Segundo a Comunicação Social, Ferro Rodrigues processou, ou vai processar “quem o caluniou”, ou seja, as testemunhas que teriam referido o seu nome no caso da pedofilia.
Ora processar menores (ou que eram miúdos à data da ocorrência dos factos) vítimas de abusos sexuais, se estes forem representados por advogados habilidosos, pode revelar-se uma tarefa espinhosa e contraproducente, mesmo que os testemunhos sejam equívocos. Como pretende Ferro Rodrigues sustentar durante meses ou anos um processo sórdido, no papel de acusador de vítimas de práticas pedófilas que, à partida terão a compaixão pública, com “revelações” saindo a conta-gotas na comunicação social? Seria um desgaste de imagem terrível.
Um arguido pode defender-se deste tipo de testemunhos, em tribunal, desacreditando-os, exibindo alibis ou lançando dúvidas sobre a sua veracidade. Quem não é arguido, mas está referenciado no processo, pode asseverar que está à disposição da justiça para o que esta entender, dado estar seguro da sua inocência por os depoimentos não passarem de erros ou calúnias, explicando porquê e o caso morre ali, pois não foi deduzida acusação. Processar menores, alegadas vítimas da rede pedófila, será sempre, e nomeadamente se se tratar de um político, um acto desastrado.
Porém, Ferro Rodrigues pretende mais que processar menores. A sua pretensão última é pressionar a justiça e atemorizar as testemunhas do processo. Ferro Rodrigues que enquanto Ministro da tutela da Casa Pia (de que também foi Paulo Pedroso), não fez nada para pôr cobro ao que então se passava, pretende agora pressionar e atemorizar testemunhas, que são os menores que foram vítimas de abusos enquanto ele tutelava a Casa Pia.
Não é a primeira vez que Ferro Rodrigues aparece com uma truculenta e pretensa autoridade moral a alijar responsabilidades. Fê-lo vergonhosamente na questão da Metropaço, onde agiu com uma grande irresponsabilidade e ligeireza, sendo politicamente responsável por o erário público ter sido “aliviado” de 40 milhões de contos e se comportou na Comissão de Inquérito com a desfaçatez de quem sabe que em Portugal a gestão danosa da coisa pública não sofre punição.
Nestes dias, como já o tinha sido em fins de Maio, Ferro Rodrigues foi igual a si próprio: um líder sem estatura política que tenta protagonizar uma inocência através da truculência e de falar grosso. Um líder que tenta transformar um caso do domínio privado, trazendo-o para o domínio político, arrastando o próprio partido, como se fosse todo o PS que estivesse envolvido na rede pedófila, ou que este caso fosse um caso político.
Jaime Gama também aparece referenciado nas notícias com idêntica pretensão. Jaime Gama tem sido dos poucos dirigentes socialistas que tem sabido manter alguma sensatez no desastre que tem sido o PS na oposição. Espera-se que mantenha a cabeça fria e que não enverede pelo mesmo registo de truculência e de pseudo-autoridade moral de Ferro Rodrigues.
Mais grave: este desenvolvimento é referido nas notícias como o “PS contra-ataca”. Ainda antes da TVI avançar com as notícias, Vera Jardim, convertido em porta-voz do partido para as questões da pedofilia, divulgou o comunicado, em nome de Ferro Rodrigues, manifestando «violenta indignação contra tal patifaria».
Ora o PS não está envolvido nos casos de pedofilia. Estarão, alegadamente, alguns dirigentes socialistas, mas a título individual. Não se percebe como Vera Jardim aparece agora como pedofilista de serviço.
Corrijo: o PS não está, à partida, envolvido no caso da pedofilia, mas os seus dirigentes estão a fazer os possíveis para o envolver, como instituição, naquele caso.
O processo da pedofilia vai ser muito sórdido. Haverá erros nos depoimentos, alguns enganos, erros de datas, etc.? Esses erros poderão fragilizar a acusação, suscitarem dúvidas e levarem à absolvição de alguns dos arguidos? Pode acontecer. Mas as testemunhas foram vítimas de abusos sexuais, trazem no corpo e no espírito o sofrimento físico e moral desses abusos. Irão descrevê-los e a opinião pública irá sofrer com essas descrições. Irão identificar os seus agressores e narrar, ao pormenor, como eles praticaram esses abusos. Todos esses depoimentos aparecerão nos horários nobres das TV’s, com a repugnante sordidez em que essas estações são exímias. Ligar o PS a todo esse estendal de podridão será um crime contra o partido e contra a democracia portuguesa que precisa do PS, não do PS do Ferro Rodrigues, mas de um PS que aja com o sentido de Estado de um partido da área do poder.
Ferro Rodrigues julga que arrastando o PS para este caso sórdido, ficam, ele e os seus amigos, mais protegidos das eventuais consequências do mesmo. É um equívoco. Juntar política e sordidez moral é uma mistura explosiva. Não diminui o risco, antes o portencia.
O seu ponto de vista até tem lógica, mas o não
actuar seria a todos os títulos desaconselhável, tendo em vista que, como se costuma dizer, quem cala consente.
Tudo isso é verdade. Tem lógica, mas o Ferro estava amarrado ao que já tinha declarado durante estes meses.
Para ele não bastava agora dizer que era mentira e explicar publicamente porquê. Tinha que mover o processo, pois já o tinha dito que fazia.
E o Gama vai amarrado ao carro do Ferro.
Portanto o amigo Cerejo acha que o Ferro Rodrigues vai por um plano inclinado e que já ninguém tem mão nele? Nem ele próprio?
Vai ser bonito.
Esta gaja está sempre a mandar abaixo o Ferro.
Afixado por: Cisco Kid em dezembro 31, 2003 09:09 PMCostuma-se dizer cá na terra que "onde há fumo há fogo", pelos vistos o Ferro vai levar mais uma fogaça...
Afixado por: Francisco em dezembro 31, 2003 09:22 PMÉ óbvio que o Ferro Rodrigues não tinha alternativa.
A sua decisão,- que pode conduzir à situação pouco confortável de a estar a ser queimado em lume brando durante largo período de tempo,- tem inegávelmente a virtude de se aprofundar a teia em que, voluntária ou involuntáriamente, está metido.
De resto, continuo convicto que o PS não será duramente penalizado nos próximos actos eleitorais, porque, então,teríamos de concluir que o "crime" (da péssima governação da tripla PSD/PPD/PP)compensa...
Com que então amanhã temos a liberalização do preço dos combustíveis. POarece que o espanhois que já nos levam uns mesitos de avanço estão com problemas. Desconfia-se de uma cartelização das grandesa distribuidoras. Que tal pegar neste assunto deusa dos Assírios?
Deixemos os tribunais actuar...
Acho que numa altura destas apenas podemos fazer perguntas. Afirmações como estas e outras podem ser desmentidas no dia seguinte.
Eu confio na justiça portuguesa.
Deixem funcionar a justiça. São as frases que mais tenho ouvido no ano que passou.
Mas será que quem o diz acredita nelas?
O que escreve sobre as possíveis consequências para o Ferro da queixa-crime tem lógica.
Agora imagine que tudo não passa de uma calúnia. Que fazer? Qual a opção com menos custos políticos?
Você falava, nuns escritos abaixo, da Teoria dos Jogos aplicada às decisões. Aplique-a aqui e veja se o que escreveu se mantém depois dessa análise
Não concordo com a sua análise, apesar de respeitável.
Quanto ao Ferro ser acusado, ainda que indirectamente, ele como qualquer um de nós pode e deve querer apurar responsabilidades sobre quem e de que modo o seu nome aparece envolvido em tal caso. Para mais um caso sórdido como este.
A Joana ou outra pessoa qualquer, se visse o seu nome envolvido publicamente num caso desses não reagia?
Eu reagia.
Quanto ao epísódio da Metropaço, relembro-a que quem ficou a perder com essa estória foi o Governo e nomeadamente o ministro Valente de Oliveira que diligentemente enviou para o MP o caso para serem apuradas responsabilidades criminais de Ferro nesse caso.
Mas menos diligentemente guardou as conclusões do MP na sua gaveta durante 2 meses, sem dar conta das conclusões do inquérito ao Governo, à AR ou ao próprio Ferro Rodrigues.
O PM Durão barroso terá feito mesmo um telefonema particular a Ferro pedindo-lhe desculpa pelo sucedido.
Curiosamete uns dias depois Valente de Oliveira pediu a demissão alegando motivos de saúde, à boa maneira soviética (há tiques marxistas-leninistas que Durão ainda não perdeu).
Quanto ao "alívio" do erário público relembro-a ainda dos contratos leoninos que o antigo ministro da obras públicas, Engº Ferreira do Amaral negociou com a Lusoponte sobre as portagens, e o escandalo que foi a indexação das portagens da 25 de Abril às da Vasco da Gama, quando a 25 de Abril já está paga, bastando-lhe uma portagem mais barata para custos de manutenção.
Portanto, em termos de contratos leoninos, vou ali e já venho.
Houve responsabilidade criminal de Ferreira do amaral?
Não.
Também não as houve de Ferro Rodrigues.
Pena é que aquela malfadada comissão de inquérito do CDS e do PSD tenha tirado as suas conclusões ainda antes da mesma comissão de inquérito ter terminado os seus trabalhos.
Mas as precipitações são assim.
Afixado por: Al_Mansour em janeiro 2, 2004 12:05 PMAlmançor
Valente de Oliveira foi um político muito inábil (leia s.f.f. os meus textos sobre as SUTs publicados aqui). E a inabilidade dele, neste caso, foi pensar que era crime FR ter validado o acordo com a Metropaço. Foi sobre esta matéria que a Procuradoria se debruçou e disse de sua justiça. Os erros dos políticos não são crimes! Portanto não venha você sofismar esta questão (se o fizesse
também não faria mais do que FR havia feito!). Existe apenas gestão danosa.
Quanto à Lusoponte, você não sabe do que está a falar, nem conhece os meandros dos processos de concurso e das negociações, nem os estudos que suportaram as propostas e os acordos.
Era necessário incluir a Ponte 25 de Abril no pacote negocial, pois senão as portagens na Vasco da Gama iriam para valores incomportáveis, com o risco do tráfego nela vir a ser irrisório. Duas pontes com portagens sobre um mesmo rio, a poucos quilómetros de distância, têm que ser geridas em conjunto, senão há uma distorção dos fluxos de tráfego e um risco muito elevado para a concessionária da ponte mais recente, nomeadamente tratando-se de uma ponte de custo elevadíssimo, como foi a Vasco da Gama. Nos concursos públicos esses riscos são internalizados e fazem aumentar os custos.
Ou você pensa que os bancos que financiam os PFI andam a dormir?
Quanto à história da 25 de Abril já estar paga é conversa de café, ou seja, um disparate. De há 10 anos para cá foram gastas muitas dezenas de milhões de contos em obras de reforço e beneficiação extraordinária. É certo que esses custos irão estabilizar, no futuro próximo, em valores mais baixos, mas foram investimentos realizados.
Em obras deste tipo há custos anuais de manutenção, há periodicamente (10 a 15 anos) investimentos vultuosos de beneficiação extraordinária e, se e quando houver modificações nas funcionalidades, investimentos relativos a essas modificações.
Afixado por: Joana em janeiro 2, 2004 12:49 PMO Expresso refere que as queixas serão arquivadas pois se referem a factos já prescritos.
Afixado por: fbmatos em janeiro 5, 2004 12:08 AMNão acredito que Ferro Rodrigues vá para a frente com a queixa. Os factos a que se reportam os depoimentos que o envolvem já prescreveram. Ao apresentar queixa ele arrisca-se a desenterrar uma questão que, ao que julgo, tem todo o interesse em não o fazer.
Todo o comportamento dele, desde o início deste caso, mostra que ele tem medo da investigação e procura uma fuga para a frente. Nem que seja um envolvimento por omissão, há algo de estranho na postura dele. Um político com a experiência dele não agiria tão insensatamente se não se sentisse acossado.
Mas então o tempo que o FR passou a depôr no DIAP foi concerteza a contar anedotas???
Afixado por: Recruta em janeiro 5, 2004 10:13 PM