Os dados estão lançados para mais uma encenação eleitoral. Os protagonistas estão ensaiados e sabem as marcações e as deixas. Os protagonistas destacados para o palco são exímios na arte de iludir; os protagonistas destacados para a plateia treinam-se há séculos a acreditar naquilo que querem acreditar, mesmo tendo a experiência que tudo o que for prometido se irá revelar depois uma refinada mentira.
É difícil avaliar porque é que estes protagonistas aceitam fazer reposições periódicas e regulares desta tragicomédia. Uns asseveram que os protagonistas-actores são constrangidos a mentirem porque os protagonistas-espectadores têm medo da verdade e preferem a tranquilidade ilusória da mentira. Outros asseguram que os protagonistas-actores mentem porque são incompetentes e apenas anseiam por continuarem no palco, mesmo à custa de iludirem os protagonistas-espectadores, que não passam de ingénuos iliteratos, que caem sempre no mesmo conto do vigário.
Parece-me que ambos têm razão. Os portugueses sempre se iludiram a si próprios, partindo do princípio que a tragédia que se perspectiva, apenas irá atingir os outros. Cada um pensa que acabará por se safar da enrascada. Esta percepção é comum em todos os domínios da relação do português com as instituições.
Com frequência inusitada, os governos legislam disposições insensatas, com efeitos colaterais que não avaliaram devidamente. Na Europa civilizada, tal conduziria a movimentos de opinião poderosos, aparecimento de organizações cívicas criadas unicamente para liderar a opinião pública no combate contra essa legislação. Em Portugal é o silêncio. Cada um pensa ... cá me hei-de safar. E o que é singular é que, na generalidade, safa-se. O mau funcionamento das instituições, a inércia dos cidadãos em cumprirem as disposições legais e o laxismo geral do país faz com que esses instrumentos legais caiam rapidamente em desuso, sejam esquecidos e ninguém lhes ligue.
O mesmo tem sucedido com as promessas políticas. Até há poucos anos este jogo de ilusões tinha funcionado. Os políticos cumpriam algumas das promessas, a população ficava satisfeita, meses depois a desvalorização cambial fazia ruir vantagens adquiridas, mas todos esses mecanismos complicados escapavam à compreensão geral das populações ... era a fatalidade do destino. E na eleição seguinte novas promessas insustentáveis, a mesma crendice, e os mesmos resultados.
O último grande comediante destes enganos foi o Actor Guterres. O crédito fácil e a descida das taxas de juro proporcionados pela adesão ao euro, a aplicação da diminuição dos encargos com a dívida pública na criação de empregos públicos desnecessários e nas benesses improdutivas distribuídas a esmo. Todavia, a actuação do Actor Guterres não permitia uma reposição. Os ingredientes dessa actuação tinham sido consumidos no acto.
A ressaca foi terrível. Foi como que o despertar dos Paraísos Artificiais criados por dose excessiva de ópio. Esperava-se que o país reagisse, lutasse ... e afinal o país apenas anseia que lhe sirvam a próxima dose de ópio.
E os políticos vão servir-lhe. Começou pelo OE 2005, onde Santana Lopes descobriu, surpreendentemente, que a austeridade tinha acabado e que era possível aumentar o rendimento disponível das famílias, quer através de aumentos salariais, quer através da diminuição do IRS por troca com os benefícios da poupança. Ao apostar no consumo das famílias por contrapartida da poupança, Santana deu o sinal que uma suave dose de ópio seria administrada ao país para lhe diminuir a ressaca.
E o PR, ao dissolver a AR e ao marcar eleições antecipadas, foi o dealer que a classe política ansiava, ávida por distribuir mais doses maciças de estimulante tão poderoso.
E assim tudo se perfila para que a comédia de enganos continue.
Santana Lopes perdeu a coragem política que o seu passado sugeria ter. Capitulou perante o vampirismo da comunicação social e a hipocrisia das manobras presidenciais. Também promete quimeras. Em vez de denunciar e combater a mesquinhez, fica incomodado.
Sócrates quando não diz banalidades, quando promete coisas específicas, estas promessas são imediatamente limadas ou corrigidas por aqueles que lhe fazem o programa. Só promete generalidades: empregos, sem especificar onde; o PS ser amigo das políticas sociais, sem especificar onde leva essa amizade; substituir os Hospitais S.A. pela mesma coisa, mas com outro nome e com os boys do Correia de Campos nas administrações; etc.
Portas tem a tarefa mais facilitada. Escusa de prometer seja o que for, pois se sabe que só irá para governos como sócio menor. Assim, basta-lhe apresentar o currículo dos seus ministros e vender a ideia que a coligação ruiu por inabilidade do parceiro.
Quanto aos outros, não fazem parte do regime. Apenas o querem enxovalhar e destruir, mas sem nada para oferecer em troca. O BE ainda teve pretensões em chegar-se ao conchego do poder, mas a elaboração das listas do PS mostrou claramente que Sócrates não apostava nessa carta. A única solução para Sócrates é a maioria absoluta. Aliás, só há duas soluções para o país evitar o colapso imediato: 1) o PS ter a maioria absoluta; 2) a Direita, coligada ou não, ter a maioria absoluta.
A solução em que uma parte do PSD aposta é a liquidação política de Santana nas eleições de Fevereiro, o semi-colapso do país com Sócrates durante a próxima legislatura, admitindo que ele chegue ao fim da legislatura, e a criação de condições para que o eleitorado aceite o tratamento de choque que o país necessita.
A primeira condição está quase garantida. Não parece que Santana Lopes consiga evitar uma pesada derrota em Fevereiro. Ele próprio comporta-se como um derrotado. Poderia tentar uma reviravolta em debates com Sócrates, mas Sócrates vai gerir uma situação que à partida lhe é vantajosa e não a vai comprometer em debates onde se poderia espalhar. Sócrates vai apostar na derrota de Santana. A sua vitória será apenas a consequência inevitável dessa derrota.
A segunda condição é quase certa. Sócrates não tem base de apoio, na sua clientela política, para tomar as medidas que o país precisa. Sócrates parece-me um político com algum pragmatismo, embora pouco consistente, mas a base clientelar que se perfila detrás dele não permite alimentar esperanças. Além do mais, há duas eleições a seguir e Sócrates irá evitar tomar medidas difíceis no primeiro ano de mandato. Todavia, não tomar medidas equivale a tomar uma decisão calamitosa.
Quanto à terceira condição, já é de prognóstico longínquo e difícil. Tudo depende do estado em que ficar o país, depois do consulado de Sócrates, se este ganhar.
Não cansa até que há-de chegar a altura que ...
Afixado por: Gpinto em janeiro 13, 2005 01:01 AMJanica, nem quero acreditar. Um artigo isento e sem veneno e até falas no Portas, esse intocável. É só duas linhitas, não te comprometes, mas é um princípio. Estou muito contente contigo. Muitos parabéns. Agora não apareças amanhã com outro texto envenenado, ó peste. Bjs e cuidado com os canitos.
Afixado por: Átila em janeiro 13, 2005 01:03 AMFaltou dizer que Durão Barroso também não teve a coragem de dizer a verdade. O tão criticado discurso da tanga afinal foi muito suave.
Bassoso deu a entender que se iria apertar um pouco o cinto e depois seria uma maravilha, o que não verdade. O cinto foi apertado apenas para as calças não cairem, mas o que se precisava era de um novo par de calças ou talvez mesmo uma mini saia, pra não sermos tão exigentes.
Afixado por: Mário em janeiro 13, 2005 10:07 AMPois, o eleitorado português está como os Baudelauires. Só não sabe poesia
Afixado por: Valente em janeiro 13, 2005 10:43 AMTeoria do salve-se quem puder:
Esta teoria, é uma reacção das promessas dos políticos, que falam, falam, falam e não resolvem nada.
Comediante Guterres :
Manteve a economia a funcionar, com ritmo de crescimento superior à Europa.
Comediante PSD/CDS, Barroso/Santana :
Ao retirarem o Crédito agitando o espantalho da tanga, levaram ao seguinte:
- Falência de empresas
- Aumento record de Desempregados
- Aumento assustador do déficit, e até eram poupados, olha se não o fossem... ahahahahah é de rir, é mesmo de rir, do discurso da poupança que resultou em déficit superior ao de Guterres.
Será que o Huno que aqui escreve é este ? http://www.atila-abreu.com
Afixado por: Observador em janeiro 13, 2005 11:59 AM
Depois do Consulado de 8 anos de Sócrates teremos:
- Mais crescimento
- Melhor distribuição da riqueza
- Nova união económica, como os Países de Língua Portuguesa, tornando-se Portugal a Ponte entre África e a Europa.
- Maior humanização na sociedade Portuguesa.
Templario: Você além do ópio anda a abusar da cocaína
Afixado por: Coruja em janeiro 13, 2005 12:34 PMObservador,
Sou eu sou.
Janica, o Observador está com raivinhas. Leva-o ao veterinário para abate.
Afixado por: Átila em janeiro 13, 2005 12:37 PMQuerias!!
Afixado por: anonimo em janeiro 13, 2005 01:04 PMRegisto a crendice do Templário para memória futura. Haja Deus!
Afixado por: Sargento em janeiro 13, 2005 04:11 PMresposta a Templário em janeiro 13, 2005 12:01 PM .
Nao percebeu que o jogo mudou. Na zona Euro , ja' nao ha' desvalorizaçao da moeda, as taxas de juros nao pode deixer mais, os fundos da UE acabaram ou quase, ou paises de leste ja' estao na UE com melhor do que alguma vez Portugal sonhou, a nossa economia insta "de facto" integrada com Espanha, a elite do nosso pais quando pode foge para o estangeiro...etc, etc.. No consulado de "Guterres O Fugitivo" , este teve todos os trunfos na mao é perdeu o jogo. Os que vieram a seguir so' apanharam os duqes e pouco mais. Acha que a margem de manobra do Socrates é diferente da do Santana. Dream on...Dream on...
Nao ha' outra soluçao senao uma revoluçao "tatcheriana" em Portugal. Iremos sofrer durante 10 anos, mas sera' para o bem do nossos filhos.
Joana continue com os seus excelentes artigos. Pelas reaçoes desesperadas e ofensas dos seus enemigos , é sinal que esta' acertar no alvo.
bye
Ethan Hunt em janeiro 13, 2005 06:02 PM
Essa teoria já cansa de facto, e só aquele anúncio do grupo gatos fedorentos, deu em segundos, o que economista reputados andam há anos, e anos com essa treta...
Oiça bem o anúncio, que foi compreendido, por milhões de portugueses, em 6 segundos,
eles, falam, falam...falam, mas não fazem nada !
Olhe sabe que mais, já viu...que apesar de todas as críticas bolíferas, os sportinguistas, já conseguem conversar melhor com os benfiquistas, sem nenhuma acção gorvernamental ???
sabe o que quero com isto dizer ?
É impossível, conversar com pessoas, que falam do Guterres, como o fugitivo, impossível mesmo, e como tal a respostas, não pode ser dada por mim, mas será dada no dia 20 de fevereiro de 2005, pelas 20h, aguarde que já falta pouco !
Olhe já que ninguém sabe, qual foi a MELHOR acção, do Governo CDS/PPD para reduzir o Déficit, vou eu, pela primeira vez referi-lo:
- Foi a acção comandada pela Manela (julgo que a contragosto...) de perdoar os juros das dívidas fiscais atrasadas.
Sabe ou ainda se recorda do resultado ?
Em 3 meses, arrecadou mais de 1000 milhões
...e não arrecadou, muito mais, devido àquela arrogância, do, não pagaste vou-te matar, porque ficou de tal maneira surpreendida, com a atitude dos portugueses, que nem sequer aproveitou aquela dinâmica, para 2 meses depois, lançar o mesmo repto às empresas ( bem sei que elas eram abrangidas na 1ª medida)...mas ao verificar, que muitas delas não PUDERAM CUMPRIR, apresentava um plano tipo Mateus, e calmamente ia arrecadando muitos milhões...
Mas faltou-lhe sensibilidade para perceber a REALIDADE PORTUGUESA, a plicou as TEORIAS DA NOSSA QUERIDA JOANINHA.