Uma interessante faceta de alguns intelectuais da nossa praça é a de serem capazes de fazerem, sobre um dado tema, uma afirmação e a sua negação de forma peremptória, conclusiva e sem margens para dúvidas, quer quando afirmam, quer quando negam.
Esse fenómeno quase-hegeliano pode suceder quer em escritos espaçados no tempo – quem se afadiga a escrever nem sempre se lembra do que havia escrito dias ou meses antes – quer num único e contraditório escrito.
Rosas postulava ontem no Público mais uma definitiva tese sobre o envolvimento americano no Iraque. Nesse artigo seminal, para demonstrar como a posição americana estava irremediavelmente comprometida, Rosas afirmava que « as forças ocupantes anglo-americanas já não podem sair do Iraque como quereriam. Ou o abandonam expeditamente e a curto prazo, não garantindo o controlo político, militar e das matérias-primas da região, ainda por cima com o risco de deixar no governo uma reedição xiita dos "ayatollahs" iranianos que lhes fará ter saudades do cooperante Saddam de outros tempos e isso será o reconhecimento público de uma grave derrota da estratégia da "guerra infinita". Ou prolongam e intensificam a sua presença militar para ver se agarram alguma coisa, e arriscam-se a sair de Bagdad como um dia saíram dos terraços da embaixada de Saigão: pendurados nos helicópteros.»
Portanto, Rosas é claro: quer os americanos, quer os iraquianos estão «entalados». Os primeiros porque qualquer solução é uma derrota, os segundos porque, se os ocupantes coloniais e imperialistas retirarem, vão ficar à mercê dos "ayatollahs" iranianos, dos independentistas curdos no norte, da resistência armada dos apoiantes do Baas e do terrorismo islamista.
Um caos horrível, pavoroso, pior que o pior dos noticiários da TVI. Eu já me dispunha a fazer um zapping misericordioso para outro artigo, quando me lembrei que o Rosas é um intelectual cheio de recursos e deixei-me ler o resto. E o resto era uma mensagem de felicidade.
E era uma mensagem de felicidade, porque Rosas pretendia fazer um apelo à comparência na «segunda grande manifestação internacional contra a guerra que vai ter lugar no próximo dia 20 de Março». Agora, escreve ele, «é urgente que a possamos repetir para esconjurar a injustiça e a desumanidade resultantes de a não termos conseguido impedir.»
Mas como é possível convencer o pessoal a ir a uma manifestação para apelar à instalação do caos no Iraque, segundo os sábios e iniciais parágrafos do preclaro ensaísta e historiador?
Simples (e cito): «a despeito do caos, da destruição e da violação de direitos que a invasão do Iraque originou, só há uma solução possível para o problema: a retirada incondicional das tropas ocupantes; a instituição no terreno de uma entidade internacional reconhecida por todas as partes que viabilize a autodeterminação democrática e a independência nacional do povo iraquiano»
A varinha mágica de Rosas viabiliza, no seu último parágrafo, aquilo que tinha inviabilizado nos primeiros.
É que, ao entrar nesse último e salvador parágrafo, Rosas atravessou o Rio Lethes, o rio do eterno esquecimento. Com a sua memória «limpa» Rosas escreve « Continuo a surpreender-me com os "realistas", que dizem que uma solução deste tipo precipitará o país no caos».
Rosas post-Lethes surpreende-se com o Rosas anterior à travessia desse rio fatal.
É normal: os génios não param de se surpreenderem a si próprios!
Porque será que esta bovina não se refere aos escandalosos aumentos nos Hospitais SA e ao aumento de 125% dos Eurodeputados.
Esta ressabiada deve ser uma bem amanhada, mulher da vida de algum boy inútil...
Afixado por: Questionador em janeiro 22, 2004 11:48 PM(...) Continuo a surpreender-me com os "realistas", que dizem que uma solução deste tipo precipitará o país no caos».(...)
Joana Vc não tem sentido de humor nenhum ! Então se o país já está no caos , não é caso para Rosas se surprender com todas as "realistas joanas" ?
Afixado por: zippiz em janeiro 23, 2004 12:04 AMEsta gaja não grama tudo o que lhe cheire a esquerda. Por isso não os larga
Afixado por: Cisco Kid em janeiro 23, 2004 12:52 AMCara Joana:
A contradição aí está, é um facto. Mas não leve a mal ao homem a travessuia do rio do esquecimento, porque é óbvio que a fez forçado.
É que não basta ter razão, é preciso ter soluções. Foi o que Rosas procurou, e conseguiu: neste artigo ele tem razão e apresenta soluções.
Infelizmente, porém, na parte onde tem razão não apresenta soluções, e na parte onde apresenta soluções não tem razão. Coisas que acontecem a quem não quer separar o pensamento da acção.
Afixado por: Zé Luiz em janeiro 23, 2004 12:10 PMCara Joana,
Gostaria de comentar a respeito do seu texto mas como diz respeito a assuntos políticos do seu país fica impossível. Aqui no Brasil seja pela tv, jornal, internet ou seja lá qual for a mídia não chega nada de Portugal, a não ser quando acontece alguma coisa realmente pitoresca e claro notícias de futebol. No começo meu blog era o que eu chamava de "blog revolta", ou seja, críticas ácidas aos políticos e intituições dessas bandas mas por questão de coerência abandonei essa "linha editorial", afinal o nome do meu blog é carpe vitaem (o URL carpeM vitaE foi um erro medonho que corrigi no título mas por motivos técnicos deixei no URL)então passei a falar de amenidades e deixei a discussão política para a mesa de bar. Obrigado pela visita. Com certeza farei referência da fonte quando publicar seu texto e na semana que vem vou colocar seu link na minha lista de amigos. Beijos, F
Afixado por: F em janeiro 23, 2004 07:57 PMO que me faz impressão no F Rosas é que ele diz e escreve essas baboseiras com um ar doutoral e de auto-satisfação, como se estivesse a dizer teorias de grande valia. É insuportável.
Afixado por: Hector em janeiro 23, 2004 09:31 PMRosas é um grande dirigente político e esta droga é um monte de calúnias.
Que é isso do Lethes?
Um trotskista é sempre um trotskista... E os nossos coitadinhos, têm de fingir que são democratas... daí essas incoerências... É normal.
Um abraço,
francisco Nunes
Também antipatizo com o Rosas. Acho-o enfatuado, cheio de coisa nenhuma
Afixado por: Trofa em janeiro 25, 2004 01:11 AMagora o sr francisco Nunes é que define quem é democrata !
aliás, a própria Joana/bloguista também tem este "bom" hábito de definir quem é BOM e quem MAL. A seguir vêm os "democratas" do costume bater palmas ... e depois ficam irritadíssimos quando se lhes chamam reaças !
Ó zippiz, então quem define quem é reaças? É o zippiz?
Sendo assim estamos em igualdade.
Foi pena não ter caido ao rio.
Ficava a boiar
Uma bola daquelas não se afoga
Afixado por: anonimo em janeiro 27, 2004 10:32 PMcaro Filipe ,
é uma questão de Português e de leitura do dito :
(...) depois ficam irritadíssimos quando se lhes chamam reaças !(...)
Joana
Gostei da abordagem com o (meu) rio Lethes de permeio.
Para quem não sabe ou não conhece o rio Lima (Viana do Castelo - Ponte de Lima - etc.) um dia destes vou contar a história.
Nilson:
Passeava Décios Junos Brutos, com as suas legiões pelas ridentes regiões de entre Douro e Minho, já lá vão 2.135 anos, quando atingiu a margem esquerda de um rio que os seus legionários se recusaram a atravessar, alegando ser aquele o Rio Lethes. Ele atravessou o rio, sozinho e, da outra margem chamou-os pelos nomes, para eles verem que tinha conservado as suas memórias. É claro que devia ter levado uns papiros com uma lista de nomes e não teve qualquer dificuldade. Assim os convenceu não ser aquele o rio do esquecimento.
Chamou-se depois Rio Lima. Uma bela tapeçaria de Almada Negreiros existente no Hotel de St.ª Luzia em Viana do Castelo evoca essa efeméride.
O Rio Lethes k passa em Ponte de Lima, é lindissimo, exerce sobre mim um fascinio mt grande.. aconselho a visita...
Afixado por: mauro_mars em janeiro 27, 2005 01:03 AM