Ségolène Royal é uma mulher perante a qual não se fica indiferente. Magra, fotogénica, com um permanente ar estudantil apesar dos seus 50 anos, é bastante mais mediática na campanha directa, de rua, do que em debates televisivos, onde lhe escasseia o traquejo. A direita critica o seu «killer instinct» e o seu «populismo demagógico»; a esquerda ... a esquerda tolera-a porque lhe traz, inesperadamente, dividendos, além de ser casada com o 1º Secretário do PS, François Hollande. Aliás, Ségolène recusou na campanha eleitoral o apoio da velha guarda socialista, como o de Laurent Fabius ou de Dominique Strauss-Kahn, que também fizeram campanha na sua região, nas eleições cantonais. Apenas não recusou o apoio do seu marido.
Ségolène Royal é uma mulher que não abdicou da sua condição feminina para estar na política. Há anos foi criticada por se ter deixado fotografar, pelo Paris-Match, na maternidade, na cama com o seu quarto filho, recém nascido, misturado com os dossiers do Ministério do Ambiente, cuja pasta então sobraçava. Também a criticaram então por não se ter deixado substituir durante a gravidez. Ségolène Royal pretendeu mostrar, com aquele gesto, que uma mulher grávida pode conciliar a maternidade, a vida afectiva e a vida profissional ou política. Uma lição para aquelas que julgam que se extraem dividendos políticos, ou apoio popular, protestando contra a pretensa tutela estatal sobre o seu útero.
Enquanto ministra (ela foi sucessivamente ministra do Ambiente, do Ensino Escolar e da Infância e da Família) foi uma defensora acérrima da família, dos direitos da maternidade e contra a exploração sexual da publicidade, a pornografia e aquilo que considerava os abusos das imagens televisivas. Proibiu um anúncio da campanha contra a SIDA por considerar que continha imagens sexualmente ofensivas. Foi atacada por praticar a censura e pelo seu conservadorismo comportamental. Alcunharam-na de «mère pudeur».
Também impôs uma lei contra as praxes e os vexames inerentes a essas práticas, o que demonstra que tem uma coragem política que falta aos políticos portugueses (não falo do Pacheco Pereira que é um político falante, mas não actuante).
Nunca se deixou levar pelo politicamente correcto, mas apenas por um populismo de esquerda, muito ao estilo de Mitterand.
Ségolène Royal concorreu à região de Poitou-Charentes, onde se situa Deux-Sèvres, por onde tinha sido eleita. Poitou-Charentes tem uma área semelhante à do Alentejo e pouco mais de um milhão e meio de habitantes. O mundo rural é conservador, mas as capitais departamentais são socialistas. La Rochelle foi durante mais de um século o bastião da reforma protestante em França. Poitou-Charentes era o feudo do Premier Raffarin que abandonou o cargo, há 2 anos, pelo Matignon, deixando lá a sua sucessora, Elisabeth Morin, uma trânsfuga da esquerda. Foi esta a derrotada por Ségolène Royal. A sua vitória, que lhe valeu entre os socialistas o cognome de la Zapatera, teve retumbância por ser, por interposta pessoa, uma vitória contra Jean-Pierre Raffarin.
De facto, entre as eleições regionais de 1998 e as de agora, em Poitou-Charentes, houve um deslocamento de cerca de 10% de votos . Agora a esquerda teve 55,1 % dos votos (46,3% na 1ª volta) e em 1998 a distribuição tinha sido a seguinte: Esquerda Plural (36,02%), RPR-UDF (35,39%), FN (9,89%), Chasse-Pêche (6,58%), Direita diversos (4,12%), Esquerda diversos (3, 5%), Extrema esquerda (2,64%), Verdes (1,42%). Não foi um terramoto, mas foi uma vitória saborosa, por ter sido obtida sobre Raffarin.
Mais do que partidária, a vitória de Ségolène Royal, numa região algo difícil para a esquerda, foi uma vitória pessoal. Foi uma vitória que a tornou, de um dia para o outro, presidenciável.
Todavia, a vitória de Ségolène Royal tem os seus limites. Ségolène Royal afirmou que os resultados das eleições mostram que os franceses recusam o fim do sistema social francês. É um facto que alguns dos votos terão sido contra as reformas que Raffarin está a tentar introduzir no sistema social francês. Todavia esse sistema é financeiramente insustentável e terá que ser reformado e se não for a direita a fazê-lo agora, será a esquerda a partir de 2007, se conseguir suceder à direita. Poderá até acontecer ter de ser Ségolène Royal a fazer essa reforma.
Schroeder é socialista e está a braços com uma enorme contestação popular devido às reformas que está a tentar introduzir no sistema social alemão. Reformas que vão no mesmo sentido do das francesas. A única diferença entre um caso e outro é que quando a oposição é de direita, esta normalmente não contesta as reformas, e quando a oposição é de esquerda, esta tenta mobilizar a população contra as reformas.
Ségolène Royal, na sua passagem pelo governo, apenas sobraçou pastas em que se distribuem fundos. Distribuir fundos é fácil, às vezes fácil de mais. Falta-lhe a prova de fogo do exercício do poder em tempo de crise. Se a sua estrela a continuar a acompanhar, talvez a possa vir a ter a partir de 2007. Veremos então.
Derrota Histórica
Por EDUARDO PRADO COELHO
Terça-feira, 30 de Março de 2004
E agora? Vão de novo dizer que a Al-Qaeda ditou o resultado? Que o Bin Laden venceu Jacques Chirac? Que a democracia está em perigo? Que devemos estar todos unidos nas posições que são obrigatoriamente as de Bush se não queremos estar ao serviço do terrorismo? Que o povo francês foi cobarde e teve medo?
Aquando das eleições espanholas, assistimos à raiva surda que se apossou da direita portuguesa pelo simples facto de ter visto como Aznar perdeu, estupidamente (diga-se a verdade), as eleições. Lembraram-se de que Aznar estava à frente das sondagens. Esqueceram-se de que de dia para dia a diferença entre o PSOE e o PP diminuía e que houve um salto qualitativo resultante de uma tentativa de manipulação grosseira (de que, aliás, o PP não parece arrependido). Esqueceram-se que maioritariamente os espanhóis sempre tinham sido contra a guerra no Iraque. E vai daí lançaram-se numa tentativa de desvalorização dos resultados absolutamente indecorosa.
Agora as coisas são diferentes. Bin Laden fica em repouso no seu refúgio nas montanhas. O criminoso da Al-Qaeda não é chamado para aqui. Nem tudo se explica pelo facto de estarmos em guerra. A verdade é que a direita francesa perdeu espectacularmente, numas eleições em que a esquerda somou metade dos votos e a direita unida se ficou apenas por 37,5 por cento. A verdade é que, numa revolução impressionante, a esquerda francesa tem condições para conquistar a esmagadora maioria das regiões metropolitanas.
A primeira lição vai no sentido do cepticismo dos cidadãos. Em relação à crise a esquerda não mostrou que tivesse soluções para a resolver. Veio a direita armada em Tarzan das selvas e procurou mostrar que com as suas soluções tudo melhoraria. Para chegar a essas soluções seguiu o caminho português. E que acontece? Revela uma extraordinária insensibilidade social. É ver como entre nós muitos gestores (nem todos, sublinhe-se), pagos a peso de ouro, saíram dos seus Jaguares para proclamarem em coro que o desemprego tinha que ser porque era a condição do progresso (esqueceram-se de dizer que era "a condição do progresso deles"). E isto paga-se, o que Durão Barroso começa a perceber, e isso leva-o a inflectir o discurso no sentido da consciência social (Marques Mendes tinha dado o mote na entrevista à televisão).
Em França, a extrema-direita recuou, porque houve um sobressalto no sentido do voto útil. Mas não foi apenas a insensibilidade social (que outrora tinha sido designada como "a fractura social") que tramou Chirac. Foi também uma incrível sucessão de escândalos, a condenação de Alain Juppé e a convicção de que Chirac só escapava à Justiça porque era Presidente da República. Foi também a luta fratricida, ao estilo das peças de Corneille, entre o Chirac que se mantém como chefe da direita e um Nicolas Sarkozy que, multiplicando-se em refinadas perfídias, lhe disputa a liderança. Será que Chirac o vai escolher para substituir Raffarin? Seria a morte em directo. O duelo ao sol. A possível vitória de uma esquerda liderada por um homem sem perfil nem carisma (François Hollande), casado com a grande vedeta destas eleições: Segolene Royal
Este elogio. Deve estar algum burro para morrer.
Mas no fim aparece sempre o venenozinho.
Este elogio. Deve estar algum burro para morrer.
Mas no fim aparece sempre o venenozinho.
Eis um exemplo de um artigo bem feito e documentado. Até tem fotografia.
É certo que não é neutro ideologicamente, mas o do Prado Coelho ainda é menos, mas de sinal oposto.
Joana
Escolheu esta candidata, para manter e se convencer da sua linha de pensamento sobre o aborto, em defesa da Família, trá lá lá etc etc.
Muito bem, vamos aos factos e às condições.
Na França, o aborto é livre, feito em Hospital. Nenhuma mulher lá chega e diz: quero abortar !
Vão a consultas, com assistentes sociais, vai o marido, colocam a questão, é-lhes perguntado se não seria melhor reflectirem, etc etc. Finalmente faz-se o aborto se o CASAL o desejar.
Num País assim, com grandes benefícios sociais à Família, com prestações de abono de família elevadas e com subsídio às mães se não trabalharem, pode-se defender a família e pode-se abortar livremente. Há então uma Lieberdade de escolha, que o cidadão tem, e que comparado connosco, nem discussão possível pode haver.
Daí, se poder claramente afirmar, que em Portugal só pode haver a escolha do Aborto !
Será que a Dona Joana é a esposa de Bagão Felix ?
Uma mulher na presidência de França? Teria piada
Afixado por: Franciu em março 31, 2004 12:18 PMJoana
A propósito de um post de há dias sobre o esquecimento do Rosas:
Gostei da abordagem com o (meu) rio Lethes de permeio.
Para quem não sabe ou não conhece o rio Lima (Viana do Castelo - Ponte de Lima - etc.) um dia destes vou contar a história.
Afixado por: Nilson em março 31, 2004 05:52 PMNilson:
Passeava Décios Junos Brutos, com as suas legiões pelas ridentes regiões de entre Douro e Minho, já lá vão 2.135 anos, quando atingiu a margem esquerda de um rio que os seus legionários se recusaram a atravessar, alegando ser aquele o Rio Lethes. Ele atravessou o rio, sozinho e, da outra margem chamou-os pelos nomes, para eles verem que tinha conservado as suas memórias. É claro que devia ter levado uns papiros com uma lista de nomes e não teve qualquer dificuldade. Assim os convenceu não ser aquele o rio do esquecimento.
Chamou-se depois Rio Lima. Uma bela tapeçaria de Almada Negreiros existente no Hotel de St.ª Luzia em Viana do Castelo evoca essa efeméride.
Templario: eu concordo com a situação que descreve.
Do que eu discordo, se leu os meus diversos textos sobre o assunto é sobre o tipo de campanha de Ana Dragos & Cia, que Miguel Sousa Tavares escrevia, outro dia no Público, que lhe dava vómitos.
Você é especialista em lançar a confusão. Numa altura em que a esquerda a tinha elegido como alvo, você posta um texto destes.
Você ainda não se apercebeu que, na net, tem que se ser claramente de um dos campos.
Você está a baralhar os campos. Qualquer dia tem todos contra si, porque, na net, quem não está "sempre" do nosso lado, é contra nós.
Talvez por isso, cara Joana, é que eu, apesar de não concordar consigo a maior parte das vezes, gosto de a ler.
Até porque na minha discordância, encontro sempre um bocadinho, mesmo pequeno, em que tem alguma razão.
Por exemplo, dou-lhe razão quanto à Ana Drago e quejandas.
Não sei é se será pela mesma razão, para mim, enquanto houver gente assim na política, não é possível a despenalização do aborto ganhar qualquer referendo.
O Raffarin está feito ao bife
Afixado por: Gros em abril 3, 2004 12:17 AMO seu retrato da Segolene é muito favorável. Jospin deixou a economia francesa de rastos, por causa das 35 horas e de outras maluqueiras e a Segolene esteve metida nisso, pois era ministra.
Os franceses votaram há 2 anos contra a crise económica provocada pelas medidas socialistas e votaram agora contra as reformas para vencer a crise. O que é que eles querem?
Segolene não passa de uma demagoga que explorou o receio dos franceses de perderem regalias.
Afixado por: Mocho em abril 4, 2004 11:10 PMPelo que eu conheço da política francesa, julgo que o facto da Segolene ser milher pesou na análise da Joana.
Concordo com a opinião do Mocho. Segolene foi a ministra da distribuição de fundos e regalias que depois se verificou não terem receitas suficientes para compensar.
Foi por isso que a França se viu a braços com o défice que se conhece apesar do seu poder económico e da sua administração pública não desperdiçar tanto como a portuguesa.
A safa dos socialistas foi etrem ganho as regionais sem necessidade de governarem.
Senão não sei o que fariam.
eu gosto da carol mas nao seicomo diser me ajudem
Afixado por: rafael em fevereiro 25, 2005 06:57 PM