face e, simultaneamente, deu alento a Saddam na sua obstinação.
E assim, mercê de uma incapacidade em dirimir uma situação no interesse geral da comunidade internacional, o mundo vai ser arrastado para uma guerra cujas consequências são imprevisíveis.
A descida do Maelstrom – Que consequências ?
Quando digo que as consequências são imprevisíveis não me refiro ao resultado militar imediato, embora o prolongar da guerra possa trazer muitas complicações aos anglo-americanos, devido ao aumento da hostilidade da opinião pública.
Refiro-me à eventual escassez de crude, se não for possível evitar o incêndio dos poços de petróleo, e à consequente degradação da situação económica mundial e em Portugal, em particular.
Refiro-me à “gestão” do Iraque no após-guerra com o vazio de poder e 3 grandes grupos étnicos a digladiarem-se entre si, com a Turquia à espreita, no que toca ao Curdistão, e o Irão à espreita, no que toca aos shiitas.
Refiro-me às eventuais novas linhas de força que possam emergir na Arábia Saudita, etc., etc..
O pai Bush, para ter algum apoio dos países árabes, prometeu uma nova via para a questão palestiniana. Foram dados passos interessantes na direcção certa. Todavia, o assassinato de Rabin fez inverter o processo e, hoje em dia, o falcão Sharon e o corrupto Arafat estão num impasse cuja principal vítima é o povo palestiniano, mas em que o povo israelita também é seriamente fustigado.
É vital sair desse atoleiro e retomar o processo de paz e seria importante que a administração Bush se apercebesse disso e agisse em conformidade, visto serem os USA que sustentam militarmente, e não só, o Estado de Israel.
Nas Lages fez-se menção à viabilização de um Estado Palestiniano. Veremos se é apenas retórica ou se se trata de algo consistente.
18-Março-2003
Publicado por Joana às outubro 2, 2003 12:31 PM
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Comentários
Olhe que esta previsão bateu quase toda certa. Parabéns
Publicado por: Rita às maio 27, 2004 03:50 PM