Como já se aperceberam, aqueles que se deram ao trabalho de passar uma vista de olhos por este sítio e ler os comentários ... agora poucos, pois alguns eram de tal forma ordinários que os apaguei, a falta de nível e a malevolência de alguns internautas (um ou dois, mas que multiplicam os nicks!) são impressionantes.
Mas, sejamos pragmáticos, este é o país que temos. Sou, sempre fui, uma iconoclasta. Divirto-me a despedaçar a manipulação orwelliana da palavra, onde quem exalta as “forças democráticas” e as “amplas liberdades” constrói sociedades de uma absoluta perversão totalitária e aqueles que ficam extasiados pela “Democracia Participativa” têm um completo desdém pela opinião dos outros, que caiem na mais absoluta intolerância, e nos “comentários de taverna”, quando a coberto de nicks na net ou, quando em manada, vandalizam montras, carros, mobiliário urbano, etc..
Aliás, não serei eu uma adepta do laissez faire …? Então tenho que agir em conformidade! Cito-me Bernard de Mandeville e esse espantoso livro “A Fábula das Abelhas: Ou velhacos transformados em gente honesta” escrito no início do século XVIII, onde se pode ler, logo no prefácio:
“O que, no estado da natureza, faz o homem sociável, não é o desejo que tem de estar em companhia, nem a bondade natural, nem a piedade, … . As qualidades mais vis, frequentemente as mais odiosas, são as mais necessárias para torná-lo apto a viver com o maior número. São elas que … mais contribuem para a felicidade e prosperidade das sociedades.” … e, mais adiante:
“Grandes multidões pululavam … atropelando-se para satisfazerem mutuamente a luxúria e a vaidade. Consequentemente cada parte estava cheia dos vícios mas, no seu todo, o conjunto era um paraíso.”
Ou, como escreveu Adam Smith, meio século depois: “cada indivíduo … ao tentar satisfazer o seu próprio interesse promove, frequentemente, de uma maneira mais eficaz, o interesse da sociedade, do que quando realmente o pretende fazer.”
Portanto, neste microcosmos dos debates na net, ao prosseguirmos o nosso próprio interesse, mesmo que alguns o façam da forma mais vil ou odiosa, maximizamos o bem-estar geral. E como? Porque, ao sermos confrontados com argumentos em contrário, ou apenas com o insulto soez, pensamos melhor e mais profundamente as questões, treinamos o nosso estilo e capacidade de polemizar, aperfeiçoamo-nos a pôr a nu as fragilidades da argumentação (mesmo insultuosa) alheia, em converter os insultos na ignomínia de quem os proferiu, etc.
E, simultaneamente, exercemos, mesmo sem ser esse o nosso objectivo, uma acção pedagógica, pois alguns dos que seriam tentados em ir pela via do insulto fácil, poderão aperceber-se que ganharão em ter uma intervenção mais séria e ponderada.
Como diria Mandeville, no seu “anarquismo”, cepticismo cínico e utilitarismo … “no seu todo, o conjunto ser um paraíso”.
Eu apareço por na net porque me divirto com este microcosmos onde coexistem comentaristas de alto gabarito ou simplesmente interessantes (a maioria), com frustrados, intolerantes, néscios etc.. E, ao prosseguir este meu interesse lúdico estarei, mesmo se não fosse esse o meu objectivo, a concorrer para a melhoria do universo comentador, aperfeiçoando-me simultaneamente. E a concorrer para que a net atinja o Óptimo de Pareto!
A tese de Mandeville, depois retomada e aperfeiçoada por Adam Smith de que os vícios privados ( egoísmo interesseiro, ambição e desejo de lucro) se transformam, no final do processo de produção, distribuição e consumo, em vantagens para toda a comunidade, originando uma ordem funcional mais eficiente do que qualquer outra forma resultante de tentativa de organizar a economia na base de um planeamento centralizado, foi genial, nomeadamente tendo em conta ter sido escrita numa época em que toda a vida económica e social estava completamente espartilhada por regulamentos e hábitos consuetudinários. Foi absolutamente notável.
Um feito espantoso!