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setembro 29, 2005

Catástrofes e Irracionalismos

As grandes calamidades naturais, talvez pela sua dimensão desproporcionada à escala humana, agudizam as crises de irracionalismo. Buscam-se racionalizações baratas que justifiquem um fenómeno da Natureza. Buscam-se causas de índole ideológico-políticas pretensamente racionalizadas com chavões que não passam de hipóteses que continuam em debate na comunidade científica e cujo poder explicativo ou é contestado ou não lhe é dado a universalidade que pretende ter. Mas enquanto a comunidade científica prossegue as suas investigações, sempre pronta a submeter-se aos factos, sempre consciente de que mesmo a suas hipóteses mais ousadas nunca serão mais do que um patamar para as que vierem a seguir, há certezas inabaláveis entre os jornalistas de causas, os fundamentalistas do ambiente e os políticos émulos de Savonarola. A sentença de Mário Soares sobre o Katrina quem semeia ventos, colhe tempestades insere-se neste paradigma do misticismo em roupagens de racionalismo barato.

No fundo, Mário Soares não se afasta muito das teses do pregador Gabriel Malagrida que escreveu e pregava que o terramoto de 1755 era uma punição divina por Portugal ter abandonado a verdadeira religião, ou das teses de Cavaleiro de Oliveira que escreveu que o terramoto havia sido uma punição por Portugal seguir uma religião errónea e uma manifestação da cólera divina diante dos absurdos excessos da Inquisição. É um espelho da sociedade portuguesa da época um frade tonto e néscio se ter tornado o pregador predilecto da alta nobreza, e um filósofo medíocre e diplomata corrupto, completamente desprovido de ética, se ter tornado num dos expoentes do iluminismo português. Isto para não falar de Soares, antes do julgamento que a História lhe fará.

Tal como está a acontecer agora com o Katrina, o terramoto de Lisboa tornou-se o centro de acerbas disputas metafísico-ontológicas de então. Nos reinos e principados alemães (protestantes) e do norte da Europa, não havia uma réstia de dúvidas: A providência havia castigado Lisboa pela sua idolatria, por ter acumulado riquezas imensas e pecaminosas através da intolerância e da perseguição religiosa, no Reino e nos domínios do Ultramar. Lisboa era a nova Sodoma e Gomorra punida por Deus.

No caso do Katrina, os habitantes de Nova Orleães estão a expiar os malefícios do imperialismo americano, que dois anos antes havia invadido o Iraque; em 1755, os lisboetas expiaram o imperialismo político-religioso das potências católicas idólatras, porquanto em 1753 havia começado a campanha militar contra as Missões jesuítas dos Índios no Paraguai, que ainda durava e que era muito mal vista pelos iluministas da época.

Voltaire e Rousseau debateram o papel da providência divina e do fatalismo das coisas, Voltaire acentuando o fatalismo e Rousseau as causas naturais, perguntando que “culpa tinha a Providência Divina se os lisboetas decidiram ao longo dos tempos construir vinte mil casas, algumas de seis ou sete andares, e arranjarem-se assim todos amontoados na margem do rio Tejo?” Perguntas que muitos colocam actualmente sobre Nova Orleães, mas apenas com uma diferença: Rousseau acusou a pouca previsão dos lisboetas (naquela época o Estado ainda não era omnipresente), enquanto agora se acusam as autoridades americanas, nomeadamente aquelas que não têm nada a ver com o planeamento urbano, como as federais.

Até Kant, ainda jovem, publicou 3 folhetos sobre o tema, embora apenas preocupado em encontrar explicações naturais para o fenómeno. Era dos poucos verdadeiros racionalistas da época. As causalidades historicistas e oraculares não lhe diziam nada.

Os ingleses, mais pragmáticos e pouco dados a especulações místicas, passaram ao lado desse debate, quase sempre mesquinho. Assim que souberam do cataclismo, Governo e o Parlamento decidiram enviar imediatamente para Portugal, sem esperar por qualquer pedido de auxílio, 300 mil cruzados (moeda portuguesa), 200 mil patacas espanholas, 6 mil barris de carne, 4 mil de manteiga, 1.200 sacas de arroz, 10 mil quintais de farinha, 3.333 moios de trigo etc., e ferramentas para desentulhar as ruas (picaretas, enxadas, etc.). As únicas coisas que criticaram, e com toda a razão, foram a demora (o auxílio demorou poucos dias a reunir e a aportar a Lisboa e consumiu-se cerca de dois anos na sua distribuição, o que provocou a deterioração de muitos bens), a corrupção das autoridades e o descaminho de parte desse auxílio. Descaminho que teve uma excepção: O Marquês de Valença, cujo palácio e bens tinham ficado completamente destruídos, recusou o subsídio de 18 mil cruzados que o Secretário (o futuro Marquês de Pombal) lhe atribuíra, alegando que haveria outros mais necessitados que ele a quem ainda restavam rendas com que poderia subsistir.

Houve espectaculares avanços científicos dos últimos 250 anos. No conhecimento e nas metodologias. A ciência moderna deveria impor ao nosso intelecto a disciplina das comprovações práticas. É assim que ela avança. Todavia, na sua verbosidade mística, os jornalistas de causas e os políticos “fracturantes” são livres de afirmar o que quer que seja, porque não precisam de recear qualquer comprovação. Estão acima dela. As suas verdades são absolutas.

Por isso não há diferenças significativas entre os juízos sobre o Katrina e sobre o terramoto de Lisboa. Desde que apareceu o feiticeiro tribal, o pensamento místico não evoluiu qualitativamente.

Publicado por Joana às setembro 29, 2005 12:05 AM

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Comentários

Muito pertinente! mañana pela tarde...

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 12:00 AM

A Joana conhece a Teoria das Catástrofes de René Thom?

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 12:01 AM

Já ouvi falar, mas não me parece que a Teoria das Catástrofes de René Thom esteja na base das teses do Soares, jornalistas, analistas políticos, etc.

Publicado por: Joana às setembro 29, 2005 12:08 AM

Já agora, você conseguiu ler o texto todo em tão pouco tempo?
Se o conseguiu, parabéns.

Publicado por: Joana às setembro 29, 2005 12:09 AM


Oh, Joana ! Mas é claro que a lógica "fracturante" é absoluta. De que outra maneira se consegue "fracturar" uma sociedade tendo dúvidas ? Não se consegue.

Ou seja, a verdade não interessa. Apenas o fim em vista. Já, de outra forma, dizia Maquiavel.

O fim da lógica "fracturante" é atacar o Império Americano. Para esse fim, é lógico dizer que a América não quer Quioto porque é viciada em petróleo. Daí o Iraque, também. Logo, vai sofrer furacões até o aquecimento global "ferver".

É lógico.

A Joana queria que eles tivessem dúvidas ? Só se fossem honestamente inteligentes...

Publicado por: J P Castro às setembro 29, 2005 12:19 AM

Muito bom este post. Parabéns. Está perfeito!

Publicado por: soromenho às setembro 29, 2005 12:24 AM

"No caso do Katrina, os habitantes de Nova Orleães estão a expiar os malefícios do imperialismo americano" ?

não me parece...talvez a expiar a falta de liderarnça local, regional e nacional (já reconhecida até por Bush), para além, dos cortes orçamentais para revisão/melhoria das condiçoes de defesa da cidade face ao rio e ao lago.

O resto é demagogia Joanina, como se fossem só os "fracturantes" a criticar os Estados Unidos; como se não houvesse critica dos próprios cidadãos americanos ao seus governos.

Mas não, os nossos liberais modernistas acham que criticar a adminidtração americana é ser anti-americano; pois eu não acho que os nossos liberais joaninos sejam todos pró-americanos primários.

Publicado por: zippiz às setembro 29, 2005 12:50 AM

Não houve cortes Zippiz. Além disso a comissão dos diques dedicou-se a outras tarefas como obras nos portos, parques diversão etc. Quando o estado se torna gargantual o acessório torna-se central e o fundamental porque só acontece de 100 em 100 anos torna-se acessório.

Publicado por: lucklucky às setembro 29, 2005 01:04 AM

Há fracturantes no exterior e no interior. Basta ver as opiniões de Malagrida e Cavaleiro d'Oliveira sobre o seu próprio país. O facto de se ser americano não retira essa característica

Publicado por: David às setembro 29, 2005 01:08 AM

E oq ue está em análise são as declarações do Soares e as comparações entre os debates na Europa sobre 1755 e os debates actuais sobre o Katrina.
E isso é o que é importante no post

Publicado por: David às setembro 29, 2005 01:10 AM

Pois

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 01:11 AM

Está muito bem conseguido este post.

Publicado por: Soares às setembro 29, 2005 09:51 AM

É estranho como o mundo muda tão pouco

Publicado por: fbmatos às setembro 29, 2005 10:29 AM

Esta mesma discussão já deixou muita letra e inflamação no Blasfémias...

MS, exagerou (alguém já reparou que os políticos portugueses com a idade tendem a virar à Esquerda? Veja-se Freitas, Soares e o ex-líder do PPM).

Na verdade, o aquecimento global e o fenómeno dos furacções resulta de uma alteração climática NATURAL (vários estudos o demonstram), mas a actividade humana está a acelerar este processo através da emissão de CO2. Ou seja não é a causa, mas acelera o fenómeno. Negar uma coisa ou afirmar univocamente a outra é ser fundamentalista.

Publicado por: Rui Martins às setembro 29, 2005 10:39 AM

Mário Soares poder-se-ia pronunciar sobre a seca que afeta o nosso país.

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 29, 2005 10:41 AM

A seca é um castigo divino pelo nosso apoio aos bárbaros infiéis nas suas guerras baseadas em provas naturalmente irrefutáveis e confirmadas por vários estudos científicos que demonstram que, de forma natural, os inimigos que têm armas de destruição em massa.:)

Publicado por: Daniel às setembro 29, 2005 11:06 AM

Não me parece que este post seja sobre Kyoto ou outras discussões do género. O que eu acho interessante, e deve ter sido o objectivo da autora, foi mostrar que os mesmos tipos de julgamento foram feitos num e noutro caso, embora distanciados 250 anos.

Publicado por: Saavedra às setembro 29, 2005 11:11 AM

É de algum mau gosto gozar com as catástrofes naturais que atingem os outros.

Vale a pena recordar, entretanto, que, aquando do grande terramoto que destruiu boa parte da Nicarágua nos anos 80, os EUA de Ray-Gun Reagan se recusaram a enviar qualquer ajuda a esse desafortunado país.

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 29, 2005 11:38 AM

Eu considero este post bem visto porque chama a atenção para a forma como analisamos os acontecimentos sem olharmos aos factos em si, mas através das nossas concepções ideológicas

Publicado por: v Forte às setembro 29, 2005 11:46 AM

É natural que países com um grande contencioso, sem relações e com uma grande desconfiança sobre a forma como os respectivos governos vão utilizar o auxílio, não haja ajuda, a menos que seja uma catástrofe muito calamitosa.
O caso do Fidel foi diferente. Ele apenas pretendia fazer propaganda política.

Publicado por: hanibal às setembro 29, 2005 11:57 AM

O py ainda não acordou hoje

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 11:58 AM

Sendo assim ...

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 12:04 PM

A estupideza encontra sempre formas de se reinventar...

Publicado por: Mário às setembro 29, 2005 01:08 PM

O problema, Mário, é que nem se reinventa. Faz a mesma coisa.

Publicado por: Sa Chico às setembro 29, 2005 01:13 PM

A honestidade intelectual obriga a que quando se faz uma citação se refira a fonte.

Qual a fonte onde foi colhida a citação: quem semeia ventes colhe tempestades?

Publicado por: António às setembro 29, 2005 01:35 PM

Ouvi, um dia, Anthimio de Azevedo comentar, com a serenidade da sabedoria, que atribuir ao homem a causa de fenómenos como o «el niño» ou o «buraco do ozono» é um sinal de presunção.
Na opinião do especialista, o homem tem um papel insignificante na transformação climática, que é um processo de grandeza astronómica.
Isso não significa, naturalmente, que a acção do homem seja irrelevante. Como em todos os sistemas físicos, há, no planeta Terra, forças de sinal contrário e o homem nem sempre empurra para o lado certo.
Por isso, é um disparate de grau 5 a frase de Mário Soares (que se refere à atitude dos EUA relativamente ao protocolo de Kyoto e não a qualquer castigo divino pelos malefícios económico-político-militares da administração Bush).
Aproveitar, no entanto, o disparate de Soares para lhe distorcer o sentido e o fazer encaixar numa visão empacotada da História é outro disparate cujo grau me dispenso de atribuir.
Sabe-se que o pensamento de Soares é mais errático do que o movimento, numa bússola, de uma agulha desmagnetizada.
Sabe-se, também, da sua ignorância absoluta (outros dirão nesciência) em relação às questões económicas e científicas.
Se a frase tivesse sido proferida pelo Eusébio, niguém lhe tinha prestado atenção. Ora, em matérias de natureza científica e económica, as opiniões de Soares são tão válidas como as de Eusébio.
Não pertenço ao clube de fans de Bush, o que me dá o à vontade suficiente para lembrar que tanto a Índia como a China são contribuintes maiores para o aquecimento global e que, a médio prazo, ultrapassarão a quota dos EUA.
Já ouvi a Mário Soares, nas últimas semanas, algumas frases próprias do guião de «O Despertar da Múmia». A grande maioria bem mais importantes e perigosas para o «aquecimento» do rectângulo, sem que se tenha visto alguma alma crítica pronunciar-se sobre elas.

E já que estamos em maré de disparates, o que dizer desse contribuinte líquido que, em comentário anterior, manifestou a opinião de que Soares, Freitas e Ribeiro Teles «viraram à esquerda»?
Em que cruzamento? É caso para perguntar...

Publicado por: (M) às setembro 29, 2005 01:54 PM

Julgo que a acção do homem tem tido efeitos sobre o clima, como por exemplo, sobre o buraco de ozono.
Mas esses efeitos têm sido muito exagerados e não há , nos jornais, debates científicos sobre o assunto, mas apenas bocas consoante os pontos de vista que defendem
Ora isto é muito mau.

Publicado por: hanibal às setembro 29, 2005 02:17 PM

hanibal às setembro 29, 2005 02:17 PM

"Julgo que a acção do homem tem tido efeitos sobre o clima, como por exemplo, sobre o buraco de ozono."

O que é que o buraco do ozono tem a ver com o clima, pode-se saber?

Ao escrever isto, exibiu a sua ignorância das questões.

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 29, 2005 03:15 PM

Eu julgava que clima não era só temperatura e pressão atmsférica, mas também tinha a ver com as condições da biosfera em geral.
Pelos vistos enganei-me

Publicado por: hanibal às setembro 29, 2005 03:31 PM

(M) em Setembro 29, 2005 01:54 PM,

Partilhe lá duas ou três frases dessas, perigosas, que vão aquecer o «rectângulo» ...
Eu já não oiço Mário Soares, mas acho que um democrata genuíno não se realiza plenamente sem uma saborosa derrota política ...

Publicado por: asdrubal às setembro 29, 2005 04:16 PM

A grande notícia é que o Soares tem menos hipóteses que o Alegre.

Publicado por: bsotto às setembro 29, 2005 04:25 PM

Que o homem pode ter um efeito nocivo isso nem precisa de demonstração.
Agora o problema é que juntamente com uma mulher pode ser catastrófico.

Hoje ao dar a curva junto da Galp na Buraca deparei com o cartaz da Senhora Doutora Diana Andringa que era independente mas que agora se enamorou deles e que promete um cabo verde mais branco, e mesmo juntinho a ela um individuo de cara patibular que quase me ia fazendo bater no carro da frente.

Só lhe falta a pistola-isqueiro daquele senhora algures lá no norte profundo.
Estas estão a ser as eleições mais engraçadas em Tugal.
Um viva aos pequeninos, no caso o Artmedia.

Publicado por: carlos alberto às setembro 29, 2005 04:26 PM

Também Alegre é mais novo

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 04:27 PM

É indecente os mais novos terem preferência nas admissões

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 04:28 PM

Ora deixa cá ver: Mário Soares... Mário Soares...
O nome não me é estranho, mas não me lembro bem se o conheço.
Bom, como não ligo ao futebol...

Publicado por: Senaqueribe às setembro 29, 2005 04:40 PM

corujinha hoje tive de basar cedo... Oi joana eu sei que prometi comentar hoje mas tenho de tomar um café...

Publicado por: py às setembro 29, 2005 04:55 PM

Portanto como eu subscrevo inteiramente o comentário político pedagógico de Mário Soares, transformo-me no alter ego do post da Joana.

O que dá logo vontade de ajarvadar. mas, atendendo ao respeito pelos presentes,...

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 05:08 PM

Resta-me dizer que a Ciência como paradigma da verdade, começou com Galileu e terminou com Lyotard, ou para sermos mais rigorosos com o desconstrucionismo e a Condição Pós-Moderna, a última etapa do milénio passado.

Não há factos puros mas apenas factos interpretados.

Não há objectividade absoluta mas apenas intersubjectividade estável.

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 05:12 PM

Não há A linguagem da Verdade mas apenas linguagens de verdade. A Ciência é uma delas, a Poesia é outra, a Música outra, a Comunicação Social ainda outra...

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 05:14 PM

O racionalismo levou um trambolhão na ordem interna com o teorema de Godel em 1930 que abriu a Crise dos Fundamentos na Matemática. De tal maneira que 50 anos mais tarde o irracionalismo é recuperado como inteligência emotiva por Damásio.

E tanta outra coisa.

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 05:17 PM

Soares foi lúcido e corajoso: lúcido porque levantou a questão, corajoso porque se expôs a este tipo de críticas à la Joana. Agora eu que ando de greve à tv não vi, mas aposto que foi divertido...

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 05:20 PM

E aqui Mário deixou, perdão trouxe qualquer coisa.

http://www.airliners.net/open.file/930505/M/

Publicado por: carlos alberto às setembro 29, 2005 05:32 PM

E além disso vocês, os neoliberais, são muito mauzinhos! Então hoje veio no Público que de acordo com o Fórum Económico Mundial, Portugal subiu 2 lugares de 24º para 22º em 117 países, onde o campeão é a bem-amada Finlândia, logo seguida dos EUA, e vocês nada!

Yin-Kuo a vossa redenção: somos 15º do Mundo em Instituições Públicas! Muito bem cotados.

Estamos mal na educação, já se sabia.

Estamos muito mal é no pessimismo, em 103º lugar, o que afecta o valor global do índice, creio.

Portanto a Joana anda a puxar-nos para baixo!

Ou melhor: a tentar, porque andam aqui uns optimistas...

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 05:37 PM

Sempre admirei a coragem do Soares

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 05:38 PM

hum!

Publicado por: py às setembro 29, 2005 05:38 PM

Nomeadamente a de se expor às críticas da Joana

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 05:39 PM

Falhaste por milímetros

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 05:40 PM

tirori ...pópó

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 05:47 PM

E finalmente o que lixou completamente a Ciência foram os testes de hipóteses estatísticos. Os testes de hipóteses são assimétricos, preferenciam H0 (hipótese nula) que reflecte o status quo. Só quando a evidência de sentido contrário é esmagadora é que H0 é rejeitada. Resultado: contraria o reconhecimento da emergência da novidade.

Conclusão: a Ciência precisa que passe um katrinazão, para dizer que é verdade que passou um katrinazão!

Claro que há, sempre houve, uns cientistas irreverentes, que fazem progredir a ciência, mas que costumam ser despedidos, etc.

E depois há muitos que... por causa dos júris... e dos orientadores... etc e tal.

Bof, viva a Poesia! E a História! E a Música! E a Matemática! e etc!

PS corujinha e agora vou a uma sesta a desoras...

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 06:17 PM

Mas acho muito bem que os cientistas continuem a fazer ciência, de vez em quando lá vem um que faz Ciência, etc., e lá vamos todos aprendendo mais um pouco. Eu assino há muitos anos a Scientific American e vou continuar a assinar.

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 06:28 PM

...depois há um problema muito difícil, que é os cientistas de todo o mundo terem pactuado com a dominação anglófona da Ciência, desde Darwin para cá, inconscientemente (?), como se isso fosse neutro, ou por acaso...

Resistiu a matemática como linguagem universal e o latim na sistemática...

Biba Lineu, carago.

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 06:32 PM

... a sesta ficou prejudicada por um telefonema

Publicado por: py às setembro 29, 2005 06:33 PM

Tomorrow the future is uncertain, just like yesterday

Dany Klein, Time flies, Vaya con Dios

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 06:36 PM

Cheio de Genica?

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 06:38 PM

Pois

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 06:38 PM

Não percebo como o futuro pode ser incert ontem, mas deve haver uma explicação

Publicado por: Coruja às setembro 29, 2005 06:39 PM

adequatio rei et intellectus

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 07:23 PM

Por exemplo, isto é correlativo com o que se viu do katrina, quer queiram quer não:

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=194588

Não estou a dizer que é causa, estou a dizer que é correlativo.

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 07:26 PM

E a Ciência reclama-se do postulado da inteligibilidade do mundo e dos princípios da objectividade e da causalidade.

Este último enuncia-se: não há efeito sem causa.

Publicado por: pyrenaica às setembro 29, 2005 07:28 PM

Tudo parecia correr “bem”. Na Alemanha os conservadores com 10 pontos percentuais de vantagem afiavam as garras para refazer,com larga maioria, o alinhamento do país de acordo com os interesses do Império. Bastou o furacão Katrina e os eleitores alemães verem horrorizados a actuação do que é o Estado Neoliberal-Conservador na ajuda às populações vítimas da catástrofe, para a reviravolta nos resultados derrotar os politicamente indecentes.
e essa,
é que foi essa,,,
ou o medo da estagnação:

http://www.comunistas.info/fear.htm

Publicado por: Fátima Felgueiras às setembro 29, 2005 07:55 PM

Fátima Felgueiras às setembro 29, 2005 07:55 PM

e a verdade é que há uma "maioria de esquerda" na Alemanha:
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=20655

Publicado por: xatoo às setembro 29, 2005 08:00 PM

olha lá xatoo, entretanto descobri outra vez que de facto as mulheres são muito mais eficientes a sacar-me dinheiro que os homens - uma grande choradeira, um tipo fica aflito, lá diz uma coisa que não devia dizer, fica coberto de beijocas mais massagens, e lá se vai mais um suspiro num cartão...

Então zanguei-me (ontem) e resolvi castigá-las com ciúmes. Fui tratar da viagem a Cuba. Ou parto 22 ou 29 de Outubro. Por coincidência quem for comigo só paga metade - oferta da agência - e se for um simpático broken eu até pago a outra metade. Como é tudo incluído...

Mas atenção, vou low profile, hotéis de 4/5 estrelas, nada de falcons, 3 dias em Havana para cheirar aquilo tudo outra vez e 4 em Varadero para descontrair e ler umas coisas.

Chavascal no quarto só com mútuo assentimento.

Tu também és daqueles comprometidos etc e tal?

Em qualquer caso: no problem

Publicado por: py às setembro 29, 2005 10:10 PM

Bom mas não vá isto desencadear um tsunamizinho digital, quero dizer que vou dormir não tarda nada. ;-)

Publicado por: py às setembro 29, 2005 10:16 PM

"(...)o irracionalismo é recuperado como inteligência emotiva por Damásio."

Damásio não diz isso. Pelo contrário, diz (mais ou menos) que a emoção conduz a razão, ou que não há razão sem emoção.

Publicado por: Senaqueribe às setembro 29, 2005 11:06 PM

Não há A linguagem da Verdade mas apenas linguagens de verdade. A Ciência é uma delas, a Poesia é outra, a Música outra, a Comunicação Social ainda outra...

Ora aqui temos o fulcro do politicamento correcto. Vale tudo, portanto...

Publicado por: Pedro Oliveira às setembro 29, 2005 11:20 PM

plim!

Publicado por: xatoo às setembro 29, 2005 11:46 PM

Esta "História" comparada está muito bem esgalhada

Publicado por: VSousa às setembro 30, 2005 12:17 AM

Particularmente interessantes são os dados que salientam, no caso do terramoto de 1755, a diferença entre o pragmatismo inglês e a reacção filosófica "so continental". Espantoso que ainda hoje a Europa continental tenda a filosofar indefinidamente, enquanto nos países anglo-saxónicos a preferência vá para os actos. A folha de serviço da França em termos de ajuda internacional fala por si.
Quanto ao altruismo do Marquês de Valença/Vimioso, percebe-se melhor quando observamos que a sua "casa", 40 anos depois, desfrutava de rendimentos (em grande parte decorrentes de favores régios) um pouco acima da média das cerca de 50 casas da grande nobreza portuguesa. Nem foi por isso que deixou de construir o palácio que ainda hoje ostenta o seu nome. Há que referir que as relações entre esta casa e Pombal eram de tal ordem (o processo dos Távoras dava os seus primeiros passos) que acabaram no episódio dos "puritanos", em 1768, em que por decreto régio "secreto" Valença foi obrigado a casar o varão primogénito com uma família "Infecta", i.e. com "tições" mouros ou judeus (Cf Nuno Monteiro). De facto, os agentes de então tomavam decisões com base numa racionalidade diferente da nossa.

Publicado por: ogameiro às setembro 30, 2005 12:31 AM

Concedo que devia ter escrito "irracionalismo".

PO: o politicamente correcto ainda consagra a prevalência do discurso científico sobre os outros. O post da Joana é politicamente correcto.

Publicado por: pyrenaica às setembro 30, 2005 08:02 AM

Não obstante...

Convém recordar que o Português (penso que então se chamava o Braganza) estava cá em 1755; o retrato da aklamação de D. José é de 1750.

E creio que por cá continuou, escondido, até 1924.

Um diamante é carbono puro, organizado na forma de entropia mínima. O carbono é a molécula da vida porque suporta um grupo H-C-OH e ainda resta uma ligação disponível para formar esqueletos carbonados.

Um diamante é um enorme volume de energia.

Poderá provocar uma depressão no campo vectorial do sítio? Aí tornar-se-ia um atractor...

Publicado por: pyrenaica às setembro 30, 2005 08:41 AM

The Portuguese diamond: a fatal blue stone

Publicado por: pyrenaica às setembro 30, 2005 08:42 AM

Cuban Capitol

In the marble floor of the Cuban Capitol Building, Havana, is a 23-carat yellow African diamond that is used to mark the point from which distances are measured on highways. Workers on the building subscribed $40,000 to purchase the stone in 1928. It was stolen in 1946 but was later recovered and returned to the Capitol.

Diamonds, Gemological Institute of America, L. Copeland, 1974

Publicado por: pyrenaica às setembro 30, 2005 08:59 AM

Nós ainda tínhamos há bem pouco tempo, e ainda temos com certeza, bué de diamantes de 23 cts e mais. Eu queria que isso (o que resta das jóias da coroa de Portugal - tem peças magníficas!)ficasse em exposição permanente na Torre de Belém, dentro dum grande cofre fortíssimo e estanque que fechasse automaticamente em caso de... e de... clank!

Publicado por: pyrenaica às setembro 30, 2005 09:05 AM

Acham boa idéia? O meu medo é que isso puxe um tsunami, mas do que percebi disto dos diamantes malditos, eles ficam bonzinhos quando são vistos por muita gente...

Publicado por: pyrenaica às setembro 30, 2005 09:33 AM

ui...

Publicado por: py às setembro 30, 2005 09:34 AM

ghh

Publicado por: py às setembro 30, 2005 09:34 AM

Este é o da burocracia!

Publicado por: py às setembro 30, 2005 09:35 AM

Texto de antologia. Parabéns

Publicado por: v Forte às setembro 30, 2005 12:48 PM

ogameiro às setembro 30, 2005 12:31 AM:
40 anos depois, o titular da casa de Valença e Vimioso era o bisneto do Marquês à data do terramoto. O rei D. José tinha morrido (1777) há muito e o Marquês de Pombal, demitido logo a seguir à morte de D. José, também já morrera.
Muita água havia passado debaixo das pontes. A atitude do Marquês de Valença em 1755 (que foi uma excepção) não pode ser contraposta ao que sucedeu nas décadas subsequentes.
Aliás ele própria afirmara, no acto de recusa, ter rendimentos bastantes para subsistir.

Publicado por: Joana às setembro 30, 2005 12:56 PM

Joana,
Peço-lhe desculpa se das minhas palavras decorria alguma crítica às suas afirmações, as quais achei tão pertinentes que decidi acrescentar-lhe algo mais. Sim, o Marquês casou boa parte da sua descendência com a alta nobreza que ele próprio perseguiu, procedendo assim ao aumento da sua casa, tal como os restantes. A minha intenção era chamar a atenção para o facto de a quantia em causa pouco ou nada acrescentar aos rendimentos dos Valença/Vimioso e de que as relações entre o valido de D. José e os "grandes" do reino já se encontrar bastante deteriorada nessa época, vindo a dar nos episódios que referir.

Publicado por: ogameiro às setembro 30, 2005 02:15 PM

Isto não é bem um blog.

Publicado por: Simone às setembro 30, 2005 03:52 PM

Está muito bom este post. Parabéns

Publicado por: Ucha às setembro 30, 2005 09:33 PM

Olá Joana, andei hoje a pensar neste post e nos comentários no combóio e a minha conclusão é que foi o katrina que enterrou a pretensa supremacia da´ciência como linguagem do conhecimento do Mundo. No plano ontológico a derrocada começou em 1930, com sucessivas erupções de novos paradigmas, até ao final do milénio passado. Com o novo milénio rebentou a vaga no plano imanente. Revelou-se...

Publicado por: pyrenaica às setembro 30, 2005 10:44 PM

isto é

Publicado por: py às setembro 30, 2005 10:47 PM

um hiperblog

Publicado por: py às setembro 30, 2005 10:49 PM

um hiperblog

Publicado por: py às setembro 30, 2005 10:49 PM

com metacapicuas

Publicado por: py às setembro 30, 2005 10:50 PM

plim

Publicado por: py às setembro 30, 2005 10:51 PM

Um hiperblog é um blog a várias dimensões.
Quais são as dimensãoes deste?

Publicado por: didi às outubro 1, 2005 12:41 AM

Mais que 3?

Publicado por: didi às outubro 1, 2005 12:46 AM

Esclarecimento matinal: depois de ter phroneticado um pouco antes de adormecer, vamos lá esclarecer o que eu disse acima. Ao decretar a "morte da ciência" com o katrina, eu não quero matar as ciências, aliás não vão morrer e ainda bem. O que morreu foi uma certa concepção neopositivista da ciência.

Agora o que ninguém ainda me respondeu, de uma pergunta que eu fiz noutro post, é se, e como, os neoliberais defendem as virtudes do sistema revelado pelo katrina.

É que, quer se queira quer não, viu-se o c* dos EUA.

Publicado por: pyrenaica às outubro 1, 2005 08:51 AM

É surpreendente que os temas sejam recorrentes um quarto de milénio depois. E é importante que isso se saiba.

Publicado por: coyotte às outubro 1, 2005 09:20 AM

pyrenaica em outubro 1, 2005 08:51 AM:
Será neoliberal o chefe de polícia de NO que não fez nada para impedir a deserção de parte dos polícias, que andou a contar histórias horríveis de roubos e violações, que afinal ou eram mentira ou muito exageradas o que o levou a demitir-se há dias, em face do escândalo que tal provocou?

Publicado por: Rui Sá às outubro 1, 2005 09:43 AM

Será neoliberal o Mayor de NO, que apesar de avisado para evacuar a cidade, fê-lo tarde demais, não mobilizou os 300 autocarros escolares para apoiar aqueles que não tinham carro e andou o tempo todo a acusar os outros?

Publicado por: Rui Sá às outubro 1, 2005 09:46 AM

Será neoliberal a FEMA, a organização federal para prevenção de catástrofes e que funcionou extremamente mal e tardiamente?

Publicado por: Rui Sá às outubro 1, 2005 09:47 AM

Se os falhanços forma das autoridades públicas, locais e federais, o que é que os neoliberais têm a ver com isso?

Publicado por: Rui Sá às outubro 1, 2005 09:49 AM

Rui Sá, mas essas coisas (instituições, pessoas) todas que falharam são componentes de um sistema neoliberal, ou não?

Em que pelos vistos existe uma cultura de entropia e desresponsabilização.

Onde os mais pobres e desprotegidos é que mais sofreram os efeitos. Os tais indigentes da barbara.

PS se eu tivesse que definir-me politicamente seria libertário/reformista/marxista/liberal (enjoado de caviar) portanto eu não tenho muitos preconceitos, creio (e por favor não me mande viver para a Coreia que eu desforro-me e mando-o viver para os EUA, para a Florida).

Publicado por: pyrenaica às outubro 1, 2005 10:51 AM

o corujinha estará à coca ou a dormir?

Publicado por: py às outubro 1, 2005 02:09 PM

uma capicua

Publicado por: py às outubro 1, 2005 02:10 PM

e um redondo...

Publicado por: py às outubro 1, 2005 02:10 PM

'brigado, py

Publicado por: Coruja às outubro 1, 2005 06:33 PM

A proposito do furacao KATRINA, para quem nao se importa de conhecer outras versoes sobre os verdadeiros culpados da falta de prevencao e da desorganizacao na prestacao de socorros, aconselho uma rapida visita ao site brasileiro MIDIA SEM MASCARA, cujo link segue abaixo. O titulo dessa cronica e : KATRINA, RITA e o Malvado BUSH, por Heitor De Paola em 01 de outubro de 2005. Resumo: Os episódios ocorridos em New Orleans mais uma vez mostraram que, não importa o que aconteça, a culpa é sempre do presidente dos EUA...

http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=4154

Vale a pena ler, por que e escrito por gente com conhecimentos de causa...

Publicado por: Alkayross às outubro 4, 2005 12:13 AM

tem muito texto, poucas imagens ou nenhuma. e a linguagem é muito ciêntifica.
obrigado!!

Publicado por: anónimo às outubro 21, 2005 10:38 AM

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