Clinton, anteontem, na cimeira dos estadistas na situação de reforma, dirigindo-se aos que estariam preocupados com a actual direcção da política americana, citou Churchill:
«Os EUA fazem sempre aquilo que está certo, depois de esgotarem todas as outras alternativas.»
A capacidade de Churchill de sintetizar conceitos complexos em frases curtas, conjugando o rigor, o espírito e a subtileza oratória não tem paralelo na retórica política. Churchill respondia àqueles que, nos dois primeiros anos da 2ª Guerra Mundial, se inquietavam sobre qual iria ser a posição americana e se os EUA iriam intervir militarmente.
A frase de Churchill é admirável pela forma como espelha os avatares da política americana, quer nesse período terrível, em que o Reino Unido resistia sozinho à monstruosa máquina de guerra nazi, quer a generalidade das acções políticas americanas no após guerra, nomeadamente nos erros cometidos ao dirimir a questão iraquiana.
Clinton portou-se nessa cimeira como grande estadista que é, mostrando porque foi um dos maiores presidentes americanos, sabendo que ali deveria ser um político americano acima das dissensões internas, e guardando as críticas à administração Bush para o discurso que proferiu, nesse mesmo dia, na abertura da convenção do Partido Democrático. Mas mesmo aí criticou pela positiva, abstendo-se de palavras que pudessem pôr em causa os objectivos mais genéricos da política americana e da luta contra o terrorismo. Criticou os métodos, não os objectivos.
Todavia aquela frase de Churchill é de uma complexidade demasiada subtil para ser tranquilizadora. Quantas alternativas irá ainda esgotar G W Bush antes de acertar? E se Kerry ganhar, quantas alternativas irá ensaiar até acertar?
E será que o povo americano considerará Kerry uma alternativa viável a Bush? Bush tem perdido popularidade pela forma como tem conduzido a guerra contra o terrorismo e a intervenção no Iraque. A questão que se coloca é que Kerry não tem dado ao eleitorado americano, até agora, uma imagem de firmeza e segurança.
O eleitorado americano vê-se assim perante duas alternativas muito pouco motivadoras. O popular apresentador do Daily Show, Jon Stewart, ferrenho opositor de Bush, reconhecia há semanas, desolado: «Porque será que uma verdade proferida por Kerry parece mais idiota que uma mentira de Bush?».
Esta do Churchill não conhecia.
Um abração do
Zecatelhado
WC está sempre a dizer coisas
Afixado por: Zeca em julho 30, 2004 09:29 PMChurchill tinha, obviamente, as qualidades que tinha, mas isso não significa que tenha sido infalível.
É possível citar Churchill até à exaustão. Muitas frases têm os méritos que Joana aponta e muitas outras não passam de banais figuras de retórica.
Esta aqui registada faz-me lembrar a célebre pergunta de algibeira: «Porque é que encontramos sempre uma coisa no último lugar onde a procuramos?». Joana parece alinhar nesta perspectiva, com as perguntas que faz no antepenúltimo parágrafo.
Quanto às eleições americanas, ao contrário do que Joana escreve, Bush NÃO «tem perdido popularidade pela forma como tem conduzido a guerra contra o terrorismo e a intervenção no Iraque».
As sondagens mostram que os americanos consideram que Bush tem mais capacidade do que Kerry para lidar com a situação no Iraque (49% contra 44%) e com o terrorismo (56 contra 38).
Em contrapartida, os americanos dão mais crédito a Kerry no domínio da economia (51 contra 43), da saúde (54-37) e da educação (50-43).
Conhecendo os americanos, é de crer que a economia e a saúde sejam mais determinantes para o resultado do voto do que a questão do Iraque.
Isso também está presente nas sondagens, com uma clara tendência para a vitória de Kerry.
A margem que separa os dois candidatos é, no entanto, muito estreita (cerca de três por cento), dando, uma vez mais, a Nader um protagonismo fora de proporção. No limite, a candidatura de Nader poderá, mesmo, inviabilizar a vitória de Kerry.
PS (salvo seja) - Já agora, deixe-me lembrar-lhe que o eleitorado americano se vê perante UMA (e não duas) alternativa: Kerry OU Bush. Pelo menos é o que dizem a gramática e a teoria dos conjuntos.
Afixado por: (M)arca Amarela em julho 31, 2004 01:44 PMImagino que não tenha a menor ideia do que afirmei, meses atrás, a propósito de um comentário seu sobre o túnel de Santana Lopes.
Mas não deixa de ser interessante que um estudo agora feito tenha chegado à mesma conclusão a que eu tinha chegado antes das obras começarem.
Vem notícia no Público de hoje:
«...O estudo, realizado pela empresa IPA - Inovação e Projectos em Ambiente, conclui que o túnel é globalmente positivo. Mas apresenta 40 recomendações a serem tidas em conta para minorar eventuais problemas durante a sua construção e exploração.
O maior deles tem a ver com o trânsito à entrada na cidade. Em dias de semana, estima-se que cerca de 15 mil automóveis vão entrar no túnel, a partir do viaduto Duarte Pacheco. Ao saírem na Rotunda ou nas avenidas Fontes Pereira de Melo e António Augusto de Aguiar, os automóveis terão pela frente semáforos.
Para evitar congestionamentos dentro do túnel, o estudo sugere uma gestão integrada do tráfego, com semáforos e sinalização à entrada da via subterrânea. Os condutores poderão, dessa forma, optar por utilizar o túnel, ou seguir pelas vias à superfície, que serão mantidas.»...
O que mais me faz rir é a solução preconizada: semáforos à entrada sincronizados com os das ruas. Ou seja, vai ficar tudo na mesma. A única coisa que se move é a cabeça do engarrafamento.
A solução é, naturalmente, outra. Quando me pagarem a ideia eu conto.
Churchill foi um génio que salvou a Inglaterra e o mundo
Afixado por: C Ventura em agosto 1, 2004 01:37 AM(M)arca Amarela em julho 31, 2004 01:44 PM:
1 - A citação é de Clinton. Eu apenas a transcrevi.
2 - Reafirmo que Bush "tem perdido popularidade pela forma como tem conduzido a guerra contra o terrorismo e a intervenção no Iraque", embora o eleitorado americano pense que ele é mais capaz de conduzir essa guerra que Kerry. Mas isso resulta da imagem de falta de firmeza de Kerry;
3 - Não percebo essa sua questão das «alternativas». Alternativas são 2 ou mais coisas diferentes em que se tem a opção de escolher uma ou nenhuma. Bush é uma alternativa; Kerry outra alternativa; Nader ainda uma outra alternativa. Os americanos escolherão uma das 3 alternativas com que são confrontados.
Kerry já desceu nas sondagens. Assim náo vai lá.
Afixado por: Coruja em agosto 2, 2004 08:26 PMTambém me parece que Kerry dançou. A menos que surja algum imprevisto
Afixado por: susa em agosto 3, 2004 02:36 PMSobre a questão da perda de popularidade de Bush há dois ângulos:
1 - A maneira como a administração americana conduziu a operação do Iraque fez cair a taxa de aprovação de Bush dos 90% iniciais para um nível difícil de quantificar isoladamente, por não ser possível dissociar os outros factores que têm contribuído para essa queda
2 - Considerando globalmente a perda de popularidade de Bush, é erro de análise atribuir à guerra do Iraque a causa principal. Como prova a sondagem que citei. E é erro de análise porque se o eleitorado americano fosse escolher o presidente tendo em conta, exclusivamente, a questão do Iraque e do terrorismo, Bush teria a vitória assegurada por larga margem. O que, eventualmente, afastará Bush da Casa Branca é a impopularidade das suas políticas económica e social.
Sobre a questão das alternativas, não há nada a inventar. Ninguém (ou nenhuma coisa) é alternativa de si mesmo. Kerry, só por si, não é alternativa. Idem para Bush. Kerry é a alternativa a Bush. E vice versa.
A alternativa exprime-se pela conjunção disjuntiva OU.
Exemplos:
A ou B
A ou B ou C
No primeiro caso temos UMA alternativa.
No segundo caso temos TRÊS: A ou B; A ou C; B ou C.
Dito isto, deixe-me apenas observar-lhe que não lhe ficava nada mal que tivesse em relação a este escriba e à gramática a mesma humildade que ele tem em relação a si e à economia. Por outras palavras: cada macaco no seu galho.
Quem dá a alternativa a este gajo?
Afixado por: David em agosto 11, 2004 11:43 PM