A questão da crise do ensino tem a ver com toda a sociedade portuguesa e com os sucessivos governos.
1 - Do ponto de vista da família há a demissão dos pais das tarefas de educar os filhos, delegando na escola essa tarefa, o que esta não consegue assumir, nem tem vocação para tal. Isto leva à perca de valores da juventude e à forma laxista como encara as suas obrigações escolares.
2 - Houve sucessivos erros curriculares, o primeiro dos quais, o mais monstruoso, foi o fim do ensino técnico. É típico dos países sub-desenvolvidos terem um ensino clássico razoável, mas um ensino profissional inexistente. Em Portugal, com "a melhor das intenções", para combater o elitismo, ainda antes do 25 de Abril, começou a perseguição ao ensino técnico, liquidando este e mediocratizando o clássico. Levará anos a formar professores do ensino tecnológico capazes. Ora um dos problemas graves do mercado de trabalho é a ausência de qualificação intermédia.
3 - A escola não soube responder ao aumento da escolaridade. A culpa é obviamente das sucessivas instâncias governativas.
4 - Os professores foram perdendo o brio profissional, a sua competência média diminuiu e a acção dos sindicatos tem ajudado muito a isto, pois apenas se interessam no aumento de salários e diminuição da carga laboral, não tendo qualquer apetência para questões de deontologia profissional e qualificação pedagógica.
5 - Incapaz de resolver os problemas, os governos apenas têm atacado os sintomas: facilitam as passagens de ano, diminuem o nível de exigências, etc.
Todos nós temos culpa da situação actual da nossa educação.
Bem, dizer estas coisas é fácil. Se o próprio David Justino as diz...
A questão é fazer e implementar as reformas.
Reformar a máquina do Estado exige muita competência, muito discernimento e muita coragem política.
Não se reforma com palavras, reforma-se com acções em todos os níveis da máquina do Estado.
Tem que haver procedimentos de qualidade, aferição de desempenho, reafectação e optimização de recursos e, em acréscimo e como corolário, flexibilização laboral e possibilidade de emagrecimento da função pública.
Todavia, qualquer tentativa de reforma, por mais ligeira e inconsequente que seja sofre a contestação generalizada de quem se sente inseguro. Empola-se tudo o que é controverso e ignora-se tudo o que é benéfico.
Os meios de comunicação empolam a contestação, pois normalmente são os porta-vozes de tudo o que é mais mesquinho na nossa sociedade e fica tudo "em águas de bacalhau".
E o que resta são boas intenções e algumas carpideiras refugiadas nestes fóruns, como nós.
O Império Romano caiu, entre outros factores, porque não foi capaz de manter uma máquina administrativa cada vez mais autofágica, que sugou toda a seiva da sociedade. Nos seus últimos tempos, patrícios inscreviam-se como escravos, para se subtrairem a um fisco impiedoso! Veja-se a que formas de evasão fiscal se chega quando o fisco aperta!
Tornar a administração pública, e o ensino em particular, eficiente e de qualidade, é a tarefa mais importante da nossa sociedade.
Se não o fizermos nunca sairemos da nossa pinderiquice actual.
21-Dezembro-2002
Publicado por Joana em outubro 1, 2003 10:49 AM | TrackBackO problema do ensino é a ignorância
Afixado por: Jekyll em novembro 17, 2003 11:46 PMO nosso sistema de ensino ainda vai fazer cair o Imperio Romano
Afixado por: Jekyll em novembro 18, 2003 12:02 AMDe facto, o Império Romano metido no meio do ensino não faz grande figura
Afixado por: VSousa em novembro 20, 2003 09:52 AMParece metido a martelo!
Afixado por: VSousa em novembro 20, 2003 09:53 AMA "bucha" do Império Romano foi apenas uma figura de estilo para mostrar até onde pode levar a perversidade de um administração pública ineficiente e autofágica
Afixado por: Joana em novembro 20, 2003 10:31 AM