Paradoxo do Modelo Espanhol
Para mostrar o atraso legislativo português face à Europa invoca-se permanentemente a necessidade das mulheres portuguesas se terem de deslocar a Badajoz para aí abortarem com apoio clínico. O populismo tablóide de esquerda agita permanentemente Badajoz como a terra prometida para a libertação do nosso corpo. Ora o que é paradoxal é que ninguém se questiona sobre o facto desses abortos se fazerem em Espanha e não em Portugal apesar da legislação actual sobre a IVG ser, excepto em alguns pormenores de prazos, idêntica à espanhola.
Quem ouvir os furiosos do direito ao nosso corpo poderá pensar que há diferenças legais entre Elvas e Badajoz. A diferença reside apenas na interpretação abrangente que a classe médica espanhola dá à saúde materna como justificação para realizar o aborto. Muitos médicos portugueses consideram essa argumentação desonesta. Aliás muitos médicos portugueses recusam-se a realizar abortos mesmo quando não existem quaisquer dúvidas sobre a sua legalidade face à lei actual. A diferença entre ser ou não ser crime reside apenas na justificação médica apresentada para a realização do acto e não na lei. Não é a nossa lei que é obsoleta, como muitos clamam. A sua interpretação é que faz a diferença.
Não vou escrever que não percebo porque é que os alegados defensores da mulher não reclamam a integral aplicação da actual lei, nem porque será que não apoiam a criação de centros médicos para, à semelhança do que sucede em Espanha, realizarem idênticas intervenções clínicas. Não escrevo que não percebo, porque percebo perfeitamente: O populismo tablóide de esquerda apenas tem interesse pela agitação irracional e pelos chavões do seu Parque Jurássico Ideológico. Nem o MST, o sex-symbol da Lapa, escapa a esta influência obscurantista.
Também não vou escrever que não percebo porque nem os meios de comunicação, nem os políticos abortonautas esclarecem esta situação para fundamentarem a exigência de mudanças dentro do actual quadro legal. Percebo perfeitamente: Quer o populismo tablóide de esquerda, quer o populismo tablóide que se dirige às domésticas entediadas, baseiam-se na ignorância e desinformação dos seus receptores. Se esses receptores estivessem esclarecidos ... lá se iam as audiências.
Como pano de fundo de tudo isto prefigura-se a velha pecha portuguesa: quando as coisas não correm de feição há uma panaceia universal mudar a lei. Ninguém pensa em aplicar devidamente a lei vigente.
Paradoxo dos abortos feitos sem condições sanitárias
O populismo tablóide de esquerda indigna-se com as condições vexatórias e ausência de apoio médico, em meios humanos e materiais, em que decorrem os abortos clandestinos e o risco de vida que tal comporta. É um facto iniludível. Todavia, como alternativa, propõem abortos realizados num pequeno barco, no alto mar, na costa ocidental portuguesa (onde uma pessoa normalmente enjoa, mesmo quando está apenas a desfrutar o prazer turístico), num contentor sem equipamentos médicos de apoio, nem condições de segurança, o que levou um tribunal holandês a interditar semelhantes intervenções a uma distância superior a 20 milhas de um hospital que possua tais meios.
Será que estão à espera que alguma mulher alinhe em semelhante procedimento, a menos que esteja integrada em alguma operação mediática?
De acordo com a lei portuguesa o barco é uma clínica não autorizada e não vistoriada. À luz dos regulamentos da Ordem dos Médicos, qualquer clínica que abra em território nacional tem o dever de o comunicar a uma direcção regional da OM que enviará 2 médicos para fazer uma vistoria. Por sua vez os médicos holandeses que queiram exercer temporariamente actos em Portugal devem inscrever-se previamente na OM, que foi o que sucedeu com os médicos das selecções estrangeiras no Euro 2004. É evidente que, enquanto estiver fora das águas portuguesas, nem o barco nem os médicos estão sujeitos àquelas obrigações, mas uma questão interessante seria saber o que aconteceria se uma das mulheres que eventualmente abortasse em águas internacionais se queixasse à OM em consequência de actos clínicos praticados a bordo.
Paradoxo do Mercado ter mais sensatez que os políticos abortonautas
A JS anda afadigada a ver se afreta um barco para transportar a imensa mole de grávidas que se acotovelam no porto da Figueira da Foz ansiando por emanciparem o seu corpo.
Isto sucedeu porque o proprietário do barco Capitão Capela se recusou a transportar mulheres grávidas invocando razões de segurança: o «transbordo de pessoas no alto mar é difícil e as mulheres grávidas são casos de risco», afirmou.
Este proprietário tem arrecadado alguns milhares de euros com os políticos e jornalistas abortonautas que demandam o velo de ouro do extermínio fetal. Provavelmente nunca fez tanto negócio. A esquerda radical sempre diabolizou a ominosa sede do lucro dos gananciosos capitalistas e os efeitos deletérios do mercado. Por este raciocínio o proprietário do Capitão Capela deveria estar agora a promover uma operação publicitária de âmbito nacional com pacotes convidativos de viagens destinados a grávidas. E o papel destinado aos dirigentes da esquerda, tendo em conta os valores éticos que, na sua esclarecida opinião, os diferencia da direita e dos gananciosos, seria o de se empenharem na segurança das pessoas e travarem os excessos e perversões do mercado de transporte de pessoas no alto mar.
Afinal quem está empenhado na satânica sede de lucro mediático são os políticos. Afinal, a sensatez está no funcionamento do mercado e a tontice e ganância está entre os políticos.
Paradoxo dos Abortonautas à deriva
Não me vou pronunciar sobre a bondade da decisão de proibir a entrada do Barco do Aborto nas águas territoriais portugueses, nem sobre os fundamentos jurídicos dessa decisão. Do ponto de vista legal, e exceptuando alguns jornalistas e fazedores de opinião, ninguém contestou a fundamentação da decisão do governo português. O próprio governo holandês, apesar de pressionado pelos seus radicais domésticos, reconheceu o direito de Portugal em tomar aquela decisão.
A questão é saber se estrategicamente teria sido a decisão mais acertada. A costa ocidental portuguesa, nomeadamente a zona a norte de Peniche, é caracterizada pela forte ondulação e pelas tempestades frequentes. É a zona mais agreste de toda a costa portuguesa. Observando as dimensões do navio, duvido que, mais dia menos dia, ele não tenha que ser socorrido por razões humanitárias (1) e conduzido a um porto de abrigo. Parece-me que isto será inevitável se a estada do navio se prolongar.
Se o barco for obrigado a ancorar por razões humanitárias, que irá fazer então o governo? Presume-se que tenha um plano de emergência para tal situação. Quando se toma uma decisão devem-se analisar todas as variantes que podem ocorrer na sequência dessa decisão. E o rigor da identificação e avaliação das variantes deve ser proporcional à sensibilidade da matéria. Para tontos já bastam os radicais de esquerda.
(1) Fala-se muito da desproporção de meios, com uma corveta a vigiar o navio. Não sei se também foi essa a intenção, mas Portugal tem deveres para com as embarcações que cruzam as suas águas ou a sua ZEE. Em face da proibição, é preferível estar uma corveta por perto, do que não haver quaisquer meios nas imediações. Todavia, em caso de forte intempérie a corveta pode ser útil no resgate de algum acidentado, mas pode não ser suficiente e o barco do aborto necessitar de se abrigar nalgum ancoradouro.
(...) Não é a nossa lei que é obsoleta, como muitos clamam. A sua interpretação é que faz a diferença. (...)
sim, sim somos todos uns ignorantes;
aliás, os JULGAMENTOS estão aí para mostrar que os defensores da DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO são os atrasadinhos a interpretar leis.
(1) quanto à sua nota final ...não precisava ser tão cínica.
Afixado por: zippiz em setembro 3, 2004 10:32 PMzippiz: os julgamentos são por abortos clandestinos e incidem principalmente nas organizações que os praticam.
O que a Joana escreve sobre a lei em Espanha tenho ouvido a médicos em debates e li ontem e hoje nos jornais. Devia informar-se melhor
O que chateia certa esquerda mais folclórica, é que se enviem mulheres para a prisão por terem abortado. Pois eu proponho uma pena alternativa: o serviço comunitário obrigatório, durante um ano, em instituição de solidariedade social dirigida à assistência de crianças.
Afixado por: Albatroz em setembro 4, 2004 12:28 PMzippiz em setembro 3, 2004 10:32 PM:
Na sequência do comentário do David, lembro-lhe o depoimento de um ginecologista num debate realizado há dias na RTP1, o artigo de opinião da autoria de um médico, publicado ontem no Público, uma notícia sobre o aborto em Portugal e em Espanha, igualmente publicada ontem no Público, que inclui estatísticas interessantes, e uma revista da imprensa estrangeira, publicada hoje no Público, onde apresenta excertos de jornais espanhóis que também escrevem que a diferença não está na lei, mas na interpretação que se faz de um e outro lado da fronteira.
O seu comentário vem revelar que há muita falta de informação. Eu própria não me tinha apercebido disso e julgava, antes deste caso, que as leis eram diferentes.
Alguém disse (quem seria?) que uma mentira repetida acaba por parecer verdade. É isso que foi feito pelos desinformadores demagógicos que têm andado estes anos todos a clamar contra a lei.
Afixado por: Joana em setembro 4, 2004 02:42 PM Albatroz em setembro 4, 2004 12:28 PM:
A sua alternativa parece-me interessante. Pelo menos visava aquelas cujo único objectivo é ficarem livres da chatisse de cuidar do filho.
As verdades custam a saber
Afixado por: Coruja em setembro 4, 2004 08:56 PMoops! "Chatisse"?
Afixado por: josept em setembro 4, 2004 09:29 PMse a lei é boa porque a pretendem mudar em 2006 ?
se a pretendem mudar é porque não é boa .
se não é boa deve ser mudada imediatamente.
ah ! já percebi !
é da interpretação !
nós - cdspp/ppdpsd - fizemos uma lei boa , os tribunais é que a interpretam mal e levam a julgamento mulheres que abortam.
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um pouco mais de clarividência por parte do ppdpsd já teria colocado o cdspp no seu devido lugar; um partido com 8% dos votos, nas últimas legislativas e provavelmente com 2 a 3% nas últimas europeias, não pode arriscar a perda do nicho eleitoral mais retrógado da igreja católica.
Julgo que não percebeu nada, o´zippiz
Afixado por: Rui Sá em setembro 7, 2004 12:25 PMzippiz em setembro 5, 2004 07:56 PM:
Porque não experimenta informar-se melhor, em vez de aceitar sem dúvidas as teses dos seus mentores ideológicos?
zippiz em setembro 5, 2004 07:56 PM:
E a lei actual não foi proposta pelo "cdspp/ppdpsd" mas sim pela esquerda, nomeadamente pelo PCP
Aquela Rebeca Gompers deve achar-se o máximo.
Afixado por: suzy em setembro 9, 2004 12:10 AMTem razão. Basta ler a lei...
Um abraço,
Francisco Nunes