Much ado about nothing
Reina uma falta de humor notável entre os críticos ao meu texto anterior, para não falar de outras faltas, porventura mais graves.
Qualquer nick sensato teria percebido que eu estava na brincadeira. Aliás, brincadeira que vinha na sequência de um outro comentário anterior sobre o Eça, a Clara e o bei de Tunes.
Nunca esteve no meu intuito comparar o talento da CPC com o engenho e arte de Camões. Aliás o absurdo da comparação fazia parte da brincadeira.
Afinal não se brinca com os símbolos pátrios: bandeira, hino, Camões (!?).
Ora o que eu ignorava, e que aprendi sob o látego furioso dos patriotas da literatura era que Camões, para além de se ter libertado da lei da morte teria passado a ícone pátrio, indiscutível. A indignação fez ferver as teclas de diversos comentadores tendo, inclusivamente, alastrado a outros artigos.
Tornei-me célebre bem célebre à maneira de Eróstrato, mas não se pode ter tudo!
Sendo assim pedia a todos os que tiverem edições dos Lusíadas comentadas, onde os anotadores foram laboriosamente indicando as fontes que serviram de inspiração a Camões, que fizessem delas um gigantesco auto-da-fé. Essas anotações menoscabam o sentir da alma lusa, devem ser consideradas traição e liminarmente exterminadas.
É interessante verificar que à medida que os Lusíadas são menos lidos, se vão tornando mais indiscutíveis. No limite, quando ninguém os ler (espero sinceramente que tal não venha a acontecer, apesar dos esforços do nosso sistema educativo), tornar-se-ão um valor absoluto, uma espécie de cachecol verde-rubro que se agita nos estádios.
Quanto à questão das precedências, Petrarca viveu 200 anos antes de Camões e Virgílio uns 1500 anos antes. Quanto a Tasso, contemporâneo de Camões, seria interessante saber se teria havida alguma influência. Os livros foram editados quase em simultâneo, embora ambos os autores tivessem trabalhado neles longamente. Provavelmente foram ambos beber inspiração às epopeias da Antiguidade Clássica.
Mas isso deixo para os investigadores literários, que eu sou apenas uma diletante curiosa e iconoclasta perante uma iconocracia de gente sisuda e ignara.
Nota: Aqueles que na ânsia patriótica, que só lhes fica bem, de exautorar a infame traidora que, a soldo de alguma potência estrangeira, estava a enlamear o vate ilustre que, a par da geração de ouro, é o suporte da nossa auto-estima nacional, julgo que exageraram um pouco.
Quando eu quis comparar o início do exórdio da Eneida de Virgílio com a primeira estrofe dos Lusíadas, escrevi «As armas e barões assinalados ...», e as reticências foram postas, partindo do princípio que vocês sabiam o resto. Para a próxima prometo que ponho o 1º Canto na íntegra. E se ainda assim acharem pouco, pespegos-lhe com a obra completa.
A net que se cuide!
Quanto a Petrarca, a diferença entre "Questa anima gentil che si departe...» e a «alma minha gentil que te partiste », resulta da cacofonia introduzida pela tradução em português. Se você sabe alguma coisa de italiano vê que não há qualquer difereça de sentido. Parecia-me evidente, mas reconheço que vocês, no desvairado tropel dos vossos corcéis, de alabardas em punho, viseiras cerradas e cabelos hirsutos, carregando sobre esta pobre traidora contumaz e pérfida, não tiveram tempo para se aperceberem disso.
07-Fevereiro-2003
Andaste a gastar cera com ruins defuntos!
Afixado por: Gros em novembro 27, 2003 10:07 PMAndaste a gastar cera com ruins defuntos!
Afixado por: Gros em novembro 27, 2003 10:07 PMAndaste a gastar cera com ruins defuntos!
Afixado por: Gros em novembro 27, 2003 10:07 PMAndaste a gastar cera com ruins defuntos!
Afixado por: Gros em novembro 27, 2003 10:07 PM