A estabilização económica é um dos três objectivos económicos que cabem ao Estado assegurar, estabilização em várias vertentes: estabilizar a actividade em torno do pleno emprego; estabilizar os preços em torno de uma inflação baixa e estável; e estabilizar as contas externas em torno do equilíbrio.
Os outros dois objectivos económicos que cabem ao Estado são a redistribuição dos rendimentos e a eficiente alocação de recursos na economia.
O quadro de política económica existente na União Europeia, que de alguma forma complementa o papel que cabe ao Estado em matéria de estabilização económica, é um quadro que disciplina as contas públicas dos 12 países da Eurolândia e em que o BCE gere a política monetária tendo como preocupação principal a estabilidade de preços.
Uma pergunta que se formula actualmente é se as políticas de estabilização, ou mais precisamente, o Pacto de Estabilidade e Crescimento estará a afectar o crescimento da União Europeia, e em que medida?
Comparando o crescimento dos Estados Unidos com a área da Eurolândia verifica-se que os Estados Unidos registaram um maior crescimento que os países da União Económica e Monetária, apesar de terem políticas de estabilização porventura mais restritivas.
Ainda hoje foi anunciado que a produtividade dos trabalhadores norte-americanos aumentou no terceiro trimestre de 2003 a um ritmo anual de 9,4%, o mais acelerado das últimas duas décadas e que os custos laborais caíram 2,2% face a igual período de 2002, abaixo do esperado, já que os analistas aguardavam uma quebra de 5,6% no mesmo período.
Ora isto é um indício claro que não é pelo lado da procura que se promove o crescimento mas sim pelo lado da oferta. São necessárias políticas estruturais do lado da oferta que permitam uma mais eficiente utilização de recursos, o aumento da produtividade e portanto o crescimento. Para isso, há que actuar quer sobre os mercados de bens, quer sobre os mercados de trabalho.
É paradigmático que a taxa de desemprego na União Económica e Monetária tenha subido nas últimas décadas, enquanto nos EUA tenha diminuído, isto apesar de uma tendência mais inflacionista na Europa. É evidente que estes problemas jamais serão resolvidos com mais expansão da procura. Só reformas estruturais poderão resolver estes problemas.
Vejamos agora o caso português integrado no contexto que acabamos de descrever.
No caso de Portugal, com uma pequena economia aberta como a nossa, a participação na União Europeia e na moeda única assegurava a estabilidade monetária de um regime de inflação baixa. Igualmente os agentes económicos beneficiavam também da estabilidade cambial com uma área económica para onde destinam o essencial da sua produção de bens e serviços.
Tudo isto deveria garantir as condições necessárias ao crescimento, ou seja, inflação baixa, política orçamental sustentável, abertura da economia a mercados sem distorções.
No entanto, o que se pode dizer é que o quadro das políticas de estabilização da União Económica e Monetária foi demasiado permissivo para a tendência laxista dos governantes portugueses. Quando Portugal aderiu à moeda única, as taxas de juro portuguesas aproximaram-se por essa razão das que vigoravam no núcleo da futura União. Como Portugal era dos países que tinha taxas de juro mais elevadas, foi dos que mais beneficiou com essa descida. Esse factor, por si só, teve uma incidência acentuada na diminuição do défice pela diminuição dos encargos com a dívida pública.
Assim Portugal pôde manter, durante os governos de Guterres, uma política orçamental expansionista e, simultaneamente, reduzir o défice orçamental. Determinados investimentos públicos, como o caso das SCUT’s, que geram imediatamente receitas fiscais volumosas (embora criando obrigações futuras) igualmente ajudaram a criar a ilusão que esta política era sustentável, apesar do excesso de procura gerado por esta política orçamental gerar por sua vez um défice externo crescente.
Teria sido muito mais fácil fazer a verdadeira consolidação orçamental no período do forte crescimento que foram os anos 1998-2000, do que na actual situação. E isto é tanto mais importante quanto a política orçamental não tem apenas como objectivo a prossecução do pleno emprego, mas também o de contribuir para a obtenção de uma inflação baixa e de um equilíbrio externo.
É um dilema de política económica: a necessidade de relançar o crescimento económico poderá sugerir a utilidade de uma política orçamental mais expansionista, mas, em contrapartida, uma elevada inflação e um forte desequilíbrio externo aconselhar exactamente o oposto
Ora a manutenção em Portugal de uma inflação acima da média europeia significa um agravamento permanente dos custos dos factores de produção internos e, por conseguinte, uma perda de competitividade das empresas que, na ausência dos instrumentos tradicionais de estabilização, impossíveis de utilizar no quadro da moeda única, apenas poderá ser suprida, a prazo, com o encerramento de empresas e com mais desemprego.
É isso que tem sucedido nestes últimos anos em Portugal e esse é, portanto, um desequilíbrio que temos de corrigir rapidamente, aceitando a lógica da moderação salarial, sob pena de nos virmos a confrontar num futuro próximo com as consequências da única possível correcção para essa situação: aumento do desemprego e agravamento da recessão.
Publicado por Joana em dezembro 3, 2003 10:03 PM | TrackBackViva! Tomei a liberdade de lhe dar réplica a este texto.
Devido à sua extensão deixo-o no Adufe.pt.
Cumprimentos.
Rui
Caro Rui (ao texto do Adufe):
Eu falei de um país que existe, que tem um défice público que se conhece, que tem um défice das contas com o exterior que se conhece, que tem as empresas que se conhecem, com as qualificações que se conhecem e uma função pública com o peso que se conhece e a produtividade que se conhece.
Você quando escreve “Estimular, promover e facultar a formação e a reflexão sobre o negócio, estimular a iniciativa privada, e o investimento público reprodutivo” parece o PR a falar. É óbvio que isso tem que se fazer (aliás, já devia ter sido começado há 30 anos), mas isso são acções que demoram muitos anos a surtir efeito. Até lá temos que viver com o que temos e geri-lo da melhor forma possível.
Aumentar a despesa é aumentar a procura interna e com a elevada propensão marginal à importação da economia portuguesa é agravar substancialmente o défice de transacções com o exterior.
Nós estamos com um nível salarial superior à produtividade média. Por isso é que temos os défices. Temos que repor a saúde da economia, senão continuaremos com uma inflação superior à média europeia, a perder competitividade no tecido económico e a aumentar o desemprego.
É claro que quando falei de moderação salarial referia-me principalmente à função pública e às empresas que vivem sentadas à mesa do orçamento do Estado – Carris, Metro, RTP, etc... E falei em termos médios. Se empresas têm grandes ganhos de produtividade não precisam de moderação salarial.
Aliás, a questão salarial nas empresas privadas resolve-se pelos mecanismos de mercados. Se os trabalhadores ganham acima da sua produtividade, as empresas deixam de ser competitivas, vão à falência e há o desemprego, a menos que invertam a tendência, normalmente com sacrifícios e algum desemprego à mistura. É simples.
O que Estado, autarquias, institutos, etc. têm de perverso é que os salários podem aumentar que a questão da competitividade não se põe. Põe-se é a questão do défice. Para eliminar o défice, o Estado aumenta os impostos, mas aí reduz a competitividade das empresas por via directa e indirecta. É o resto do país a pagar a insensatez.
Claro que as empresas baseadas na mão de obra barata estão em vias de extinção em Portugal. Vão-se deslocalizar (ou extinguir) todas, pouco a pouco. Temos é que arranjar alternativas a isso (aliás já as devíamos ter arranjado há bastantes anos). Não basta dizer que o modelo de economia baseado na mão de obra barata é ilusório. Estamos de acordo. E a alternativa? Não para daqui a 10 anos, mas para agora, quando estes trabalhadores sem qualquer outra qualificação vão para a rua.
O futuro não se constrói com modelos teóricos. Temos que construir o futuro, mas arranjar também soluções para o presente.
Vou transcrever o primeiro texto do Adufe que, embora não concorde totalmente com ele, como escrevi, tem interesse:
Afixado por: Joana (transcrição) em dezembro 4, 2003 09:12 AMCara Joana,
Não será um pouco curto acreditar que mais do mesmo (só e apenas moderação salarial) resolverão o problema?
E que tal olhar para outros aspectos do problema como o nível de instrução dos gestores de boa parte do tecido produtivo nacional? Só para dar um exemplo pouco corrente.
A moderação poderá ajudar num típico fine-tunning, mas não resolverá nada.
É indispensável? Eu diria que sim: a moderação. Mas sejamos justos com a conotação da palavra. Moderação Salarial dá para tudo, dos aumentos marginais às diminuições consideráveis em termos reais. Recomendaria moderação na dose certa para não estrangular a procura interna e não criar novas falsas ilusões. Uma moderação que deveria ser medida sector a sector, ajustada às realidades do respectivo dinamismo económico e assim determinada pelos agentes económicos responsáveis.
O efeito de contenção pelo exemplo aplicado à esfera pública poderá ser pernicioso nestes casos. É muito fácil encontrar a colagem fácil e ignorante de muitos empresários de vistas-curtas. Se por exemplo a Banca apresentar fortes ganhos de produtividade porque havemos de defender a moderação salarial?
Na administração pública o Estado também deveria ser capaz de avaliar a produtividade de cada área da administração e implementar, dentro de um enquadramento de contenção, uma política salarial distinta para o que é distinto. Espero com alguma expectativa o que se prepara para os Institutos Públicos, por exemplo. Feita a ressalva admito que a meta global na administração pública devesse tender para um aumento real nulo no próximo ano. Um crescimento da massa salarial ao nível da inflação prevista (numa previsão realista!).
Agora que já brinquei ao merceeiro falta o que interessa, o que nos poderá salvar do tal cenário de recessão agravada e de mais desemprego. Falta o que é mais difícil e que não surge com passos de mágica, focando-nos apenas nos estabilizadores macro-económicos. Estimular, promover e facultar a formação e a reflexão sobre o negócio, estimular a iniciativa privada, e o investimento público reprodutivo (particularmente na área da investigação científica e no apoio a novos negócios) à custa de algum desequilíbrio de curto prazo nas finanças públicas. Só não vê quem não quer que não há investigação e desenvolvimento neste país (o anglo-saxónico R&D) em volume satisfatório além da esfera pública. Nem há perspectivas de mudança significativa desse cenário. É o que temos, ou seja, temos de investir colectivamente nesta área. Cativando os cérebros que temos e nos escapam e promovendo a implementação das descobertas junto do tecido empresarial (ainda tenho esperança que haja quem venha abrir os olhos se devidamente avisado). Como vê tudo tarefas que levam algum tempo, talvez não as gerações de que já se falou. Veja-se a interessante perspectiva do Sérgio Figueiredo hoje no Jornal de Negócios em Editorial.
Assim talvez conseguíssemos algo de sustentável. O modelo de mão-de-obra barata é perfeitamente ilusório. Apostar quase exclusivamente na moderação salarial, apresentando-a como bandeira, num contexto como o actual, em que começam a haver sinais de instabilidade social, poderá ter consequências políticas e económicas pouco desejáveis, no mínimo contraproducentes... É preciso indicar outro caminho, que seja mais credível. È pena que, por exemplo, ao nível da reforma do contrato de trabalho se tenha ficado tão aquém do que seria desejável, restando pouco mais do que uma triste imagem da fraqueza política ao nível da visão estratégica.
Mais do mesmo cara Joana? Até parece que há por aí uma manual incompleto ao qual faltam as soluções para este nosso pequeno grande problema. Discutamos algo um pouco mais ambicioso para variar.
Os melhores cumprimentos.
Transcrevo agora a réplica e depois a minha tréplica:
Afixado por: Joana (transcrição) em dezembro 4, 2003 09:14 AMCara Joana,
Andamos os dois a fugir à teoria pelos vistos. Como a Joana escreve "(...)O futuro não se constrói com modelos teóricos. Temos que construir o futuro, mas arranjar também soluções para o presente. (...)". Estamos de acordo. Não me parece é que haja alinhamento no "quando" é que começa o futuro para as medidas que propus. Uma cronologia que anda há 30 anos (como diz a Joana e eu agora acrescento) há espera de uma oportunidade face à urgência dos problemas de curto prazo.
Voltando ao que escreve a Joana:
"(...) Você quando escreve Estimular, promover e facultar a formação e a reflexão sobre o negócio, estimular a iniciativa privada, e o investimento público reprodutivo parece o PR a falar. É óbvio que isso tem que se fazer (aliás, já devia ter sido começado há 30 anos), mas isso são acções que demoram muitos anos a surtir efeito. Até lá temos que viver com o que temos e geri-lo da melhor forma possível."
Este é o melhor discurso para tais acções nunca serem implementadas, na eventualidade de alguém as tentar implementar, há já uma expectativa demasiado precária para que haja motivação empreendedora.
Infelizmente, não podemos ficar à espera que o mundo volte a ser benévolo para iniciarmos o processo. Resta a questão da duração, do tempo até se verem resultados. Também aqui não acredito em nenhum preconceito. Olhando para a imagem que se criou do "modelo" Irlandês e evitando considerações mais profundas e reveladoras, se o tentássemos reproduzir teríamos de esperar uma geração até sentirmos efeitos na economia. Lembra-se do discurso inicial do actual Governo que ia neste sentido? Nada do que seria fundamental foi implementado. Tudo porque o curto prazo era demasiado urgente... Já perdemos mais 2 anos...
Quando vejo, por exemplo, a modernização que ocorreu ao nível da banca portuguesa (que era no mínimo tão retrógrada quanto a administração publica de então, aliás era administração pública...) ou quando vejo os exemplos da indústria de moldes, de desenvolvimento de software (das poucas onde o investigação e desenvolvimento é relevante) acredito que é possível saltar etapas. Há éne sectores com o mesmo grau de liberdade que tem a banca, porque não tiverem eles a mesma evolução? Falta de massa crítica ao nível da gestão? É possível o Estado dinamizar lavagens cerebrais benévolas com o apoio das organizações do sector quando as houver? É possível o Estado desenvolver parcerias com os empreendedores apoiando investimentos de alto risco em área de elevado potencial de retorno económico?
Acredito que é possível haver um empurrão com patrocínio estatal cirúrgico em alguns sectores. Mais uma vez repito, acho que se perdeu uma excelente oportunidade ao nível do contrato de trabalho para se estimular a modernização de toda a economia.
Escreveu ainda a Joana:
"Aumentar a despesa é aumentar a procura interna e com a elevada propensão marginal à importação da economia portuguesa é agravar substancialmente o défice de transacções com o exterior."
Estas verdades absolutas desculpadas por raciocínio médio macro-económico desconcertam-me cara Joana. Também o economista/decisor público pode descer à rubrica. Tentar a tal cirurgia. Evitar centrar-se nos bombásticos choques globais disto ou daquilo.
Não tenho uma teoria em que me encaixe confortavelmente e sempre que vejo na prática negações singulares destas regras passo a toma-las como duvidosas. Não há investimento público reprodutivo, multiplicador? É essa uma das suas verdades? Todo o investimento/despesa implica canalização nefasta para o défice da balança comercial? Se pensa assim, neste ponto, estamos conversados. Poderei apenas tentar mostrar-lhe alguns exemplos que negam este axioma se desejar. Ou a sua convicção vem do desempenho histórico dos sucessivos governos? Pareceu-me que é isto que pensa e perante esta experiência empírica tudo o que eu diga é teórico e inglório, dai a contenção salarial. Percebi bem?
Ainda a Joana:
Nós estamos com um nível salarial superior à produtividade média. Por isso é que temos os défices. Temos que repor a saúde da economia, senão continuaremos com uma inflação superior à média europeia, a perder competitividade no tecido económico e a aumentar o desemprego. (...)"
Repor a saúde da economia... Das finanças públicas, queria dizer?
É que passar das finanças públicas para a economia não vai lá com psedo-défices de 3% suportadas por contenções salariais, receitas extraordinárias e cortes estúpidos, em termos de eficiência dos desígnios do Estado, na despesa pública, só para imaginar um cenário bem nosso conhecido.
O que fazer? Assim que puder hei-de ler os textos da Joana com atenção em busca da sua opinião nesta matéria.
Até breve.
Caro Rui
Estamos a falar em 2 registos diferentes. Nós temos 2 realidades com que nos confrontar: o curto e o médio e longo prazo prazo. E temos que agir sobre ambas.
Quando você escreve que aquele é o melhor discurso para tais acções nunca serem implementadas, na eventualidade de alguém as tentar implementar, há já uma expectativa demasiado precária para que haja motivação empreendedora, eu também lhe poderia responder que o seu é o melhor discurso para não fazer nem um a coisa nem outra. Não criar os equilíbrios macroeconómicos indispensáveis agora e não implementar as medidas a médio e longo prazo, pois que com uma economia não competitiva, com défice exterior demasiado elevado, não há recursos para o fazer.
O que diz sobre a banca portuguesa (que era no mínimo tão retrógrada quanto a administração publica de então, aliás era administração pública...) não tem qualquer fundamento. Os bancos melhoraram muito o seu desempenho desde as privatizações mas já estavam muitos, mas muitos, furos acima da administração pública. E também a maioria das empresas públicas como a Cimpor, a EDP, a Galp, etc.. Mesmo a CGD, que é pública não tem qualquer comparação com a função pública.
Quanto à formação, você sabe o que aconteceu aos FSE. Gastaram-se rios de dinheiro que apenas serviu para manter a ilusão de haver menos desemprego. Os potenciais desempregados arrastavam-se de acções de formação em acções de formação.
Você vive num mundo utópico (não o digo pejorativamente, porque é utópico na medida em que você aponta coisas com utilidade prática, mas pensa que basta dizer vamos a isso para elas aparecerem implementadas e a funcionarem). E pior, pensa que há meios humanos para isso e não haverá obstáculos a nível da sociedade portuguesa para o fazer.
Quanto ao Estado dinamizar o processo, apenas o pode fazer diminuindo as burocracias, criando algumas condições para que tal aconteça. Não tem vocação para mais, nem saberia por que ponta começar. Mas mesmo aquilo que tem vocação para fazer, não o tem feito e continua a não fazer.
As universidades, idem. São corpos teóricos que quando emitem pareceres (há, às vezes a tentação de se adjudicarem estudos às universidades, por terem preços muito mais baratos, por razões óbvias) são absolutamente académicos, sem qualquer operacionalidade prática, que nunca proporcionam qualquer instrumento de decisão ao cliente. Metaforicamente, são como uma equipa de futebol que só sabe jogar a meio campo, mas nunca remata à baliza. As universidades portuguesas são um dos últimos restos do feudalismo em Portugal. O seu pensamento é escolástico, a sua organização elitista e corporativa.
Têm que ser as empresas, muitas vezes sem qualificação, incluindo gestores e trabalhadores, que têm que fazer pela vida. É este o quadro que temos. E neste quadro que temos que trabalhar.
Todos estes textos têm sido feitos ao correr da tecla, como provavelmente os seus, e como tal poderão conter algumas imprecisões. Mas na generalidade e salvo alguns esquecimentos, contêm o fundamental que eu penso sobre este assunto.
Se ler os textos que tenho afixado sobre este tema verá que não estou de acordo com a forma como o governo tem gerido este processo. Infelizmente, o que vejo na oposição como alternativa a ele é a mais completa irresponsabilidade que, no caso do PS, é complementada com a total hipocrisia.
Afixado por: Joana em dezembro 4, 2003 09:16 AMNa precipitação esqueci-me deste parágrafo:
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Escreve Repor a saúde da economia... Das finanças públicas, queria dizer?. Uma coisa implica a outra. Você não pode ter uma economia saudável com défice excessivo e com as contas com o exterior altamente deficitárias. Gera inflação, aumentos com encargos financeiros com a dívida pública e nas empresas, pois um Estado com défices excessivos constitui um risco maior e é penalizado nas taxas de juro, aumentos de impostos e, por acção conjugada destes factores, perda de competitividade das empresas e desemprego.
Face a esta interessante controvérsia aproveito para citar um artigo do António Barreto, publicado no domingo, no Público.
Como é longo vou colocá-lo em 3 partes:
Afixado por: L M em dezembro 4, 2003 11:31 AMDuplicidade
Por ANTÓNIO BARRETO
Domingo, 30 de Novembro de 2003
Não sei (nem sei se alguém sabe...) se, com uma política económica diferente, o governo teria conseguido manter a mesma pressão sobre as finanças públicas e o défice, sem resvalar no crescimento negativo e na recessão, como, ao contrário dos países europeus (muitos vão crescer este ano entre 3 e 5 por cento!), é o caso português. Se era possível, não se pode deixar de concluir que o governo, ao fim de quase dois anos, falhou.
Mas suspeito que não era possível. Pela simples razão de que as oposições, ao sugerir alternativas, limitam-se a propor mais gastos, mais despesa com as políticas sociais, mais consumo do Estado e mais investimento público. Ou, explicitamente e apesar das advertências de Vítor Constâncio e do Banco de Portugal: mais défice e mais dívida pública. O PCP, porque sempre o disse, num país onde se chama coerência ao vício do espírito que consiste em repetir os mesmos erros. O PS, porque persiste em querer salvar a honra perdida dos governos de Guterres. Ambos, porque acreditam que o Estado pode ser o motor da economia. Não são para levar a sério.
Afixado por: L M em dezembro 4, 2003 11:32 AMDuplicidade - 2
Ora, a severidade relativamente ao défice e ao endividamento é absolutamente indispensável, sobretudo nos países que malbaratam as suas finanças públicas por regra e sistema. Uma política monetária firme é indispensável para criar hábitos de disciplina que contrariem a propensão para a demagogia. É essencial para estabilizar o crescimento a médio e longo prazo e permitir uma relativa erosão das desigualdades sociais. Infelizmente, as oposições em geral e as esquerdas em particular, têm uma obsessão: a da despesa pública! E uma crença dogmática: a de que o investimento público e a despesa social são substitutos do crescimento económico! Acreditam firmemente em que é bom para os povos viver com dívidas, gastar mais do que se tem e distribuir o que não se produz! E é-lhes indiferente que a sua demagogia venha sempre a ser paga por quem trabalha.
Portugal deve continuar com a política monetária severa, com ou sem as sanções da União contra a França e a Alemanha. Deve mantê-la a todo o custo com ou sem eleição de 2006. E deve prossegui-la contra as tentações demagógicas do governo e contra as pressões irresponsáveis das oposições. Só não se percebe é a razão pela qual o governo deu o voto de complacência à França e à Alemanha. Ou antes, percebe-se que vendeu o seu voto, seguramente contra promessas de fundos. O erro não podia ser maior. Contribuiu para a liquidação do Pacto de Estabilidade, ajudou a derrotar a confiança e a credibilidade, colaborou na criação de um novo clima europeu dominado pela impunidade e pela falta de seriedade dos mais poderosos. É um erro grave de que não só a Europa como também Portugal pagarão a factura de perda de respeito. O esforço e o sacrifício necessários para manter a severidade nas finanças públicas internas não têm mais justificação. O governo andou muito mal e apenas tem de se queixar de si próprio. O evidente desconforto da Ministra das Finanças e o envergonhado silêncio da Ministra dos Estrangeiros são claros sinais de que os motivos de circunstância levaram a melhor sobre as razões de fundo. O que só agrava o erro.
Duplicidade - 3
Em todo este episódio europeu, o mais grave é o dano provocado à União e ao futuro da Europa. A França e a Alemanha enveredaram por um perigoso caminho que põe em risco os ganhos obtidos, assim como o capital de seriedade que uma parte do esforço de integração tinha acumulado. Fazem política de poderosos. Deixam de merecer respeito e confiança. Revelam uma maliciosa inclinação para a chantagem. Ameaçam os restantes membros da União. Nas vésperas de, erro dramático, se tentar fazer uma Constituição, encostam os outros à parede e iniciam um debate tão inútil quanto perigoso sobre a cidadania franco-alemã e a política externa e de defesa comum aos dois países. Confirmam, uma vez mais, mas desta feita com peso e sem medida, que a sua concepção de integração é, no essencial, equivalente à obediência de todos aos interesses dos dois países.
Tal como é entendida pela França e pela Alemanha, a diversidade europeia só deve ser respeitada na condição de interessar às duas potências. Caso contrário, é a harmonização que se impõe, assim como a vontade dos dois países. Quem preze a diversidade tem um caminho: a porta de saída. Os casos do défice público e da eventual Constituição são as melhores ilustrações.
Duplicidade - 4
Os europeus maximalistas deveriam olhar um pouco mais para as lições da história. E perceber que os povos, os Estados e os seus dirigentes, mesmo esclarecidos, também erram. Aqui em Portugal temos dois bons exemplos. A primeira República e a Revolução de 1974. Em ambos os casos, foi-se longe de mais e foi... o desastre. A ambição era desmedida: constituições exemplares, leis perfeitas e luminosas e instituições avançadíssimas. Sem povo, sem raízes, sem consolidação, sem legitimidade e sem sentido do equilíbrio. Acabaram em disparate e em derrotas totais. Era bom que os políticos visionários e de mentalidade jurídica irreprimível percebessem que os seus planos mirabolantes são a mais perigosa ameaça contra a Europa.
Europa que, dentro de pouco tempo, será a dos 25! Às velhas democracias juntaram-se, pouco a pouco, antigos fascistas, ex-colónias, países ocupados, ex-comunistas, ditaduras de vária espécie... Sem falar em velhos inimigos e eternos rivais! É um dos grandes feitos deste continente e da humanidade! Pelo menos, no plano das políticas entre povos e Estados. Há motivo para regozijo. Poucos faltam para que todo o continente se sinta envolvido numa União que a todos honra. Foram cinquenta anos bem aproveitados para se chegar aqui. Seria bom, sem forçar a nota, poder formular o voto de que os próximos cinquenta sejam de igual felicidade. Mas as ameaças são agora pesadas. Não que venham de fora, mas porque vêm de dentro. Ao contrário dos filhos das revoluções, que acabam por elas serem comidos, os melhores filhos da Europa preparam-se para acabar com ela! À força de tanto a amar!
Este artigo parece-me extremamente lúcido e, vindo de quem vem, um destacado político da área socialista, tem bastante peso.
Afixado por: L M em dezembro 4, 2003 11:36 AMAcho euq e tem muita razão no que escreve e o artigo do António Barreto vai no mesmo sentido
Afixado por: Vitapis em dezembro 4, 2003 11:43 PMDe facto há uma grande duplicidade na política do PS na oposiçaõ
Afixado por: Humberto em dezembro 4, 2003 11:49 PMSão só papaias
Afixado por: Cisco Kid em dezembro 12, 2003 12:20 AMSão só papaias
Afixado por: Cisco Kid em dezembro 12, 2003 12:20 AMSão só papaias
Afixado por: Cisco Kid em dezembro 12, 2003 12:20 AM