O governo pretende que os aumentos salariais cresçam com referência à inflação da zona euro do ano anterior, tanto para o sector privado como para a função pública.
Os sindicatos contestam afirmando que «negociar salários com base na inflação da zona euro do ano anterior representa um retrocesso de 20 anos». Atendendo a que a taxa de inflação da zona euro é menor do que em Portugal, a sua consideração por oposição à nacional, representa desvalorização salarial.
Os sindicatos têm razão quando afirmam que utilizar como referência a taxa de inflação da zona euro, em vez da taxa de inflação em Portugal, «representa uma desvalorização salarial».
Todavia esquecem-se, ou fingem esquecer-se, que a manutenção dos aumentos salariais referenciados à taxa de inflação em Portugal, equivale a manter uma inflação superior à média europeia, com reflexos nos custos das empresas e na continuada perda da sua competitividade externa. Como Portugal tem uma economia extremamente aberta ao exterior, essa perda de competitividade criará problemas a nível das exportações, com impacte negativo no saldo das nossas contas com o exterior, e na saúde económica das empresas, com consequências muito negativas no emprego.
Isto é, os sindicatos trocam benefícios ilusórios no curto prazo (ilusórios, porque imediatamente corroídos pela degradação económica e monetária) pela perspectiva a médio e longo prazo de uma economia mais sã, mais geradora de emprego e que permitisse um crescimento futuro mais sustentado.
Os sindicatos deviam abandonar uma estratégia meramente salarial e de manutenção de pretensas regalias que têm efeitos perversos no tecido económico e acaba por se virar contra os interesses dos trabalhadores, em geral, a médio e a longo prazo. A luta contra o desemprego não pode ficar circunscrita aos protestos às portas das empresas que vão fechando, pois tal não passa de retórica, para tentar extrair dividendos políticos, porque a catástrofe já aconteceu. As organizações laborais devem enveredar por uma via de defesa sustentada dos interesses dos trabalhadores: apostar na obrigatoriedade da formação nas empresas, encontrar formas de participação dos trabalhadores de maneira que estes tenham uma informação mais efectiva, na sua empresa, da evolução do mercado, da gestão que está a ser feita pelas chefias, das eventuais fragilidades da empresa, etc., que lhes permita uma intervenção com mais conhecimento de causa, propondo atempadamente soluções, ou construindo soluções em conjunto com a entidade patronal, ou exigindo que se encontrem soluções, antes que o deslizamento para a catástrofe se torne irreversível.
Há, no nosso país, um grande défice de gestão. Parte do patronato, nomeadamente nas empresas mais pequenas, ou nas indústrias tradicionais, não se apercebe das necessidades em inovação e na qualificação necessária para promover essa inovação e tem uma visão musculada do controlo e da eficiência laboral, isto é, julga que essa eficiência só se consegue por via repressiva. A institucionalização de uma maior participação construtiva dos trabalhadores incentivá-los-ia a melhorar o seu desempenho. Tem que haver controlo e disciplina mas não apenas no que toca ao trabalhador. O patronato precisa de saber que o seu desempenho também está a ser avaliado. Mas isto só poderá acontecer se essa participação for esvaziada do conceito de luta de classes e vista numa óptica de defesa comum de um activo que é indispensável a todos. Não quero com isto dizer que não deva haver conflitualidade de pontos de vista. Certamente haverá e será útil e estimulante que tal aconteça. Mas para que seja estimulante, terá que haver a percepção mútua que ambas as partes estão interessadas na prosperidade e crescimento da empresa.
Em contrapartida, o patronato também faz exigências insolúveis na presente conjuntura. Não é possível aumentar o rendimento disponível dos trabalhadores reduzindo a carga fiscal. O país tem um grave problema com a despesa com uma função pública pesada e ineficiente. Mas, por lei, tem que providenciar ao pagamento dos seus vencimentos e para isso precisa de receitas fiscais. Deverá ser exigido ao governo que reforme a administração pública e que promova acções que melhorem o seu desempenho. Mas isso demora tempo, admitindo que o governo seja capaz de o fazer.
Simplesmente, nesta matéria o governo está a enveredar pelo tipo de gestão do nosso empresário tradicionalista: discursos ad terrorem, congelamentos salariais (conjunturalmente necessários em face da situação a que se chegou, mas que terão que ser apenas conjunturais), mas nada no que respeita a reorganização e restruturação dos métodos de gestão na função pública, exceptuando algumas medidas débeis e avulsas.
É evidente que não é fácil fazer essa reorganização e restruturação. Há vícios, hábitos nocivos e interesses corporativos instalados em todos os níveis da função pública. Quando se faz uma restruturação de uma empresa têm que ser ganhas as chefias, superiores e intermédias, quadros e pessoal em geral. Toda esta gente tem que ser motivada e compreender que a restruturação é útil para a empresa, embora possa envolver alguns incómodos, mudanças de posição, perdas pontuais de benefícios nocivos para o interesse comum, etc.. Ora não vejo nada nos discursos dos responsáveis políticos que criem esta percepção.
Também é evidente que fazer reformas numa empresa é mais fácil que em todo o aparelho do Estado. Não é apenas uma questão de dimensão e de diferenciação de situações. No caso da função pública os sindicatos e as forças políticas da oposição não deixarão de meter paus na roda, tentando sofismar algumas questões e explorar alguns interesses que possam vir a ser atingidos. Mas se for bem delineada, a reforma terá o apoio da maioria da população. Uma sondagem recente revelou que os sindicatos são a entidade de que os portugueses mais desconfiam. Os sindicatos estão desacreditados. Todavia a forma desajeitada e incompetente como o governo tenta dirimir esta questão está a carrear argumentos para a contestação sindical .
Resolver assim as diferenças a que se chegou entre o governo, o patronato e os sindicatos é fazer a quadratura do círculo.
Pior, como estamos a 3 dimensões será a cubatura da esfera.
O que a Joana queria era que os sindicatos abanassem o rabinho ao patronato.
Dessa tá bem livre. Os sindicatos hadem combater até ao fim até à vitória
O que a Joana queria era que os sindicatos abanassem o rabinho ao patronato.
Dessa tá bem livre. Os sindicatos hadem combater até ao fim até à vitória
O que a Joana queria era que os sindicatos abanassem o rabinho ao patronato.
Dessa tá bem livre. Os sindicatos hadem combater até ao fim até à vitória
Uma das coisas que me causa admiração é o nível de algumas intervenções.
Afixado por: Rui Pereira em março 10, 2004 12:32 AMNão se compreende, de facto, a posição das organizações patronais.
A dos sindicatos, é banal aquele tipo de contestação, mas as exigências dos patrões são estranhas.
Deve haver alguma jogada
Cara Joana
Adimro a sua luta em prol da defesa do patronato, ainda que por simples descargo de consciência admita o óbvio, ou seja, que a generalidade dos empresários portuguesas não apostam na modernização, qualificação da sua gestão e dos seus trabalhadores, na competitividade dos seus productos, não pelos baixos salários, mas pelo valor acrescentado que terão tentar conseguir para eles.
Acresce que para a generalidade das empresas, nomeadamete as de indústria o salário mínimo nacional funciona mais como uma tabela salarial automática de base, havendo poucas empresas que paguem mais que o legislado pelo Governo em cada ano.
Por isso, parece-me socialmente injusto continuar a pedir (OU A EXIGIR) aos que tão pouco ganham menslmente mais sacrifícios em nome de um futuro que nunca mais vem, de um futuro que agora parece não ser já para 1006, mas para 2010.
A era dos "amanhãs que cantam" já lá vai, desde os tempos de juventude do nosso Durão.
Um futuro de sol radiante para os trabalhadores, tal como os antigos líderes soviéticos iam prometendo aos russos para as calendas, em nome de um ideal.
Não é com promessas de melhoria tempoarlmente distantes que se consegue agremiar a boa vontade dos sindicatos e de quem trabalha por conta de outrem.
É com práticas, e também com exemplos.
E se os empresários portugueses, que produzem pouco têm das remunerações mais altas da UE, não se lhes pode dar crédito ao exigir sacrifícios aos que para eles trabaham.
É tudo uma questão de justiça salarial.
E acreditar que a inflacção só baixa com a baixa geral do nível de vida da população, não lhe parece que estamos novamente a beber das teses dos chamados órfãos de Friedman?
Repare:
O desempergo disparou (o que só agrada aos empresários, já que uma elevada bolsa de desemprego não pressiona as subidas salariais) e se não há investimento público nem privado, e se a inflacção apesar isso se mantem alta, serão os trabalhadores que genericamente já ganham pouco que terão ainda durante mais 6 anos que se sacrificar?
Acha que há justiça social que se coadune com esta política neo-liberal?
Afixado por: Al_Mansour em março 10, 2004 11:52 AMVc , Joana , é muita engraçada . Desta vez faz de consultora do patronato ( ainda por cima dum patronato tão empreendedor como o português !!! )
Vc critica os sindicatos pela sua visão de curto prazo.Há mais alguma visão/estratégica neste país ?
Além disso devia lembrar-se daquela máxima : " a longo prazo estamos todos mortos " !
Al_Mansour em março 10, 2004 11:52 AM - 1
Adimro a sua luta em prol da defesa do patronato, ainda que por simples descargo de consciência admita o óbvio, ou seja, que a generalidade dos empresários portuguesas não apostam na modernização, qualificação da sua gestão e dos seus trabalhadores, na competitividade dos seus productos, não pelos baixos salários, mas pelo valor acrescentado que terão tentar conseguir para eles.
Resposta: Mais óbvio que que os empresários portugueses não apostarem na modernização, é os trabalhadores portugueses serem avessos à formação, nomeadamente na função pública. Não falo das acções de formação para quadros, no exterior, que não passam, na maioria dos casos, de formas de mascarar o subemprego da função pública e de premiar alguns subordinados, e que não servem rigorosamente para nada.
Quando falo de formação e de requalificação, estou a pensá-la destinada a uma abordagem de tarefas mais qualificadas ou numa mobilidade para áreas de maior qualificação, onde a inovação é mais necessária.
Mas para isso é necessária mobilidade laboral e alguma flexibilidade contratual
Al_Mansour em março 10, 2004 11:52 AM - 2
Acresce que para a generalidade das empresas, nomeadamete as de indústria o salário mínimo nacional funciona mais como uma tabela salarial automática de base, havendo poucas empresas que paguem mais que o legislado pelo Governo em cada ano
Resposta: Isso só é verdade, e muito parcialmente, nas indústrias de baixo valor acrescentado, que concorrem com a China, Tailândia, etc., e cujo destino é, mais tarde ou mais cedo, o encerramento. De qualquer dos modos, você pode apressar esta meta se pedir aumentos salariais substanciais. Verá que em poucos meses aquilo que você designa incorrectamente por generalidade das empresas desaparece e deixa de haver esses salários de miséria. Ficam todos no desemprego.
Al_Mansour em março 10, 2004 11:52 AM - 3
O desempergo disparou (o que só agrada aos empresários, já que uma elevada bolsa de desemprego não pressiona as subidas salariais) e se não há investimento público nem privado, e se a inflacção apesar isso se mantem alta, serão os trabalhadores que genericamente já ganham pouco que terão ainda durante mais 6 anos que se sacrificar?
Resposta: Os desempregados pelo fecho das empresas obsoletas não constituem qualquer bolsa de desemprego, pois, na sua maioria, não têm qualificação para as actividades económicas de que o país necessita. Essa sua tese do exército industrial de reserva era válida na época em que o trabalho era indiferenciado e não qualificado, ou seja, na época em que Marx escreveu. Desenterrar esses chavões na economia actual é não ter qualquer noção do actual tecido económico.
Al_Mansour em março 10, 2004 11:52 AM - 4
Por isso, parece-me socialmente injusto continuar a pedir (OU A EXIGIR) aos que tão pouco ganham menslmente mais sacrifícios em nome de um futuro que nunca mais vem, de um futuro que agora parece não ser já para 1006, mas para 2010.
Resposta: É mais injusto deixá-los ir para o desemprego daqui a mais uns anos. Aliás, grande parte do pessoal do sector privado compreende isso. Os aumentos salariais no sector privado têm sido baixos, mais baixos que os da função pública (excepto em 2003 e, tudo indica, em 2004)
A questão é que aqueles desgraçados do sector privado sabem que a alternativa é virem a ter problemas com o facto da sua empresa não ter dinheiro para os salários e começar a atrasar os pagamentos e eventualmente encerrar, enquanto você pensa que o Estado, ou a CML, pagará sempre e em qualquer circunstância. Uns vivem (e sentem) a concorrência, enquanto os outros pensam que o dinheiro nasce em alguma fonte inesgotável.
Desengane-se. Se as empresas começarem a falir e os trabalhadores a ficarem no desemprego, deixa de haver cobranças de IRC, IRS e IVA. Como o pessoal vai começar a utilizar menos as viaturas, diminuirá a arrecadação dos impostos sobre produtos petrolíferos; como a população consumirá menos, o comércio decairá e induzirá mais desemprego e assim sucessivamente. As receitas do Estado e das autarquias descerão drasticamente. E onde arranjar dinheiro para pagar à função pública? Se aumentar os impostos aquele processo é acelerado: as empresas perdem competitividade por aumento dos custos, vendem menos, despedem, fecham, etc.
Não há qualquer alternativa à actual política orçamental de contenção salarial. Haverá alternativas às políticas económicas e outras, onde o governo se tem mostrado inábil. Mesmo a nível da política financeira, a ministra tem-se portado mais como uma merceeira do que como uma ministra das finanças, mas no que respeita à contenção salarial não tem alternativas.
Al_Mansour em março 10, 2004 11:52 AM - 5
E se os empresários portugueses, que produzem pouco têm das remunerações mais altas da UE, não se lhes pode dar crédito ao exigir sacrifícios aos que para eles trabaham.
Resposta: Isso é válido apenas para algumas indústrias familiares do norte do país.
Todavia, no sector privado, a qualificação remunera-se a níveis mais próximos da Europa que o pessoal indiferenciado. Mas não são só os empresários. Pense nos pilotos da TAP. Aliás, uma parte importante dos quadros superiores do sector privado ganha mais que os ministros. Mas se as empresas, que produzem para o mercado e têm que manter os seus custos nos limites impostos pelos seus proveitos, lhes pagam salários elevados é porque o podem fazer, ou melhor, é porque têm necessidade de o fazer, senão esses quadros superiores transferem-se para outras empresas.
No sector privado, o mercado de emprego dos quadros de formação superior vive em regime de concorrência quase perfeita. É muito mais comum um técnico mudar de empresa por vontade própria do que sair por imposição da empresa, mesmo estando a prazo.
zippiz em março 10, 2004 06:49 PM:
Ser consultora é a minha profissão ... portanto.
A longo prazo estamos todos mortos, mas estarão cá os nossos filhos, netos, bisnetos etc.
Convém construir uma sociedade a pensar no futuro.
Você está equivocado sobre a ausência de estratégia. Não confunda a classe política com a classe empresarial. A classe empresarial é obrigada a ter, cada vez mais, estratégias, para manter as suas empresas à tona da água.
Quem está de fora não conhece o drama de muitos empresários para solver os seus compromissos, pagar aos seus funcionários, garantir uma carteira de encomendas estável, etc.
Vêem apenas o estereotipo do empresário de algumas terras do Entre-Douro-e-Minho que compra Ferraris ou Lamborghinis em vez de investir.
Afixado por: Joana em março 10, 2004 08:12 PMJoana , Vc deve ser a única optimista acerca da bondade dos empresários portugueses.
Esqueça as Sonaes e outras, poucas, excepções . O "empresário" português anda com as facturas no bolso , levanta o dinheiro da vendas no fim do dia , é um verdadeiro artista em contabilidade (quando existe) criativa , conhece todo o acervo legislativo dos subsídios a fundo perdido ... e os culpados dos encerramentos das empresas são os trabalhadores.
ps : (...)Quem está de fora não conhece o drama de muitos empresários (...), diz Joana . Trinta e seis (36) anos de empresas privadas tenho eu e sei do que falo.
zippiz, o seu patrão era dono de alguma loja de vão de escada?
Afixado por: Hector em março 10, 2004 11:09 PMHector,
ficou sensibilizado com a descrição ?
e Vc , trabalha numa empresa exemplar ?
não confundamos o tecido empresarial com ...o grupo BCP ( que até vai distribuir lucros pelos colaboradores ) !!!
Gostei muito do texto, lê-se bem apesar da matéri a não ser leve. Não vou comentar o conteudo em si porque não percebo muito de economia, mas quanto à cubatura da esfera só será possível se de todas as direcções se fizer um esforço gravitacional para tornar o universo fechado e com espaço curvo.
Repartir o mal pelas aldeias, enfim, porra por todos não custa nada, será o melhor a fazer.
Parabéns pelo texto.
As coisas que escreve fazem sentido principalmente se olharmos ao que se esta a passar na Volkswagen. Espero que a Volkswagen em Portugal nao seja afectada
Afixado por: Filipa Zeitzler em março 11, 2004 09:33 PMAcho excelentes quer a sua análise quer as respostas que deu.
Tenho receio com o futuro do nosso país com gente assim. O que nos vale é a União Europeia que não nos deixa pôr o pé em ramo verde, senão com esta demagogia estávamos feitos
De acordo
Afixado por: Ventura em março 11, 2004 10:17 PMHector e zippiz:
A maioria esmagadora das unidades empresarias portuguesas é constituída por lojecas, oficinas, etc.. Todavia a nível de efectivos a sua importância é muito menor.
E ainda é menor a outro nível: quem define a competitividade do país são as unidades que produzem bens e serviços transaccionáveis com o exterior. Os outros vão por arrasto.
Os nossos restaurantes não são mais competitivos que os restaurantes estrangeiros? São. Todavia isso não nos serve de nada porque não se trata de bens transaccionáveis com o exterior.
Joana
Obrigado pela extensa atenção que o meu texto lhe mereceu.
Mas depois de ler as suas respostas, fiquei com uma dúvida:
O que se faz ao trabalhadores desempregados, ainda com idade para trabalharem ,com baixas qualificações ?
Matam-se?
Internam-se em asilos?
Dá-se-lhe formação para tentarem reconstruir a vida, e assim mascarar o desemprego, como rferiu?
Esterlizam-se?
Ou a Joana acredita que quem tem o salário mínimo ou mesmo a rondar os 500 /mês, com 2 filhos, despesas escolares, casa, a prestação do carro e do frigorífico, os transportes, tem ainda verba disponível para pagar cursos de valorização, que são caríssimos?
Ou acha que na FP faz formação quem quer?
Não sabia que faz formação quem pode, e não quem quer?
Afixado por: Al_Mansour em março 16, 2004 01:03 PMAlmançor: Essa pessoa que "tem o salário mínimo ou mesmo a rondar os 500 /mês, com 2 filhos, despesas escolares, casa, a prestação do carro e do frigorífico, os transportes" deve ter uma grande lábia.
Como é que ele conseguiu convencer o gerente bancário a conceder-lhe créditos para o "carro", o "frigorífico", etc.
Espero que a casa não tenha sido adquirida a pronto!
Afixado por: Joana em março 17, 2004 12:18 AM"Essa pessoa que "tem o salário mínimo ou mesmo a rondar os 500 /mês, com 2 filhos, despesas escolares, casa, a prestação do carro e do frigorífico, os transportes" deve ter uma grande lábia.
Como é que ele conseguiu convencer o gerente bancário a conceder-lhe créditos para o "carro", o "frigorífico", etc."
Joana: não me decepcione.
A Joana sabe bem que para comprar um electrodoméstico a prestações não é necessário ir ao banco falar com o gerente (ou devia saber).
Basta passar uns cheques pré-datados numa loja Singer ou fazer um financiamente que é ou não autorizado de acordo com os dados do IRS apresentados referente ao ano transacto.
Ou pedem ajuda aos pais ou outros familires.
Quanto ao carro, como saberá não se compram só BMW ou Jipes.
Também há corsas e unos em 2º ou 3ª mão ao preço de 500 contos e que se podem pagar em 2 anos.
A realidade do país parece-me bem diferente do que a Joana a vê.
Assim, você parece o @kabaral do on-line do EXPRESSO !
É que pela sua resposta fico com a sensação que ou a Joana não acredita que há pessoas a ganhar 500/mês ou então essas pesssoas não têm direito a comparar um frigorífico.
Estarei errado?
Almançor:
Acredito perfeitamente que as há e não serão tão poucas como isso. Também acredito que haja carros em 2ª ou 3ª mão a esse preço, basta ver alguma sucata com que me cruzo nas ruas de Lisboa.
Eu apenas glosei esse ícone miserabilista que você apresentou no comentário anterior, porque não cola. Foi demais e contraditório como composição pictória da miséria. Fazia lembrar um filme neorealista italiano do pós-guerra.
Almançor:
Falando agora a sério
O que se faz ao trabalhadores desempregados, ainda com idade para trabalharem ,com baixas qualificações ?
Matam-se? Não
Internam-se em asilos? Não
Esterlizam-se? Não, até porque quem são eles que não são qualificados e não os eventuais descendentes
Ou a Joana acredita que quem tem o salário mínimo ... tem ainda verba disponível para pagar cursos de valorização, que são caríssimos?
Isso nunca esteve no meu pensamento, até porque não serão eles as pessoas mais indicadas para saber que tipo de qualificação arranjar. Isso terá que ser objecto de programas delineados pelo Estado, autarquias e empresas. Mas isto foi o que escrevi, se você ler o texto.
Mas tenho visto muitos jovens licenciados a pagarem do próprio bolso (às vezes do bolso dos pais) mestrados caríssimos.
Ou acha que na FP faz formação quem quer?
Não sabia que faz formação quem pode, e não quem quer?
Não conheço a função pública, mas tenho observado gente da função pública que aparece em acções de formação. A ideia que dá é que não se trata de nenhum plano integrado, mas um rebuçado que se dá a troco não sei do quê. Em qualquer dos casos, como eles não devem fazer muita falta no serviço em que se encontram ...
Quando escrevi que os trabalhadores portugueses são avessos à formação, leia o que escrevi.
Repare que normalmente a formação está ligada a uma mudança de funções e de hábitos de trabalho. Muitas vezes implica modificações do local de trabalho. Implica riscos. E é a isso que os trabalhadores são frequentemente avessos, nomeadamente os mais velhos.
Você não vai qualificar uma pessoa para continuar a fazer a mesma tarefa. A requalificação, nomeadamente nas indústrias tradicionais, implica a mudança da actividade. Para isso, como escrevi, é necessária mobilidade laboral e alguma flexibilidade contratual
Joana
Que mau gosto o seu ao dizer que descrever uma realidade diária de muitas famílias em Portugal, se parece com um filme neo-realita italiano.
Se eles são feios porcos ou maus, não me interessa.
Muitos desses feios, porcos e maus, apenas deixam de ser porcos por fora porque tomam duches com sais de banho nas suites dos apartamente chiques da linha.
Mas por dentro são iguais aos da Curraleira ou da Brandoa.
Apenas com uma conta bancária muito choruda, uma boa cunha de um pai ou de um tio que os conseguiu "enfiar" num cargo bem pago e melhor prestigiado, e assim passam a olhar os outros como uma espécie de perdedores sub-humanos, sem outro sentimento para com eles que umas atitudes de caridadezinha.
Para aliviar a consciência.
Afixado por: Al_Mansour em março 18, 2004 12:26 PMAlmançor: Quando me referi ao neorealismo italiano, não falava de Feios, Porcos e Maus ... um "neorelismo" tardio.
Falava da época áurea: Ladrões de Bicicletas, por exemplo.
Mas a gente do "Ladrões de Bicicletas" correspondia a uma realidade de então. A iluminura que você criou não tem suporte material. Como escrevi algures: Foi demais e contraditório como composição pictória da miséria