« Contra o Pessimismo | Entrada | O blog Noites Áticas »

setembro 02, 2005

Entradas de Leão

Saídas de …

O Ministro da Agricultura afirmou anteontem que iria aplicar coimas às autarquias que não tivessem cumprido as medidas legais de protecção contra os fogos florestais. Esta notícia fez manchete do Público de 31-08-05 e ocupa uma página quase inteira do interior do jornal. “No princípio do Outono vai haver notificações para as autarquias e para os privados” afirmou de peito feito. Esta afirmação é notável, pois demonstra alguma coragem, muita ignorância e uma completa insensatez.

É preciso alguma coragem para arrostar com o poder autárquico; é preciso muita ignorância para não saber que estava a acusar as autarquias e os privados de infracções em que o Estado é um dos principais praticantes; é preciso uma completa insensatez para não perceber que se iria meter num vespeiro que poderia pôr a nu e trazer para a ribalta todo o laxismo do Estado nesta matéria e as suas responsabilidades.

Obviamente que a resposta das autarquias foi fulminante e violenta: “Caso notifique as autarquias, conforme disse, o senhor ministro terá não só a resposta política às asneiras que proferiu, mas também a dos tribunais”, disse um membro da Associação Nacional de Municípios, que acusou o ministro de ser “política e intelectualmente desonesto”, conforme notícia que hoje (1-09-05) apareceu exilada numa página interior do Público, tão interior e tão exilada que eu só a descobri depois de ouvir, na rádio, o Ministro a deitar água na fervura das suas anteriores declarações e após folhear várias vezes o jornal! Nessa “tira”, o presidente da CM Viseu considerava que o Estado “não tem legitimidade para apontar o dedo às autarquias já que é ele o primeiro prevaricador: O Pinhal de Leiria, as estradas florestais de sua responsabilidade e as matas nacionais são uma vergonha! Se quer ter legitimidade, que dê o exemplo, que não deixa as suas matas piores que as outras.

Entretanto, para desviar as atenções, a Quercus, a representante “no exterior” dos ambientalistas do ICN, deu uma conferência de imprensa, pondo em dúvida a eficácia dos meios aéreos, alegando indícios estranhos onde mostrava que não fazia a mínima ideia do que falava e que apenas convocara aquela conferência de imprensa para criar um facto mediático para fazer esquecer a lebre que o ministro levantara. A Quercus (e o ICN) pode ser insensata, mas não é ignorante sobre o estado de limpeza das matas do Estado e daquelas, “protegidas”, onde o Estado impede objectivamente a limpeza. A última coisa que a Quercus (e o ICN) quer é que se comece a falar da limpeza das matas.

O problema do ministro é, ao que aparenta, conhecer a problemática dos incêndios apenas pela comunicação social. Não faz ideia do estado das matas do Estado. Ora a comunicação social está completamente manipulada pelo lobby ambientalista e as notícias sobre o desleixo nas matas nacionais não passam, porque não é desleixo, é uma “questão de princípio”. Todavia, ao meter-se com o poder autárquico, o ministro mete-se com uma instituição que também tem, pela sua força, um acesso garantido à comunicação social. Agora foi apenas uma “tira” perdida na página 22, mas se a situação se prolongar o poder autárquico tem força bastante para aparecer em manchete nos jornais, por muito manipulados que estes estejam. O poder autárquico não é a sujeição dos pequenos proprietários das áreas protegidas, que têm que assistir aos incêndios dos seus bens pela TV, sem possibilidade de ter feito, em tempo oportuno, nada para obviar a tragédia, nem conseguir fazer passar o seu protesto. O poder autárquico é acusado de estar cheio de mafiosos? Será … mas a máfia é uma força perigosa e inventiva, quando a põem em cheque.

O ataque às causas profundas dos incêndios tem que começar pela própria administração central. O governo não pode exigir aos outros, principalmente às autarquias que são um adversário poderoso quando hostilizado, aquilo que não faz. Ao exigi-lo coloca-se, e coloca o país, numa situação vulnerável. Nunca resolveremos a questão dos incêndios desta forma, em que cada um só olha para o laxismo dos outros. Esta é uma questão que terá que ser resolvida por todos – Estado, autarquias, particulares – de forma integrada e tendo, cada um dos protagonistas, a honestidade de assumir com rigor e objectividade as suas responsabilidades e as suas insuficiências. Ao sustentar na administração pública comportamentos que, objectivamente, fragilizam sua posição (para além de tornar as matas nacionais em bombas incendiárias), o governo prejudica o país, sem ganhar nada com isso. As teorias dos ambientalistas sobre a (não) limpeza das matas não têm a ver com quaisquer opções políticas, não passam de manias.

São todavia manias caras e perigosas, pois a continuação desta situação vai obrigar, desnecessariamente, a custos muito elevados em meios de combate a incêndios, sem resolver o problema dos fogos que vão continuar devastadores enquanto as suas causas profundas não forem eliminadas.

Publicado por Joana às setembro 2, 2005 12:01 AM

Trackback pings

TrackBack URL para esta entrada:
http://semiramis.weblog.com.pt/privado/trac.cgi/102382

Comentários

Isto dos incêndios é o que está a dar

Publicado por: didi às setembro 2, 2005 12:47 AM

Estamos na época.

Publicado por: didi às setembro 2, 2005 12:48 AM


O que está errado é o (des)ordenamento do território.

Os fogos são apenas as consequências naturais deste disparate de pôr a população toda no litoral, ignorando o interior porque não "rende" votos.

Publicado por: J P Castro às setembro 2, 2005 12:58 AM

Recuperação dos 3 axiomas:
1) A comunicação social está minada pela esquerda;
2) Existe um lóbi ambientalista que se constituiu como força de bloqueio;
3) O Estado é desleixado na gestão da sua floresta.

Publicado por: Vítor às setembro 2, 2005 12:20 PM

O Ministro da Agricultura ameaça fazer o que lhe compete: zelar pelo cumprimento da lei.
Os autarcas poderiam louvar a atitude, lembrando contudo ao Ministro que deve ser o Estado a dar o exemplo. Mas não: pouco habituados a estas coisas reagem mostrando os dentes.
Remete-se para o nada, que assim é que está bem.

E vêm falar do Pinhal de Leiria. A este propósito, bem como da Mata do Urso, sugiro,
para os mais sedentários, a instalação gratuita do earth google http://earth.google.com/.
Depois de instalado fazem uma "visita" aos locais referidos e constatam a diferença para as zonas adjacentes (as ditas matas são aquelas coisas com um reticulado de caminhos e sem construção lá pelo meio. Sempre é diferente do mosaico de zonas habitacionais e industriais, entremeadas de floresta e áreas agrícolas que os autarcas têm vindo a promover. Coisa que, que eu saiba, nunca o Dr. Fernando Ruas se dignou referir publicamente.
Claro que o melhor é mesmo, um destes fins de semana, pegar no automóvel e, se o preço dos combustíveis o permitir, verificar as diferenças in loco...

Publicado por: Vítor às setembro 2, 2005 12:35 PM

O "mosaico de zonas habitacionais e industriais, entremeadas de floresta e áreas agrícolas que os autarcas têm vindo a promover" é um dito falso. Foram os habitantes que fizeram esse mosaico. As terras eram deles.
Acho estranho que você, que habita num "mosaico" com uma casa e uma mini-zona florestal queira impedir outros de fazer o mesmo.

Publicado por: Joana às setembro 2, 2005 02:51 PM

Joana às setembro 2, 2005 02:51 PM

Lá vamos nós discutir o acessório:

V. está, como dizem os putos, a "passar-se".
As terras eram dos habitantes?!
Claro que o português ignora os mais elementares princípios do ordenamento da paisagem.
Mas:
Eles não precisam de licença para construir?
Não cabe às Câmaras fazer a fiscalização adequada?
O país está uma merda e os autarcas não têm nada que ver com isso?

Publicado por: Vítor às setembro 2, 2005 03:10 PM

Estará a Joana a confundir-me com algum dos seus conhecidos?
É que não me lembro de ter dito que habitava "num "mosaico" com uma casa e uma mini-zona florestal". Sou um mero sub-urbano habitante de casa com quintal.

Publicado por: Vítor às setembro 2, 2005 03:15 PM

Hoje, no Público, é dada uma atenção muito maior à "denúncia" da Quercus que às declarações ontem do presidente da Associação Nacional de Municípios e de outro dirigente autárquico.
Mas não dizem nada sobre o desmentido do Comandante Nacional dos Bombeiros sobre as afirmações da Quercus.

Publicado por: Sa Chico às setembro 2, 2005 03:48 PM

Se não é manipulação, não sei o que lhe chamar.

Publicado por: Sa Chico às setembro 2, 2005 03:49 PM

Chame-lhe "Jornal onde não é notícia aquilo que eu gostaria que fosse".
Ou "jornal cuja redacção não pensa como eu penso".
Sei lá. As possibilidades são infinitas.

PS: Onde andará o Luís Delgado?

Publicado por: Vítor às setembro 2, 2005 04:20 PM

Foi despedido.

Publicado por: Coruja às setembro 2, 2005 04:55 PM

É confortante ler um "Jornal onde é notícia aquilo que eu gostaria que fosse" ou um "jornal cuja redacção pensa como eu penso".
É por isso que eu leio este e outros blogs, por não ter esse conforto e não encontrar jornais desses.

Publicado por: AJ Nunes às setembro 2, 2005 05:57 PM

Não percebo porquê. Antes da blogosfera eu (e a maioria das pessoas minhas conhecidas) julgava que pensava ao contrário do que deveria ser. Agora começo a pensar que o problema está nesses jornais.

Publicado por: AJ Nunes às setembro 2, 2005 06:00 PM

AJ Nunes: Aquele tipo de conversa é o mesmo dos tempos da outra senhora, exactamente igual, só que de sinal contrário.

Publicado por: soromenho às setembro 2, 2005 09:05 PM

Naquele tempo os censores assumiam as coisas e a censura que faziam. Agora é mais perversa. Filtram-se as pessoas e as notícias pelos próprios.

Publicado por: soromenho às setembro 2, 2005 09:07 PM

É uma vergonha a actuação dos jornalistas. Este é um caso que nem é político. É uma questão de compadrio.

Publicado por: Gros às setembro 2, 2005 09:21 PM

o meu pinhal ardeu , agora o estado vai multar e quem sabe nacionalizar o meu terreno e daqui a uns anos privatiza ..... esta historia é VELHA . o meu pinhal estava alugado a madeireiros , porque razao não são eles os responsaveis pelo que se passou ? afinal receberam dinheiro do estado para plantarem pinheiros , mas nunca limparam a mata , deve ter faltado um apoio do estado á limpeza da mata ... mas agora vao receber dinheiro para limpar e voltar a plantar ... hum , está descoberto o problema , o estado não esta a dar dinheiro para a limpeza ANTES dos incendios , só depois hehehehe .

Publicado por: jojo às setembro 2, 2005 10:19 PM

Ninguém está interessado em resolver a questão dos incêndios. Apenas em lançar culpas uns para cima dos outros. Ou contestar as culpas próprias.
Até entre os comentários se percebe isso.

Publicado por: Nurcia às setembro 2, 2005 10:52 PM

...nos comentários e nos posts da CEO do blog !

Publicado por: zippiz às setembro 2, 2005 11:11 PM

Qual a razão/motivo da afirmação:

"A última coisa que a Quercus (e o ICN) quer é que se comece a falar da limpeza das matas."?

A priori, matas mais limpas seriam menos combustível para fogos...

Um abraço.

Publicado por: Pde António Vieira às setembro 2, 2005 11:24 PM

Não consigo perceber com isto dos incêndios se tornou uma questão política, apesar de não haver discordâncias entre PS e PSD sobre isto.

Publicado por: luciano às setembro 3, 2005 12:19 AM

zippiz: que é isso "da CEO do blog"? CEO?

Publicado por: luciano às setembro 3, 2005 12:22 AM

Chief Executive Officer, uma espécie de Directora Geral ou, por outras palavras, a dona do blog !

Publicado por: zippiz às setembro 3, 2005 01:15 AM

Pde António Vieira às setembro 2, 2005 11:24 PM:
Os ambientalistas estão contra a limpeza das matas porque destroi a biodiversidade. Apenas admitem a limpeza manual (nunca mecânica) e sob certas regras. Isto éválido nas Matas Ncionais e nas matas dos particulares que estão nas "áreas protegidas". Em determinadas áreas, os proprietários nem podem ter acesso à sua propriedade.

Ora a limpeza manual não é possível, na prática, porque não há mão-de-obra e se houvesse sairia muitissimo caro. Nem o Estado, nem os particulares, fazem limpezas nas áreas protegidassob tutela do ICN.

Por isso, na época dos fogos, a Quercus assesta as suas baterias contra o "deficiente combate aos incêndios".

Publicado por: Joana às setembro 3, 2005 08:57 AM

Coragem e Insensatez... Começa a ser o retrato de Sócrates.

Publicado por: Rui Martins às setembro 3, 2005 10:33 AM

É um escândalo a sujeição da comunicação ao politicamente correcto.
E outro escândalo como muitos aplaudem esta forma de censura

Publicado por: fbmatos às setembro 3, 2005 12:04 PM

O politicamente correcto tem sido uma das causas do nosso país não sair da cepa torta. Ainda é pior que as dissensões políticas, porque não tem directamente a ver com a política.

Publicado por: fbmatos às setembro 3, 2005 12:07 PM

fbmatos às setembro 3, 2005 12:07 PM

Importa-se de repetir?

O politicamente correcto «não tem directamewnte a ver com a política»?

Publicado por: estupefacto às setembro 3, 2005 02:22 PM

O "politicamente correcto" em arte ou no ambiente não tem directamente a ver com a política.
O "politicamente correcto" é uma forma de analisar as coisas de acordo com os conceitos dominantes numa dada época

Publicado por: V Forte às setembro 3, 2005 08:25 PM

O "politicamente correcto" em arte ou no ambiente não tem directamente a ver com a política.
O "politicamente correcto" é uma forma de analisar as coisas de acordo com os conceitos dominantes numa dada época

Publicado por: V Forte às setembro 3, 2005 08:28 PM

Dizer que existe censura nos media actuais e compará-la com a do salazarismo é paranóia.
Poderá vislumbrar-se alguma colagem, nalguns meios de comunicação social, a esta ou aquela força política. Às vezes existe uma atitude de maior complacência para com o Governo.

Mas nada disso justifica, no meu entendimento, as alegações que aqui foram proferidas.
Felizmente podem, os que pensam o contrário, emitir a sua opinião, com toda a legitimidade e ficar descansados que ninguém os chateia.
E isso, meus caros, faz toda a diferença...

Publicado por: Vítor às setembro 3, 2005 09:34 PM

Esse tipo de argumento não me parece convincente.
Eu também posso dizer que "Dizer que existe censura nos media actuais e compará-la com a do salazarismo é paranóia" é paranóia.

Publicado por: David às setembro 3, 2005 09:53 PM

David às setembro 3, 2005 09:53 PM

Claro que pode dizer isso.
O meu argumento não pretende ser mais convincente que os argumentos dos que dizem que existe censura.
Mas eu não ando aqui para convencer ninguém.
Já me deixei disso há uns bons anitos...

Publicado por: Vítor às setembro 3, 2005 10:16 PM

Até porque uma coisa é a censura. Outra, completamente diferente, é o facto de os media não darem relevância àquilo que nos achamos relevante.
Disso, cada um de nós terá algumas razões de queixa.

Publicado por: Vítor às setembro 3, 2005 10:23 PM

Já agora, David:
O meu comentário não se resume apenas à frase que V. citou.
Como se designa isso que V. fez?
Mera citação?

Publicado por: Vítor às setembro 3, 2005 10:24 PM

Não me parece que assim consigamos resolver o problema dos incêndios, ou qualquer outro problema do nosso país.

Publicado por: Viegas às setembro 4, 2005 12:03 AM

Tudo serve de arma de arremesso

Publicado por: Viegas às setembro 4, 2005 12:03 AM

Bom dia Joana et al. Yin-Kuo, será que a Joana pensa que nós dos dois somos o mesmo? Com aquela da mini zona-florestal não percebi se era para mim.

Estive 15 dias out, nem tv vi, nem fui à internet nem ao mail.

Pessoal de esquerda, acho eu, que isto nunca se sabe, Moçambique é muita bomm! É bonito, muito grande, os negros são muito doces a falar o português e estão quase sempre a brincar. Não fui roubado por ninguém e eles lá na estrada são muito mais cívicos do que nós. Gostam muito dos portugueses, depois de terem visto que convivemos bem com a sua independência. Tiveram uma experiência com os italianos da qual tiraram a conclusão de que são muito mais malandros do que os portugueses ;-)

Já os negros da África do Sul são mais trombudos.

Entretanto boas notícias para os machos politicamente incorrectos; só agora é que percebi que as leoas é que fazem tudo - caçam em grupos de 2 ou 3, reproduzem-se, tratam dos filhotes...o leãozão está lá ao sol ou à sombra, dá umas lambedelas nos filhotes, faz uns rugidos, etc. Quando ficar velho e tiver de perder a luta das duas uma: ou vai embora ou fica para tio, tem de comer depois do dominante mas pode andar por lá.

Ia sendo atropelado por uma olifanta - acho eu (ganda manada meus, passaram mais de 20 à minha frente) ela olhou para mim e para o renault cliozinho vermelho que eu tinha alugado e que estava mesmo no sítio onde ela queria passar (eu não tenho a certeza se era ela ou um ele novinho mas muito grande) e fremiu as orelhas - eu olhei-lhe para os olhos e sorri - ele estava com medo, acho eu, eu também tive um pouco - e lá passou.

Yin-Kuo conforme te tinha dito não tive coragem de meter conversa com um embondeiro, nem vi nenhum aliás, deixei para a próxima, que há-de ser breve, que esta era só de reconhecimento. As Impalas são lindas.

O bichinho mais giro que vi, num safari nocturno, chamam-lhe bush baby e é um otolemur, salta mais de 80 vezes o seu comprimento e tem um rabo felpudo com que dá a impulsão e umas patinhas bem engraçadas, mesmo esperto.

(PS - caso não alcance o nirvana e tenha que continuar por cá no samsara já deixei essa sugestão para os deuses apreciarem)

Também apanhei a savana a arder, mas aquilo não faz fogo de copas, vai rasteiro por ali fora, também porque havia pouco vento. Pareceu-me que eles deitavam fogo no Inverno deles, para evitar fogo de copas no Verão.

xatoo, zippiz---------------------vum!

Me gusta los aviones...

Publicado por: pyrenaica às setembro 4, 2005 07:58 AM

Caro Albatroz, não vá ficar triste, queria dizer-lhe que vi um ganda albatroz com um grande polvo no bico, no Museu de História Natural de Maputo, magnífico museu feito pelos portugueses e muito estimado pelos moçambicanos.

Publicado por: pyrenaica às setembro 4, 2005 10:06 AM

Um dos fundadores da Quercus, da Quercus inicial dos amantes da natureza que não dependiam profissionalmente do ambiente para viver, costumava dizer num tom meio a sério, meio a brincar: os polícias precisam de ladrões, senão não seriam precisos polícias; os bombeiros precisam dos incêndios, senão não seriam precisos bombeiros... é claro que na altura, e ainda hoje, julgo a afirmação demasiado taxativa, embora com algum fundo de verdade.
Lembram-se das teorias dos filmes de Fassbinder? Segundo ele o grupo terrorista alemão Baader Meinhof era uma criação inicial da polícia alemã, para criar o ambiente propício à eliminação de leis que tolhiam a sua actuação, leis criadas a seguir à II Guerra e com o pesadelo das SS e da Gestapo ainda fresco.

Já agora, próximo da localidade de Taveiro situa-se o aterro sanitário de Coimbra, em torno desse aterro situa-se uma mata de pinhal e eucaliptal, desorganizada, suja, feia e abandonada. Factual, histórico, basta procurar nos jornais antigos, até há 15/25 anos ocorriam no local vários incêndios em cada Verão, desde que lá colocaram o aterro e que os terrenos perderam valor comercial, e que os maus cheiros afastaram os piqueniqueiros das sardinhadas e febras assadas na mata, como que por milagre os incêndios acabaram, mais uma vez factual - procurem registos sobre incêndios na zona.

Publicado por: diogenes às setembro 4, 2005 10:29 AM

Só para evitar equívocos: eu não vi leões ao vivo, o que vos conto acima foi das histórias que me contaram... dado o título deste post. Vi leões e leoas embalsamados no Museu de História Natural de Maputo onde estão reconstituídas cenas do habitat. Também vi uns olhos à noite com o foco da lanterna, que o guia disse que ou seria um leão ou um leopardo a guardar a presa...mas isso já não sei.

Publicado por: pyrenaica às setembro 4, 2005 02:12 PM

Tenho uma bela fotografia daquele albatroz, caro Albatroz. Se quiser mando-lha por mail, escreva um aí.

Publicado por: pyrenaica às setembro 4, 2005 03:28 PM

Só para avisar to@s que já me perdi, de tantos posts que comentei. Fico só neste e no de baixo. Agora vou continuar a fazer outras coisas. hasta

Publicado por: pyrenaica às setembro 4, 2005 05:02 PM

Joana, estava ali às voltas com a roupa para lavar e lembrei-me de uma coisa. um de nós tem de rever os nossos conceitos da história de Carthago. Pelo que me disseram em Tunis há uns 10 anos a dimensão sacrificial imputada a Moloch não era de forma alguma comparável ao que é narrado pelo Flaubert em Salambô. Não sei se não anda para aí um equívoco. No entanto confirma-se que existiam os tophets com cinzas de crianças mas num número que fica a dúvida sobre se eram (ocasionalmente) objecto de sacrifício ou se eram crianças que morriam de morte natural sendo depois incineradas. O mais provável é que em épocas de grande crise houvesse de facto sacrifícios mas de forma alguma com a dimensão imputada. Nada de mais se atendermos ao contexto de desertificação da zona (como hoje se prova) e à época. O mesmo padrão se vê nas civilizações da América Central e dos Incas, e eu ouvi contar uma história semelhante em Timor estava eu lá, com a menina que ia casar com as águas para os lados de Maliana, em tempo de seca. Mas como fiquei muito chateado com essa e dei uma descompostura aos meus alunos a dizer que isso não podia ser, eles depois vieram dizer que afinal não tinha acontecido, mas não sei. Bom, volto para a roupa.

Forças malthusianas?

Publicado por: pyrenaica às setembro 4, 2005 05:21 PM

"...sem resolver o problema dos fogos que vão continuar devastadores enquanto as suas causas profundas não forem eliminadas"

E as causas profundas dos fogos são...
São...
São...
Bem, já não me lembro!

Publicado por: Senaqueribe às setembro 4, 2005 05:25 PM

pyrenaica às setembro 4, 2005 03:28 PM

Adoraria ter a fotografia de um irmão de penas...

Aqui vai o e-mail: albatroz_1942a@yahoo.com.br

E desde já obrigado!

Publicado por: Albatroz às setembro 4, 2005 11:00 PM

E as causas profundas dos fogos são...
São...
o lume

Publicado por: bsotto às setembro 4, 2005 11:32 PM

É por isso que já não compro jornais. Leio blogs. Leio blogs de várias tendências.
Fico confuso, mas poupo dinheiro.

Publicado por: Coruja às setembro 4, 2005 11:41 PM

"O ataque às causas profundas dos incêndios tem que começar pela própria administração central."

"Nunca resolveremos a questão dos incêndios desta forma, em que cada um só olha para o laxismo dos outros."

Estas duas frases contradizem-se, obviamente. Ou bem que todos temos que fazer a nossa parte, sem nos preocuparmos demasiado com o laxismo dos outros - como muito bem diz a segunda frase - ou bem que decidimos exigir que, antes de todos os outros intervenientes, a administração central faça o que lhe compete - como muito erradamente afirma a primeira frase.

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 5, 2005 09:22 AM

Luís Lavoura às setembro 5, 2005 09:22 AM:
Parece-me evidente. A Administração Central tem que zelar pela aplicação das leis que faz. Por isso deve dar o exemplo e ser a primeira a cumprir o que legisla.

Você parece julgar que a Administração Central tem o mesmo estatuto quee você e eu. Não passa de mais um proprietário. Se fosse apenas assim, você teria razão.

Publicado por: Joana às setembro 5, 2005 10:14 AM

É claro que a administração central deve dar o exemplo e cumprir o que legisla. Mas não tem que ser "a primeira" a fazê-lo. O facto de a administração central NÃO dar o exemplo e NÃO cumprir a legislação não desculpa ninguém. O facto de os automóveis da administração central estacionarem em cima dos passeios do Terreiro do Paço não desculpa ninguém de estacionar em cima de nenhum passeio.

Devemos exigir que todos cumpram as leis e as suas obrigações. Mas não nos podemos desculpar com o incumprimento por parte do Estado central.

Parece-me evidente (tal como à Joana parece evidente o contrário...).

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 5, 2005 10:27 AM

"Os ambientalistas estão contra a limpeza das matas porque destroi a biodiversidade. Apenas admitem a limpeza manual (nunca mecânica) e sob certas regras."

Não sei de onde a Joana retira estas conclusões tão taxativas e tão gerais. Eu sou sócio da Quercus e recebo o jornal que a Quercus regularmente distribui aos seus sócios. O dito jornal contem virtualmente todas as posições públicas da Quercus (comunicados, etc). NUNCA lá vi nada a dizer que a Quercus fosse contra a limpeza de matas ou que só admitisse a sua limpeza manual. Fico sem saber a que ambientalistas se refere a Joana.

As afirmações da Joana são porventura válidas pse por "ambientalistas" se interpretar "técnicos do Instituto da Conservação da Natureza" e se se restringir a limpeza de matas aos casos muitíssimo particulares de algumas zonas protegidas (certas zonas da Arrábida, ou da serra de Sintra, etc).

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 5, 2005 05:47 PM

"Em determinadas áreas, os proprietários nem podem ter acesso à sua propriedade."

Trata-se de uma medida perfeitamente justificável em termos de conservação da natureza. Certos ecossistemas ou espécies só se podem desenvolver ou manter na ausência total de perturbação humana. Por exemplo, a mata do Solitário, na serra da Arrábida, é uma zona de acesso totalmente interdito, ou seja, ninguém está autorizado a lá entrar.

A Joana pode, legitimamente e com alguma razão, protestar que os proprietários deveriam ser ressarcidos por esta forma de "anexação" ou "nacionalização" da sua propriedade. Mas não terá razão se pretender argumentar que os proprietários, por o serem, deveriam ter livre acesso a terras nas quais a sua presença, como simples seres humanos que são, pode causar grande prejuízo.

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 5, 2005 05:51 PM

Recentemente estive na serra da Estrela, onde pude observar algumas consequências do grande incêndio no vale glaciar do Zêzere. Falei com uma pastora que me disse, com grande simplicidade e convicção, que o fogo fôra posto, como outros o foram no passado, como forma de vingança contra as políticas de conservação da natureza, as quais desagradam aos pastores. As terras ardidas são, em grande parte, estatais (um caso raro em Portugal, onde a maior parte das florestas são privadas).

Na serra da Estrela, tradicionalmente, os pastores foram um dos grandes agentes contra a natureza, uma vez que ateiam fogos com o fim de promover o crescimento posterior de erva para os seus rebanhos. Os pastores impedem assim o desenvolvimento de uma vegetação clímax (carvalhos etc), que não lhes interessa.

Naturalmente, as políticas de conservação da natureza desagadam a algumas partes, as quais podem ver o atear de fogos como forma de vingança.

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 5, 2005 06:02 PM

Luís Lavoura às setembro 5, 2005 05:51 PM:
"protestar que os proprietários deveriam ser ressarcidos por esta forma de "anexação" ou "nacionalização" da sua propriedade. Mas não terá razão se pretender argumentar que os proprietários, por o serem, deveriam ter livre acesso a terras nas quais a sua presença, como simples seres humanos que são, pode causar grande prejuízo"

É inacreditável você escrever isso sem ter em conta que o Estado não protege nada, que são as matas do Estado as que ardem mais e que o estado de limpeza delas é desastroso.

Não dá pela falta de lógica das frases que escreve.

Publicado por: Joana às setembro 5, 2005 06:54 PM

Agora com o fim da época dos fogos, nunca mais ninguém vai falar do assunto

Publicado por: Redinha às setembro 5, 2005 09:25 PM

Há quem diga que os incêndios florestais são a única e verdadeira chama da Pátria.
Talvez tenham razão. De facto, não há outra.

Publicado por: Senaqueribe às setembro 5, 2005 10:33 PM

Joana às setembro 5, 2005 06:54 PM

"...Estado não protege nada, que são as matas do Estado as que ardem mais e que o estado de limpeza delas é desastroso."

Existirá um outro Portugal?
Vivemos em mundos paralelos?

Por estranho que lhe pareça, pode repetir essa mentira até à exaustão, que, apesar disso, ela não se transmutará em verdade.

Publicado por: Vítor às setembro 6, 2005 11:47 PM

Lérias

Publicado por: didi às setembro 14, 2005 12:53 AM

Comente




Recordar-me?

(pode usar HTML tags)