Uma piscina no campo, um arvoredo frondoso ao redor, afastado apenas o suficiente para permitir a total insolação no verão e evitar a sujidade da queda das folhas no outono. Um relvado fofo. Um comprimento suficiente para não se passar a maior parte do tempo nas viragens.
De meia em meia hora um mergulho, umas piscinas feitas “à vontade”. No intervalo a espreguiçadeira, uma bebida refrescante, o bronzear quente e suave do reflexo do sol no espelho de água, a luminosidade cálida e sensual que nos envolve. O Assim Falou Zaratustra que se abre, uma página que os olhos percorrem sem se fixar e o livro a resvalar, lentamente, abandonado ao sabor de uma doce sonolência, perante o olhar indignado e desiludido do Nietzsche.
Ao longe, muito ao longe, por detrás dos olhos semicerrados pelo insustentável peso das pálpebras, o alegre e despreocupado chilrear dos pequenos, igualmente indiferentes ao Nietzsche, sob o olhar vigilante da competente e diligente empregada ucraniana dos avós.
Ao entardecer, uma ou outra andorinha, em voo rasante por sobre a água, molha o bico naquela mistura de água, cloro e algicida … sobreviverá? Adaptar-se-á às novas realidades ecológicas?
Francamente não percebo como há quem abandone o campo … como é incompreensível este estranho fenómeno da desertificação rural de que tanto se fala. Que total ausência de bom gosto! Não se está bem assim?
Reconheço que é incómodo o ruído abafado que periodicamente sobrevem quando o temporizador liga a electrobomba de recirculação e filtragem … mas daí ao abandono dos campos !
31 de Agosto de 2003
Publicado por Joana em outubro 4, 2003 12:12 AM | TrackBack