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dezembro 01, 2005

1 de Dezembro

Em épocas de descrença é bom avivar este feriado, misteriosamente esquecido. Eram quarenta. As guarnições espanholas, só na zona de Lisboa e fortes adjacentes, eram mais de 6 mil homens, fora as guarnições das praças fortes do resto do Reino. Não tínhamos soldados, nem canhões. As nossas diminutas forças militares estavam na Catalunha e noutras zonas da Europa, sob comando espanhol. As forças espanholas estacionadas em Portugal estavam fortemente armadas e no Tejo, defronte da Boa Vista, perto do Paço da Ribeira, estava ancorada uma frota de três poderosos galeões espanhóis bem armados. E eram apenas quarenta.

E com apenas esses quarenta e a adesão popular que se seguiu, os fortes guarnecidos por espanhóis capitularam um após outro, os galeões inimigos foram capturados, quase uma dezena de milhar de soldados ocupantes foi ou aprisionada ou fugiu do país, muitos milhares de mosquetes e centenas de canhões foram apreendidos pelos conjurados, que apenas tinham as armas de defesa pessoal, e pelos que os secundaram, que apenas tinham as suas mãos e uma férrea vontade de vencer.

À medida que mensageiros chegavam às as cidades e vilas do Reino, D. João IV era aclamado como novo Rei de Portugal. Em 5 dias todas as cidades e vilas haviam reconhecido o novo rei. Todos os nossos domínios coloniais de então (com excepção de Ceuta) desde Tânger a Timor, passando pelo Brasil, Áfricas e Índia, reconheceram o novo regime logo que o navio que trazia a notícia da Revolução de Lisboa, arribava a cada terra (com excepção de Macau onde a bandeira das quinas flutuou sempre, durante esses 60 anos). Os oficiais e soldados portugueses, que serviam na Catalunha e noutros sítios, desapareciam sem as chefias espanholas saberem como e voltavam a reaparecer em terras lusas.

Quando D. João IV entrou em Lisboa a 6 de Dezembro, já todo o país o tinha aclamado Rei.

O Milagre de Lisboa, como muitos o chamaram, espantou a Europa e muitos historiadores se debruçaram sobre ele. Citei aqui, há dois anos, Vertot: “Provavelmente nunca se viu na história outra conjura que, como esta, ... que tenha sido confiada a um tão grande número de pessoas de todas as idades, de ambos os sexos, de todas as condições e de um temperamento tão fogoso, e por consequência tão pouco apropriadas ao segredo; ... que ... tenha tido um sucesso tão completo e que tenha custado tão pouco sangue ... um segredo confiado a toda uma nação, que não transpirou em nenhum círculo, e a sua execução, que inúmeros acidentes poderiam ter feito parar, foi um êxito completo e imediato. E o êxito do golpe em Lisboa alastrou em menos de uma semana a todo o território e, com a rapidez com que as notícias chegavam, a todas as colónias da coroa portuguesa”

A seguir o frontispício do Portugal Restaurado, do Conde da Ericeira (1632-1690), 2ª Edição. Foi publicado em 4 volumes e é a obra mais importante sobre a Restauração, desde a conjura, até ao fim da guerra em 1668.

Port_Restaur1.jpg

Publicado por Joana às dezembro 1, 2005 12:09 AM

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» 1º de Dezembro from Viagens em terra alheia
O dia de hoje tem decorrido lento, como se fora domingo, o oposto do que em Lisboa, suponho, se terá passado em 1640. Para além do notável serviço que prestaram à portugalidade, ainda que na altura não pudessem alcançar a... [Ler...]

Recebido em dezembro 1, 2005 07:15 PM

» 1º de Dezembro from Viagens em terra alheia
O dia de hoje tem decorrido lento, como se fosse domingo, o oposto do que em Lisboa, suponho, se terá passado em 1640. Para além do notável serviço que prestaram à portugalidade, ainda que na altura não pudessem alcançar a... [Ler...]

Recebido em dezembro 1, 2005 07:21 PM

Comentários

Além de Macau, também na Ilha do Fogo, Cabo-Verde, a bandeira portuguesa não foi substituída pela espanhola.

Publicado por: TNT às dezembro 1, 2005 12:38 AM

Para quem trabalha com números e tem vastos conhecimentos de álgebra, Joana evidencia uma clara inabilidade para contar.

Eram 40? Só?

E a revolta contra o domínio espanhol, o que é que foi? Um golpe palaciano de 40 conjurados no 1º de Dezembro?

Joana, subtilmente, faz uma leitura revisionista da história da Restauração para alcandorar à condição de vanguarda corajosa um reduzido número de revoltosos. A elite. A nata.
O povo, essa massa amorfa na versão de Joana, limitou-se a «aderir» ao movimento dos quarenta.

E no entanto foi essa mesma elite, essa nobre nata, que prudentemente se alheou de todas as batalhas que o Prior do Crato travou ao longo dos anos de ocupação espanhola à frente de um exército de camponeses e vadios.

Na revolta do Manelinho de Évora, em 1637, e que alastrou a todo o Alentejo, não se viu nenhum desses quarenta.

O próprio duque de Bragança, que vivia em Vila Viçosa, ao ouvir o povo a manifestar-se nas ruas contra o domínio castelhano e a clamar por uma liderança, enfiou-se valentemente na cama com a desculpa de que estava doente.

Compreende-se. Em 1637 ainda não existia aquilo a que hoje se chama «condições objectivas» para a restauração da independência.

Só que aquilo que objectivamente criou essas condições foi o levantamento simultâneo dos povos de Portugal e da Catalunha, que obrigou os castelhanos a lutar em duas frentes, com grande dispersão de meios.

E mesmo quando já era claro para todos que a Espanha não tinha força para impedir a restauração de Portugal, o duque de Bragança ainda hesitava, duvidoso, De tal maneira que, como a história regista, ele só entrou em Lisboa no dia 6 de Dezembro. Um empurrão decisivo foi-lhe dado pela mulher, a tal que preferia ser rainha por uma hora. Por suprema ironia, a senhora era espanhola...

Eram apenas 40, só 40, nada mais do que 40 — a Joana bem podia poupar-nos a esta ridícula dramatização. Por que não foram apenas 40: foram quatro mil, quarenta mil, quatrocentos mil... foi um povo inteiro que se levantou.

Só me faltava ouvir, três séculos e meio depois, que a restauração de Portugal, obtida contra um ocupante respaldado num exército de milhares de homens, foi um feito de 40 Batmans super-heróis...

Publicado por: (M) às dezembro 1, 2005 01:46 AM

O Marquês d'Alba seria ainda vivo em 1640 ?
Nem que fosse de muletas ...

Publicado por: asdrubal às dezembro 1, 2005 01:47 AM

O Duque ... o Duque d'Alba. Eu não fiz a tropa ...

Publicado por: asdrubal às dezembro 1, 2005 01:53 AM

Só uma nota: o «misterioso» esquecimento do 1º de Dezembro não é assim tão misterioso e o 1º de Dezembro não foi assim tão esquecido.

De Norte a Sul, a restauração da Independência foi sempre comemorada pelo povo. Enquanto houve bandas filarmónicas, elas animaram desfiles pelas ruas das cidades e vilas portuguesas no dia 1 de Dezembro, tocando, entre outras músicas, o «Hino da Restauração» (é verdade Joana, até há um «Hino da Restauração»).

O tal «esquecimento» de que fala Joana foi a tentativa de branqueamento, por parte do fascismo português, dos acontecimentos que levaram à Restauraçãoe e que se traduziram numa verdadeira revolução popular.
Como muitos sabem, antes do 25 de Abril as palavras «revolução» e «popular» eram razoavelmente subversivas. Se aparecessem juntas, então, era uma catástrofe.
Daí à lenda urbana dos «40» foi um passo...

Publicado por: (M) às dezembro 1, 2005 01:58 AM

Antes de me retirar, outra nota.

O duque de Alba ainda estava em Portugal em 1640. Melhor dizendo, uma parte dele, já que morreu em Lisboa dois ou três anos depois de a Espanha se ter apoderado de Portugal.

Publicado por: (M) às dezembro 1, 2005 02:06 AM

Bom ... andar faz caminho.
Aqui têm o Hino da Restauração, o Hino da Carta e ainda o da Maria da Fonte (coloquem o som) no canto inferior direito :

http://www.realsetubal.org/ras.htm

PS : O da Carta, pelo andar acelerado da republiqueta, voltará em breve a ser o Hino Nacional de Portugal. Naturalmente.

Publicado por: asdrubal às dezembro 1, 2005 02:19 AM

(M): desculpe perguntar, mas o que está escrito foi exactamente que a revolução foi desendeada por 40 conjurados e secundada imediatamente pela população?
Pelo menos foi assim que entendi.

Publicado por: A Nunes às dezembro 1, 2005 02:20 AM

Cito: "E com apenas esses quarenta e a adesão popular que se seguiu"
e mais:
"apreendidos pelos conjurados, que apenas tinham as armas de defesa pessoal, e pelos que os secundaram, que apenas tinham as suas mãos e uma férrea vontade de vencer."
E a descrição de em 5 dias todo o país ter aceite João IV? Onde estão os 40?

Publicado por: A Nunes às dezembro 1, 2005 02:22 AM

A Nunes às dezembro 1, 2005 02:20 AM

Está desculpado...

Publicado por: (M) às dezembro 1, 2005 03:31 AM

Eu então acho lindo tudo: desde o mais vale ser rainha por uma hora..., até vão todos por ali fora, o Miguel de Vasconcelos no armário,...

Viva Portugal, carago!

D. João IV foi dos poucos reis portugueses coroados (há uma bela colecção de gravuras no museu da Cidade de Lisboa). A coroa depois foi legada a N. Sra da Conceição de Vila Viçosa, entretanto feita padroeira (e rainha) de Portugal, e dizem alguns que todos os dias 8 de Dezembro a imagem transporta a coroa na procissão. Outros dizem que foi roubada. Em qualquer caso estaria à guarda de uma confraria... Alguém sabe alguma koisa disto?

É muito engraçado ver as diferentes representações de Filipe II de Espanha, I de Portugal (de Espanha, Habsburgo militar muito sóbrio, de Portugal com botões de diamantes - quadro da Embaixada do México)

Ninguém segura o Dragão por muito tempo. Quando foi por Timor o Dragão ergueu-se e mandou um brado que fez virara as koisas do lado de lá do mundo! Tá bem que o Clinton é bom rapaz e tivémos sorte...

Os Anjos que guardam Portugal são S. Miguel e S. Jorge.

Eu estou ap*ix*nado pelo dragão e desta é que me lixo. Como podem ver aqui o andar dos números é inequívoco:

http://www.fire.uni-freiburg.de/inventory/database/1980-2004-Port.pdf

Foi com Cavaco Silva que isto tudo diaparou.

Foi muito interessante para mim perceber a Utopia da mão Invisível através do Incognitus e outros comentadores. Infelizmente todas as utopias comportam a sua perversão, que se revela à frente.

A utopia socialista degenerou nas nomenklaturas e todos os dispositivos ditatoriais que suportam a eternização no poder.

A utopia neoclássica da Mão Invisível nos fogos em Portugal (e outros exemplos no Mundo), um epifenómeno ligado a múltiplos e invisíveis ou semi-visíveis interesses. É literalmente a Mão Invisível que semeia mais de 30000 ignições, quase todas voluntárias. Pensem nisto.

Pelas minhas contas o Dragão está a arder ultimamente bem demais, está a arder o capital e já não apenas o juro, embora como tem uma capacidade de regeneração espantosa...

Publicado por: py às dezembro 1, 2005 07:44 AM

disparou

Publicado por: py às dezembro 1, 2005 07:46 AM

Porque é que este artigo sai hoje?

http://dn.sapo.pt/2005/12/01/opiniao/trinta_anos_depois.html

Publicado por: Ex-agente da CIA (reformado em Nassau) às dezembro 1, 2005 09:51 AM

Sim senhor, foi uma coisa muito bonita. O "valente" Zé Povinho português mudou de amos.
E assim (re)começou a sua (nossa) desgraça.
Cá estamos!...

Publicado por: Senaquerib às dezembro 1, 2005 09:51 AM

Pobretes mas alegretes!

Publicado por: Senaquerib às dezembro 1, 2005 10:21 AM

(M): Certamente que não leu bem, nem este post, nem o post que linkei, escrito em 2003. Foi a determinação e a coragem dos 40 que permitiu dominar a guarnição do Paço da Ribeira e decapitar o governo a mando dos espanhóis. Mas se não fosse a imediata adesão popular, não teria sido possível a tomada do Castelo de S. Jorge, dos galeões surtos no Tejo e dos fortes da Barra. Também não teria sido possível a capitulação das diversas guarnições espalhadas espalhadas pelo país.

Publicado por: Joana às dezembro 1, 2005 10:28 AM

As Alterações de Évora foram causadas pelo agravamento dos impostos. A decadência ibérica desde o início de Filipe II (de Espanha) tem como uma das componentes principais o excesso de carga fiscal necessária para sustentar as contínuas guerras europeias da Espanha.
Foi uma revolta expontânea, com epicentro em Évora, que se propagou a diversas vilas alentejanas e , pontualmente, a uma ou outra vila do resto do país. Mas foram tumultos desorganizados, que não conduziriam a nada dado o enorme poder militar de Espanha.

Publicado por: Joana às dezembro 1, 2005 10:36 AM

Pobretes? Olha a colecção das Jóias da Coroa... E a colecção de Monumentalia? Puf, do maior que há no Mundo. A Custódia da Sé da Lisboa e a da Bemposta são da 1ª divisão senão campeãs.

Nós temos andado é com o moral em baixo, porque estávamos nós a experimentar os amores da 1ª República e rebentou a 1ª Guerra Mundial. Á conta do Tratado de Windsor e etc., a Inglaterra pediu-nos o apresamento da frota comercial alemã, que efectuámos, e ficámos em guerra, e pedimos um empréstimo à GB... Depois acabou a guerra, as reparações alemãs cobriam muitas vezes o empréstimo, mas a potência vencida não pagou. Mas a mamã (?) GB cobrou-nos o empréstimo com juros, e como imprimia as notas de Portugal na Waterloo, e o banco de Portugal era uma instituição privada, lá se criou uma espiral de desvalorização e foi tudo um bocado para o galheiro, lá se foi o Português, as reservas de prata e sei lá que mais.

À conta disso a GB recuperou o padrão-ouro para o esterlino.

Vá lá que o Alves dos Reis salvou-nos da vergonha.

À conta disso apanhámos com o pai Salazar, bem castradorzinho, etc.

Ainda bem que o Sócrates está lá para negociar o orçamento.

The Portuguese diamond: a fatal blue stone

Na Austrália fiquei a saber que chamam às Caravelas Portuguesas "portuguese man-of-war", umas alforrecas quase invisíveis que não vos digo nada... apanhei uma nos Açores... vá lá

in between, the war:

http://diariodigital.sapo.pt/dinheiro_digital/news.asp?section_id=4&id_news=60223

Publicado por: py às dezembro 1, 2005 10:39 AM

Alves Reis

Publicado por: py às dezembro 1, 2005 10:41 AM

O que tem de extraordinária a conjura de 1640, e que espantou a Europa, foi a forma fulminante como decapitou o governo e levou à capitulação ou fuga de todas as guarnições espanholas. Em menos de 15 dias, todos os soldados estrangeiros (havia espnhois, mas também alemães, italianos, etc.) estavam presos ou tinham desaparecido.
Isto impossibilitou uma reacção militar imediata de Espanha e permitiu que se começasse a reconstituir um exército, com o concurso da tropa portuguesa que estava no estrangeiro e desertou, ou melhor, abandonou as fileiras. Há imensos episódios rocambolescos da forma como regimentos portugueses iludiram os espanhois e, em ordem unida, arranjaram forma de regressar ao Reino.

Publicado por: Joana às dezembro 1, 2005 10:46 AM

Leiam o meu post que linkei no texto, escrito em 2003 e que resume a efeméride

Publicado por: Joana às dezembro 1, 2005 10:49 AM

um plim pela revolução da Restauração

Publicado por: py às dezembro 1, 2005 11:22 AM

Li e achei muito giro. É bom para refazer a nossa auto-estima

Publicado por: Mauricio às dezembro 1, 2005 11:27 AM

Bela narração no seu post antigo Joana. Os tugas são o máximo, já com o 25 de Abril foi parecido, e depois com Timor, as coisas articulam-se misteriosamente emergindo com grande sucesso e pouco sangue (depois de aprendida a lição das lutas liberais, parece)

Publicado por: py às dezembro 1, 2005 11:30 AM

asdrubal às dezembro 1, 2005 02:19 AM

Quanto a hinos, dizem-me que Alfredo Keil dedicou o seu hino ao Senhor Dom Miguel (II), pelo que não me parece mal que, numa Monarquia (anarco-miguelista!) restaurada, o hino nacional seja o mesmo de hoje...

Publicado por: Albatroz às dezembro 1, 2005 12:04 PM

Foi a nobreza, (e uma parte do clero), que fizeram a Revolução de 1640. O povo foi de reboque, como sempre vai.
A mesma nobreza, (e o mesmo clero) que em 1580 tinham entregue o poder a Felipe II, vidé o que se passou nas Cortes de Almeirim. O povo aí tambem não foi ouvido, como sempre.
Querer ver sempre a História como os movimentos das massas é uma fabulação marxista que não tem nada a ver com a verdade e tudo a ver com a ideologia.
A revolução de 1640 não apareceu por acaso, mas foi fruto do lento mal estar provocado na nobreza por Felipe IV e o conde duque de Olivares quererem integrar à força os Reinos de Portugal e da Catalunha debaixo da autoridade centralizadora de Castela, e recusarem postos importantes a essa mesma nobreza junto da coroa castelhana, e ainda fruto de uma colecta de impostos sumamente impopular quer em Portugal quer na Catalunha, sobretudo porque pretendia angariar dinheiro para combater os holandeses nas colónias portuguesas. Na Catalunha essa revolta levou a um reforço das tropas castelhanas que tiveram de escolher entre os dois reinos. A revolta da Catalunha de 1640 foi esmagada, a de Portugal teve sucesso.

Publicado por: Joao P às dezembro 1, 2005 12:09 PM

O 1º de Dezembro, como algumas outras datas da nossa história, indicam que nós, quando encostados à parede - mas só então - somos capazes de reagir e de alterar o rumo trágico da nossa história. Comodistas, pouco dados a actos gratuitos de heroísmo, preferindo um bom vinho e um bom queijo a uma boa espada, os portugueses só passam a vias de facto quando muito, muito, muito chateados. E quando se metem em aventuras guerreiras, mesmo sem grande vontade, normalmente dão boa conta de si. A nossa acção militar no Ultamar foi notabilíssima, quer pelo sucesso - a guerra foi ganha em Angola - quer pela relativa falta de actos de violência criminosa. Em 1640 estavam reunidas as condições para que saíssemos do comodismo e voltássemos a atirar os espanhóis para o outro lado da fronteira. E, se as coisas em Portugal continuarem pela via que se vê, mais tarde ou mais cedo os nossos governantes vão ter a oportunidade de experimentar na pele essa capacidade nacional para despejarmos algures o lixo mal cheiroso. Não se admirem se um acontecimento aparentemente insignificante venha a provocar uma explosão de raiva contra os que nos desgovernam. Não sei porquê, apatece-me trautear o Hino da Maria da Fonte...

Publicado por: Albatroz às dezembro 1, 2005 12:20 PM

... por falar nisto...ainda bem:

http://diariodigital.sapo.pt/dinheiro_digital/default.asp

Publicado por: py às dezembro 1, 2005 01:35 PM

A História é muito linda, mas não dá de comer.
Se a um senhor engenheiro se pedisse para desenhar um mapa de nações, só um português se lembraria de separar a península ibérica em quatro quintos para o lado e as sobras para outro.
Mas foi o que aconteceu e esta comissão dos quarenta teve um papel decisivo. Ou seja quarenta podem influenciar a decisão de um povo.
Nada de anormal.
Hoje em dia Sócrates e Outro vão poder endividar-nos para os próximos oito séculos.
Portanto fazendo uso desse pregão que uma senhora qualquer disse:

-Mais vale uma hora ibérico e remediado do que toda a vida pobrezinho mas limpinho.
Ámen.

Publicado por: habla usted europeu? às dezembro 1, 2005 02:18 PM

Obrigada por nos ter recordado esta efeméride.

Publicado por: Diana às dezembro 1, 2005 02:31 PM

Ex-agente da CIA (reformado em Nassau) às dezembro 1, 2005 09:51 AM

Porque é mais uma das (habituais, no articulista) reflexões que não interessam nem ao menino Jesus...

Publicado por: Agente do SIS no activo em Notting Hill às dezembro 1, 2005 02:36 PM

Albatroz às dezembro 1, 2005 12:04 PM,

Nenhum dos Hinos me "repugna".
Mas últimamente tenho vindo a ler, digamos assim, a «versão liberal» daqueles perturbados tempos do início do Séc. XIX, e os interessantíssimos textos de Luís Aguiar Santos.
Se lhe aprouver, caro Albatroz, pode ver aqui :
http://www.causaliberal.net/documentosLAS/neocartismo.htm

Publicado por: asdrubal às dezembro 1, 2005 02:53 PM

Joana às dezembro 1, 2005 10:28 AM

Não vale a pena estarmos com exegeses, porque nem eu nem você precisamos de provar um ao outro que conhecemos a História.

A minha contestação surgiu apenas devido ao seu arroubo literário que atribui «aos quarenta» o papel de detonador do 1º de Dezembro. E ambos sabemos que não é verdade.

Enquanto a nobreza portuguesa aderiu, praticamente, em massa, em 1580 à coroa espanhola (na maior parte das famílias, a começar pela Casa de Bragança, havia casamentos cruzados e muitas expectativas), o povo nunca aceitou o domínio espanhol. Aliás, o povo português NUNCA aceitou o domínio espanhol e, não haja ilusões, NUNCA aceitará.

Por isso, quem conhece a História, sabe que ao longo daqueles 60 anos o povo sempre resistiu e sempre se viu sem chefes, com excepção do Prior do Crato.

A revolta do Manuelinho de Évora não é conhecida por esse nome por mero acaso. Quando meio país se levanta contra o ocupante e não aparece um líder que que organize o movimento, não admira que a «cabeça» da revolução seja atribuída a um tontinho.

Na sua memória da revolta de Évora e do Alentejo falta um pormenor muito significativo. É verdade que a revolta foi causada pelo aumento dos impostos, mas é também verdade que as «palavras de ordem» (e alguns actos, ça va de soi) tanto brindaram os espanhóis como a nobreza portuguesa. Dizia o povo, com montes de razão, que os nobres continuavam acomodados porque, designadamente na questão dos impostos, não eram eles quem pagava a factura espanhola.

Aliás, o texto de Vertot que você cita é bem explícito:

“Provavelmente nunca se viu na história outra conjura que, como esta, ... que tenha sido confiada a um tão grande número de pessoas de todas as idades, de ambos os sexos, de todas as condições...»

É uma descrição que não condiz com «apenas 40».

Por outras palavras, não foi o povo que aderiu a um golpe palaciano de um dia, foi aquela fracção da nobreza que aderiu a um movimento popular de 60 anos.

E aí também não foi uma adesão de última hora. Foi uma conjura longamente preparada e organizada, como assinala Vertot. Ou alguém acredita que o que se passou nos dias seguintes ao 1º de Dezembro aconteceu por geração espontânea?

PSD (no caso, parece-me que as iniciais se ajustam melhor do que PS) – A esse visitante que apareceu aí com a cassete do marxismo e da ideologia, aconselho apenas uma leitura mais demorada dos documentos históricos, em vez dos editoriais do arquitecto no Expresso.

Publicado por: (M) às dezembro 1, 2005 03:41 PM

Albatroz às dezembro 1, 2005 12:04 PM

E a bandeira, meu caro.
Não se esqueça daquela bola que está no centro da bandeira e do que ela representa de continuidade histórica.

Publicado por: (M) às dezembro 1, 2005 03:45 PM

Post muito interessante, tal como os comentários de (M).

No entanto, não é único este caso em que a força popular desarmada supera um exército. Lembro 3 casos:

(1) O Xá da Pérsia Mohammed Reza Pahlevi fugiu do país em 1979 após repetidas manifestações populares desarmadas, separadas por 40 dias uma da outra, em cada uma das quais manifestações muitos manifestantes eram mortos a tiro pela polícia ao serviço da ditadura. O povo apenas se manifestava, não usava armas. Muitos perderam a vida nessas manifestações. Mas acabaram por vencer a tirania.

(2) O ditador romeno Nicolai Ceausescu também foi derrubado por manifestações de populares desarmados, em 1979. Embora alguns manifestantes fossem mortos, a adesão popular foi tão maciça que as armas, todas elas do lado de Ceausescu, não serviram de gande coisa.

(3) Em 19 de Julho de 1936, o povo espanhol levantou-se em revolução contra o golpe militar. O povo desarmado tomou de assalto quarteis revoltosos e impediu que a maior parte das cidades de Espanha caissem em poder dos tiranos. O golpe praticamente só teve êxito em zonas rurais. Em todas as grandes cidades, o levantamento popular suprimiu a força militar revoltosa.

Publicado por: Luís Lavoura às dezembro 1, 2005 03:49 PM

Luís Lavoura: Não confunda exércitos do próprio país, onde uma parte dos miltares, talvez a maioria, estão com a revolta popular, mesmo que em aparência estejam sob o comando de altas patentes do regime, e mais aptos a virar as armas contra o poder que contra o povo, com um exército ocupante, de estrangeiros.

Publicado por: David às dezembro 1, 2005 04:08 PM

Ena!... tantos "patriotas" por aqui!
Bem, eu cá por mim prefiro um bom vinho e um bom quejo a uma boa espada. Deixo o resto para os patrioteiros, para não ficarem desocupados.
Quanto aos hinos, são bonitos, sim senhor, mas só a música.

Publicado por: Senaquerib às dezembro 1, 2005 04:08 PM

(M) para sua informação e educação: "Ao contrário da revolução catalã, a revolução portuguesa adquiriu um aspecto nobiliário indesmentível. Movimento estritamente de élite (em itálico)ainda que com suporte e seguimento popular, a Restauração portuguesa foi gerida, dirigida e administrada pelos nobres, os fidagos (em italico), que encontraram num deles, o maior de todos, o oitavo duque de Bragança, o estandarte que havia e encabeçar a sua causa.... a propaganda dos anos quarenta sempre se esforçou por apresentar a realeza de D. Joao IV como resultado da aclamação da sociedade lusitana...etc, etc"
In Catalunya i Portugal - el 1640 , por M.Àngels Pérez Samper, ed.Curial, Barcelona, 1992 página 161.
Como disse atrás e repito: o povo não faz as revoluções, vai atrás dos líderes, desde que eles apareçam. Aliás nem sei o que é isso do povo, (não fala, não discursa, não escreve) senão uma noção romantica que os marxistas adoptaram para o seu serviço, ou melhor para se servirem do nome dele.

Publicado por: Joao P às dezembro 1, 2005 04:15 PM

Senaquerib às dezembro 1, 2005 04:08 PM

Você já nos disse que preferia ter continuado a fazer vénias à coroa espanhola.
Espero que o Rioja e o Mantego lhe façam bom proveito.

Publicado por: (M) às dezembro 1, 2005 04:19 PM

asdrubal às dezembro 1, 2005 02:53 PM

Obrigado pela "dica". Reparei em que a polémica entre miguelistas e pedristas se mantém viva, mas reparei também que o argumento principal a favor da realeza de D. Miguel continua esquecido: o facto de o Povo português, reunido em Cortes legítimas, ter manifestado a sua vontade de que D. Miguel fosse Rei. O mesmo Povo que elegeu o Mestre de Aviz, o Prior do Crato e D. João IV, elegeu D. Miguel como seu Rei. Tudo o resto é conversa que apenas pretende remeter para segundo plano essa vontade expressa dos portugueses. Os juristas da Restauração sempre afirmaram que o Povo português mantinha "in habitu" o poder soberano, e que o podiam exercer sempre que o entendessem, embora isso só fosse de esperar em situações de crise institucional. Que era o que acontecia em 1826. Mesmo que o acto de rebelião de D. Pedro não o tivesse afastado da sucessão - o que seria estranho -, a vontade expressa do Povo chegava para que D. Miguel fosse Rei.

Publicado por: Albatroz às dezembro 1, 2005 04:22 PM

Joao P às dezembro 1, 2005 04:15 PM

Sabe, em questões de História prefiro os documentos e os historiadores portugueses.
O resto é conversa fiada

Publicado por: (M) às dezembro 1, 2005 04:22 PM

"Aliás, o povo português NUNCA aceitou o domínio espanhol e, não haja ilusões, NUNCA aceitará."

Pois claro!, os espanhóis não são bons muçulmanos, não seguem o Profeta, comem carne de porco e fazem touradas de morte.
NUNCA, NUNCA, NUNCA!
(Nunca digas NUNCA...)

Publicado por: Senaquerib às dezembro 1, 2005 04:23 PM

Uma forma de resolver o coflito luso-castelhano seria consolidar a Comunidade Iberoamericana, em que Portugal e Brasil chegariam para impedir a hegemonia castelhana, na Europa e nas Américas. Com o Brasil como parceiro até nos podíamos dar ao luxo de deixar de recear a Espanha.

Publicado por: Albatroz às dezembro 1, 2005 04:35 PM

"Em épocas de descrença é bom avivar este feriado"

Neste ponto não concordo com a Joana. Eu diria pelo contrário que neste feriado é bom realçar a descrença.

As últimas vezes que este feriado teve importância (que não como dia de descanso e gerador de "pontes") foi nas pífias manifestações direitistas da Vera Lagoa e apaniguados. Depois disso, este feriado reduziu-se a nada.

Hoje em dia, creio, boa parte dos portugueses preferiria ser espanhóis.

Publicado por: Luís Lavoura às dezembro 1, 2005 04:42 PM

Não conheço «feriado comemorativo» em Portugal, incluso já o 25 de Abril, que não caia num «torpor» de apagada e vil tristeza.
Eu passo a tarde a ouvir Tchaikovsky. Pelo menos tem uma Alma, possa !

Publicado por: asdrubal às dezembro 1, 2005 05:14 PM

(M)
1. não leio o expresso há anos; não me interessa ler recados mas sim informação.
2. devia estar mais atento: o livro que citei não é espanhol, mas sim escrito em catalão, por um autor catalão como se depreende do titulo.
3. concordo consigo que os portugueses nunca aceitaram e provavelmente nunca aceitarão o domínio espanhol. Nisso estou com eles.
3. talvez por v. só ler historiadores portugueses tenha uma visão tão unilateral da história, e ache que o resto é conversa fiada. o problema é seu.

Publicado por: Joao P às dezembro 1, 2005 05:51 PM

"Hoje em dia, creio, boa parte dos portugueses preferiria ser espanhóis"

Como é que um povo que se preza poderia querer pertencer a outro povo? Só uma pseudo-elite decadente poderia pensar tal coisa. Tentem fundir-nos numa Grande Espanha e vão ver o que acontece...

Publicado por: Albatroz às dezembro 1, 2005 06:09 PM

Como de costume extrema-se tudo.
Eu gosto de ser português, embora goste ainda mais de ser europeu.
Tinha sido uma boa ideia em devido tempo, aquilo que é uma naturalidade geográfica ter-se transformado numa realidade política.
Não vale a pena agitar espantalhos, pois muito provavelmente isso até teria evitado os conflitos que perturbam a Espanha.
Teríamos tido uma união de regiões autónomas em que as fronteiras nada teriam a ver com as actuais, mas mais com a realidade.

Não foi feito, agora também não o será e não vale a pena agitar espantalhos como aqueles patéticos (e aliás patetas) de integrarem Olivença em Portugal mesmo que fosse preciso eliminar os seus habitantes, relapsos na integração.
Agora aguentemo-nos, enquanto durar.

Publicado por: Sou um cidadão do mundo ... às dezembro 1, 2005 06:31 PM

eu concordo com o Albatroz, nós somos de brandos costumes, até que nos sobe uma koisa vermelha...

Mas os outros sabem isso. Em Espanha e por todo o lado (excepto em Inglaterra) fui sempre bem tratado. Os ingleses são parvos e os franceses também, mas os primeiros são os mais parvos e sonsos de todos, cá para mim é klaro.

Publicado por: py às dezembro 1, 2005 07:48 PM

Sim, os Filipes lançaram impostos impopulares sobre Portugal, uma das causas do descontentamento que levou à revolta.
Mas, depois da restauração da independência, o Zé povinho foi sujeito a impostos ainda mais duros para refazer e equipar o exército, restaurar e construir fortificações nas fronteiras e para reocupar e defender as colónias do ultramar.
O Zé Povinho ficou então apenas com pele e osso.
Mas, sobre isto, os historiadores patrioteiros passam como gato sobre brasas.

Publicado por: Senaquerib às dezembro 1, 2005 07:51 PM

(M) andei atrás da esfera armilar até onde consegui. Sem dúvida que figurava na sala do trono do paço das Alcaçovas conforme representações das audiências nas crónicas de D. Duarte e D. João II. O mais recuado que consegui chegar foi no frontispício da crónica de D. João I de Fernão Lopes que está na TT. Está tal e qual a bandeira de hoje, da República, a esfera armilar com o escudo de Portugal em cima, como ficou fixado com D. Dinis, sem coroa, nem ducal nem real.

Publicado por: py às dezembro 1, 2005 07:56 PM

Sim, mas e se não fosse a Catalunha a revoltar-se ao mesmo tempo, os espanhóis teriam podido fazer deslocar para Portugal os seus temíveis terços e lidando apenas com uma revolta e não com duas teriam provavelmente abafado a nossa independência. Mais que sorte, foi golpe de génio concertar a revolta com a revolta catalã, e sendo esta região mais importante para o império que a nossa revolta...

Publicado por: Rui Martins às dezembro 1, 2005 07:59 PM

A principal diferença de Portugal e Espanha (e de outros povos) é a língua.
É impossível querer fundir Portugal com Espanha sem provocar uma enorme repulsa popular pelo facto de quererem pôr portugueses a falar espanhol. Experimentem e vão ver a revolta... da esquerda à direita.

Sendo espertos, os espanhóis só tentaram a colonização económica. Nada mais.

E quanto à questão da língua, lembrem-se da Bélgica. Uma diferença linguística traça, de facto, uma fronteira. A Bélgica só se mantêm unida por uma questão estratégica (e religiosa): sobreviver aos poderosos vizinhos maiores.

Publicado por: J P Castro às dezembro 1, 2005 09:31 PM

(M) às dezembro 1, 2005 04:19 PM

"Você já nos disse que preferia ter continuado a fazer vénias à coroa espanhola."

Se acha que eu disse isso é porque é verdade. Quem sou eu para o desmentir?
Só não me lembro de quando e onde é que eu afirmei tal coisa. Importa-se de me dizer?
Ficar-lhe-ei muitíssimo agradecido e prometo que passarei também a fazer vénias à sua importantíssima pessoa.

Publicado por: Senaquerib às dezembro 1, 2005 09:35 PM

Eram só quarenta mas valiam mais que quarenta mil de hoje.

Um abração do
Zecatelhado

Publicado por: zecatelhado às dezembro 1, 2005 09:42 PM

Quantas línguas se falam na Suiça?
E em Espanha?
E na China?
E nos EUA?
etc, etc.

Bom, em Portugal falam-se duas linguas: Português e Mirandês, lembram-se? Isto além dos "dialectos" como o de Minde e o de Rabo de Peixe, é claro.

Publicado por: Senaquerib às dezembro 1, 2005 09:45 PM

Os portugueses são mais que valentes, são valentins: "quantos são?, quantos são?".
Ao longo da história são sempre meia dúzia de portugueses contra milhares de inimigos armados até aos dentes e sempre derrotados.
Ele é padeiras de aljubarrotas, ele é 40 conjurados, ele é valentões e heróis de todas as espécies... E os inimigos sempre derrotados...
Só não se percebe muito bem por que é que, com tantas façanhas vitoriosas, Portugal permanece na cauda da Europa. Mistério.

Publicado por: Senaquerib às dezembro 1, 2005 09:57 PM

Senaquerib às dezembro 1, 2005 09:57 PM

"Só não se percebe muito bem por que é que, com tantas façanhas vitoriosas, Portugal permanece na cauda da Europa. Mistério."

Fácil: após as inúmeras vitórias, Portugal optou, de entre os despojos, pelo rabo da Europa. E, pelo apego demonstrado, parece que está a gostar =:)

Publicado por: Vítor às dezembro 1, 2005 10:09 PM

Magnífico blog este!

Como ando a ver se também divulgo o meu umbigo ORTOGAL, convido-os a disfrutar, entre outras coisas interessantes, do post intitulado:

Paulo Morais - Uma Voz da IV República!

em www.oortogal.blogspot.com

Saudações a todos, e obrigado pela vossa visita

VR

Publicado por: Valdemar Rodrigues às dezembro 1, 2005 10:41 PM

Albatroz em Dezembro 1, 2005 04:22 PM

« (...) A sua [D. Miguel] aclamação pelas Câmaras Municipais de Lisboa e Coimbra a 25 de Abril de 1828 e pelas Cortes reunidas “à maneira antiga” em 11 de Agosto do mesmo ano, mostra um indiscutível apoio popular que tinha então mas não lhe dá a legitimidade que ou tinha em termos dinásticos ou não tinha. Como monárquico, eu não sou propriamente um adepto do “poder popular”, das legitimidades adquiridas em banhos de multidão ou em proclamações de entidades e assembleias tomadas de assalto pelas vozes dos mais exaltados. Em 1828, quando pela primeira vez D. Miguel passou o risco da tomada do poder (contenho-me e não digo usurpação), Portugal não estava a sair de um jugo estranho ou de uma situação de perigo para a independência da sua Dinastia como em 1383 ou em 1640 – épocas em que se justificaram, por isso, duas forçadas aclamações populares por cima das formais regras dinásticas de sucessão à Coroa, depois confirmadas em Cortes. O que aconteceu foi o destronamento pela força, no meio de algum entusiasmo popular, de uma Rainha menor e legítima havia dois anos ».


«(...) Tudo isto porque as regras constitucionais portuguesas não estavam codificadas e se haviam prestado a uma praxis evolutiva que reforçara as competências legislativas e executivas da Coroa e, de há muito tempo, dispensara as consultas do Rei às Cortes, um órgão que nunca foi permanente mas apenas supletivo do poder régio. Assim, mesmo que as Cortes se reunissem “à maneira antiga” em 1826, é muito discutível que tivessem legitimidade para se assumirem como aquilo que nunca haviam sido nos sete séculos precedentes: um poder constituinte ».

Daí o «anarco» - Miguelismo, não ?
Eu cá vou andando, pelo método de ir andando, como dizia o Professor Adriano Moreira.

Publicado por: asdrubal às dezembro 1, 2005 11:13 PM

Vítor às dezembro 1, 2005 10:09 PM:
O Sócrates ainda não se tinha lembrado dessa. «Estamos na cauda da Europa porque lhe fizemos uma pega de cernelha e ficámos na função de rabejador ... e não tenham medo, porque tenho as mãos cheias de areia ... uns dizem que é para vos atirar para os olhos, mas não ... é para não deixarmos escapar o rabo...»

Publicado por: Joana às dezembro 1, 2005 11:18 PM

Boa ideia a do rabejador

Publicado por: Coruja às dezembro 2, 2005 01:22 AM

Gostei muito do post linkado a este. E conheço, embora nunca a tenha lido essa obra do Conde da Ericeira.
Só por curiosidade, essa edição deve valer hoje no mínimo uns 4 mil euros.

Publicado por: soromenho às dezembro 2, 2005 01:37 AM

O problema não é o número de línguas que se falam. O problema é tornar uma dessas línguas de uso obrigatório a um povo que não a usa nem quer nem precisa.

Os casos da unidade Suíça, dos EUA e da China têm outras motivações político-estratégicas na formação desses países. Um contra-exemplo melhor seria o Canadá, com o Quebec.

Mas, repito, tentem unir Portugal a Espanha e ponham os portugueses a falar espanhol. Se não surgir revolta generalizada no prazo de um ano, dou um ano de salário (esse ano) à Associação de Amizade Luso-Espanhola (se existir...).

Publicado por: J P Castro às dezembro 2, 2005 02:27 AM

asdrubal às dezembro 1, 2005 11:13 PM

"...mas não lhe dá a legitimidade..."

A legitimidade, mesmo em Monarquia, sempre esteve dependente da vontade popular. Daí a aclamação dos nossos Reis. A Infanta D. Maria nunca foi aclamada em Cortes, foi "nomeada" por seu brasileiro pai, enquanto Dom Miguel foi de forma clara aclamado em Cortes legitimamente convocadas. A Coroa nunca foi em Portugal sujeita a testamento, nem automaticamente herdada. Alguns esquecem isso, e por isso se fala tanto no Pacto de Dover, mera combinação entre primos que nenhum valor jurídico poderia ter. Por muito que tal incomode certa argumentação, o facto é que em 1826 Portugal estava confrontado com uma crise dinástica que só podia ser resolvida pelas Cortes. Foi isso que aconteceu em 1828 com a aclamação de D. Miguel. Nenhum poder é superior à vontade nacional expressa em Cortes. Nem mesmo a vontade de D. Pedro I do Brasil.

Publicado por: Albatroz às dezembro 2, 2005 02:29 AM

Eu não sou monárquico, mas gosto muito de História. Que eu saiba o primeiro a reunir os procuradores dos concelhos foi Afonso III de Portugal. A partir daí os castelos (muitos, depois foram reduzidos simbolicamente para 9 e para 7), entraram na bordadura do escudo de armas de Portugal. Claro que ter os representantes do 3º estado traduziu-se num acréscimo de democracia e ... para cobrar impostos.

Dizem-me que o cadeirão de Trono que está na hall de entrada da TT era o de D. Miguel quando foi aklamado em cortes no palácio da Ajuda, hoje a sala dos banquetes.

Publicado por: py às dezembro 2, 2005 08:27 AM

onde está 9 ponham 8

Publicado por: py às dezembro 2, 2005 08:28 AM

mas Albatroz que eu saiba D. Manuel, cunhado de D. João II, depois da morte do infante D. Afonso (a cavalo), foi designado sucessor e rei de Portugal em testamento outorgado pelo mesmo D. João II.

Publicado por: py às dezembro 2, 2005 08:31 AM

D. João II queria que seu filho natural, D. Jorge (se não estou em erro) fosse Rei. Mas as instituições da época manifestaram-se contra, acabando D. Manuel, primo de D. João II, por ser aclamado Rei em Cortes. A vontade de D. João II não contou para nada, até porque foi recusada. A Coroa não é, nem nunca foi, como uma bicicleta ou um serviço de chá que é da propriedade do Rei e que ele pode deixar a quem quiser. D. Pedro tornou-se estrangeiro ao aceitar, de forma rebelde, o Trono brasileiro. Com isso perdeu os seus direitos de sucessão, pelo que não os podia transmitir aos filhos. Só as Cortes poderiam ter oferecido a Coroa a D. Maria da Glória, mas nunca o próprio pai, entretanto afastado da sucessão do Trono português pelo seu acto de rebelião e guerra contra Portugal. O equívoco só foi alimentado porque D. João VI tinha acalentado a esperança de ver as duas Coroas reunidas de novo no seu filho primogénito. Esperança louvável mas que nada tinha a haver com as regras de sucessão então em vigor.

Publicado por: Albatroz às dezembro 2, 2005 09:00 AM

ora bem, fui ver ali num livro, temos razão os dois D. Manuel era cunhado e primo de D. João II. A rainha D. Leonor nutria pouca simpatia pelo filho natural do rei D. Jorge, agravada depois da morte do infante D. Afonso. Terá sido ela que induziu D. João II a nomear o cunhado/primo seu sucessor em testamento redigido em Alcácer do Sal em 1495 (o rei viria a falecer em Alvor, nesse ano).

D. Manuel foi aklamado rei em Álcacer do Sal em 27 de Outubro de 1495, portanto antes da morte do D. João II, ou seja não foi por um efeito sucessório directo, embora o testamento tenha tido o seu peso.

Publicado por: py às dezembro 2, 2005 09:24 AM

Albatroz aproveito um pouco de fofoka. Para a semana, espero eu, irei cumprir um sonhozito que acalento há alguns anos: ir dormir uma noite na Flor da Rosa. Entretanto tenho a vaga idéia que no Crato houve para lá um casamento de D. Manuel, não? Sempre gostei muito foi da Infanta Maria de Portugal, coitada não podia casar porque punha em perigo o património do Estado, e então fundou uma espécie de convento/universidade para mulheres. Deixou a cruz de diamantes das princesas de Portugal em testamento ao D. António, prior do Crato, o seu protegé, e o diamante conhecido mais tarde por Espelho de Portugal também foi nessa leva. Quem o abocanhou foi a Isabel de Inglaterra como penhora de uma esquadra capitaneada pelo Drake, que fikou às portas de Lisboa por causa do mau tempo....

Publicado por: py às dezembro 2, 2005 10:08 AM

J P Castro às dezembro 1, 2005 09:31 PM

Você não conhece bem a Espanha de hoje. Na Espanha de hoje muita gente não fala espanhol ("castelhano") no dia-a-dia. Sobretudo na Catalunha, onde um indivíduo que só fale castelhano se vê à rasca. Os catalães, mesmo quando aparcem na televisão ou rádio espanholas, falam a sua língua, e cagam-se para que os restantes espanhóis não os entendam.

Publicado por: Luís Lavoura às dezembro 2, 2005 10:08 AM

JP aproveito também. 4ª feira vem o o vice-presidente da CMC, o António Capucho colokou o PP da Quinta da Carreira nas mãos do vice, que ao mesmo tempo tem os pelouros do urbanismo e do ambiente, é o único PP que tem em mãos, e parece que se quer fazer disto aki um caso exemplarde requalificação urbana em termos de Agenda XXI. Os termos de referência já estão à consulta pública. Dia 17 de Dezembro há uma reunião de moradores no liceu convocada pela AMQC (mas não é assembleia geral da AMQC) para aprofundar a discussão dos termos de referência do PP. Depois cada um pode pronunciar-se como quiser em sede de audiência prévia.

(PS talvez consiga passar pelo teu sítio lá para 11 mas não tenho a certeza se dá)

Publicado por: py às dezembro 2, 2005 10:35 AM

...entretanto já não me lembro se te tinha dito que está garantido que para o lado do Centro de Saúde não vai para lá mais nada, fica tudo para jardim e estacionamento. Tenho um e-mail do António Capucho a garantir isso.

Publicado por: py às dezembro 2, 2005 10:43 AM

A Catalunha é autista.

Publicado por: Senaquerib às dezembro 2, 2005 10:49 AM

Mas quando os catalães exportam qualquer produto tecnológico têm de escrever as instruções técnicas em espanhol e inglês, pelo menos.
O catalão não lhes serve de nada.
Essa é que é essa!

Publicado por: Senaquerib às dezembro 2, 2005 10:54 AM

mas dizem bom dia como nós, não?

Publicado por: py às dezembro 2, 2005 01:18 PM

Sim, é verdade, dizem Bom Dia como nós e têm o nosso sotaque.
São boa gente, afinal.

Publicado por: Senaquerib às dezembro 2, 2005 01:31 PM

Hoje no telejornal falaram de uma manifestação de agricultores em Trás-os-Montes. Um deles apareceu a dizer:

"Tenho vergonha de ser português! Gostava de pertencer a Espanha."

É disto que o meu povo gosta...

Publicado por: Luís Lavoura às dezembro 2, 2005 02:25 PM

"meu"?

Publicado por: py às dezembro 3, 2005 05:41 PM

http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=183352&idselect=9&idCanal=9&p=94

Publicado por: py às dezembro 3, 2005 08:39 PM

Oh Joana o ritmo de komentários decresceu vertiginosamente. Será a melancolia do Outono? A bilis negra?

Agora estou aki com um problema ekonomico. À medida que decresce o nº de comentários também decresce o nº de kapikuas, logo tornam-se escassas e portanto presumivelmente mais valiosas! No entanto em vez de ficar kom o paetite mais aguçado dá-me antes uma molidão de tédio...

Será que essa coisa do eskasso e valioso é assim correlativo? hum...

Publicado por: py às dezembro 3, 2005 09:24 PM

apetite


(molidão->morfar)

Publicado por: py às dezembro 3, 2005 09:25 PM

morfar->Morfeu

Publicado por: py às dezembro 3, 2005 09:27 PM

Morfeu->morfina?

Publicado por: py às dezembro 3, 2005 09:28 PM

corujexxxxx...

Publicado por: py às dezembro 3, 2005 09:29 PM

corujex->bonzão

Publicado por: py às dezembro 3, 2005 09:30 PM

bonzão->plim

Publicado por: py às dezembro 3, 2005 09:31 PM

OK

Publicado por: Coruja às dezembro 4, 2005 12:30 AM

OK

Publicado por: Coruja às dezembro 4, 2005 12:30 AM

OK

Publicado por: Coruja às dezembro 4, 2005 12:30 AM

O "link" deste texto tem uma citação do senhor Robert Sthouwell, embaixador inglês em Lisboa, que vai de encontro ao que os Romanos já diziam da Lusitânia :
- «Se quereis ver os portugueses vencidos, deixai-os uns com os outros» ... ehehe !

Publicado por: asdrubal às dezembro 4, 2005 02:38 PM

É triste

Publicado por: Coruja às dezembro 13, 2005 12:58 AM

É triste

Publicado por: Coruja às dezembro 13, 2005 12:58 AM

É triste

Publicado por: Coruja às dezembro 13, 2005 12:58 AM

É triste

Publicado por: Coruja às dezembro 13, 2005 12:58 AM

É triste

Publicado por: Coruja às dezembro 13, 2005 12:58 AM

É triste

Publicado por: Coruja às dezembro 13, 2005 12:59 AM

É triste

Publicado por: Coruja às dezembro 13, 2005 12:59 AM

Um comentariozinho oblíquo ao Albatroz que paira sobre irredentistas e Olivenza (antes com cê de cedilha). Patéticos patetas, não é? Claro! Felizmente não somos desses patetas alegres que pensam que se pode privar dos seus derechos civiles de auto-determinação (em terra alheia) ... os de Olivença, vítimas inocentes da des-retificação da fronteira Ibérica, que seria noutro caso a mais antiga da Europa ... mas é coisa nenhuma. Não me vou dar ao trabalho de recontar o conto mirabolante de como a Espanha se locupletou com essas terras, portuguesas de havia uma mão-cheia de séculos. A coisa é decerto prescindível neste blogue pululante de grandes conhecedores de História. Estamos todos de acordo, não somos nenhuns saloios amigos de Olivença, sim gente bem pensante e prafrentista, patetas quê! Patetas, e sabe-se lá o que mais, são nuestros hermanos, santa, que figura eles faziam na ONU há um bom, bom par de anos, quando quase os podia ouvir da minha escrivaninha. (Hoje não sei, não tenho acompanhado. Espera, temos o Google. Ora aí está, Sr. Zapatero, 21 Setembro 2004, mas um pálido eco desses outros tempos.) Ano trás ano, impreterivelmente, mais uma discursata apaixonada protestando a presença abusiva dos "bifes" no cabo deles, esse poial gigante de Gibraltar, que cabe algumas 150 vezes nas terras de Olivença--e não é essa a única dimensão em que o caso de Olivença leva a bandeira. Resumindo, patetas e saloios eles, nós não: somos bem, bem comportados, bem pensantes, sem teias de aranha, prafrentistas, vivos como guelra de carapau de corrida. Que têm nuestros hermanos a ganhar com todo esse forrobodó, por cima envolvendo outro membro da Comunidade? Patetas. Um dia destes, mais cedo do que se pensa, creio bem, Albion farta-se deste albatroz de 40 anos pendurado ao pescoço e opta por algum dos processos de pendurar o albatroz no pescoço dos nossos vizinhos, os pobres. (Certo que um albatroz com ares de provisório, e nuestros hermanos gostam de albatroz.) Entretanto o mundo dispõe duma maneira mais de reparar na existência e importância de Madrid. E para os nossos vizinhos o peso desse albatroz em anglos pescoços não é decerto desvantagem. Mas que parcos resultados para o indizível embaraço de passar por parolo pateta. Isso a nós não acontece. Todo o mundo sabe como somos refinados, polidos, aristocratas de comer laranja com colher, garfo e faca, pensadores da moda das grandes capitais. Ninguém nos confunde com os da porta ao lado, pisca, pisca. Mas, confesso, às vezes não resisto a devanear sobre o efeito de tirar da manga com alguma habilidade saloia este trunfo de Olivença, sair à praça (40 anos depois de nuestros hermanos, mas mais cedo no processo de apropriação) com 150 Gibraltares, após dedução de Utrecht, e módulo a muito menor navegabilidade e sentido de colocação do Guadiana quando comparado com as colunas de Hércules. Neste devaneio vão-se-me horas, mas não tenho coragem de confessar aqui as inúmeras traquinices que me ocorrem, principalmente as que se poderiam chamar gambitos de Olivença. E, quem sabe, com um pouco mais de imaginação e boa governança talvez fosse até possível convencer os de Olivença, digo, -za, a declarar-se desejosos de auto-determinação sob a bandeira verde-rubra. Seria um bom pretexto para incentivar boa governação no Portugal ainda fanado de Olivença.

Encontrei este blogue hoje, e acho-o deveras fantástico. Isso me faz lembrar uma ideia que me ocorreu uns tempos atrás. Eu detestava História no liceu, mas uma-duas décadas mais tarde apaixonei-me, e foi pela de Portugal. A nossa História é uma longa saga de coisas quase inacreditáveis. Alguém notou nesta discussão o portuguesíssimo traço de caráter magistralmente retratado por Eça em "A Ilustre Casa dos Ramires". O princípio da gota que faz transbordar o cálice, a mentalidade do oito ou oitenta. Lendo este blogue penso em como a pesquisa histórica é um dos poucos campos académicos, se não mesmo o único, em que o nossos padrões não precisam ter inveja aos grandes centros da cultura. Juntando tudo isto, ocorre-me que existimos para ir além do dito de Santayana. Conhecemos a nossa História. Bom, muitos entre nós a conhecem bem, portanto somos um povo que não esquece o passado. Mas estamos condenados a repeti-lo ainda assim.

Publicado por: Mário Capela Reis às dezembro 13, 2005 05:53 AM

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