Das proveniência mais insólitas surgem inesperadamente as afirmações mais sensatas. Refiro-me às declarações de José António Saraiva, Director do Expresso, hoje, à saída da audição na AACS e no texto que publicou no Expresso Online.
A actuação do actual governo, ou de alguns dos seus membros, no que se refere às relações com a comunicação social, tem-se pautado por uma hipersensibilidade que não é compaginável com o calo que um dirigente político deve possuir no exercício das suas funções. É certo que, como José António Saraiva sublinha, a «paranóia por que enveredaram alguns meios de comunicação» e «esta barragem de ataques, processos de intenção e tentativas de destruição do Governo [que] está a lançar o país no caos» têm um forte potencial de enervamento.
Todavia o Governo tem legitimidade constitucional (independentemente daqueles que, à míngua de outra argumentação, o classificam de ilegítimo, semi-ilegítmo, ou ilegítimo e semi) e tem um horizonte estável de governação de cerca de 2 anos. Pois se o próprio Presidente da República já veio assegurar que não faz sentido convocar eleições antecipadas, «a não ser que haja alguém que esteja interessado em provocar incidentes». A tarefa do Governo é governar. Os ministros devem concentrar-se nessa tarefa e executá-la o melhor que souberem, dentro das estratégias programáticas que defendem. A boa ou má prestação do Governo só depende dele, das medidas que tomar para resolver os problemas dos portugueses e não de fait-divers.
Neste entendimento, o Governo deve deixar a gestão da sua imagem para os seus assessores de imagem e da comunicação social. Aliás, é o que acontece nas democracias avançadas: Os recados, as pressões e as solicitações são sempre feitos pelos assessores, por especialistas contratados para o efeito. São estes que criam os factos políticos que servem de contraponto às manobras dos adversários, ou da própria comunicação social, quando esta é hostil.
É um equívoco pensar que o eleitorado julga apenas, ou principalmente, pelo que a comunicação social diz. Cavaco teve maiorias absolutas contra a hostilidade da comunicação social. Reagan tinha contra ele parte significativa da comunicação social e ganhou dois mandatos. G. W. Bush está perante uma mobilização maciça da comunicação e dos meios artísticos mais sonantes e tem fortes hipóteses de ser reeleito. Até Sharon Stone veio proclamar a sua adesão a Kerry (não sei, neste caso, se o uso imoderado do picador de gelo no sexo não terá efeitos contraproducentes em algumas mentes menos inovadoras na arte de amar...) ... und so ... und so ... und so.
O ministro Gomes da Silva foi de uma inabilidade extrema. Era óbvio que as suas queixas se inseriam numa luta interna do PSD. Se ele quisesse mandar recados à TVI começaria pela Manuela Moura Guedes que zomba, com acinte e permanentemente, de tudo o que o Governo decide, diz, pensa ou ela prevê que ele venha a dizer ou a pensar. Só a boca dela é um insulto ao público. O próprio sex-symbol da Lapa, MST, estaria bem à frente do Marcelo na fila dos credores de queixas do ministro. Todavia, o gambito Marcelo, que sacrificou a sua homilia dominical pelo papel de vítima do sistema, tornou as queixas do inábil ministro num assunto nacional que dominou, e ainda domina, as atenções da comunicação.
E conseguiu arranjar um modo de vida para a AACS. Essa venerável e precocemente decrépita instituição encontrava-se no desemprego oculto. Os Alto-autoritários entreolhavam-se entediados, enquanto esperavam o despedimento colectivo. Agora arranjaram matéria prima para laborarem até às calendas gregas. Nestas audições, cada vez que um nome ou uma instituição são citados, agendam-se logo reuniões para ouvir cada um dos mencionados. Gomes da Silva cometeu o lapso de falar no Público e no Expresso. Foram, acto contínuo, agendadas reuniões com os respectivos directores. JMF balbuciou a PT: foi imediatamente agendada uma reunião com o Presidente da PT. Se este se descair e referir que foi a mulher a dias que lhe entregou a comunicação da AACS, lá será agendada uma reunião com a mulher a dias do Presidente da PT ... e assim sucessivamente. É uma teia de Penélope que nem necessita de desfiar de noite.
Se o ministro Gomes da Silva estivesse calado e se as suas queixas tivessem seguido outros trâmites, certamente os resultados seriam muito mais positivos para os seus objectivos. Ao menos poderia ter-se instruído previamente, lendo o livro do Arons de Carvalho ...
Os meios de comunicação, nomeadamente os de referência, estão enfeudados ao «politicamente correcto» dos valores que lhes colonizaram as mentes. Mas têm algumas características aproveitáveis: sabem muito menos do julgam saber, são muito mais incultos do que julgam ser e regem-se mais pelo efeito que pretendem produzir (nomeadamente as TVs) do que pelo rigor da informação. Isto é um húmus magnífico para nutrir e criar tudo o que a imaginação apenas alcança. Especialistas de marketing político encontram aqui abundante matéria prima para produzirem factos políticos, económicos e sociais que não servirão não só de antídoto, como de catalizador de adesões. O jornalista português, na sua desdenhosa sobranceria, é, por isso mesmo, manipulável, com toda a facilidade, por qualquer bom especialista de imagem. A sobranceria e o desdém é a mãe e o pai de todos os logros.
Mas para tal é preciso o Governo governar bem, com firmeza e coerência e deixar aos especialistas da matéria a estratégia da comunicação. Senão, as decisões acertadas que o Governo possa tomar - e já se viu que, nalgumas áreas, este Executivo não pretende ficar pela mera gestão corrente de dossiers impopulares e que se arrastavam há décadas - ficam sempre prejudicadas num ambiente perturbado por incidentes gerados artificialmente, que o desgastam sem necessidade, por razões que não têm directamente a ver com a governação.
Aliás, os ensinamentos dos adversários são por vezes úteis. Marcelo Rebelo de Sousa passou dois anos a criticar Durão Barroso pela ausência de uma estratégia de comunicação que lhe permitisse tirar partido das medidas que o Governo tomava, ao mesmo tempo que chamava a atenção para a existência de dirigentes do PSD com máquina montada para lhes cuidar da imagem - referindo então o exemplo de Santana Lopes ou de Luís Filipe Meneses. Onde se prova que MRS era um grande teórico das análises, mas um péssimo analista das práticas: Santana Lopes está a revelar que, ou não tem máquina montada, ou esta está gripada.
Ou então, em vez de entregar tarefas a especialistas, entregou sinecuras a boys.
«a não ser que haja alguém que esteja interessado em provocar incidentes».
Joana ,
eu por acaso estou interessado em provocá-los !(mas quem sou eu ?)
e sabe porquê ?
porque este é um governo de iniciativa presidencial ilegítimo.
ps:
a propósito, por onde tem andado Sócrates e a oposição civilizada do maior partido da dita ?
Quem produziu essa frase foi o PR e não eu. Terá que pedir uma audiência a Belém para lhe expor a sua discordância.
Ou então esperar que o PR também crie um blog ...
Adenda:
Um blog com comentários abertos. Que não siga o exemplo dos outros políticos com blogs: Abrupto, Causa Nossa, etc..
eu sei que foi o PR e não me conformo!
comentários abertos , normalmente em blogs à esquerda !
sim, eu sei que Vc não funciona como direita-esquerda...vai sempre em frente e pelo menos tem comentários !
Pois é, o PSL devia despedir os assessores de imagem (e o ministro Gomes da Silva) que ainda por cima custam os olhos da cara.
Afixado por: vitapis em outubro 27, 2004 12:08 AMO JAS também tem uma ganda paranóia.
Afixado por: Coruja em outubro 27, 2004 12:51 AMÉ a comunicação social que temos e são os políticos que temos
Afixado por: c seixas em outubro 27, 2004 09:07 AMzippiz em outubro 27, 2004 12:04 AM:
Parece-me que terem ou não terem comentários abertos não tem a ver com serem blogs de direita ou de esquerda.
Tem a ver com os autores se julgarem, ou não, acima dos míseros mortais. Tem a ver com ser-se elitista ou não
Não me parece que essas declarações sejam mais sensatas que outras que o Saraiva tem feito. Esse gajo tem a mania que é um grande analista político, mas não passa da mediocridade
Afixado por: Sa Chico em outubro 27, 2004 12:43 PMJOANA
Como? Não entendi bem!
Pode ter sido "à minha maneira" a denúncia,mas o Ministro teve a coragem de apontar o dedo ao "polvo".
A minha cara JOANA desejava o uso de "luvas" e tudo ficaria pela "rama".
Foi o Ministro que disse que havia cabala formada pelo EXPRESSO, PÚBLICO e MRS.
Letras maiúsculas,cara JOANA,para que se vejam bem.
E quanto ao JAS?
Elogiar o TARTUFO?
JOANA,o JAS não está doente?
Não aconselha tratamento psiquiátrico?
O JAS parece uma pombinha branca, com ramo de oliveira no biquinho rosa,a esvoaçar em circulos, à volta da própria cabeça,criando-lhe uma auréola de santificado.
JOANA, pretende colocá-lo no altar,como aquela estátua do Padre António Vieira,do seu Sermão?
Afixado por: ZEUS8441 em outubro 27, 2004 03:40 PMQueria lembrar-lhe,JOANA,que o JAS é o director do Expresso e não da folha de couve de Alcains de Baixo.
O JAS pensa que não é.
Veja-se a sua "ingenuidade" (dele) no que escreve.
Nada é com ele.
O JAL, o FM,o NS,o HM é que são os maus da fita.
JOANA, poupe-me ter que ler o nome do HIPOCRITA.
Afixado por: ZEUS8441 em outubro 27, 2004 03:46 PMNão compreendo porque é que o seu blogue não é mais divulgado. É dos melhorzinhos que existem no mercado de blogues, chamemos-lhe assim. Quanto aos outros, servem apenas para dizer mal do governo ou então falarem de Casa Pia e invariavelmente, dizerem mal do governo. Em relação a Gomes da Silva, penso que Santana Lopes deveria tê-lo demitido imediatamente. Poupava um incidente político. Falta de calo, aqui o director do Expresso tem razão. Bom blogue, Joana, continue !
Afixado por: Coltrane em outubro 27, 2004 11:41 PM.
Afixado por: Chips em fevereiro 20, 2005 09:33 PM