Um Remake em Technicolor
Os Reis Magos e a estrela que os teria guiado constituem questões que têm intrigado a humanidade, os investigadores e os viciados no Google, há cerca de 2 milénios. Quem eram os Reis Magos? Donde vinham? Como vinham? Porque vinham? Ao que vinham? Qual o significado da estrela? Seria mesmo uma estrela? Ou um cometa?
Mateus, um talentoso argumentista da Judeia, escreveu que: eis que vieram do oriente a Jerusalém uns magos que perguntavam: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? pois do oriente vimos a sua estrela e viemos adorá-lo, mas esta narração nunca foi considerada suficiente. Milhares de investigadores tentaram aclarar esta questão, mas falharam sempre.
Uma investigação deste tipo tem que assentar no estabelecimento de cenários e sua validação. Foi esta a tarefa que me propus. Comecemos pelo cenário tradicionalista, o mais conforme aos textos litúrgicos.
Neste primeiro cenário era elementar colocar a questão semântica. Um rei é, por definição, o poder executivo. Portanto, segundo este cenário, 3 chefes do poder executivo (naquela época remota, pois hoje seriam poder moderador ou, na Lusitânia, o poder dissolutor) com bagagens recheadas de ouro, incenso e mirra, viajaram, em conjunto, centenas de léguas, ao ritmo lento e bamboleante de camelos escorrendo uma baba peganhenta e fétida, sujeitos a incomodativos enjoos e ao sol inclemente do deserto, perseguindo uma estrela.
Analisemos este cenário e as hipóteses a que a sua validação obriga:
1 É óbvio que, nos reinos daqueles reis, se tinha tornado realidade o desiderato Santanista de um Rei, uma Maioria, pois senão não haveria as indispensáveis autorizações dos respectivos poderes legislativos para os soberanos se ausentarem dos seus estados, ainda por cima, ajoujados ao peso de tantas preciosidades;
2 Outra hipótese necessária é a de que seriam reinos sem défice orçamental nem défice de transacções com o exterior, pois de outra forma a opinião pública e os Bancos Centrais reagiriam mal à saída, para destino incerto, atrás de uma estrela, ou sabe-se lá de quê, de tantas e tão valiosas mercadorias, sem quaisquer contrapartidas nem garantias bancárias.
3 Há um facto surpreendente: os reis deslocavam-se sem escolta adequada. Os pastores, que aparecem no presépio, são obviamente figurantes locais, armados unicamente de cajados. Este dado obriga a formular ou a hipótese de um conflito institucional, todavia infirmada pela hipótese (1) ou, porventura mais verosímil, a hipótese de os Ministros da Defesa, eventualmente indicados por facções de menor expressão eleitoral, quisessem evidenciar o seu protagonismo político, não fornecendo acintosamente as escoltas. Ou, talvez, a ocorrência de um orçamento rectificativo, que transferindo verbas inscritas na rubrica forragens dos muares das quadrigas de assalto, para a rubrica aquisição de ouro, incenso e mirra, impedisse encontrar cabimento orçamental para custear a escolta.
4 Mas o que definitivamente invalida este cenário é a inexistência de jornalistas embedded na caravana régia. Nem sequer jornalistas perdidos na imensidão do deserto, segundo os usos de um país do extremo ocidente europeu, sucessivamente saqueados por Moabitas, Amalecitas, Amonitas, Madianitas, Amorreus, Filisteus e arrumadores de camelos.
Portanto, apenas quatro hipóteses absurdas sustentariam este cenário: um Rei, uma Maioria; ausência de défice orçamental e de défice de transacções com o exterior; ausência de escolta; ausência de jornalistas embedded ou apenas transviados, etc.
Aliás, este cenário apenas foi esboçado por Mateus, muitas décadas depois, quando a memória e as faculdades do piedoso apóstolo já escasseavam.
Sendo assim demonstra-se que o episódio dos Reis Magos, vindos do oriente, orientados por uma estrela, não tem poder explicativo na sua formulação tradicional. Impõe-se a formulação de um novo cenário, com fundamentação mais científica, o Cenário Neo-liberal, por muito que custe aos defensores dos sistemas estatizantes.
Assim, a minha investigação, sempre escrupulosa, baseada numa hermenêutica rigorosa e numa heurística documental precisa, buscou um novo cenário, mais sustentável e inovador.
A primeira observação é a que a palavra rei não é indissociável da soberania de um Estado. É usada habitualmente para designar especialistas numa dada disciplina ou actividade, como por exemplo: Rei dos Livros (cujo território se cinge a um espaço exíguo na Baixa lisboeta; rei dos caloteiros (título de tal forma banalizado que permitiu a concessão da realeza a uma percentagem significativa da população portuguesa, e ao próprio Estado); o rei dos analistas políticos (J A Saraiva, na opinião dele próprio, ou Marcelo de Sousa, o Velhaco Genial, na opinião dos restantes); o rei dos gaffeurs (o ministro Morais Sarmento) o Rei tout court (Elvis Presley); etc..
Portanto, subtraí-me ao erro fatal de que foi vítima Mateus, na sua senectude, e todos os seus exegetas, inclusivamente Bach. Retenhamos esta primeira conclusão: rei é apenas uma pessoa com relevo numa determinada disciplina.
A segunda observação, também igualmente pertinente, resulta da resposta à pergunta: Porque é que aqueles veneráveis anciãos abandonaram as suas terras, o seu conforto familiar, obcecados por um sinal que interpretaram como uma estrela e seguiram esse sinal, léguas a fio, empoleirados em incómodas e enjoativas corcovas de camelos?
Diz-se que estavam obcecados por um sinal, pela luminosidade de uma estrela. Cinjamo-nos aos factos despidos da retórica: os reis magos tomaram uma sequência de decisões em face de sinais, ou de um sinal que ia variando no tempo.
Julgo que as mentes mais astutas, que me acompanharam nesta dedução rigorosa já se aperceberam que chegámos ao âmago da questão. A solução está ao virar da esquina ou, no caso em apreço, ao virar da duna. Qual é a actividade humana em que os seus especialistas tomam as decisões mais inexplicáveis, demandam os locais mais inverosímeis, têm as condutas mais excêntricas em face de sinais que só eles percepcionam e só eles julgam entender?
Quem são esses especialistas? Que sinais são aqueles que tanto os excitaram?
As respostas são doravante simples e elementares:
Quem são esses especialistas? Economistas;
Que sinais são aqueles que tomaram como uma estrela? Os sinais do mercado;
Porque levaram tantas preciosidades? Porque as decisões de investimento são tomadas em face dos sinais do mercado e, naquela época, em que a moeda escritural ainda não tinha curso, os cartões de crédito nem sequer miragens eram no deserto dos Nabateus, a forma de se andar prevenido para investir na altura precisa era trazer permanentemente à arreata uma cáfila de camelos ajoujados ao peso de um sólido carregamento de ouro, incenso e mirra.
Porque é que Mateus errou? Mateus, que tinha o apelido de Levi, era colector de impostos. É óbvio que ninguém confia num colector de impostos. Principalmente quando se transporta um carregamento de mercadorias preciosas, sem guias de transporte, sem referência ao IVA, na mais absoluta e delituosa evasão fiscal. A Mateus foi contada uma história da carochinha em que ele acreditou piamente, segundo a declaração de liquidação que enviou aos publicanos (administração fiscal da época) e que depois foi incluída no seu evangelho. Já naquela época a administração fiscal se deixava embalar com balelas.
Os factos são claros e límpidos e não permitem outra explicação.
Que se passou depois? Aparentemente a Bolsa de Jerusalém teria encerrado com fortes perdas. O pessoal tinha-se endividado para comprar as prendas para festejar as Saturnalias e a bolsa estava sem liquidez. Herodes, o tetrarca, responsável pela gestão danosa que tinha levado a Bolsa à insolvência, os fariseus à ruína e os zelotas a vandalizarem a cidade, protestando contra a globalização, deu uma explicação esfarrapada aos reis magos, que acabaram num casebre de Belém, onde se desfizeram das mercadorias, desvalorizadas face ao crash da Bolsa de Jerusalém, trocadas ao desbarato por um suculento ensopado de borrego, acompanhado de leite de vaca ordenhado no momento.
Herodes aproveitou o crash bolsista, suspendeu o exercício das «call-option», ignorando a CMVM, utilizou as «golden share» detidas em todas as sociedades vítimas da recessão, e ficou com os activos de todas elas. Os pequenos aforradores, os inocentes, ficaram sem um obolo. Foi este episódio que, ficcionado por historiadores menos avisados, ficou conhecido pela matança dos inocentes
Por isso, no regresso, os Reis Magos fizeram um desvio para não voltarem a encontrar-se com Herodes, que havia arruinado a Judeia com uma política keynesiana, baseada no uso imoderado da despesa pública e, por via disso, desvalorizado as suas mercadorias.
Nunca mais tentaram interpretar sinais de mercado.
Este é o único cenário sustentável e com suficiente poder explicativo.
Muito rebuscado, monótono e sem interesse especial. Não é a tua especialidade.Podes apagar!
Afixado por: Átila em janeiro 6, 2005 12:26 AMTá sensacional! Imaginação fértil.
Afixado por: Rui Sá em janeiro 6, 2005 12:31 AMDeve estar muito bom, para o Átila fazer-lhe o melhor elogio de que é capaz.
Afixado por: David em janeiro 6, 2005 12:37 AMNão sei onde esta gaja quer chegar com esta história, mas tem alguma fisgada
Afixado por: Cisco Kid em janeiro 6, 2005 01:25 AMÓ Davidoff (mais um segurança da Janica) há pessoas mais exigentes que outras. O teu caso insere-se nas "outras".
Afixado por: Átila em janeiro 6, 2005 01:38 AMAinda bem que temos o Átila para lutar conmtra esta escumalha da Direita
Afixado por: Cisco Kid em janeiro 6, 2005 01:40 AMMuita imaginação, muito humor e muita cultura. Magnífico.
E a gravura também
E aqueles lá atrás já os vi aqui entre alguns comentaristas
Afixado por: Fred em janeiro 6, 2005 02:00 AMTá demais! Parabéns
Afixado por: Rodrigo em janeiro 6, 2005 02:20 AME tudo aconteceu entre o Natal e o fatídico 20 de Fevereiro...
Afixado por: Senaqueribe em janeiro 6, 2005 10:15 AMBem escrito e muita imaginação e verve. Parabéns
Afixado por: vitapis em janeiro 6, 2005 10:20 AMDevia fazer mais investigações deste tipo. Depois desta investigação, a História já não vai ser a mesma.
Afixado por: Diana em janeiro 6, 2005 10:52 AMPara quando o Evangelho segundo Joana?
A avaliar pela amostra ia ter um grande impacto
Ou seja, os economistas, como sempre acontece, enganaram-se e quem se lixou foi o povo da Judéia, que teve que emigrar em massa...
Afixado por: 123 em janeiro 6, 2005 11:22 AM"Mateus, um talentoso argumentista da Judeia, escreveu que:"
Muito bem, Joanita. Andas a aprender umas coisas.
Afixado por: Monty em janeiro 6, 2005 11:47 AMO que mais gosto neste blog é a diversidade dos temas e a forma como eles são abordados. Desde o tema mais sério ao mais brincalhão, desde a bordoada mais cáustica ao humor mais irreverente, há de tudo. Mas sempre com uma forte componente cultural envolvente. Parabéns
Afixado por: Fred em janeiro 6, 2005 12:37 PMTavares em janeiro 6, 2005 11:15 AM
Pelo estilo da Joana seria antes o Apocalipse!
Tá super
Afixado por: fáfá de belém em janeiro 6, 2005 01:41 PMÓ Fred, tás mesmo entusiasmado, pá. Mas o texto tem mesmo piada.
Afixado por: Jarod em janeiro 6, 2005 02:46 PMUma bloguista com reputação de raccionária ea escrever disto?!?
Afixado por: Ant Curzio em janeiro 6, 2005 03:10 PMAfixado por: Átila em janeiro 6, 2005 01:38 AM ´
«...há pessoas mais exigentes que outras. O teu caso insere-se nas "outras".»
Há pessoas e há as outras. No teu caso, Átila, insere-se nas "outras".
Afixado por: Mario em janeiro 6, 2005 03:39 PMEu também concordo com o Átila :
Acho o texto demasiado rebuscado e, para dizer a verdade, não percebi a mensagem talvez por falta de "instrução religiosa" ...
Joana anda um bocado confusa...lá isso é verdade.
# : - ))
Afixado por: (M)arca Amarela em janeiro 6, 2005 04:43 PMBoletim Económico de Dezembro.
Banco de Portugal revê em baixa crescimento económico de 2005
................................
Se o bebé do Santana Lopes fosse o menino Jesus, Joana acabaria aqui a escrever sobre os reis MAGROS...
# : - ))))
Afixado por: (M)arca Amarela em janeiro 6, 2005 04:49 PMAfixado por (M)arca Amarela em janeiro 6, 2005 04:49 PM:
O Banco de Portugal revê em baixa crescimento económico de 2005 porque está a prever uma vitória do Sócrates.
Então o menino David não fez os trabalhos de casa? Nem lê os seus mestres?
Andou o tio José Manuel Barroso a pregar que as medidas económicas de um governo só se fazem sentir dois anos depois, para justificar os maus indicadores que tinha, e o menino David diz que o Sócrates vai ser responsável pelo descalabro de 2005?
O Sócrates vai ser responsável é pelo descalabro de 2006.
Então o menino David não fez os trabalhos de casa? Nem lê os seus mestres?
Andou o tio José Manuel Barroso a pregar que as medidas económicas de um governo só se fazem sentir dois anos depois, para justificar os maus indicadores que tinha, e o menino David diz que o Sócrates vai ser responsável pelo descalabro de 2005?
O Sócrates vai ser responsável é pelo descalabro de 2006.
Também!
Afixado por: David em janeiro 6, 2005 07:05 PMÓ Mario, que caca é essa que escreveste? Isso faz sentido para ti? És mesmo copinho de leite, um palermita. Vai dar banho ao cão, idiota!
Afixado por: Átila em janeiro 6, 2005 10:59 PMSegundo Mateus:
Virá um ano, que no quintal rectangular, aparecerá a Dama com cara Feia a tentar reduzir um deficit, mas não só não conseguirá, com ainda terá o desplante de o aumentar desmesuradamente, e esse heroico povinho, nem a questionará, por ela ter apelidado o antecessor de gastador, e sendo ela tão poupadinha, ainda aumentou mais o buraco.
Virá uma baga tão grande, que se chamará Bagão, e com ele julgará o povo ter Pão.
Ora tão esse fará o mesmo que outros já fizeram ou ainda pior, no entanto continuará a ser mui querido entre seus pares.
Haverá também casas de apostas em Londres, que colocarão a seguinte propostas aos apostadores:
- qual será o nome do ministro das finanças português que fechará para todo o sempre o ministério e entregará as chaves em Bruxelas?
Afixado por: Templário em janeiro 6, 2005 11:23 PMEstá muito bem escrito e cheio de humor
Afixado por: Valente em janeiro 7, 2005 01:21 AMEste texto está fora de série. Muito bom.
Afixado por: R de Carvalho em janeiro 7, 2005 09:21 AMOnde é que quer chegar com esta história? Não percebi.
Afixado por: rume em janeiro 7, 2005 09:36 AMComo anedota está boa.
Afixado por: rume em janeiro 7, 2005 09:37 AMJóia....!!!!
Afixado por: sininha em janeiro 7, 2005 01:45 PMBrilhante e imaginativo
Afixado por: Mauricio em janeiro 8, 2005 06:17 PMEstá muito bem imaginado
Afixado por: Tintim em janeiro 15, 2005 03:54 PMParabéns pela veia!
Afixado por: rezingao em março 4, 2005 02:55 PM