Um artigo publicado por Pacheco Pereira no seu blog Abrupto, e citado hoje numa notícia do Público, está a causar muitos incómodos.
Em causa não está, certamente, a similitude dos comportamentos entre a «vanguarda esclarecida e revolucionária» do MFA e os «torcionários com mentalidade fascista» do exército americano no Iraque. Não há qualquer similitude possível, se exceptuarmos os factos em si, ou seja, as sevícias, pois o contexto é completamente diferente. No caso da «vanguarda esclarecida e revolucionária» do MFA não existiu a insuportável componente racista: os torturandos não eram oriundos de um povo do 3º mundo, mas pertenciam ao próprio povo. Nestes casos o contexto é o critério fundamental. Conforme o contexto, assim as sevícias serão revoltantes ou irrelevantes.
Também não há qualquer semelhança entre os protagonistas dos dois dramas. Em Portugal, em 1975, quem praticava aqueles actos era a «vanguarda esclarecida e revolucionária» do MFA, uma vanguarda a quem a teoria política tinha então atribuído, como missão histórica, a redenção do proletariado e a construção de uma sociedade sem classes. Ora pelo postulado da superioridade moral da esquerda radical, postulado que ela própria criou e erigiu em dogma, os seus actos, por mais sanguinários que sejam, inscrevem-se na necessidade histórica de um processo que conduzirá, inexoravelmente, um passo em frente e dois para trás, aos amanhãs que cantam. Enquanto isso, no Iraque, quem pratica aqueles actos insidiosos é o imperialismo americano que não se pode reclamar daquela providência cautelar, porquanto o seu lugar, pelos mesmos postulados teóricos, é a sarjeta da história.
Aliás, o Barnabé, o blog-órgão do pensamento radical, num texto sóbrio, liminar, despojado de adjectivos e impudicamente despido de argumentos, manifestou a sua posição com a certeza tranquila de quem sabe que a teoria, por postulado, lhe dá sempre razão e que, por via disso, qualquer argumento é despiciendo. Pior, é pernicioso, pois pode lançar a suspeita iníqua e desnecessária de que a sua convicção nas certezas foi abalada, suspeita que obviamente não pode ser deixada fermentar por aí, à solta.
E no fim desta sólida in-argumentação, o Barnabé prometeu, ou melhor, condescendeu, que quando deixarem de tratar toda a gente como idiota, cá estaremos para o debate.
Mas, Barnabé, será mesmo necessária essa condição tão restritiva? O BE habituou todos os que não comungam dos seus postulados, teoremas e teses, a serem tratados como idiotas. Para o BE toda essa massa informe, viciada pelo canto de sereia da democracia representativa, não passa de um conjunto não-ordenado de néscios que não foram iluminados pela sua sabedoria doutrinal. Se a propriedade de só haver debate quando se deixar de tratar toda a (outra) gente como idiota, se tornar uma função bijectiva, como será possível estabelecer qualquer debate? Não ficarão cortados todos os canais de comunicação entre a elite intelectual do país (o BE, Barnabé und so und so ...) e a massa informe da população vitimada e intelectualmente diminuída pelo vírus da democracia representativa.
Mas quando se têm convicções alicerçadas em teorias tão sólidas, para que serve o debate? E para que servem os argumentos?
Fiquei com uma dúvida :
Vc também é de opinião de JPPereira e de VGMoura ?
Não se percebe bem se este seu post é para condenar o que se tem passado nas prisões do Iraque ou se é simplesmente para fazer coro com o grupo pró-guerra: "nós condenamos MAS ... "
Eu percebo que ela quer é chatear a esquerda e o Bloco de Esquerda, trazendo coisas de há 30 anos.
O que é umas coisas têm a ver com outras.
Concordo que o Relatório de Sevícias é uma página negra da nossa história.
Mas isso não tem nada a ver com as sevícias no Iraque.
Está excelente esta crítica à hipocrisia dos Barnabés, Louçãs & Cia.
Afixado por: Rui Pereira em maio 14, 2004 02:40 AMCínico e mortífero
Afixado por: Rui Silva em maio 14, 2004 10:18 AMNunca fui muito à bola com o BE e especialmente o Louçã.
Esta sua cruzada contra a Carlyle cheira-me a esturro. Estará o Louçã a sofrer do síndroma das organizações ambientalistas cujos chefes contestam muito para depois se venderem pelo preço mais alto?
Anda nesta vida de negócios e é evidente que todos os grupos têm lobbys. Uns mais evidentes, outros mais discretos, mas não menos poderosos.
Esta teoria da conspiração do Louçã atiçada contra o concorrente com mais peso não me parece inócua
O seu texto é verrinoso e é cínico.
Infelizmente todos somos cínicos e hipócritas. Não espere por isso um atitude diferente do BE
cá está a amiga Joana mais uma vez a fazer o jogo dos amigos e a tentar distrair os que ainda se indignam com os indignos governantes que temos. sem sucesso,mau grado a prosa, como se tem vindo a verificar.
"voltar para trás?" Não, obrigado!
vindo de quem vem, é preciso ter lata.
Pois é. O seu texto é verrinoso, é mauzinho, é ...
Mas infelizmente é verdade.
O Barnabé também a lixou que nem lhe deu uma linha de resposta
Afixado por: Cisco Kid em maio 14, 2004 06:15 PMComo escreviam hoje no Público:
Quando uma criança faz algo de mal, muitas vezes desculpa-se: "Os outros também fizeram" ou "O João fez pior". Por vezes, até argumenta que, como contou o que tinha feito, é melhor do que os outros e deve ter um castigo menor.
E também:
O relatório existe, tem queixas e conclusões terríveis. Foi contestado na altura. Foi esquecido. E, sim, deve ser dado a conhecer, sobretudo porque hoje há muito quem não conhecesse sequer a sua existência. Houve erros no período revolucionário? Claro que houve. Há quem ainda não tenha feito o "mea culpa" e deveria ter feito? Provavelmente. Mas o que é que isso tem a ver com a tortura de iraquiano por militares americanos? Nada.
(...) Mas o que é que isso tem a ver com a tortura de iraquiano por militares americanos? (...)
cara Joana ,
Vc vai responder a esta pergunta do Público , não vai ?
Este assunto levantado pelo JPP está a deixar, pelo que se vê, muito pessoal incomodado.
Porque será?
Foi uma pouca vergonha aquilo a seguir ao 25 de Abril
Afixado por: funesto em maio 16, 2004 02:15 AMComo escrevi atrás: Há sempre no mínimo duas "verdades" opostas sobre qualquer facto.
Aqueles que ficam fascinados por uma dada verdade ficam muito incomodados quando confrontados com as verdades opostas.
Discordo que haja duas verdades. O que há são interpretações diferentes de uma mesma verdade.
Afixado por: Nereu em maio 16, 2004 02:21 PM...por acaso aquilo a seguir ao 25Abril foi uma pouca vergonha ... podiam ter julgado os culpados de 48 anos de fascismo.
Afixado por: zippiz em maio 16, 2004 02:27 PMAcho que se deve passar uma esponja sobre quer os excessos do salazarismo quer os excesso do PREC.
Não para esquecer, mas para não andar permanentemente a atribuir culpas.
E para os gajos de cada um dos lados não andar só a apontar o dedo aos do outro lado, fingindo não ver os disparates que o seu lado andou a fazer.
Devemos pensar no futuro
Com este tipo de tricas não vamos a lado nenhum.
Afixado por: Adalberto em maio 16, 2004 02:49 PMAdalbert, tem a minha completa concordância
Afixado por: Trofa em maio 16, 2004 04:40 PMeste tipo de concersa é muita interessante !
é aliás caracteristica de certa direita.
enquanto as opiniões lhes "favorecem" a cor "clubistica" ,está tudo bem.
quando se lhes mostra o outro lado da questão , aqui del-rei , que se devem esquecer as tricas, passar esponjas, blá,blá,blá ...
Podiam então fazer esse apelo a JOANA , que tenta, num post vergonhoso, deculpabilizar os Americanos no Iraque , com a «vanguarda esclarecida e revolucionária» do MFA !
Haja decoro !
Há gente muito incomodada e irritada.
Porque será?
zippiz em maio 16, 2004 05:05 PM:
Importa-se de dizer onde desculpabilizei os americanos e o que é que é "vergonhoso" no meu texto?
o vergonhoso no seu texto é o "MAS"...
zippiz em maio 16, 2004 08:19 PM:
Encontrei 2 mas:
Mas... pertenciam ao próprio povo? Não pertenciam?
Mas ... perguntas ao Barnabé ... Então perguntar ofende?
dionisius em maio 14, 2004 04:37 PM
Tem a certeza que era este artigo que você queria criticar? Não se terá enganado no post?
Dominó em maio 15, 2004 10:06 AM:
Cito esse artigo no meu post de hoje.
Como escrevi atrás, em todas as revoluções há excessos. Portanto tem que se dar um desconto às sevícias do relatório
Afixado por: c seixas em maio 17, 2004 05:13 PMÓ Seixas, em todas as guerras há excessos. Temos que dar o desconto!
Em todas as cadeias há excessos, principalmente nas nossas. Temos que dar o desconto!
O Seixas tem toda a razão. Em 1975 havia a necessidade de o povo se defender dos fascistas e evitar que o fascismo regressasse.
Agora querem desenterrar isso?
Cisco: Também não acontecerá isso no Iraque? Os americanos não estão a lutar para que o Iraque não regresse ao que era antes?
Afixado por: David em maio 18, 2004 06:27 PMMário Tomé escreveu no PÚBLICO sobre o "Relatório das Sevícias", a que chama de nulidade jurídica. Diz que só serviu para afastar das FA, "por processos torpes e enviesados, muitos dos militares que mais se distinguiram na luta pela democracia". O sr. major ou nunca ouviu falar ou aprovou, ou não acredita ou quer-nos fazer esquecer os episódios sórdidos que decorreram entre 11/3 e 25/11/75, a 5ª Divisão do MFA, o Copcon, os mandados de captura assinados em branco. Recordo-me de o meu pai ter passado semanas em total isolamento, transferido entre vários estabelecimentos prisionais na calada da noite, sem que ele ou a família soubessem para onde ia. Recordo-me dos seus insuspeitos advogados, Mendonça Monteiro, Sousa Tavares e Proença de Carvalho, reclamarem, indignados, contra a arbitrariedade da detenção e os maus tratos, os interrogatórios forjados por simulacros, humilhações e ameaças. Recordo a coragem da minha mãe, com as contas congeladas, resistindo a camaradas do sr. major que lhe apareciam a tentar extorquir alguma coisa, com promessas de uma célere libertação. Lembro-lhe que em Abril de 75 havia mais presos políticos do que um ano antes.
Afixado por: Chocante em maio 27, 2004 12:30 PMEsta gaja é uma reaças da pior espécie
Afixado por: Gaja reaças em junho 5, 2004 12:27 PMEsta gaja é uma reaças da pior espécie
Afixado por: Gaja reaças em junho 5, 2004 12:27 PMEsta gaja é uma reaças da pior espécie
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